domingo, 31 de janeiro de 2010

 

Parabéns a mim! (Se me dão licença.)

(ALERTA: post pejadinho de lugares-comuns)

Diz que sim: 31 de Janeiro de 1978, 10h50 (ou 10h45. Ó Guinho não consigo decorar a hora a que nasci por deus.) Parece que foi ontem e afinal foi há um porradão de (32) anos.

Hoje faço anos e ao invés de pensar na vida, penso na morte.

Mais nova dizia arrogante que não tinha medo da morte. O que me apavorava era sofrer.

Tretas. Tenho já a minha dosezita de sofrimento e gosto disto que me farto. Se adoecer e me lerem uma sentença que me não seja positiva, agarrar-me-ei com unhas e dentes à vidinha, porque mudei de ideias e afinal tenho um pavor desgraçado da dita-cuja. Não é que lhe receie a foice (depois do corte de cabelo que a Sô Dona Beatriz me fez já não temo lâmina alguma), mas ainda me falta fazer uma data de coisas caraças. Às vezes o pensamento descamba-me para: "Isto é tudo uma grande palhaçada e não vale a pena. Nada faz sentido. O mundo não é um lugar justo" e afins. O que vale é que me passa e lá encontro os motivos para rir, não dos palhaços, da vida.

Assusta-me, de facto, a velocidade com que tudo se passou até aqui. Na mais auspiciosa das hipóteses (derivado ao colesterol, à histeria e aos pensamentos massacrantes) tenho quarenta anos para viver e não me lixem, não é suficiente. Não é. Pois se 32 já foram, mal me distraí.

Ainda me lembro com uma intensidade assustadora dos 2 e meio atrás da porta da "mãe luísa" (essa grande senhora, paga para ser ama, que me deixava sozinha em sua casa) a chorar baba e ranho "tou aqui xojinha"; dos 3 e qualquer coisa no minuto anterior à senhora enfermeira me colocar a máscara para eu adormecer - hérnia umbilical do esforço de chorar ora pois - e eu, adivinhem lá, baba e ranho e nem quero imaginar como aquilo terá ficado; os 5 na pré-primária a surpreender a educadora com um "batata" soletrado (ui que maravilha a primeira recordação que tenho de ler remete-me para um tubérculo. Vêem? Básica. Há uns que aos cinco já liam os Lusíadas ou compunham sinfonias e quê. Eu? B A T A T A); o primeiro dia de aulas? Recordo. "Foi ontem." Chorava e tive vergonha de dizer à Professora Felizbela da minha canhotice pois era a única menina a padecer dessa diferença. (Poder-se-á dizer, neste caso, somente lágrimas que isso do ranho e da baba já nos começa a enojar um 'cadito pois é?)

5º e 6º ano? Que pergunta. Nítidos, nítidos como se à minha frente agora. Do primeiro dia na Escola Secundária até a roupa vos saberia dizer. O que senti. (Não vos quero maçar. Embora ainda me vá espraiar mais um pouco no que tem sido isto de viver.) A adolescência. Ui. Como fui uma adolescente problemática.

Entretanto acho que alguém se esqueceu de me avisar que aquilo é coisa para acabar por volta dos 21 e de maneiras que continuo por lá, com borbulhas na cara, melodramas, etc. e tal, embora se me assome no frontispício um ou outro cabelo branco. Recordo a primeira paixão avassaladora. (Ramon queridinho, como é que vai isso? Aquilo é que foram tempos difíceis, hein? Olha, qualquer dia posto aqui um poemazinho ressabiado que escrevi para ti. Boa?) Não disse primeiro amor, porque o Amor, sei hoje, é outra coisa. Não aquilo. Mas "aquilo" foi muito bom e deixou-me recordações que ainda hoje me fazem rir com gosto, embora à altura, lá está: baba e ranho.

A faculdade. Erro crasso. A escolha ao lado, apesar dos avisos dos pais (sábios). Então não me lembro? "Ora deixa cá ver este livrinho de cursos, na véspera de me candidatar: "ambiente, floresta, agronomia" Tudo verde, cor da esperança...Parece-me bem. "Ó senhora pode dizer-me em que consiste o curso de engenharia florestal". "Por telefone não. Terá de vir até à Faculdade para se informar." "Ah então deixe lá que eu ponho a cruzinha à mesma." Chiça penico que sou mesmo como as portas. Assim fiz a única coisa de que talvez me arrependa verdadeira e amargamente. Foi a tal encruzilhada em que sei ter feito a escolha errada. Não soube ver o que me é natural. Fui burra e irresponsável para comigo. Agora amanho-me, trabalho muito mais, mas não desisto. (Ando é mais cansada e não havia necessidade...)

Apesar de tudo, nesta profissão que não sinto minha, tenho tido momentos fabulosos e tenho-me cruzado com pessoas maravilhosas que são parte de mim. Talvez tenha escolhido um curso que não era o "meu" só para as poder conhecer. Se assim foi, valeu a pena.

E depois o principal numa vida: as pessoas. As minhas pessoas de quem gosto visceralmente. (Tu também, apesar de tudo.) E nestas incluem-se as que já partiram, as que acompanho e aquelas que não fazendo parte do meu dia-a-dia ocuparam um lugar em mim, tão importante como as que vejo amiúde.

