quarta-feira, 31 de março de 2010

 

Ouvido no workshop

Adeus Português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual


Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser
que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Alexandre O'Neill (1924-1986)

Ó Alexandre entendo tão, mas tão bem o que dizias. (A Francesca também sabia disto que pode acontecer e eu também já o senti. Confirmei-o com ela (já por duas vezes que aquilo está sempre a repetir) e tropeço nisto, de novo, agora - Desculpa o atraso. - contigo.) É do caraças, dilacerante ou que é, conceber-se um acontecimento assim. Aceitá-lo é ainda pior, porque dificílimo descer da garganta. Em todo o caso, antes vivê-lo, a não experimentar, jamais, semelhante desespero.

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Este livro e quem o escreveu (cheira-me) têm qualquer coisa de muito e muito especial

O meu enlevo AQUI. Confirma-se, ser-lhe-ei devota de ora em diante.

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terça-feira, 30 de março de 2010

 

PARABÉNS FERNANDO!

Um dia daqueles, cheio de risos e amigos e quê. Gosto de ti sabes? Essencialmente por 3 motivos:

1) O cliché: tens um sentido de humor que me agrada.

2) Sinto "boas vibes" contigo perto.

3) O principal: fazes sorrir aquela que me é tão importante e isso, para mim, já é tudo em ti.

beijinhos e até amanhã (Sim, colei-me. Sou o emplastro de Carcavelos. Prazer.)

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domingo, 28 de março de 2010

 

INSANIDADE VOU-ME EMBORA

Estou sentado num degrau frio da entrada de uma loja em Lisboa. Comigo a mala que fiz ao sair, apressadamente, de casa. Não tenho para onde ir, nem com quem falar. Ninguém a quem recorrer. Fugi do que já não suportava mas eis que, sozinho, tenho medo. O que faço? Sem casa não tarda e passarei a indigente nesta cidade gélida, pobre em afectos. Apoio a cabeça no braço que tenho pesando sobre a mala e o desespero deixa-me prostrado. Passa um casal. Ele é alto, bem constituído, aloirado, traços fortes. Ela ar frágil, olhos claros, baixota e uma melancolia no olhar quando me vê. Entendo que a minha existência não lhe passou despercebida enquanto avançavam pela avenida e me deixavam para trás. Vislumbrei genuína preocupação e isso, de certa forma, deu-me algum alento. Neste degrau arrefecido que me entorpece os movimentos ainda não sei o que vai ser de mim, todavia aquele olhar que me foi lançado por uma perfeita desconhecida ajudou-me a acreditar por hoje (por agora) que o mundo não é esse lugar impiedoso que desprezo e ao qual queria escapar. Primeiramente fugi da minha aldeia. Chamavam-me “O maluco”. Olha que merda. Não me considero um desvairado.

Não mais que a D. Graça da mercearia que sabe que o marido tem outra família e continua com ele; que o Senhor Padre Lopes cuja filha todos sabemos quem é, filha essa renegada e ostracizada, tal como a mãe, por todos do lugar, sem culpa alguma e que ele teima em ignorar. Deposita, porém, todos os meses a quantia que as ajuda a sobreviver. O Senhor Silva diariamente aos caídos por causa do álcool. A Ti Joaquina que ama secretamente o marido da irmã e que, por causa dessa paixão, nunca chegou a casar, ou a entregar-se a outro homem. A Mariazinha que namora às escondidas com o Chico visto que o pai quer que ela case “bem”, ao invés de ir para o altar com um pobretana qualquer – O Chico, claro está. – O José que passa os seus dias a rezar porque não se perdoa ter dado um tiro fatal – Sem intenção, diz ele. – na mulher. A Joana Margarida que apanha do marido – O Alfredo – e a quem ninguém ajuda. Fingem todos nada saber. E podia estar aqui a noite inteira a falar daquela hipócrita cambada que tanto me enoja. Eu: Nuno maluco, “apenas” porque dizia e digo – Jamais me calarei. – o que me vai na alma. Falo sem pruridos daquilo que vejo e me é dado a perceber. Posso não ser de uma grande inteligência, nunca afirmei que o sou, falo somente das coisas como elas são no meu modo de as entender. Esta característica levou-me a ser despedido de todos os trabalhos que arranjei sem excepção e a não me concederem outro. Temem-me porque digo o que penso sem filtro e as pessoas não o querem ouvir. Para mim é tudo tão simples. As coisas são o que são. Para quê floreados? Começou em tom de brincadeira: Ah é maluco! Não sabe o que diz! Até que me elegeram o tonto oficial do burgo. O bode expiatório para os podres de todos. Não é que me importe de andar isolado. Sempre fui solitário. Senti-me, isso sim, injustiçado por terem feito de mim o que creio não ser e, antes que começasse a acreditar neles parti. Fi-lo depois da morte da minha mãe. Sofria tanto, coitada. Implorava-me: Nuno só dás opinião quando ta pedirem. Falas demasiado filho. A maldade das pessoas ainda te há-de atingir e nesse dia vais pensar neste meu conselho amor. Talvez nessa altura seja tarde demais para ti.

