Ontem assisti à melhor peça de teatro dos últimos anos! ARREBATADORA é o termo que melhor a pode descrever e será dificílimo fazê-lo (já disse uma vez... colocar sentimentos muito intensos por escrito, sabe-me sempre a pouco) mas eu vou tentar, porque realmente há muito tempo que uma peça de teatro não me emocionava tanto como esta! Primeiro os pormenores técnicos: um cenário fabuloso, pensado ao pormenor, uma cela que era realmente uma cela, suja, o pormenor da humidade (que parecia mm humidade!) nas paredes, mãos de sangue aqui e ali, o guarda roupa igualmente perfeito até ao último detalhe, as luzes, os sons, tudo a envolver-nos como se fosse real. Os ACTORES! Que fascínio! Que grandes actores nós temos! Que qualidade! Que interpretação! Os tiques, nunca esquecidos pelo Albano Gerónimo (Ariel), de alguém marcado pela vida a fingir ser um durão. A voz calma e ritmada do João Pedro Vaz (Não me lembro do nome da personagem), o falso polícia bonzinho, totalmente frio e indiferente à vida, sem compaixão, com um papel a cumprir (Também ele marcado? Ele diz/mostra que não... Mas claro que sim!). O Katurian K. Katurian (Gonçalo Waddington), o prisioneiro, que começamos por julgar culpado e acaba por nos mostrar toda a sua humanidade e grandiosidade de actos (uma excelente e vibrante interpretação!) e por fim o Marco D'Almeida soberbo no seu papel de uma pessoa com um atraso mental, mas que acabamos por perceber ter uma grande percepção da realidade, alguma ironia, capacidade crítica na sua ingenuidade e acaba por revelar sabedoria em algumas das suas decisões. FANTÁSTICOS estes quatro actores! E por fim, a história... Que história penetrante! Assistimos à peça a suster respiração, com um aperto no peito e uma angústia a crescer. É cómica, é dramática, é interrogativa, faz-nos pensar em muitas coisas dolorosas mas verdadeiras, toca directamente na(s) ferida(s). Pode uma infância "de merda", cheia de abusos e torturas justificar crescermos pessoas ruins? NÃO! Pode o sofrimento passado justificar provocar o sofrimento em novos inocentes? NÃO! É possível das histórias mais hediondas fazer nascer algo belo, útil, válido? SIM! É possível... É possível amar alguém que se revela capaz das maiores atrocidades? É difícil... Mas foi possível para o Katurian. Perdoou, amou, protegeu e deixou um legado (que protegeu até ao fim) para que o sofrimento que o fez escrever as suas histórias, macabras é certo, mas que sararam feridas profundas, não tivesse sido em vão. E as histórias sobreviveram-lhe. Lágrimas mal contidas perante uma dose tão brutal de realidade. Palmas de pé, ensurdecerdoras, como só uma peça de teatro como esta merece! ARREBATADORA!
Deia :)
P.S. Deve ser maravilhoso sentir o carinho do público!
# Ideia partilhada por Andreia Azevedo Moreira @ 10:32
