sexta-feira, 30 de março de 2012

 

CORRENTES D’ESCRITAS 2012 – 13ª Edição - Na Geração-C

Hoje não vos falarei de um só livro, ou autor. Venho contar-vos da minha mais recente andança literária e dos livros e autores com quem me cruzei, num encontro de escritores de expressão Ibérica que aconselho, vivamente, a não perderem. São as Correntes D’Escritas, organizadas pelos infatigáveis e perseverantes Manuela Ribeiro e Luís Diamantino da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim que, com abnegação imensa, proporcionam, ano após ano, alguns dias em que o oxigénio se chama Literatura. Esta edição, a 13ª, realizou-se entre 22 e 25 de Fevereiro e valeu cada quilómetro percorrido. Os momentos mais aguardados são as “MESAS”. É então que se ouvem os escritores cujo trabalho seguimos e outros que se nos revelam, discorrer sobre os temas propostos. No entremeio ocorrem lançamentos de livros.

Sete mesas aconteceram: “A escrita é um risco total.”; “O fim da arte superior é libertar.”; “A Poesia é o resultado de uma perfeita economia de palavras.”; “Toda a Literatura é pura especulação.”; “A escrita é um investimento inesgotável no prazer.”; “Da crise da escrita não se pode fugir.” e “As ideias são fundos que nunca darão juros nas mãos do talento.” Motes que originaram abordagens díspares e, em alguns casos, surpreendentes. Foram horas de conversa, risos, algumas lágrimas, dicas para aspirantes e sobre leituras porvires, muitos minutos de puro deleite. Interrogações. Epifanias. Abraços. Reencontros. A ideia que passa é que se trata de família. As pessoas cruzam-se nos corredores e alegram-se com os rostos com que se deparam. Demonstram a saudade sentida e o desejo de saber o que se passou no hiato de tempo que os apartou.

Este ano o homenageado foi Eduardo Lourenço e o 11º número da revista Correntes D’Escritas totalmente dedicado ao nosso maior pensador. Um encanto ouvi-lo, aprender com ele. Com os restantes participantes. Intervieram, directa ou indirectamente, mais de 50 escritores. Houve acontecimentos que marcaram, como Rubem Fonseca dizendo Camões, ou enunciando os cinco requisitos mínimos para se fazer um escritor (1-Loucura, 2-Alfabetização, 3-Motivação, 4-Imaginação, 5-Paciência); a Margarida Vale de Gato a recitar poemas no seu tom doce; a maravilhosa prelecção de Dom Manuel Clemente, ou a subtileza de Gonçalo M. Tavares, tão só exemplos. As Correntes são para se viverem, não para se lerem.

Por falar em leituras, deixo-vos com algumas sugestões que fazem parte da minha lista “A LER” que se reforçou naqueles dias, quer porque os livros foram mencionados, quer por que ao rever os autores relembrei vontades antigas (A ordem é aleatória): «Bufo & Spallanzani» de Rubem Fonseca (1925); «Adoecer» de Hélia Correia (1949); «Paixão» de Almeida Faria (1943); «Ainda não é o fim nem o princípio do mundo, calma, é apenas um pouco tarde» de Manuel António Pina (1943); «O segredo dos seus olhos» de Eduardo Sacheri (1967); «A louca da casa» de Rosa Montero (1951); «O amante é sempre o último a saber» de Rui Zink (1961); «O remorso de Baltazar Serapião» de Valter Hugo Mãe (1971); «A génese do amor» de Ana Luísa Amaral (1956); «Humilhação e Glória» de Helena Vasconcelos; «Um piano para cavalos altos» de Sandro William Junqueira (1974); «Os livros que devoraram o meu pai» de Afonso Cruz (1971); «Nova teoria do Mal» de Miguel Real (1953); «Os Íntimos» de Inês Pedrosa (1962) e «Rostos na multidão» de Valeria Luiselli (1983).

195 BPM – Inesquecível. A repetir, anualmente, se possível. Passar palavra. Em 2013 não perder.

Publicação original AQUI.