Sinto falta do que ainda não vivi e consumo-me em saudades do que já passei.
Há pessoas (Buddinho estás aqui incluído piolho.) a fazer-me uma falta imensa e a quem não poderei mais abraçar. Desse ponto de vista, quarenta serão longos anos de saudade.

Perdoem-me o enfado, mas é que agora sei que posso mesmo morrer de um momento para o outro e "antes" não sabia. Antes da morte me dizer: "Hey, olha o que eu sou capaz de te fazer. Olha como te mato um bocadinho de cada vez que apareço a um dos teus." tinha conhecimento que ela existia mas não a sentia. Agora que ela já me falou algumas vezes tenho a noção exacta, como uma dor localizada, que este pode ser o último aniversário que festejo.

Tanto engonhanço para dizer que gosto de viver.

GOSTO DE VIVER PÁ.

Com tudo de bom e de mau que viver acarrete.

GOSTO DE VIVER!

Foi árduo chegar a esta conclusão. Primeiro porque sou lerdinha, é sabido e depois porque é muito mais fácil ser triste. Nisso da tristeza profissionalizada levava já avanço e prática imbatíveis. Baixar os braços é fácil. Andar constantemente a levar tareias da vida e recusar o KO dá uma trabalheira do camandro. E por isso rir é, para mim, uma escolha diária. Relevar as injustiças também. Há dias em que falho. Momentos em que penso: "Desisto. Vou ser infeliz, azeda e odiar a humanidade." Aprendi a aguardar que passem, embora não muito pacientemente que me não posso dar ao luxo de perder tempo.

Escrevi tanto e ficou tanto por dizer. Uma vida nem num livro se conta.

Desculpem lá toda esta trapalhada. Os pensamentos são bichos confusos já se sabe.

Para o ano se eu já cá não estiver guardem apenas que, além de ser uma miúda que falava, falava, falava, mas a quem não viam a fazer nada, como o outro, era uma pessoa que gostava muito de cá andar.

Resumindo seria isto:

GOSTO MUITO DE CÁ ANDAR! PARABÉNS A MIM!

(mas assim não sabiam mais umas quantas coisinhas giras, embora absolutamente desprovidas de importância para Vós, acerca da minha pessoa.)




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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

 

São estas pessoas que me fazem ter fé:

32 anos: dedica a sua vida a ajudar os outros. Inspiradora. Quem dera 1/3 da grandeza dela. Chama-se Maria do Céu da Conceição e é hospedeira de bordo.

"Não tenho tempo."

Não temos tempo porque não queremos ponto.

Conheçam o trabalho dela:

http://www.catalystorg.blogspot.com/

http://thedhakaproject.org/

Ao pé disto nada me aflige a não ser o meu egoísmo.

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

 

(...)

- Ouve-me bem, a questão é esta: Inventei sozinho?
- Não. Também te inventei.
- Então?
- Não sei.
- Não sabes?
- Nada.
- O que é que se faz?
- Continuamos.
- Continuamos?
- Que remédio.
- Sei de, pelo menos, uma coisa que podíamos fazer.
- O quê?
- Tomávamos a medicação e desaparecíamos.
- Queres fazê-lo?
- Não.
- Então?
- Não sei.
- Não sabes?
- Nada.
- Sou nada?
- És, na medida em que te inventei.

(E agora o momento descaradamente adaptado de uma fala do Avatar onde a azulinha e o herói falam em "ver" ao invés de "sentir".)

- Mas eu sinto-te.
- Eu também te sinto.

(Fim do momento descaradamente adaptado de uma fala do Avatar onde a azulinha e o herói falam em "ver" ao invés de "sentir".)

- Então?
- Não sei.
- Sabes...
- Não, não sei.
- Volto mais tarde?
- Volta, mas não estarei cá.
- Porquê?
- Porque enlouqueci e não sei quem és.

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PARABÉNS PAULINHA!

Amiga é bom estarmos vivas, com saúde e irmo-nos tendo uns aos outros (uma à outra). O resto vai-se fazendo o melhor que conseguimos. Um ano descansado e cheio de alegrias na nova casinha é o que eu te desejo. Gosto MUITO de ti.

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

 

Olá. (se isto tem alguma piada sem "!" Humpf.)

O momento mais belo do meu dia hoje – acredito que devemos notá-los, aos momentos belos, para que não sejamos ingratos no que toca à vida. – deu-se ao ler o valter hugo mãe na Visão da semana passada. Que pessoa bonita pá. Lacuna imensa ainda não o ter lido. Fá-lo-ei muito em breve. valter aí vou eu.

O de ontem sucedeu ao terminar o último livro do ALA: “Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar.” Que poema este livro. Não recuem ante a sua escrita. Mergulhem naquele mar de palavras, deixem-se levar pelos silêncios - Sim os silêncios: dentro das coisas, de nós e à nossa volta. Estou completamente rendida ao génio. Já estava, têm razão. Desta vez julgo ter entendido tudo, tudinho. Fui uma menina linda e esforcei-me muito por percebê-lo, senhor Antunes. Olhe que ajudou ter dado nomes às "vozes" if you know what I mean. - pelas sombras (que existem em nós todos) e pelas imagens com que nos invade e transporta para o âmago das vozes presentes. (Ui. Âmago.) Que enlevo por deus. Um destes dias espeto aqui com um post repleto de metáforas, frases e ideias que sublinhei a ver se vos conquisto. Não se deixem enganar pela personagem que o homenzinho criou para si. Ele (Ah e este "E" não está maiúsculo apenas por ser o início da frase, que como bem sabemos pode começar com minúscula. Ora vão lá ler um livrinho do moço do parágrafo anterior para verem se não pode.) pela forma como nos escreve é lindo, lindo, lindo e lindo. E não me lixem a credulidade: Se o homem pensa aquelas coisas tão mas tão belas é porque há beleza semelhante dentro dele.