Não é que tinha razão? Aquelas pessoas são de uma estupidez atroz. Fossem capazes de ouvir, escutar real e objectivamente o que eu dizia… Fossem tão só capazes de admitir a realidade e ser-lhes-ia insuportável continuar a disfarçar. Haveriam de mudar e as suas existências tornar-se-iam, com certeza, mais fáceis, porque mais autênticas. Esquecem-se todas aquelas pessoas que podem ter silenciado “o Nuno maluco” – Estou longe. Não lhes faço mal... - Contudo quem lhes falava não era eu, antes as vozes das suas consciências. O que as aterrorizava era ouvirem, por mim, a vozinha interior que todos temos. Aposto que hoje que os deixei em paz continuam a escutá-la e os patetas satisfeitos por mais ninguém o saber... Não compreendem que, para o inferno ser real, basta que só eles o sintam. Eu cá, modéstia à parte, apenas os fazia encarar os problemas ao verbalizá-los. Não era eu quem os criava! Não me souberam dar o devido valor, é o que é. Poderia ter sido uma espécie de conselheiro da aldeia. Arranjava a sala da minha mãe com almofadas confortáveis; queimava aquela coisa que agora está na moda, incenso penso eu. A sala a meia-luz e eles vinham, um por um, para que eu lhes dissesse o que eles não querem conceber, mas que decerto lhes aligeiraria a vida. E o pagamento poderia ser, por exemplo, em comida. Sobreviveria do óbvio. Eh eh eh. Muitas vezes os indivíduos só conseguem assimilar a realidade quando essa lhes é esfregada no frontispício por uma terceira pessoa que lhes seja alheia. Esse seria o meu papel. Alheio que lhes era confrontá-los. Do problema mais triste ao mais alegre, do mais inocente ao mais sórdido. Penso que – E o que discorro não vale muito. – só na inteireza é possível sermos felizes. Aquela mulher, Mariana – Ouvi-o chamá-la – olhou para mim apiedada sem saber que, apesar deste frio que sinto no rabo e nas entranhas, sou feliz. Deveras afortunado. Estou amedrontado, é certo, com este desconhecido no qual me lancei irreflectidamente – Foi um impulso. Estava tão farto. – Ainda assim considero-me ditoso, porque verdadeiro comigo e com o que penso, quero e faço. Defronto-me com a realidade presente e sei que vai ser difícil, mas, pelo menos, não me anulo.

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quinta-feira, 25 de março de 2010

 

Tentemos ultrapassar isto juntos.

O meu portátil faleceu. Já tinha sete anos coitadito. (O meu n.º neste caso não deu sorte.) De modo que não posso estar convosco, tão plenamente quanto desejo. Agendo umas postas, quando posso, para ir mantendo isto a respirar, mas falar-vos como é costume é mais difícil. Vai daí, peço-vos paciência. Querido leitor da Nigéria (quem és já agora? Fico deveras curiosa.) não desistas. Queridos leitores do resto do mundo permaneçam por perto, por favor. O que vos posso acrescentar é que se é forte isto que nos une, havemos de arranjar maneira de sair deste deserto relacional. Há-de ser quando eu reanimar o meu Toshiba, ou quando o trocar por um mai'novo, mai'moderno, mai'rápido, que funcione, etc. e tal. Actualmente como estou prevaricando (é capaz de a realidade marcar 13h13 enquanto prevarico) é forçoso que interrompa (por agora) a emissão. Fiquem-se com esta música que me faz coisas cá dentro. Até já.

(Psst. Vão lendo cenas que estejam para trás ou assim, se não for uma grande maçada, pois claro.)

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quarta-feira, 24 de março de 2010

 

Sugestões boas, boas, mesmo boas. Ui. (clicar nas imagens ó faxavôri)






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terça-feira, 23 de março de 2010

 
Há muitos anos deu-se o encontro, éramos ainda crianças e foi amor à primeira vista.

Uma pessoa pensa não ser possível semelhante entendimento e então percebe que se enganou.

Gargalhadas contigo perto. Tão bom rir (De ti. De mim. De nós.) meu ‘ganda’ palhaço!

Ouve-me: Mais um ano e eu vou gostar desta maneira da tua pessoa (assim tanto, tanto. Tanto!) sempre, mesmo quando já fores velho, careca, flácido, desdentado, até senil (mais ainda, quero dizer.).

Porque tu meu menino, és das pessoas mais bonitas que conheço e muito maior que esse corpo lingrinhas onde te encaixaram. ‘Oubistes’?

PARABÉNS PÁ!

Para sempre tua

Dreia Meia (já não tanto) Boazinha Vermelha Badocha.

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segunda-feira, 22 de março de 2010

 
Reencontrado AQUI.

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domingo, 21 de março de 2010

 

INSANIDADE VOU-ME EMBORA

Quando a alma (nos) morre interrogamo-nos muitas vezes: “Quando é que Deus me leva?”