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quarta-feira, 28 de março de 2012

 

ENCONTRO LIVREIRO - Queria muito ter ido, mas não pude. Fui um bocadinho...

«Pouco sei sobre economia, negócios, lucros, ou prejuízos. Desconheço estratégias financeiras, ou soluções milagrosas para o mercado livreiro. O que penso é intuição, ingenuidade, ou tão só ignorância. Creio que o livro em papel não morrerá. As livrarias tão pouco. Haverá sempre leitores a precisar do toque. Olho para as minhas estantes repletas de livros que ainda não li e tenho certo que continuarei a comprá-los. É a herança que quero legar. No presente o meu filho não pára, descobre ainda a novidade a cada passo. Tenho, todavia, esperança que a quietude venha a ser possível quando acordado e que possa, em breve, ler perto dele, enquanto brinca. Imagino que há-de crescer a ver-me tão feliz dentro dos livros e que um dia me abanará o joelho: «Lês para mim, mamã?» Hoje já o deixo tirar os livros das estantes. Risco enorme. Ainda não percebe o tesouro que tem nas mãos e a tentação do rasgar é imensa, quando se tem um ano. Quero que lhe sejam familiares estes amigos. Que os não tema, ou repudie. Por isso, quando se dirige às prateleiras coloridas divertido, falo-lhe mansa e deixo que os manuseie à vontade, como aos seus livros de borracha com patinhos, ursos e chupetas perdidas. Amo o meu filho. Ser-me-ia insuportável não poder abraçá-lo. Amo os livros, é-me inconcebível não lhes tocar para os conhecer, como o é amar um homem desconhecendo-lhe o odor. A fé que tenho? Há muita gente a pensar assim e a acreditar que se não pode deixar morrer este modo de aprender. Como em tudo na vida, cada um a desempenhar o seu pequeno papel: Que cada pessoa consiga no orçamento do mês guardar alguns euros para comprar, pelo menos, um livro numa livraria. Se só pode adquirir um, é imperioso que o escolha bem. Quem melhor do que um bom livreiro para nos aconselhar? Certamente não será uma estante abandonada, perto tupperwares e atoalhados, que nos assegurará levarmos boa companhia. Vivem-se tempos difíceis, não duvido. Gostava muito de poder estar aí a ouvir-vos, para perceber melhor a situação e poder contribuir para encontrar soluções efectivas e menos elementares.

À leitura entendo-a como aventura dos sentidos que me acicatará toda a vida: “Arde a pele às costas subjugadas, arqueiam ante o(s) génio(s) escolhido(s); cheira ao carvão das frases sublinhadas, sabe ao sal do médio a virar as folhas com ruído; eis o vício avassalador e irreprimível que, ao aprisionar, liberta."

No que depender de mim agirei e apesar de ausente grito convosco: “Isto não fica assim!”»

Andreia Azevedo Moreira
Escreleitora (Carcavelos)

Os relatos e as fotografias do que se passou AQUI.

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terça-feira, 27 de março de 2012

 

DIA MUNDIAL DO TEATRO

Representar não é fácil. Ser actor, como o concebo, é saber dar-se. Inteiro. Até a alma. Obrigada queridos actores pelo quanto já me enriqueceram. Pela forma generosa como deram vida às palavras dos outros. Um dia escrevo-vos.

Esse dia está perto. (Já não adio. A vida é já.)

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domingo, 25 de março de 2012

 

ENCONTRO LIVREIRO - HOJE - Livraria Culsete pelas 15h - É IR!






http://encontrolivreiro.blogspot.pt/
Quem não pode estar presente também pode participar:
http://encontrolivreiro.blogspot.pt/2012/03/gostava-de-ir-setubal-amanha-ao-iii.html

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sexta-feira, 23 de março de 2012

 

PARABÉNS HUGO!