Tenho dito.

E mais, se não estivesse tão atrasada nas minhas leituras e não fosse esta ignorante que vocês conhecem, começava já a ler de novo este livro porque nele me senti em casa. E como diria o próprio: "Não sei se tenho casa mas é a casa que regresso." PAM.

Uma notita sitemeter do qual não vos falava há muito (o conceito "muito" é, para mim, subjectivo): Acho uma delícia alguém chegar aqui por "toda molhadinha" e depois deixar-me clicando em "pnetliteratura". Somos tantos cá dentro a acotovelar-se...

(E há para aí uns que se acham muito lúcidos e muito sãos. Andamos todos ao mesmo pá. Todos uns desvairados é o que é. Há é quem consiga disfarçar muito bem.)

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

 

A Rádio Comercial tem um passatempo...

...Que se chama: O Melhor Bom Dia do Mundo.

Ora o que é que sucedeu? Sucedeu que enquanto comia uma torrada, quinta-feira de manhã, mais uma parvoeira se me assomou ao espírito. Eis o que eu diria se para lá ligasse:

- Ó Mundo anda cá dizer bom dia aos senhores.
- Bom dia. (Voz à menino Nelito.)
- Ó Mundo só isso filho?
- Foi o meu melhor, mãezinha.

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

 

Tia, madrinha e querida Manuela:

Sinto muito a tua falta. Do nosso passado comum. De tudo o que já vivemos. Não te esqueço. E se hoje a vida nos aparta, não apaga o que és em mim. Não apagará. Quero crer que continuarei a habitar-te também, apesar de tudo. Não sei como lidar contigo. Esta é a verdade. Não sei o que fazer com a abissal diferença que te percebo. Só sei que te amo como antes e que talvez disso não saibas, nem tenhas sabido, porque nunca o verbalizei. Ou fi-lo? Não sei. Temos tendência a tentar fazer "tudo" quando já nada importa. Tentamos agarrar o tempo depois dos minutos vividos. Que tenhas qualidade de vida é o que eu te desejo. Que sorrias o mais que puderes. E que saibas que és muito amada, mesmo quando não sabemos como agir. Sei que fazemos todos o melhor que somos capazes, dada a incapacidade de aceitar "isso" que te acontece um bocadinho cada dia.

Um abraço apertado desta filha emprestada.

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domingo, 24 de janeiro de 2010

 

Tempo dedicado aos mais pequenitos:

TRAMA (7/10/2009) – 10 / 15 minutos.

NOTA: O Capuchinho vermelho contado sem a vogal “u” (a não ser em Capuchinho)

A história hoje contada passa-se na floresta verde de Ficalho. Certo dia, a mãe Teresa pede à filha Lídia, entre os amigos também conhecida como Capuchinho Vermelho, para levar a casa da Avó Cremilde – Como era hábito aos Domingos. – a cesta de compotas, para o chá das cinco. Antes de partir a mãe avisava-a sempre:

- Capuchinho, não saias do caminho! É perigoso!
- Está bem mãezinha não temas! Farei como dizes! – Encolhendo os ombros por desconhecer os reais perigos da floresta de Ficalho.

Dá-se porém o caso, de mais à frente se distrair com a flor mais bela por si já vista, afastando-se do trilho certo.

Porém não se perde. Chega antes ligeiramente atrasada a casa da avozinha.

O lobo matreiro já lá havia entrado – andava no rasto da Capuchinho contavam-se já vários Domingos... – e comido a avozinha. Mas disto a nossa menina não sabia, ainda.

Bate três vezes à porta. Pam. Pam. Pam.

- Sim? – Diz lá de dentro a falsa avó de voz estranhamente esganiçada.
- Capuchinho Vermelho! Posso entrar avozinha?
- Sim linda netinha! Entra! Entra!
- Ah! Avozinha não fizeste a depilação?!
- Pois não netinha. Estava com frio!
- Ó Avozinha e essas orelhas? Tão grandes?!
- São para ter melhor conhecimento das coisas!
- Como Avozinha?
- Entram melhor os sons, lindinha!
- Ah... E essas mãos avozinha? Tão grandes...
- São para te abraçar bem!
- E esse nariz?
- É para te cheirar! Cheiras tão bem minha netinha! É Chanel?
- É Boticário avozinha. Mas avó... E essa boca enorme? Cheira mal! Já experimentaste menthos?
- É para dizer “AMO-TE” bem alto netinha, com a boca bem aberta!
- Ok, mas e esses dentes horripilantes e afiados?
- SÃO PARA TE COMER

Nesse momento entra certo elemento da protectora dos animais e com dardo anestesiante põe o ardiloso lobo a dormir.