Acordo todos os dias depois de parcas horas dormidas com este pensamento na cabeça: Sou cansada de viver... Olho para o meu corpo cadavérico e enrugado e sei que o meu prazo expirou. Tenho a sensação, porém, que Ele se esqueceu de mim e que viverei perenemente nesta infelicidade. Num vazio dos dias que se sucedem às noites, sem piedade. Não os distingo. Aos dias e às noites...Limito-me a aguardar e vontade nenhuma. Ler entedia-me – os olhos são fracos e é tarefa hercúlea discernir os vultos esfumados que para os outros são letras – o croché não me entretém; ouvir rádio impacienta-me; a televisão não dá programa que preste; dormir todo o dia? Não consigo.

O que desejo fervorosamente é não voltar a acordar. Quero para sempre adormecer. Quero morrer. - Pronto já disse! - A educação católica não mo permite. Tivesse eu coragem. Diria que isto que vivo é uma “sobrevida” porque apenas sobrevivo. Ou melhor, afirmo ter uma “subvida” porque não chega a ser, efectivamente, o que considero uma existência. Que desígnios são os d’Ele? Convicta que me esqueceu. Abro os olhos pela manhã, bem cedo, ainda nem os passarinhos chilreiam lá fora e, então acordada, sou perfurada pela dor atroz de ter de respirar, por mais um dia. – Apreciava tanto os passarinhos, os animais, a natureza. Já não lhes acho graça. Não gosto de nada. Se me perguntassem, como nas entrevistas às pessoas famosas, Qual a palavra que melhor a caracteriza? Responderia: “nada” é a palavra que melhor me define. Sou “nada”. Sinto-me “nada”. No entanto, se “nada” fosse, não viria aquela mocinha tão doce visitar-me. Às vezes, por maldade, não lhe dirijo palavra. Faço isto à única pessoa que me visita e não sei explicá-lo. Urgência em maltratá-la. É tudo.

- Porquê mais um dia meu Deus? Não o quero. Dá-o a outrem. Escutas-me? Leva-me. Que castigo. Se todos os que amo já aí estão e levaram com eles a minha vontade de ser. Em nova as teorias: “Tudo o que precisamos está dentro de nós”. Sentia-me forte. “Sabia” que a felicidade só dependia do meu querer. Arrogante, achava-me auto-suficiente e encarava os outros como se de passagem. Deveria contar verdadeira e exclusivamente comigo. Era a tal sensação de omnipotência. Guiava-me sempre e somente pelos meus instintos. Passou, desde então, tanto tempo. À data ainda não tinha filhos nem havia tinha conhecido o amor que se pode ter a outra pessoa. Aquele que transcendia a posse, os ciúmes, um contrato assinado. E talvez diga isto porque cedo o perdi. É possível que o desgaste dos anos conseguisse destruir-nos. Não sei. Não sei porque o não pude viver. Arrancaram-mo. Extirparam-mos. Abriram-me o peito sem anestesia, puxaram-me o coração para fora e gritaram-lhe:

“Acabou tudo! Podes deixar de bater, não tens qualquer utilidade!”

- Boa tarde, estou a falar com a D. Cidália Martins?
- Sim sou Cidália Martins. Quem fala?
- Encontra-se sozinha de momento?
- Sim, o que se passa? O que deseja?
- Minha senhora estou a ligar-lhe do Hospital de Santa Maria é importante que cá venha. Peço-lhe que não venha sozinha.
- Está a assustar-me. Diga-me por favor o que se passa! Vou esperar pelo meu marido e vou para aí, mas se soubesse o que o levou a ligar-me… Foi buscar os meus filhos à escola…
- É sobre eles que lhe quero falar. Rogo-lhe que não venha só.

Deixei cair o telefone e caí também. Não concebia que fosse tão aterrador como se me afigurava. Quis crer que tudo ficaria bem. Falava com o senhor da voz serena, contudo angustiada e tudo acabaria por se compor. Pedi a uma vizinha amiga que me acompanhasse...

- É a D. Cidália Martins?
- Sou. Diga-me de uma vez o que aconteceu.
- Houve um acidente com o seu marido e os seus filhos...


Pausa curta, todavia sufocante. (O ar acabou-se-me ali. )

- Onde é que eles estão? - Gritei. Berrei o mais alto que pude, para que o brado lhes chegasse aos ouvidos e me encontrassem.

Onde é que estão? João! Ana! Mário!
Onde estão?


- Tem de ser corajosa D.Cidália. Faleceram. Foi grave demais. Ninguém sobreviveu ao acidente.
- Sobrevivi eu...