Fecho os olhos: Estamos na paragem do autocarro, aquele do «ou entras ou migas!». Eu histérica à procura do passe dentro da bolsa de rebordo preto, tu calmo ignorando o desvario dizendo “procura, está aí de certeza.”. Vejo a casa de Santo Amaro, aquela ao lado da casa das “Velhas” da série portuguesa que imitava a americana e lembro-me com uma nitidez avassaladora do sítio onde a Maggie nos ladrava e da piscina à beira da qual conheci a Step. Minúscula, patinhas levantando alternadamente para me pisar os dedos das mãos. Toco o postal com a mosca colada a fita-cola, repleto de nódoas de gordura carinhosamente plantadas e do super-herói, figurinha de plástico a desempenhar um qualquer papel no insano presente de aniversário. Recordo as dezenas de missivas para aquele jornal de notícias fantásticas (24?) dirigidas à Querida Júlia (?) – PDI que me rouba detalhes. – e a que ainda me grita é a do gajo com um machado cravado na tola posando para nós. Corri qual Julie Andrews pelos descampados perto da linha do comboio enquanto filmavas alucinado, comemos bolos enqueijados que a Teresa fazia na casa da Bzuu, “bateste a(s) bota(s)” depois de gravares o epitáfio enquanto te seguíamos incrédulas e lembro as gargalhadas que éramos quando nos juntávamos. As aulas: Todos de costas para a Tunishom, ou de bata, sugestão tua, líder pelo riso e companheirismo, mais do que pela imposição. Pastéis de bacalhau enterrados nos vasos ao invés de sementes; phones nos ouvidos no lugar das inequações; calduços da Professora Anabela. Lembro-me do dia primeiro das aulas que seriam nossas. A Bzuu ia com a sua camisola de crochet com franjinhas, sei lá porque decorei o pormenor, tu não sei como ias mas sei que pensei: “Ah coitado tão sério.” Podemos enganar-nos redondamente, é certo que o faremos, só pela(s) aparência(s). Tenho nas costas as marcas da roseira para a qual ainda hoje juras (cabrão!) que não me empurraste, dizes que me atirei como se pudesse ser assim tão desequilibrada. Desequilibrada eu? Sabe ao termo que inventaste para as minhas choradeiras Ramonianas: “Estás outra vez com alergia?”. Era alergia pois era… Sei bem é que chegava ao pé de ti a angústia esfumava-se e era só sorriso outra vez. Veio a faculdade e assistimos às chamadas de Amilcar Alhinho e José Tolas para o exame. Falámos, não raras vezes, das mamas da Joana que eram brutais. A Joana sempre te deu a volta à mona. E era tão mazinha a gaja, como é possível? Não és perfeito, bem sei. Fui contigo até ao CRASPEM, algumas vezes. À MANIF do 15 de Outubro. A Mil Fontes enfardar como uma lontra. Jogámos o jogo do copo, dormi no chão a teu lado, borrada de medo, essa noite. Roubaste-me o colchão que transportei sozinha para o lugar, à custa do mau feitio. Gritei “Ó Hugo esta merda está cheia de bichos!” Quando puseste em prática a peregrina ideia de me colocar uma sogra de verga (a sogra, não a verga) debaixo da almofada. Acampámos com ornitólogos e as peidonas (eu e bzuu) não se levantaram para observar os pássaros, objectivo da missão. E tu não te zangaste. Raramente te zangas. És tão boa pessoa, pá. Sei onde estava quando me ligaste a dizer que a Alice tinha morrido. Doeu-me como se tivesse sido a Isabel. E chorei cada uma das mortes da Maggie, da Step, do Sul, como chorei a do Buddy. Presentes a surpresa e a alegria quando soube que encontraras o Amor. Amparaste-me inúmeras vezes. Houve muitas em que não morri porque te tinha na vida. Sabes-me de cor. Creio que te sei de cor, também. Adoro-te Hugo. Acho que não te digo vezes suficientes. És uma grande, grande parte do que sou. Parabéns meu AMIGO.

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quinta-feira, 22 de março de 2012

 

Ai.


http://albertnobbs-themovie.com/


Às vezes não se vive, na senda de um sonho.

Não se vive, a vida inteira.

O sonho não se cumpre.