Abrem a barriga ao lobo, com faca do mato esterilizada, a avó sai toda satisfeita embora cheia de ‘nhaca e mandam o lobo para a Serra da Estrela, não sem antes lhe coserem a barriga e limarem os dentes.

A Capuchinho desobedecera à mãe e aprendera a preciosa lição:

“Não colocar demasiadas interrogações.”

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sábado, 23 de janeiro de 2010

 

HOJE ISTO:



Adenda: Não percam! MUITO BOM. (Isto refere-se à Cidade e não ao Avatar ok? Ne fais pas le confusion... Et pardon moi français terrible et quois)


ONTEM AQUILO:


AMANHÃ, logo se vê...

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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

 

Parabéns prima Paula!

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(Se eu pudesse falar com Deus...)



http://www.youtube.com/watch?v=loNU4fVpO8E

Um ano.

É inacreditável que um ano tenha passado João. Continuo a recordar-te incrédula de não te voltar a ver. E se aqui te falo a cada 22, não é por achar que faço algo relevante. É precisamente por saber que nada sou nesta tragédia. Nada posso. Revolto-me, somente, na minha pequenez, a cada dia que passa. Estas coisas acontecem mesmo. Acontecem aos nossos. E não é assimilável que isto possa acontecer aos nossos. Não digiro a tua morte, sabes? E é a primeira vez que me acontece não digerir alguma coisa. Tenho tido episódios na vida duros, difíceis, amargos. Mas tenho sabido aceitá-los. A tua morte não. E não por termos sido próximos e me fazeres uma falta imensa. Não é bem isso. Sabemos que não éramos chegados. Antes duas pessoas que se conheciam desde crianças, com outras de quem gostamos muito em comum. O que me custa a engolir é a devastadora injustiça desse segundo decisivo em que foste ceifado. Ceifado é o termo. Estavas a crescer ainda. Tinhas tudo pela frente para viver. Muito ainda para dar aos teus e roubaram-te isso. Roubaram-lhes isso. Despojaram-vos dos muitos "365 dias" que ainda poderiam ter estado juntos. É por ti e por eles que não me conformo e que não me calo. Ele há-de saber que Errou(?).

- Ouves? Erraste. Não vejo outra explicação: Também Te Enganas.

Até já João.

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

 

RUÍNA(S)

Tudo ruiu. E eu, cá dentro, inteiro. Ainda.

Que desnorte. Tudo o que tinha, o que havia, o que me rodeava, escombros.

(Por pouco não me encontrava.)

Ao acordar entendi: Nada me falta. (E falta-me tudo.)

Não obstante, as perguntas:

"É possível destruição tamanha?"; "Prossigo?"; "Como?".

(Insistem em bater-me essas perguntas.)

Estou só.

(Já estava. Vejo-o agora.)

Escuto coros de choro, o(s) desespero(s), gritos de dor(es).

Uivos, até.

Perdemo-nos uns dos outros neste puzzle aterrador.

Tentei ajudar outrem. Puxei. Era somente uma mão. Desistira do corpo que ficara para trás.

Esmagado.

(Impotente.)

Esquecido da vida de outrora.

Fugir?

- Não posso.

Fico portanto. Refaço-me do pranto para o qual não tenho tempo. Ergo-me nas pernas que, felizmente, ainda detenho e

VIVO.

Começo por este muro.

Uma pedra (perda). Outra pedra (perda).

Sacudo as perdas (pedras). Não há tempo agora para o pesar.

Uma pedra (perda). Outra pedra (perda).

Engulo as perdas (pedras).

Não há tempo agora.

(P’ra chorar.)

Uma pedra (perda). Outra pedra (perda).

Erijo-me a pulso com a alvenaria que em mim havia.

(Sem o saber.)

Se no espaço de um minuto tudo ruir,

construo de novo. (Desde que eu em mim.)

Teimosia?

Instinto?

Esperança?

Uma pedra. Outra pedra.

Tantas perdas.

Andreia Azevedo Moreira
16/01/2010
(11h20mn)

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

 

GANDA(S) MALHA(S)

Muchas gracias primassita!

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

 

Dedico este à Bzuu que o livro me emprestou.

Malta auxiliem esta menina que vos escreve, lendo-a, por deus. Agradecida.

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domingo, 17 de janeiro de 2010

 

Dos constragimentos (descabidos)

Não gosto de usar o smile, do meu nokia, em sms. Tem um ar cínico. Uso-o porque sei que os outros não partilham da minha opinião e o enviam constantemente. Quanto a mim, acho a gargalhada (:D) muito mais franca (Com os olhinhos fechados, tão querida!). Mas isto sou eu com a mania da perseguição. Contudo, reparem lá se ele não tem um ar hipocritazinho. E depois vejam lá se o usam com o mesmo à vontade com que até aqui abusaram dele. (São as sobrancelhas ou que é...)

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sábado, 16 de janeiro de 2010

 

PARABÉNS BZUU!

Amiga lê isto como se da (nossa) amizade se tratasse. Tenho para mim que também se aplica. Um abraço daqueles bons, mesmo bons, para ti. Andamos a viajar há tanto tempo... Pois é?

