Há uns anos perdi-me, enquanto vagueava por
território imaginário. Fui dar a um bairro catita, daqueles à antiga, em que as
pessoas se conhecem e se preocupam umas com as outras. Nesse havia um quiosque
tradicional, um gato preto para nos testar a sorte e um homem, com alma de
poeta e um saco de plástico em cada mão, a dedicar-se à filosofia (de bairro) e
aos aforismos (de pastelaria). Falo do Melancómico, personagem híbrida amante
da melancolia e da comicidade improvável, criado por Nuno Costa Santos (1974)
guionista e escritor.
Na mão esquerda “MELANCÓMICO – O livro.” Releio-o
para vos falar dele. Reencontro o Márcio; a Dona Bina; a cidade em que as
preocupações existenciais me chegam na conta do supermercado perto da água e do
fiambre e o humor se vende em gramas com IVA incluído.
Trata-se de colectânea de frases para saborear.
Nada de as lerem sôfregos, sem as mastigarem. Poderão afigurar-se-vos leves,
porque espirituosas, todavia, nelas encontram os grandes temas de uma vida
vivida: o Amor, a Morte, a Amizade, Deus, as Tecnologias, a Paternidade, os Antidepressivos
e a Chamuça. Destaco apenas uma delas para não estragar o prazer de descobrirem
as restantes. «DONA BINA SAI-SE COM ESTA ANTES DE PEDIR O CAFÉ COM ADOÇANTE – O
pior palco é aquele em que as pessoas julgam que não estão a representar. (Pág.54)»
No final do volume aguarda-vos entrevista com o bom
frasista. «Estamos com muito medo do silêncio e de ter experiências privadas
que depois não são contadas. Temos de contar tudo. E eu reivindico esse regresso
ao secretismo.» Subscrevo-lhe este e outros pensamentos.
Visitem-lhe o blogue entretanto extinto e o sítio onde encontram a série que passou na televisão,
que transportava para a pequena tela o universo da melancomia. Estou certa que não
darão por perdido esse tempo.
110 BPM – Um
livrinho para ter na estante ao alcance da mão, tão vital para os amantes de
aforismos, como a bomba para o(s) asmático(s). Se visitarem a Feira do Livro
encontrá-lo-ão (e ao Caderno) no Pavilhão da Europress (33B).
P.S. Aproveitem
e procurem também “No meu peito não cabem pássaros” de Nuno Camarneiro, o qual
sugerirei dentro de dias. Deixo, ainda, a pista para “O teu rosto será o
último” de João Ricardo Pedro, que fez da adversidade - Ficou desempregado. –
oportunidade - Escreveu este livro considerado por muitos um magnífico e
auspicioso primeiro Romance. –Habitam ambos a Praça Leya.
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# Ideia partilhada por Andreia Azevedo Moreira @ 19:00
