quarta-feira, 30 de maio de 2012

 

WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN


Há pessoas que nascem anjo(s), outras demónio(s). A maioria nasce apenas pessoa, com um pouco de ambos. Nem todos os "Kevin" matam, contudo, dominam melhor que outrem a arte de massacrar. Agressões há que não deixam vestígio(s) de sangue e se revelam, todavia, indeléveis. É duríssimo Amar (incondicionalmente) um Kevin. Desisti há muito. Nos sonhos creio. Nas preces que são minhas guardo o lugar dele, almejando-lhe o melhor. Longe. (Muito longe de mim.)

«Soubeste amá-lo Fernanda?»

«Conseguiste amá-lo Francisco?»

«Não aprendi a fazê-lo. Tentei muito. Tudo. Parei chegada ao meu próprio abismo.»

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quinta-feira, 24 de maio de 2012

 

No meu peito não cabem pássaros – Nuno Camarneiro - Na Geração C

A relação que estabeleci com este livro foi de estranheza. Conhecia o blogue do escritor (Nuno Camarneiro, 1977) no qual era amiúde arrebatada pela sua escrita. A expectativa em relação a prosa de maior fôlego era imensa, pelo que me quedei desconcertada quando não fui impelida, de imediato, para o(s) enredo(s). Curioso? Agora que me preparo para vos falar dele, percebo quão fortes as impressões que me deixou e como algumas imagens ainda me assombram, como se lidas há um instante.

Em 1910 incendiou-se o céu à passagem de dois cometas pela Terra, convencendo a maioria do fim. À data três homens existiam em cidades distintas, alheios ao pânico. Buenos Aires, Lisboa e Nova Iorque. Jorge, Fernando e Karl, murmúrios de Borges, Pessoa e Kafka. Narrativas díspares de tom poético a perpassar cinco momentos: exórdio, confronto, acerto, assombro e fecho.

Karl é imigrante e lava vidros num arranha-céus. Haverão de se aproveitar da(s) sua(s) carência(s) convencendo-o, por um dólar, a ser cobaia numa experiência que corre mal. Assim lhe roubam o domínio sobre um braço. Tremores constantes custar-lhe-ão o posto de trabalho. Morrerá de amores por Celestina, mulher que conhece num estabelecimento de satisfazer desejos, gerido por Thomas que o acolhe para saldar para com ele dívida, após o incidente que o deixou desempregado.

Fernando apresenta-se-nos enquanto atravessa o Atlântico com destino à casa de uma tia, com quem viverá algum tempo. Escreve febrilmente o mundo e a si mesmo. Alimentará paixão fantasma por uma mulher que lhe rouba a escrita e a liberdade, depois de a ter resgatado às águas do Tejo.

Jorge é ainda menino quando se nos revela, criança de imaginação prodigiosa especialista em inventar universos onde se possa perder e crescer em jogo perene. Escreverá o destino de Roberto, um colega de escola, para exorcizar o quanto sofreu com as suas impiedosas brincadeiras. Conceberá, anos mais tarde, que pode alterar o rumo da realidade.

Desafio-vos a perceberem cada um deles nas seguintes citações e a abraçarem esta obra de uma prometedora voz da literatura portuguesa recente: «Afinal escrever era trazer o mundo na algibeira.» (Pág. 42); «É um homem descontente sem ideias para felicidades.» (Pág. 150); «Os homens duplicam-se a cada cruzamento, os homens são assim. (Pág. 179).

Repleto de bonitas metáforas, arrisco-me a dizer que neste romance todas as frases são sublimes.

«Quem nunca quis dormir até a vida ser um lugar praticável, quem não conhece o desconsolo de vestir cada dia uma pele curta nas mangas (…)» (Pág. 164)

110 BPM – Adquirir. Os nossos autores precisam do apoio dos leitores. Sugerir a leitura. 

Publicação original AQUI. 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

 

REENCONTROS


Há pessoas com olhos doces, dos que (me) falam, a quem é sempre bom regressar. Habitar-me-ão até ao dia último. Revê-las sabe à saudade que não tinha a noção de ser desmedida. Não há virtualidade que supere estar com aqueles que um dia fizemos nossos. Não há calor maior que o dos sorrisos, do(s) olhar(es), do toque. É nessa vida que me encontro: Quando existo em abraços e beijos e digo “Gosto (muito) de ti.” sem palavras.

Aproveito o post para um Post scriptum: PARABÉNS GUIsado! Aquele abraço. Móchiiiiiiiiiiilllaaaaaaaaaaaaa! :)

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quarta-feira, 16 de maio de 2012

 

«VER»


Dei-lhe a ler o meu último trabalho que um dia, em breve, partilharei convosco. 25000 Caracteres de suplício, para alguém em quem o prazer da leitura não habita. (Falta de hábito?) Olhou-me com o ar desconsolado de quem não sabe como transmitir o que guarda debaixo da língua. Engoli em seco. Com trejeitos de pesar (Na iminência de proferir «Coitada…», todavia, refreando-se.) dirigiu-se-me solene, qual prenúncio de morte:

- O feedback que tenho para te dar é que escreves à escritor.