PARA AQUELA QUE VIAJA COMIGO

«Por certo irei, onde for teu intento»
Deixa, Amada (aqui lês amiga e assim por diante, topas?), se possível, que assim seja,
Mas ouve esta verdade,
Esteja onde esteja sei-te perto de mim, que o lento vento
Se arraste entre pinhais e num alento
Final em seus clarões o sol andeja
Ou quando a aurora recamada lampeja
Fitando as curvas cimas a sotavento.
Pelo amor companhia me deste
Todo o dia como quem nunca se aventa
Plenamente ou plenamente se esvanece
E assim meu coração louvores tece
Àquela que comigo a noite enfrenta
Ou o dia, e bebe o vento suave e o agreste.

EZRA POUND (1886-1972) - O livro de Hilda / Fim do Tormento

(Tradução: Filipe Jarro)

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

 

Um dos melhores conselhos que recebi em 2009:

Aprende a ler e a escrever, primeiro, se conseguires. E depois espera. As paixões insensatas só nos casos raros se aguentam uma vida inteira.”

Possidónio Cachapa no sofá vermelho da LER n.º84 - Outubro 2009.

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POESIA EM VINYL

Ai que foi tão lindo por deus!

valter hugo mãe (man! És um curtido man! O que me ri contigo man!)

(oube lá, a tua boz fez-me lembrar a do Anthony. Dos Anthony and the Johnsons. Que é que pensas disto?)

(Valter queres saber uma gira? Já passei férias numa casa de pescadores em Caxinas. Lembras-te mana? Era aquela que em vez de sanita tinha dois sítios para os pés e um buraco ao meio. Cool...)

Raquel Marinho e Luís Filipe Cristóvão sois grandes por terdes semelhante trabalho, apenas porque sim. Porque é bom e quê. Parabéns!

Ó Sô Fernando Alves que belíssima voz com que deus o presenteou hein?

JP Simões filho, não me impressionaste por aí além, com a atitudezeca "I don't give a shit. I'm above all of this." Tens uma bela voz, é um facto, mas o charme de rapaz de intervenção, rebelde, ou lá o que era, que ao início ainda apresentavas, rapidamente deu lugar ao desinteresse. Perdoa se estou a ser injusta. Foi o que de ti chegou até mim. Mais oportunidades teremos de nos entendermos...

Quem é que está lá batidinha p'ro mês que vem perguntam vocês seus grandes cuscos?!

- EUZINHA. Pois.

Vejam que enlevo:

Poeta: Pedro Mexia

Declamador: RAP (aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Eu não sou histérica! aaaaaaaaaaa)

Músico: Samuel Úria.

Jantar: Sugiro o menu de degustação. Também tem "hambergas" e tapas e tostas e sopinha.

E ainda... Um grupinho todo catita que se me dão licença já apelidei de "grupinho todo catita que vai ouvir poesia, não sem antes provar o menu maravilhoso de degustação que os senhores têm lá para a gente, no vinyl."

O que é o Vinyl?

É o restaurante da Orquestra Metropolitana de Lisboa.

18 de Fevereiro de 2010 lá estaremos. PAM.

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

 

Mexia queridinho, sou eu outra vez. (Dreia Meia)

Acabei, há uns dias, de ler o “Nada de dois”:

Cito-te para te dizer o que penso, no geral e também em particular*, destas seis peças de teatro que criaste:

“Não sejas assim** maravilhoso” connosco, pá. Li-o e reli-o de imediato, só para ter a certeza. E tive-a. Despretensiosas e brilhantes. (Mesmo naquelas partes em que o Vasco resolve mostrar que é culto. Mesmo nessas, as considero despretensiosas e brilhantes. Não deixo, no entanto, de crer que é de uma grande indelicadeza e pequenez ostentar-se a cultura, ou qualquer outra coisa que nos sobeje, com o intuito de inferiorizar outrem. Não é, estou certa, o teu caso.)

Sabes? Em 2007 fui assistir à “URGÊNCIAS”, no Maria Matos. Nessa altura, não alcancei tão bem o que “tinhas de urgente para me dizer” com Genebra e 1963. Mais, não estou certa dessas 2 terem feito parte dessa edição a que assisti. A pessoa (esta) ouve avidamente as palavras. Algumas conseguem reter-se. Outras perdem-se, na emoção do momento. Embora seja incontestável que deixam marca indefectível. Aquela que nos faz dizer muitos anos depois: Que grande peça! Aliadas as palavras aos actores, às encenações, etc. e tal, claro. É por isso que acalento, ainda, a esperança de reunir todos os textos, de todas as peças de teatro que falaram comigo, até hoje. – Esta tarefa vai para a bucket list que hei-de fazer e que também tem de ir para a bucket list, que o tempo não sobra. – Ora, estou mesmo satisfeita pela Bzuu me ter desafiado a ir ao lançamento deste teu livro. De outra forma, talvez não o tivesse comprado. (Sim foi a meias, esquece lá isso. Mais vale teres vendido um, que nenhum. E, além do mais, que outra oportunidade terás de escrever uma dedicatória para duas forretas?) Há tanta coisa a chamar por mim nas prateleiras das livrarias... O que interessa, no fundo, é que cheguei até estas palavras e conversei muito com elas. Muito mesmo. Mas digo-te Mexia, queridinho, que tomei uma decisão: (Vá, deixa-te disso do “what the fuck do I care” e ouve-me, que é como quem diz “lê-me”) Não posso (con)viver com tanto realismo, com essa frontalidade, com tamanho discernimento. Não posso, sob pena de perecer às tuas mãos, isto é, às tuas palavras. Portanto, vou fingir que se trata, efectivamente, de “ficção”, como te tens esforçado por transmitir. Mas não é queridinho. Não é. E digo-to, antes de olvidar que vi ali tanto do que se passa à minha volta e até, dentro de mim. Aquilo é a vida. Crua. É o amor, em todo o seu esplendor e complexidade. Quando dói e/ou nos mutila. Mas também quando nos salva. Aquilo é o tempero dos dias e os dias de derrota, quando os deixamos ser monótonos e banais. Encontrei lá, igualmente, os dias de triunfo. Vi ódio. Senti o que é o desejo. Puro e duro. (Duro o desejo, pá. Não tenho a tua capacidade para ser erótica, sem resvalar do bom gosto). Joana e Vasco: duas pessoas à procura de si “no outro” e com dificuldade extrema em se encontrarem. Joana e Vasco. João e Joana. Luís e Maria. Pedro e Francisco. Maria José e Sofia. Nomes diferentes, vidas semelhantes. Talvez a redenção não exista. Não sei. Não quero saber. A verdade corta. É por isso que parto daqui, tão pouco tempo depois de chegar.