Não posso afirmar que o sabor fosse amargo.

Os lábios, na hora derradeira, eram sorriso a soar completude.

Às vezes não se vive, por causa de um sonho.

Às vezes morre-se a sonhar, sem se ter vivido.

Às vezes a boca enruga-se-me de interrogações.

Não tenho certezas sobre o(s) sonho(s), como as não tenho sobre a vida.

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quarta-feira, 21 de março de 2012

 

DIA MUNDIAL DA POESIA

Abaixo um poema que a Bzuu me deu a conhecer. Representou-o de forma arrebatadora na casa Verdes Anos. Há na minha Bzuu um animal preso e tem sido maravilhoso assistir à sua libertação. Estão lá o instinto, a garra, a vontade. Falta só deixar o pavor do(s) caçador(es), que imobiliza, para trás. Falta só largar a correr. Se corrermos já nos salvámos, ainda que os males nos alcancem.

"EISIO":

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam* tantos anos.


David Mourão Ferreira

(Se alguém nos quiser elucidar sobre o que queria dizer DMF com "envolam" ficaríamos eternamente agradecidas. Sabe-se lá se não ofereceríamos uma recompensa à boa alma.)

* Obrigada Ana!
(Nota mental: Tens de te dedicar mais à poesia. Como é possível que não conhecesses estas sublimes palavras?)

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sexta-feira, 16 de março de 2012

 

É SÓ ATÉ DOMINGO (18). Não percam. É preciso nutrir a...

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quinta-feira, 15 de março de 2012

 

LEMA DE VIDA

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ENLEVO


A não perder.

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terça-feira, 13 de março de 2012

 

Correntes d’Escritas 2012 – EU FUI! – Sétima e última parte

Escrevo-vos este último relato, sob o efeito de alegria intransmissível. A histeria tomou conta de mim. Já pulei. Já gritei. (Desculpa Ti. A mãe é chalita, tu sabes.) Já chorei. Já tremi. Ainda não aqueci os pés. (Quando o arrebatamento é imenso, enregelo. Não sei explicar.) E portanto, toda a emoção que as Correntes D’Escritas me entranharam se encontram, de momento, camufladas por este instante. De todo o modo, como sou por demais obstinada e já tinha decidido que hoje era isto, aqui vai. Perdoem qualquer coisinha.

7ª MESA: “As ideias são fundos que nunca darão juros nas mãos do talento”. Diz que alguém meteu água e a citação estava marada. A verdadeira, do Rivarol, era: “As ideias são um capital que só dá juros nas mãos do talento.” Ora, falou-se em capital, em juros e fundos e a malta deu o “tilt” e pôs-se a falar de economia, da crise, da bolsa de valores e de dinheiro. O auditório estava sobrelotado, como para nenhuma outra mesa o vi. Comovente mas aborrecido, dado que pela primeira vez tive um lugarzito, por sorte, apenas no andar de cima. Muito e muito longe da acção principal. As notas, foram as possíveis. Tinha sono e confesso que já estava de cabeça no regresso. Cinco horas a conduzir de noite adivinhavam-se desastrosas, para a pitosga mor. Desconheço se o que me chamou a atenção nas intervenções, foi dito pelos autores adiante enunciados, uma vez que não apontei com rigor. Parece-me que foi assim… De Eugénio Lisboa anotei a curiosidade de se tratar de Engenheiro Electrotécnico. O que é que isso (me) interessa? Ora. Então não se está mesmo a ver? Com Paradise Lost, John Milton ganhou a módica quantia de 10 Libras. Como se a agrura não bastasse, uma pesquisa ao Google devolve nos dois lugares cimeiros a banda inglesa de Doom metal, formada em 1988. Como se pode constatar, a “posteridade” é o que fazemos dela. Como a solidão, a felicidade e outros conceitos assim. De Helena Vasconcelos (Não posso jurar, atenção.) retive que Flaubert dizia (Se não dizia, era o que gostava que tivesse dito.) “Talento é paciência sem fim.” Do Gonçalo M. Tavares (Adoro este escritor, por deus. A D O R O.) rabisquei no caderninho às flores: “Uma boa ideia nunca deve dar conta certa. Deve deixar resto.” / “Ser humano sai caro.” / “Leibniz disse que duas coisas iguais não são duas” e Alberti que “Os quatro pontos cardeais são três o Norte e o Sul.” (Alguém o corrigiu na citação. Não registei a correcção. Googlem.) João de Melo (familiar de Dias de Melo?) fez uma intervenção maravilhosa que, tenho certo, não ficou aquém dos papéis que tinham o que queria dizer, os quais perdeu. Luís Sepulveda duvida da palavra talento. E Onésimo gracejou, entre muitas outras coisas, com o facto de Salazar ter “descoberto” o “Pelintrão” – Energia sem massa.