Não sei se o proferi, se o pensei e caí de joelhos num pranto que só cessou meses depois. Passado esse período não voltei a chorar ou a rir, a cantar ou a ter prazer, a sentir o que quer que fosse. Morri sem que o meu corpo me acompanhasse e entretanto passaram quarenta e nove anos. Tratei do meu internamento neste lar. Não quis ser fardo. Mantenho o meu orgulho desmedido. Quando fiz setenta anos decidi-o e aqui estou a definhar. Maldito corpo que não esmorece. Se este organismo tivesse alguma coisa que ver com a minha alma defunta há muito que desistira. Infelizmente sou sã... Não padeço de mal algum embora cá dentro putrefacta, agoniando-me em dor. Irreconhecível. Há uma pessoa a quem me dou: a Teresa. Passou-o também. Percebo-lhe a amargura, o desespero de ter de continuar a viver com o ónus de uma perda insuportável. A ela permito um vislumbre; consinto que me cheire as entranhas, que compreenda quem fui e deixei de ser. Aos outros uma dura couraça. A antipatia no olhar. Projecto a voz firme e ríspida que os afaste... E aquela miúda ignora todo esse esforço que empreendo para ser verdadeiramente repelente e continua a voltar. Teimosa! Não lhe passo cartão e lá vem ela. Sempre com uma atenção, uma doçura na voz. Não desarma. Mesmo nos dias em que tão pouco lhe dirijo o olhar. Fica. Perde o tempo que tem disponível. Afável. Fala-me como se me conhecesse de toda a vida, como se fosse, até, sua avó. Eu que não cheguei a sê-lo. Que nem pude ver os meus filhos crescer. Arre! Porque não desistes de mim? Desaparece!

Dedicado à minha MJ. Outra pessoa querida que me ficou pelo caminho (da liberdade). Lamento que chegada tão longe diga como lhe ouvi da última vez que nos vimos:

“A vida é uma mentira e as verdades que tem são muito duras.”

É na busca da (minha) verdade que tenho perdido pessoas que me foram um dia vitais. Nesse sentido concordo consigo. Há verdades mesmo duras. Gosto muito de si. Espero que o sinta. Até um dia.

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sábado, 20 de março de 2010

 

HOJE É DIA DE LIMPAR PORTUGAL.

(não deveria ser sempre?)

Post scriptum:

Ó meus 'gandas' porcalhões, vocês acham que o lixo se evapora? Até uma algália senhores, uma algália pendurada numa árvore... (Grande Gui. És o meu herói.) Vá, não digo que limpem.

Não digo, até, que parem de nos chamar pacóvios, por fazermos o que podia ter sido evitável por Vossas Excelências, não fossem os 'gandas' porcalhões que são.

Agora, por favor, parem de fazer piqueniques se isso para vocês é sinónimo de toda a imundície a que assisti. Na vez seguinte o que fazem? Rebolam no lixo ou mudam de pouso?

Como é que é possível?

É que os porcos, meus amigos, são bichos inteligentes...

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sexta-feira, 19 de março de 2010

 

TREVA(S)


O Amor deles era proibido.

Ocultavam-no, por conseguinte, das outras pessoas.

Escondiam-no, ainda, um do outro e de si mesmos também.

Era um desmedido e sublimado não-Amor.


Nota: Para saber onde descobri tão bela imagem é clicar-lhe.

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quinta-feira, 18 de março de 2010

 

É favor aparecerem e comprarem o livro!

Um grande beijinho Raquel. Lá estarei, claro.

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O valter hugo mãe é o meu tipo de homem...





...da ESCRITA.

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quarta-feira, 17 de março de 2010

 

Outra história.

Era eu miúda, longe ainda de saber que o grunge é que era, dei-me ao trabalho de decorar uma série de marcas de surf só naquela de estar preparada para qualquer eventualidade, que, meus amigos, nem eu sabia qual poderia ser. Recordo-me de ir ao lado das minhas amigas, dizendo-as (às marcas) para dentro, qual mnemónica, ignorando displicente a sua conversa. Não faço puto de ideia do que diziam, mas recordo, lá está, com detalhe assombroso (e o assombro vem de não cessar de me pasmar com a minha estupidez já desde tenra idade) esse passeio durante o qual repetia mentalmente até à exaustão: O’neill, Billabong, Quicksilver, Rip Curl, Redley e por aí afora. Era-me vital, de facto, conhecê-las. Ora a minha roupa de surf resumia-se a uma t-shirt da Town and Country oferecida pela minha tia Manuela e a uns ténis Redley. As minhas intenções de me dedicar à prática desportiva correspondiam a uma percentagem de cerca de 0,000001%. Vejo muito isto por aí. Há indivíduos que conhecem muito, citam ainda mais, falam com desmedida propriedade sobre as coisas. (Que coisas? As que quiserem, pá.) Pergunto: e viver meus meninos? Sentir deveras o que apregoam. Com o latejar das artérias; as lágrimas amargas da frustração; a premência do fazer. (O just do it. Estão a ver? O que é que vocês lhe fizeram? Hein?)

Não fazia surf, não lhe sentia o apelo, nem tão pouco lhe vestia a roupa. Mas fingia desalmadamente. Sabe-se lá para caber em quê ou em quem.

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terça-feira, 16 de março de 2010

 

Entristeci-me contigo no sábado sabes?

Posso ser idealista e crédula. O que faço de positivo ser insignificante. A minha alegria de viver pode não passar de pura estupidez e isso de pensar que o mundo melhor começa em cada um de nós tratar-se de uma grande treta.