Antes de ir, a resposta à pergunta idiota - “Gostas mais do papá ou da mamã?” - que não me fizeste:

Gosto mais da “EXÉRCITOS” que deu cabo de mim. Por isso tenho de a esquecer. Compreendes? Não se pode viver a saber daquilo tudo. Preciso da “ficção”. É urgente que me iluda para prosseguir. Até porque preciso de me esquecer de ti, assim despido. Ou corarei da próxima vez que te pedir um autógrafo. (Já não peço mais, descansa.) Tens noção que te despiste para nós? Ah e tal é ficção. Está bem... Mas veste-te. Não conto que te vi dessa maneira. Direi aos outros que ficcionaste toda a sensibilidade que perpassa cada uma das peças. Mesmo quando se proferem farpas. (Sensibilidade. Tenho dito.)

Esquecer-me-ei disto tudo, é certo. Mas amanhã. Por agora e passo a citar-te, como no início:

“Vamos ficar.”
“Só mais um bocadinho.”


* Isto é à RAP. RAP sinto sua falta. Quando volta à TV filho?
** O “assim” é “meu”

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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

 

Exercícios na TRAMA (15/12/2009)

MOTE: Inspiração Musical (Este tipo de exercício já conhecia... Sôdáaaade. Sôdaaaade. Sôdaaaade dessa ‘nha terra doteld’Amzôôônha)

1) Requiem do Mozart – Esta, foi ouvida uma primeira vez e foi à segunda que iniciámos a escrita.

2) So Tell the Girls That I am Back in Town de Jay Jay Johanson – Esta, foi em directo. Iniciámos a “verborreia” imediatamente.

Adivinhem lá? Mais dois textos altamente egocêntricos por Andreia Moreira, pois. É a música pá. Faz-me pensar na minha vida e quê.

1) Corro dentro da cabeça. Desnorteada. Viro-me bruscamente sobre o eixo do que sou. E corro, corro. Corro! Embato por dentro. Procuro uma saída e não a encontro. Angústia. Corro dentro da cabeça. Agarro com força as barras férreas que tenho por trás dos olhos. Sonho com a liberdade que vejo ser-me negada. Choro, pelas mesmas órbitas que me mostram que estou presa. Vozes fazem-me chegar aos ouvidos que tudo terá remédio. Encontrarei o escape que busco. Como? Crânio por todos os lados. Circulo no meu interior, estonteada, sem vislumbrar solução para o(s) meu(s) temor(es).

2) Pára! Não temas. De que te escondes? De ti? Ridículo. Descansa. Sê somente. Não demandes o que és. Virá ter contigo. Não fujas do que não és. Jamais o serás. Vive o presente. Sacode o medo. Despe-te d(ess)a incapacidade. Renega a descrença. Que sabes tu do porvir? Nada. Aproveita cada fracção do tempo. Pois se ontem o avião em que seguias poder-se-ia ter despenhado. Ouves a batida? Sente-a. Deixa que te possua e dança. Lança para trás a cabeça, estica os braços, encara o céu. Ri-te muito, muito alto. A quem serviriam (ess)as lágrimas ou a desistência? Em frente. Caminha sempre para o que te espera, sem nunca esquecer o que já tens.

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domingo, 10 de janeiro de 2010

 

Estação de Alcântara ao primeiro lugar. Já.


Perguntam vocês:

Há alguma coisa que tu, Deia, odeies com todas as forças que te habitam?

Há sim senhora. Odeio a Estação de Alcântara com todas as forças que me habitam e mais as forças que vos habitam, se me permitem.

Porquê Deia? - Perguntam vocês extremamente preocupados.

(Perdoem que vou dizer repetidamente uma asneira...)

Porque aquela merda desde que ganhou o 3.º Prémio em 1941, NUNCA MAIS, repito, NUNCA MAIS teve obras. É que nem uma de mão de tinta branca como eu tinha combinado com o senhor que me lê e que lá trabalha. (Ouça lá, a escada rolante voltou a apresentar a incongruência de que me queixei.)

A cereja em cima do bolo foi colocada esta 6ªF, quando ao descer verifiquei que as luzes estavam totalmente apagadas.