Fechou-se muito bem aquilo.

Homenagearam-se participantes das Correntes de outrora, entretanto desaparecidos. Entregaram-se prémios. Um puto que recebeu um deles, calou os presentes com um inflamado discurso: “Parece-me inadmissível que em tantas horas de aulas de português eu tenha escrito tão pouco. É preciso mudar alguma coisa no ensino. É preciso escrever mais nas aulas de língua Portuguesa.” Quem fala assim não é gago e ali está uma alminha que não precisa de desembolsar uma data de pilim, num curso de teatro, para desemburrar que, com apenas 18 aninhos, já é todo desenvencilhado. E depois aquilo continuou com a entrega de prémios LER/BOOKTAILORS e festa(s), contudo, às 20h basei na perspectiva de chegar perto das 00h a casa.

Tive medo. Muito medo. As luzinhas reflectoras da auto-estrada baralhavam-me os sentidos. Ficava na dúvida se aquilo curvava para a esquerda, ou para a direita e o pensamento «vou-me despistar, agora é que é», acorreu em diversas ocasiões. Especialmente as de nevoeiro. Usei abusivamente os máximos. Cheguei sã e salva e de alma cheia. Foi uma experiência arrebatadora e irrepetível.

Foi bom estar sozinha no meio de livros, autores e leitores. A sensação de decidir o que quero fazer e pô-lo em prática, indescritível e inspiradora. Começar o meu Pedro de raiz. Redigir-lhe as primeiras linhas que ditarão trilho, ainda mal iluminado. Respirar literatura, em exclusivo, por três dias? Regenerador. Dispor de todo o meu tempo, vital de ora em vez.

Regressar ao relógio de ponto? Foi doloroso. Andei bastante infeliz, nesse primeiro dia de semana pós aventura. Depois, a minha amiga Ivânia, como em outras ocasiões, falou-me, com a sua voz sábia e doce, sobre a vida real e sobre o inexorável facto de precisar de ganhar dinheiro para fazer as coisas de que gosto. Tem razão ela. A “brincadeira” rondou o valor que pago mensalmente pela minha casa. Jamais teria acesso a estes quatro dias de sonho(s) sem o meu trabalho. Obrigada Ivaninha. És pessoa de quem gosto muito. (Gosto de me rir com ela e de falar das coisas sisudas. É uma mulher de valor incalculável, que se leva pouco a sério como todas as grandes pessoas. Viva a minha companheira do quotidiano laboral! Viva!)

As Correntes D’Escritas 2012 não foram só mais uma edição de um programa a que (não sei se) poderei voltar em 2013. Foram o retomar do meu caminho para a autonomia interior. Recuso prisões de qualquer espécie, em especial as que se erigem no(s) pensamento(s).

Obrigada Manuela Ribeiro, obrigada Luís Diamantino por esta dádiva para a (minha) Vida.

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segunda-feira, 12 de março de 2012

 

Há momentos em que uma pessoa não tem pernas para o quanto quer saltar

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Estou tão contentiiiiiiiiiiiii!

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Isto é tão bonito e tão triste...

...E estas duas vozes são um caso de amor.

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sexta-feira, 9 de março de 2012

 

DECLARAÇÃO DE INTENÇÕES II:


Recuso a perda da inocência e da capacidade de me encantar. Que se foda o cepticismo.