Eis uma das coisas mais bonitas que me disse até hoje e irrefutável prova de Amor. Sei o quanto o enfada a Literatura. (Ó p'ra mim toda armadona em boa a dizer que o que escrevi se enquadra nessa arte maior.)

(Obrigada pelo apoio. É importante.)

P.S. Trata-se de um dos textos que mais me orgulha. Burilei-o à exaustão. Ao ponto de me cansar dele e de o considerar a mais banal narrativa. Nunca outrora me dediquei tanto ao corte, à escolha da(s) palavra(s) justa(s). Dois meses para 14 páginas. RIP. Agora é de quem o Ler.


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quinta-feira, 10 de maio de 2012

 

QUALQUER DIA...


...Sou um talento idoso e (ainda assim) ninguém me descobre.

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terça-feira, 8 de maio de 2012

 

MELANCÓMICO – O Livro – Na GERAÇÃO C

Há uns anos perdi-me, enquanto vagueava por território imaginário. Fui dar a um bairro catita, daqueles à antiga, em que as pessoas se conhecem e se preocupam umas com as outras. Nesse havia um quiosque tradicional, um gato preto para nos testar a sorte e um homem, com alma de poeta e um saco de plástico em cada mão, a dedicar-se à filosofia (de bairro) e aos aforismos (de pastelaria). Falo do Melancómico, personagem híbrida amante da melancolia e da comicidade improvável, criado por Nuno Costa Santos (1974) guionista e escritor.

Na mão esquerda “MELANCÓMICO – O livro.” Releio-o para vos falar dele. Reencontro o Márcio; a Dona Bina; a cidade em que as preocupações existenciais me chegam na conta do supermercado perto da água e do fiambre e o humor se vende em gramas com IVA incluído.

Trata-se de colectânea de frases para saborear. Nada de as lerem sôfregos, sem as mastigarem. Poderão afigurar-se-vos leves, porque espirituosas, todavia, nelas encontram os grandes temas de uma vida vivida: o Amor, a Morte, a Amizade, Deus, as Tecnologias, a Paternidade, os Antidepressivos e a Chamuça. Destaco apenas uma delas para não estragar o prazer de descobrirem as restantes. «DONA BINA SAI-SE COM ESTA ANTES DE PEDIR O CAFÉ COM ADOÇANTE – O pior palco é aquele em que as pessoas julgam que não estão a representar. (Pág.54)»

No final do volume aguarda-vos entrevista com o bom frasista. «Estamos com muito medo do silêncio e de ter experiências privadas que depois não são contadas. Temos de contar tudo. E eu reivindico esse regresso ao secretismo.» Subscrevo-lhe este e outros pensamentos.

Visitem-lhe o blogue entretanto extinto e o sítio onde encontram a série que passou na televisão, que transportava para a pequena tela o universo da melancomia. Estou certa que não darão por perdido esse tempo.

110 BPM – Um livrinho para ter na estante ao alcance da mão, tão vital para os amantes de aforismos, como a bomba para o(s) asmático(s). Se visitarem a Feira do Livro encontrá-lo-ão (e ao Caderno) no Pavilhão da Europress (33B).

P.S. Aproveitem e procurem também “No meu peito não cabem pássaros” de Nuno Camarneiro, o qual sugerirei dentro de dias. Deixo, ainda, a pista para “O teu rosto será o último” de João Ricardo Pedro, que fez da adversidade - Ficou desempregado. – oportunidade - Escreveu este livro considerado por muitos um magnífico e auspicioso primeiro Romance. –Habitam ambos a Praça Leya.

PUBLICAÇÃO ORIGINAL AQUI.

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DIVULGAÇÃO de uma causa maior pelA Voz da minha vida

http://www1.rollingstone.com/hearitnow/player/eddievedder.html 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

 

Cada um faz o melhor que pode. - Declaração de intenções III

Não sou uma palavra, uma frase, uma mania. Não sou um trejeito, um tom de voz, uma maneira de escrever. Não sou o meu sentido de humor, a(s) minha(s) música(s) preferida(s), as causas que abraço. Não sou o Amor que sinto, os meus filhos, nem os meus amigos. Não sou a única aluna, leitora, não sonho sozinha. Não sou o meu animal preferido, a cor que mais me diz, o(s) livro(s) da minha vida. Não sou o trabalho diário, a forma de me rir, ou o andar desajeitado. Não sou as minhas crenças, ou indignações. Não sou as peças de teatro que me arrebatam, ou os filmes que assisto na tela maior. Não sou a vontade. Não sou o que vivi, as paixões, os desgostos. Não sou o meu mau-génio, as minhas inseguranças, as minhas dores. Não sou o meu doentio ciúme. Não sou o medo de não ser, do escuro, de perder o indefinível. Não sou a minha desmedida fé, tão pouco a massacrante desconfiança. Não sou o(s) desejo(s) que me consome(m). Não sou o que me (de)move. Não sou o meu olho direito torto, ou as unhas curtas, sem cor. Não sou a paranóia, nem o bom-senso, ou as minhas decisões. Tudo o que, isoladamente, não sou, o sou inteira.

(Eis que me sinto melhor.)


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