Eu tenho medo do escuro caraças. Eu nunca andei no comboio fantasma de olhos abertos porra. Então mas então? Jogos sem fronteiras antes de chegar ao trabalho?

Sabem o que é que conseguiram com esta brincadeira? Para o mês que vem compro um passe diferente, é o que é. Tão cedo não meto os pés naquela merda de estação. Repito: M E R D A. Chiça penico que até me sobe a tensão.

(E não vos contei da vez em que choveu e que o túnel se encontrava com água que dava pelos tornozelos das pessoas. Tivesse contado e vocês já me davam razão. Mas eu cá não gosto de me fazer de vítima.)

(Buuuuuuu para a Estação de Alcântara. Buuuuuuuu.)

(Ideia para uma PETIÇÃO: Retirem o terceiro prémio à Estação de Alcântara!

A não ser que seja o prémio atribuído à estação mais merdosa de todas as linhas férreas existentes no nosso Portugal. Nesse caso, esta petição visará o retirar do terceiro prémio para que seja, justamente, atribuído o primeiro lugar do pódio.)

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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

 

Carapaqueclé filho foi às 22h05 com uma caneta do Amazónia na mão.

Aí vai alho.

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PARABÉNS MIÚDA DO ELEVADOR!

Que é como quem diz Marta Carneiro my friend! Beijinhos e abraço alargado, apertado mas não muito, com Joana pelo meio e quê! eh eh eh.

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Estou feliz.

Falta caminho, é certo. Mas, por agora, alegro-me com o que foi HOJE conseguido.

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De maneiras que resumindo foi isto assim:

Primeiros, segundos, terceiros e quartos. Agradecida pela vossa atenção. Bem-hajam sentido. Um abraço daqueles (para cada um, claro). E quê.

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

 

Exercícios na TRAMA (15/12/2009)

Quarta e última Parte

MOTE: Dar um fim à história ao vivo e a cores na última aula (15/12/2009).

Digo em minha defesa que chegara, nessa manhã de dia 15, de uma viagem que começara cerca de 22h antes. Fui trabalhar 7 horas e às 19h lá estava para o último dia de "workshop". Portanto perdoem se vos desiludo com este final, foi o conseguido nas circunstâncias descritas. (Ah e tal coitadinha.)

- Inês Pedrosa? Como me descobriu?
- Não te descobri. Pergunta antes como te encontraste. Não julgam eles que és quem sou?
- Pois... – Digo baixo, baralhada.
- Temos de nos apressar, o outro anda perto.
- Acertaste-lhe.
- Sim, porém apenas o atrasei. Seria preciso muito mais que uma simples bala para o demover.
- Quem são eles?
- Doentes.
- Como?
- Entes que acreditam ser, quando não o são de facto.
- A Inês desculpe. Mas sou uma pessoa simples, com ideias elementares e que, apesar de apreciar muito a sua escrita, não percebo patavina do que aqui se passa. E, com todo o respeito que me merece, a realidade é que estou borradinha de medo.
- Ai, querida não fales dessa maneira. Que horror, que termos são esses? Não diria que estás habituada a ler.
- A senhora pode pensar o que quiser, se estivesse molhada com a própria urina como eu estou, não se lembraria de medir as palavras. O que fazemos?
- Vem comigo. Vou mostrar-te uma coisa.

Avançamos pelo breu. Não faço ideia para onde Inês me leva. Tenho de conter inúmeras vezes os espirros que ameaçam irromper, cada vez mais frequentemente, dado o meu estado.

- Não receies. Sei o que faço.

Sigo-a em silêncio apertando o nariz e a boca com a mão direita, enquanto que com a esquerda esfrego rapidamente o corpo na tentativa vã de fazer o que a caminhada por si só, não está a conseguir: aquecer-me.

Eis que me deparo com a fachada da casa que quis, há tão pouco, esquecer.

- A senhora enlouqueceu?
- Calada. Já te disse que sei o que faço.

Encolho os ombros e faço novamente o aterrador percurso, desta feita, sem venda, sem mordaça, sem raptores. Pelo menos à primeira vista não os vejo. Tirito de frio, de horror, quem sabe de gripe A. Toda eu tremo qual gelatina, porém, sigo-a sem escolha. Entramos na casa e nem sinal do Almada.

- Reconheceste-o?
- Assim que o vi.
- E não estranhaste?
- Não! Sempre fui dada a crer no absurdo.
- Ok. Conheces a personagem de um livro em carne e osso e não temes, por um segundo, estar louca?
- Já vi suceder coisas mais improváveis. Intimamente, todas as personagens dos livros que leio são pessoas em potência. Comovo-me com essas, rio-me com e dessas, amo-as e odeio-as, tal e qual como com as pessoas da minha vida.
- Tretas pá! Estás a brincar? O homem que te rapta é igual a um que só existe num livro que leste e não achas insólito?
- Cá para mim a Inês acaba de resvalar um bocadinho na sua erudita linguagem.
- Ironias a esta hora não! Olha para a estante por favor.
- Ena tantos livros!
- Olha de novo. Repara.
- Todos os livros são iguais. Mesmo tamanho. Mesma cor. Lombada idêntica. Já tinha percebido. O Almada é metódico e então?
- Vê o título...
- Ora, “nas tuas mãos”; “nas tuas mãos”; “nas tuas mãos”... Aterrada constato que todos os livros da estante são o mesmo. O tal que fora comprar à livraria antes disto tudo ter principiado.