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quinta-feira, 8 de março de 2012

 

Correntes d’Escritas 2012 – EU FUI! – Parte Sexta

Cheguei ao hotel depois da 5ª mesa, passava da meia noite. Espreitei o bar cheio de convivas, todavia, não me habitava convicto o efeito das duas aulas do curso de teatro, para me afoitar a uma aproximação.

- Boa noite. Importam-se que vos ouça?

Ficou por dizer. Não o lamento. Fazemos o que podemos. O que conseguimos. Fui dormir. Última noite passada comigo. Fez-me bem estar isolada. Pela última vez se iluminou o céu da Póvoa, na janela do 706. Tomei o derradeiro pequeno almoço “axisvermarense” rodeada de pessoas que são o que almejaram (?) um dia. Serão mais felizes, elas que podem perder-se nas horas, de caneta na mão, ou dedos no teclado? Encontraram já um sentido? Sentem-se plenas? Trocariam o que têm, por outra coisa qualquer? Anseiam o inalcançável? Desprezam o que lhes foi permitido, ou que a pulso conquistaram? Todas estas questões calei ao passar por eles, enquanto me sentava alheia numa mesa perto de uma janela que me deixasse vislumbrar o oceano. Comi os meus dois pãezinhos com manteiga, bebi o café quente adocicado, mirei-os o mais discreta que soube. Ruben. Faria. Maranhão. Tavares. Neto. Sepúlveda. Faltar-me-á deveras algo? Não creio. Porque não cessa esta luta (inglória) que travo internamente? Do que é que preciso? Se o alcançar, por que me digladiar a seguir? Às vezes desejamos mais do que precisamos. Às vezes quero o mundo, quando me chega bem a vila de onde vos escrevo. Tu que me lês? És dois? Três? Dez? És um e se um fores, já tudo certo. Tudo como deve ser. Que podes fazer Andreia? Dizia a 6ª Mesa – Da crise da escrita não se pode fugir.

O moderador era o Onésimo Teotónio de Almeida contador nato de histórias e anedotas, de quem adoro LER as crónicas, na publicação que tem o nome do verbo. Quando li o tema pensei no que passo diariamente. Desde que acordo, até que adormeço, há palavras a falar-me. Vontades. Algumas anoto no caderninho verde. Outras creio ingénua guardar na memória, adiando o papel. Para mim a crise é a incompletude dos dias. Deixo para o fim desses a concretização das ideias e são em maioria aqueles em que me vou deitar derrotada. A vida é feita de escolhas. Adio(-me). Tenho sono. Dói-me o corpo. Desisto. Fácil dizerem-me “Fulano de tal fez assim. Fulano de tal fez assado. Fulano de tal fez cozido. Esses sim merecem ser bem sucedidos.” Está bem sou uma merda. Sou preguiçosa. Preciso de dormir sete horas. Assumo. Deixem que me queixe de ora em vez. Pode ser? Para os intervenientes a “crise” passou por outros domínios:

A crise da folha em branco. – Que não existe para quem trabalha. Falou-se da velha questão inspiração versus transpiração. Do Picasso que dizia que quando a inspiração chegava o encontrava a trabalhar. De crises de fígado, que são as únicas que o Sandro William Junqueira diz conhecer.

(Este moço a recitar poesia é um furacão. Editou recentemente “Um piano para cavalos altos” que me suscitou algum interesse graças a José Mário Silva e ao seu rasgado elogio à obra.)

Da crise dos pensadores que são exilados, ou se exilam, para não serem asfixiados pelos poderes vigentes. Magnífica exposição de Miguel Real. Alguém que pretendo acompanhar, de perto. Um bom homem. Parece-me. Dos que se preocupa com o estado das coisas e da Humanidade e faz o que lhe está ao alcance para mudá-los. Um daqueles que (Olha a citação!) como dizia Ghandi é a mudança que quer ver no mundo. «Nova Teoria do Mal» eis o título do senhor a adquirir.