Ainda assim pergunto: queres mesmo que o teu filho cresça num mundo em que as pessoas se odeiam e se maltratam? Esse ódio e esse maltratar começa em ti. Nas tuas acções. Não penses que culpar os outros pelo estado a que o país chegou (para falar à nossa escala e dos problemas que dizes existirem) é o bastante. Olha para ti, para o que cultivas no dia-a-dia, pensa no que (não) constróis e deixa-te de merdas. Pára de culpar terceiros, quando tu próprio nada fazes. O que é que TU fazes? A não ser destilar palavras horríveis das quais desconheces o real significado? Sabes lá o que seria concretizar-se o que dizes.

Falas dos violentos, dos parasitas da sociedade, dos que não se te assemelham. Depositas uma boa parte da tua energia a desejar que desapareçam. Volto a perguntar: "E se eles desaparecessem de facto? Quem irias odiar a seguir?"

Gosto muito de ti e por isso é que dou importância ao que dizes e sofro por te ver tão amargo, tão zangado com a vida.

Antes de culpares os outros pelo mal do país, da humanidade, olha para dentro e vê se não há o que pudesses, igualmente, mudar.

Quem te conhece sabe que és um talento. Uma pessoa com um humor brilhante e peculiar ao alcance, infelizmente, de poucos. Canaliza esse dom para coisas positivas. Estás a deixar de ter graça. Tenho saudades tuas. Onde é que andas, pá?

(E agora manda-me à merda, deixa de me falar, faz-me um vudu para me caírem os dentes, o que quiseres. É porque gosto tanto de ti que me importa o que pensas e o que vives/sentes. É porque te quero bem que não me calo. É óbvio que cada um vive como quer, pensa o que lhe aprouver, faz como entender. Ainda assim gostava de te ver sacudir essa escuridão.)

(Se nós à nossa pequena escala não formos capazes de perdoar, aceitar, tolerar, melhorar, o que é que podemos esperar do resto do mundo? Odiar é fácil...A guerra começa, efectivamente, em nós.)

Por tudo isto este é para ti meu Amigo.

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domingo, 14 de março de 2010

 

INSANIDADE VOU-ME EMBORA

Um grito ecoa na noite acordando-me e o brado era afinal meu. Angústia. Uma sensação que não se me descolou do peito ao acordar. Revi-os. Embrenhados no mato. Olhos furtivos mediam-nos a existência. Nada dormíramos em cinco noites consecutivas. O sobressalto constante e o Marçal a asseverar que os vira armados. Alguém se assustou. Um tiro no breu não soubemos de onde. Então, rajadas de balas. O horror paralisou-me, deitando-me por terra.

Não quero morrer.
Não quero matar.
Quando me acordam? Alguém me assegure, por favor, estar somente a viver o pior dos pesadelos.


Chovia. Disparos. Rastejava no chão, mergulhando na lama. Atirava sem ver. O coração a rebentar-me na boca. A náusea agrilhoada à garganta.

Estou vivo?
Alguém me mate, por favor, que não aguento.

Para quê viver depois daquilo? Como consegui-lo? Se aquilo a que assisti me assassinou, ainda que o corpo permanecesse deslizando em abjecção, esquivando-se ao fim. O silêncio. Verificámos se todos. O Marçal?

Marçal!
Marçal!


Urros na selva.

Quem nos obrigou a crescer? Éramos miúdos. Teriam noção que nós ainda crianças? Apartados das vidas que tínhamos e que jamais recuperaríamos. Sei que acabei ali.

Perscrutámos a noite em busca do Marçal e encontrámo-lo. Inerte, mutilado, os olhos esbugalhados, fitando-nos sem nos ver. O crânio aberto, as entranhas dispersas.

É findo o teu inferno camarada.
Pudera ser eu aí aos bocados, todavia, em paz.


Uma linha de luz rasgava o horizonte. Os guerrilheiros derrotados: mulheres e crianças. Descalços. Despidos de armas.

Onde as esconderam?
Demonstrem porque vos matámos!

Salpicos de saliva precipitavam-se sobre as feições inexpressivas, intimando à confissão. Permaneceram mortos e armamento nenhum. Constatei, por conseguinte, que o meu corpo continuaria a funcionar, qual máquina programada - Inspirar, expirar. Pequena circulação, grande circulação. O músculo do peito bateria ritmado. - morrera-me, porém, a alma. Tormento atroz. Jamais ousei confessá-lo.

Aos outros: Nunca matei.
A mim: Seríamos monstros? Voltarei a ser humano?

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sábado, 13 de março de 2010

 

(O que uma pessoa descobre a ler por aí)


Padeço de delírio auto-referencial.

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sexta-feira, 12 de março de 2010

 

Conhecer(-me) sem (me) temer

À medida que me vou conhecendo, descubro que quanto mais ignorante sou no que concerne à minha verdadeira natureza, mais a temo e, por conseguinte, mais intolerante e taxativa me revelo.

Neste percurso de querer saber quem sou, conforme vou sendo capaz de aguentar esse "saber", aprendo quotidianamente a não julgar, condenar ou emitir sentenças, sobre o que desconheço.

(Não é fácil suster as bojardas que se me assomam ao espírito. Há que contar até 7.)

É muito comum isso de nos enganarmos com os outros. Mas mais provável ainda é que andemos enganados connosco.