- Dá-me a K7 que tens contigo.
- Como é que sabe? – Soergo a sobrancelha direita, intrigada, cumprindo um trejeito que aprendera a fazer em miúda.
- Coloca-a nesse gravador. – Indica-me um antigo em cima de uma das muitas mesinhas que a divisão tem.

Iniciamos a audição da fita em conjunto. Trata-se de uma entrevista de Inês acerca do livro recém lançado. Data de 1997.

- Ah. Compreendo agora porque nos confundiram. Julgam-me a Inês com menos doze anos...
- Começas a entender...
- Os outros? Também se julgam personagens dos seus textos?
- São de facto...
- Como?
- Mostra-me o desenho. – Aquiesço e estendo-lho. Vira-o para mim.
- São-te familiares estas caras? Os diagramas estabelecendo relações? Os nomes?

Percorro rapidamente as diferentes feições retratadas. António, Jenny, Camila, Pedro, Anacleta, entre outros secundários na trama. Todos que conheci naquele livro se encontram definidos.

- Mas? – Incrédula. – O que pretendem?
- Outros destinos. Querem que os reescreva.
- Estão loucos. Como poderia?
- Estarão?

A porta range. Estivesse aflita e descuidar-me-ia de novo. Vejo-os entrar. Um por um, acomodam-se na divisão. Olho para Inês em pânico e observo-a serena.

- Ando a segui-los há meses. Hoje é o aniversário da data de casamento de Jenny com António. Manuel Almada tem tentado matá-lo todos os anos, por esta altura. Sem António fico sem história. Perco o triângulo António, Jenny e Pedro.

Ouço um objecto a cair que me distrai. Esfrego os olhos. O coração bate descompassado. Giro a cabeça. Livros. Livros. Livros. Já não os de lombada igual. Outros. Coloridos. Diversos. Olho para as calças. Estão molhadas, sim, de café. No chão, perto dos pés, o livro que me arrancara à realidade nos últimos minutos. Não saíra do andar de cima da livraria.

(Aqui acaba o que fiz na trama.)

(De seguida um delírio à laia de "Agora escolha..." Vera Roquete incita-vos agora, a escolherem o que mais vos aprouver. A Autora, Dreia Meia, está já pejadinha de sono - com dúvidas se "pejadinha" se aplicará ao sono e a si própria e com tendência pro dito delírio. Vá então...)

Envergonhada olho em redor. Ninguém. Antes assim. Pego no livro, com a capa marcada pela sola da minha bota e dirijo-me ao andar inferior para o pagar. Sorrio a Catarina, agradeço-lhe a amabilidade com que invariavelmente nos recebem - Ela e Ricardo. - e aperto o casaco que vesti entretanto, adivinhando o frio no exterior. À porta esbarro com um sujeito que me fita intensamente. Diz: "Boa Noite." num timbre que me percorre o corpo. Tem uma meia lua desenhada no olho. Arrepio-me. Sorrio-lhe lívida e saio da TRAMA enquanto sinto o livro a latejar nas minhas mãos.

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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

 

Exercícios na TRAMA (15/12/2009)


MOTE: Temos um quadro à nossa frente. Nesse, um homem vestido com um traje típico olha para trás encarando-nos. Está a olhar porque o chamámos. Encetar um diálogo com essa figura.

Aí vai/foi alho:

- Hey. Não vás! Pelo menos não já. Tenho perguntas, ainda.

Carapaqueclé estaca e vira-se, de expressão benévola no rosto, embora sem denotar qualquer intenção de me dizer mais do que já disse. Fica parado, simplesmente, com aquele olhar doce só dele, a boca uma meia-lua optimista, as feições belíssimas, denotando elevação, dignidade. Retira o chapéu sagrado da cabeça e segurando-o com as duas mãos olha para o chão como quem me autoriza a prosseguir. Assim o faço.

- Não vi tudo. Sabes? Mostraste-me a paisagem, é certo. O horizonte longínquo, da roupa que me servirá. Deste-me uma ideia. Aceito-a. Mas não vislumbro a estrada. A vegetação é tão cerrada. Achas que consigo?

Continua sem proferir palavra. O seu olhar diz-me o que preciso, mas os meus ouvidos clamam, narcisistas, um qualquer som que os conforte.

Encontramo-nos numa densa floresta. É escura, embora não assustadora. Digamos que é de tal maneira densa que dará trabalho sair desta.

Carapaqueclé ensinou-me o essencial e nada mais.

Ele acredita que cada um tem de sair daqui pelos seus próprios meios. Sei que é sábio, este meu amigo. Fui seu discípulo atento e sorvi avidamente o que me quis transmitir.

Porém, por vezes, a preguiça, um bicho que aqui na selva gostamos de apelidar “vagarinho” encarna em mim, cruzo os braços e sento-me prostrado e mandrião.

Carapaqueclé não tolera esse tipo de comportamento. Por isso, olha-me apenas e nada diz.

Está à espera que a birra me passe, e que me faça finalmente ao caminho.

Andreia Azevedo Moreira
21h e qualquer coisa.

Se me dão licença, vou fazer-me ao caminho, que já se faz tarde. Obrigada, Carapaqueclé.

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