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quinta-feira, 11 de março de 2010

 

HOJE ISTO:

21h30 - Vinyl - Restaurante da Orquestra Metropolitana de Lisboa (Junto da antiga FIL)

Menu:
Poesia acompanhada de conversa braseada e música au vin quelque chose.

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quarta-feira, 10 de março de 2010

 

Obrigada huGuinho.

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terça-feira, 9 de março de 2010

 

Não custa assim tanto (isso de cair no real)

Ontem enquanto andava na rua tive de vencer a minha própria resistência. Por um minuto, dois talvez, foi como se o ar à minha frente se tivesse tornado mais denso. À medida que avançava, ora um pé, ora outro, senti que algo, maior do que eu, me tentava demover. Talvez o meu pensamento. Era imenso o pavor que me assolava. Qual de nós vai de peito feito, sem tremores ou onerosa angústia, enfrentar um qualquer medo? Não parei. Ainda que o vazio defronte tão pesado. As forças a falhar-me, o corpo a querer ceder. Caía ali, resolvido. Não teria de prosseguir. Aquilo que não sei nomear a repelir-me e eu sem estacar. Avancei sempre. Primeiro um pé. Depois o outro. Disse-me uma amiga que é assim que se caminha e tem razão. Respirar fundo. Calar o grito. Sentar-me. Recuperar o fôlego, o ânimo, qualquer coisa que me deixasse ser e sorrir. Eis que o tempo passou, como é próprio do tempo. Não sei se depressa ou devagar. Avançou. É tudo. E, apesar dos murros no estômago em cada vez que fui capaz de suster o olhar, consegui. Nada receio. Vivo somente daqui para a frente com a certeza que acordei. Uma pessoa só sonha se quer. Até nos sonhos mandamos, triste destino. Basta querer (crer). É bom respirar leve, de novo. Ainda que um canto cá dentro se tenha amachucado. Não faz mal. Gosto do desacerto. Do lado torto da vida. E depois é certo que há vitórias que nada têm que ver com terceiros. Há batalhas que travo comigo, ironicamente, para me derrotar. Quero superar aquela em mim que ergue os próprios limites.

Lisboa, dia tal de Março de 2010 (11h50)

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segunda-feira, 8 de março de 2010

 

Até ao dia...

...em que seremos todos apenas pessoas/cidadãos (o que quiserem) com os mesmos deveres, oportunidades e a quem assistam os mesmos direitos: 8/03 sim, obrigada. Há ainda muito caminho pela frente. Sinto-me afortunada por ser mulher neste contexto, ainda que haja sempre o que melhorar. O que seria viver aprisionada/mutilada/impedida de aprender/sendo tratada como uma coisa/etc.? Não sei. Espero que, cada vez mais, menos pessoas o saibam/vivam.

ADENDA:
Eis uma pessoa que sabe o que fazer com as palavras para dizer o que tem de ser dito e o que não pode ser esquecido.

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domingo, 7 de março de 2010

 

INSANIDADE VOU-ME EMBORA

Vi-o no funeral. Cabisbaixo. Derrotado. Quase uma sombra.

Porquê essa urgência em te mostrares indiferente?
Sei que não o és.
Sei que ferves em contradição e que sentes mais do que a razão te dita para sentir,
mais do que a cabeça te pede para dizer,
mais do que os teus olhos se esforçam por esconder.
Pára! Não vale a pena.
Afogares o arrependimento,
sufocares o teu lamento,
calares a voz que te diz:

Estúpido. Foste tu quem assim quis.




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sábado, 6 de março de 2010

 

A single man

O filme derramou-se da tela e submergiu-me. A banda sonora invadiu a sala e colou-se-me à pele. As imagens possuíram-me os sentidos. (Vivo-as ainda.) A angústia pendurou-se-me no peito e sinto uma imensa falta de ar. Sozinhos? Estamos todos. Uns sabem-no melhor que outros, é certo. O Amor? Talvez salve. Talvez condene. Mas foi a esperança que o...

Se eu... que seja de esperança.

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sexta-feira, 5 de março de 2010

 

Eis a pessoa que eu gostaria de ter sido:

(Resquício dos TPC da TRAMA)

Tenho 77 anos. Estou velha. Não me sinto idosa, mas sei que o estou, que o sou. Tanto faz. Desci do 58 na paragem do Miradouro de São Pedro de Alcântara, porque gosto de contemplar a cidade aqui de cima. Inunda-me uma serenidade incrível em cada vez que o faço, Lisboa, qual instantâneo de Daguerre. Sento-me no banco do costume, enquanto bandos de pombos sobrevoam o jardim e me arrulham: “somos livres!” Há silêncio e uma quietude desmedida, rasgados pelos risos das crianças que passam de mochilas às costas, em correria, por enquanto imunes à lentidão do tempo. Estou sentada nem há cinco minutos, quando uma jovem mulher se detém a meu lado. Terá perto dos trinta. Olhos claros. Cabelo indefinido. Não é loira, tão pouco ruiva. A boca é o próprio sorriso. E as rugas de expressão encontram-se desenhadas perenemente nos seus olhos. Ri muito ou chora demais. Ou bailará constantemente entre os dois extremos do humor. Os sulcos ninguém lhos tira.

- Também desci do 58. – Diz-me com voz sumida. – Segui-a até aqui somente para lhe pedir um autógrafo.
- E porque o farias pequena? – Pergunto-lhe incrédula, embora curiosa.
- Porque lhe conheço a vida ao pormenor e admiro-lhe imensamente a existência. – Responde convicta.

Deixo-a falar. O meu silêncio é o que a incita a prosseguir, de modo ininterrupto, o relato dos meus dias.

Sabe Andreia, sei tudo sobre si. Encanta-me a forma como descobriu tão tarde que nascera para viver. Parecer-lhe-á tolice, isto de lhe dizer que nasceu para viver. Mas quando falo em viver, não me refiro ao sentido fisiológico. Não quero dizer respirar, comer, defecar, reproduzir-se. Quero dizer: VIVER. Entende? Começou tudo tão tarde. Como conseguiu fazer tanto? Percebeu a escrita como a sua forma de ser neste mundo, tanto tempo depois de ela constituir já toda a sua vida. A escrita a insinuar-se-lhe diariamente e a Andreia a tomá-la por certa, como a sede ou a fome. Foi preciso morrer-lhe o Nuno recorda-se? Conhecia-o mal, é certo, mas foi a morte daquele colega de trabalho, que numa semana a atendeu na biblioteca e na seguinte morrera subitamente, nos braços de sua mãe, que a fez assimilar inexoravelmente o efectivo risco que o sonho de infância, acalentado no seu íntimo, de na reforma escrever um livro, corria de não se concretizar. Assim escreveu o seu primeiro. Uma porcaria de resto, permita-me que lhe diga. Posso fazê-lo? Não me leve a mal, pois se a admiro profundamente, creia que não a poderia respeitar mais, fosse esse original uma obra-prima. Veio a alcançar notoriedade com os sucessores. Escreveu-os passados uns anos. Madura. Com o conhecimento mais sedimentado; menos ingénua. Reconheço-lhe o empenho, a vontade indómita de aprender, de não se contentar com as pancadinhas nas costas dos críticos, na altura generosos, embora tivessem demorado um tempo imenso a considerá-la. Louvo-lhe a humildade de se constatar continuamente em ignorância e de nunca se ter deixado toldar pela vaidade. Sei que ainda hoje assume as imperfeições, as lacunas no saber; os erros. Vinte livros publicados, aclamada pela crítica em vários países e ainda assim tão elementar, aqui sentada, a olhar para a metrópole dos seus avós. Isto, por si só, seria motivo de toda a minha admiração. Adoro ler e também arrisco uns escritos de vez em quando. Porém, não é tudo. Não estranhe que saiba tanto sobre si. Não me tema. Apenas pretendo apreender como conseguiu viver desta maneira e quando digo “viver” já sabe a que me refiro. Como com 33 anos, mais dois do que tenho agora, deixar tudo para cumprir o sonho de acompanhar a digressão de um ano, da sua banda favorita? Que coragem a moveu para adiar 365 dias a sua vida e a dos seus? Que desvarios terá experimentado? Esses, não fui capaz de apurar. Só o facto de ter deixado o emprego seguro, onde se sentia infeliz, para viver essa aventura. Grito colossal de liberdade que me fascina. Que maravilhosas histórias terá para contar aos seus netos? São dois, verdade? Voltou decerto mais rica dessa sucessão de dias imprevisíveis. Parece mentira, tudo o que fez.


Regressar desse ano de Rock and Roll e entregar-se nos dois seguintes a uma missão humanitária em Moçambique. Dar-se a terceiros, protelando tudo, sem saber se poderia recuperar aquilo de que abdicada. Sei que se isolou nesse período. Foi toda deles, dos meninos órfãos desse país. Pouco mais sei. Não quis que se soubesse. Porquê o pudor? Não acha que os outros deveriam saber da sua generosidade? Do seu altruísmo? Temia que deixassem de ser genuínos se fizesse alarde desses? Como é que o Sérgio esperou por si? Como continuou a amá-la? Ama-a ainda, ao que sei. É belo. Mesmo quando o abandonou novamente, assim que regressou de Moçambique. Foi para uma plataforma de estudos oceanográficos, no meio do Pacífico, documentar-se para um livro sobre o fundo do oceano o qual, aliás, amou intensamente toda a vida e com que coloriu muitos dos seus romances. No regresso o seu amor ainda a esperava e com 38 anos enceta outra jornada, a maternidade. Por amor a ele que muito o desejava. Assustavam-na as dependências e a ideia de ter outrem amarrado a si por laços invioláveis; inquebrantáveis. Os bebés das suas amigas aterravam-na, mais do que a acicatavam. Pelo Sérgio venceu os receios e foi uma mãe exemplar. Três filhos em quatro anos. Amorosa, dedicada, sem, contudo, se esquecer de si. Nunca olvidou o que lhe era essencial e nunca abdicou da sua entrega aos outros. Nesses “outros” incluíam-se obviamente os animais, que desde pequena lhe mereceram, sempre, mais respeito do que as pessoas. Em tenra idade os elegeu como a mais perfeita obra de Deus. Arranjou tempo para ser activista da PETA e empenhou-se na mudança de mentalidades. Maço-a? Conto-lhe o que sabe de cor. Perdoe-me mas continuo esta história. A sua. Permitir-me-ia se a escrevesse um dia? Dar-me-ia semelhante honra? E que dizer da amizade com que sempre se vestiu? São unânimes os seus amigos. Chamam-lhe “a irmã com que a vida me presenteou”. Dedicou-se-lhes abnegadamente. Chorou entretanto a morte de alguns, dedicando-lhes os seus manuscritos. Aos mortos e aos vivos. Foi na amizade que mais se encontrou. Andreia como se consegue aproveitar tão bem uma vida, não me diz? Como cumpriu tão bem essa missão? Terão 24 horas os seus dias, como têm os meus? Dorme de noite? Ou vive noite e dia com sofreguidão insaciável e permanente? Sei que foi acometida de doença atroz, que hoje a impede de escrever, porque lhe roubou o vocabulário. Chamaram-lhe afasia progressiva. A Andreia chamou-lhe oportunidade. Possibilidade de dedicar todo o tempo que lhe resta – e que a escrita com a respectiva obsessão de que era acometida ao fazê-lo, preencheria – aos seus e aos que pressente sós. Sempre a moeu a solidão, embora fosse seu apanágio dizer, para que os seus interlocutores não se lamentassem de forma vã: “Sozinhos estamos todos.” Hoje passa os dias visitando essas pessoas ditas sós, nos hospitais ou em lares. Gente incapaz de apanhar o 58 ou contemplar as sete colinas. Não lhes pode ler, porque perdeu essa faculdade, mas recorda-se ainda dos seus contos e fala-lhes das histórias que um dia ganharam vida pela sua mão esquerda, ou explica-lhes simplesmente como estava o tempo no miradouro; este; imaginando em que pensavam os transeuntes com que se havia cruzado, inventando narrativas quotidianas, embora atabalhoadas por causa da moléstia que a assolou. Que me diz, dá-me o autógrafo? Alcança porque lho peço?


Ouvi-a atentamente. Nem tudo teve sentido, esta maldita doença roubou-me a inteligência e o entendimento de outrora. Sei, porém, que não lhe quero fazer um garatujo num papel. Isso é certo. Totalmente descabido, o seu pedido.

- Não.
- Não?
- Não.
- Porquê?
- Porque, minha querida, jamais ambicionei o reconhecimento das outras pessoas. Tudo o que fiz foi viver, como tu tão bem definiste quando principiámos a nossa conversa. Ou direi melhor, o teu monólogo?
- Mas é admirável a sua vida! Fruída ao segundo, rica em inúmeros aspectos que ultrapassam em muito uma carreira, que foi o que lhe permitiu visibilidade. É pelo conjunto que o desejo. Pelo que fez que foi visto e pelo que ficou escondido, embora não seja, de todo, menosprezável.
- Eu sei. Fiz o melhor que pude. Quis realmente, com toda a minha alma, aproveitar esta dádiva que é a vida. Este milagre. Mas não te dou um autógrafo.
- E o que é que digo à Raquel*?
- Diz-lhe que não te ocorre qualquer motivo para alguém te pedir um autógrafo.
- Só isso?
- Não. Diz-lhe também que, apesar de te teres sentido tentada a ambicionar que um dia alguém to pedisse, consideras afinal, que semelhante reconhecimento não é, de facto, importante. Diz-lhe ainda que, faças o que fizeres da tua vida, tens a certeza que terás aproveitado sublimemente o tempo que te foi concedido aqui.

Andreia Moreira.
29/11/2009

*O TPC consistia no seguinte: "Vão na rua e uma pessoa pede-vos um autógrafo. Porque o faria?"

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O mundo é dos machos

E isso embora me deixe, não raras vezes, completamente lixada (com F) e com vontade de gritar, não me faz esmorecer.

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quinta-feira, 4 de março de 2010

 

Parabéns Moita!

Meu AMIGO de longa data. Gosto de ti. Cá dentro, és dos meus. Mesmo que só nos vejamos de vez em quando. Mesmo que não nos falemos durante outro tanto tempo. Mesmo que eu seja uma desnaturada e não te tenha feito uma visita quando ficaste sem o apêndice. Mesmo assim. Mesmo que tu não gostes de mim como eu gosto de ti. Não preciso da reciprocidade. eh eh eh eh eh. Gosto do teu modo de ser do contra. E gosto da maneira como me fazes rir e ficas a olhar de baixo para cima, com o esgar maroto de quem sabe que teve piada. É isto. Sem necessidade de assinaturas reconhecidas no notário (coisas que se pedem aos senhores no âmbito do meu trabalho das 9h30 às tantas). PAM. Um dia em grande para ti. Aquele abraço.

A "nossa" banda pá. Toma lá. Um grito de rebeldia para um espírito maravilhosamente inconformado.

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terça-feira, 2 de março de 2010

 

Era uma lambada a cada um e 'tava feito.

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