Destaco Salgado Maranhão. Um doce. (Chocolate que adoro.) Um sorriso terno, olhar atento, a mão a estender-se espontânea, amiga. Parecia saber ao que (eu) ia. Encarava-me curioso, quase tom de incentivo.

Então? Estiveste ali? Ouviste? Estás bem?
Falou em ousadia, bom-senso, coragem para errar e, lá está, espontaneidade.

Valeria Luiselli não deixou aqui, antever, o quanto me viria a ser importante.

Estive sentada ao lado do João Rafael Dionísio. Única cara conhecida com que me cruzei durante os quatro dias. Conheço-o de lhe dizer “Olá” nas Aulas da Primavera na FCSH. Apanhei-o e teca teca teca teca toca a falar. Falar. Falar. Coitado. Desculpa Rafael. Eram muitos dias de silêncio e sou uma tagarela. Nem te deixei contar de ti. Descobri-te na net hoje. Ando a decorar um poema do O’Neill para representar às minhas companheiras da Casa Verdes Anos e apareces-me com o teu ar divertido e leve a dizê-lo. Também te vi a destruíres livros (teus) com uma motosserra. A piada é boa - “livros de bolso” - mas não haveria dor naquele acto? Espero estar enganada. És uma boa companhia. Foste generoso ao ouvir-me. À data não to disse, digo-te agora que é tarde: Obrigada.

12h30 mais coisa menos coisa, dirijo-me à casa da Juventude com o “Humilhação e Glória” fisgado. Tinha lido uma recensão ao livro, no Público, era-me imperioso ouvir falar mais sobre ele. Se pela boca da própria autora, tanto melhor. Um livro que me irá apaixonar, estou certa.

E depois Valeria. Fiquei a ouvi-la por acaso. Uma presença subtil mas assertiva. Começou a contar como viveu, dois anos atrás, a maternidade. Sentia-se animal na ordenha. Temeu pelo fim da sua vida intelectual. Arranjou uma estratégia. Integrou aquela nova parte da sua vida no romance que agora apresentava. «Rostos na multidão.» Ela dizia o que já sei. Ouvi-la foi, no entanto, um sussurro de deus. «É, ou não é, possível?» «Que é isso de teres de esperar a maioridade das crias?» «Que é isso de te adiares para a reforma, quando relógio de ponto algum te agrilhoar?» «Que porra de desculpas são essas? Que medo é esse do que fazes ser ridículo, ser em vão?» Comprei o livro para ela mo assinar, pretexto tão-só para lhe dizer: “Obrigada pelo teu testemunho. É possível. É POSSÍVEL! Assim o queira com força, ânimo e trabalho.” Ela olhava para a mulher lavada em lágrimas que tinha defronte, tremente, balbuciante, a falar-lhe num português atabalhoado impossível de compreender pelo seu espírito mexicano e escrevia o autógrafo, desconhecedora da importância daquele encontro, para aquela mãe, filha, dona de casa, funcionária pública, mulher, amiga, amante, prima, tia e escreleitora, tão desequilibrada.

Un abrazo fuerte para ti também Valeria.

(Andreia Azevedo Moreira, Carcavelos, 2012)

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terça-feira, 6 de março de 2012

 

PARABÉNS CUNHADO!

Não me estendo no texto para não te arreliar. Já sei que preferes o olho no olho e esse não falhou. Gosto de ti. MUITO!

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segunda-feira, 5 de março de 2012

 

Correntes d’Escritas 2012 – EU FUI! – Quinta parte

Eis-nos chegados à Mesa n.º 4 – Toda a Literatura é pura especulação. - Uma das que aguardava ansiosa, pois se há mulher escritora que admiro é Inês Pedrosa. Porquê? Porque, além da sua maravilhosa escrita, papas na língua não lhe assistem, como diz o outro, o do tralho. E se é para dar um chega para lá no Moya e aos seus comentários indelicados para com o envelhecimento das mulheres, pois que pega no microfone e fá-lo sem apelo nem agravo, olhos nos olhos, perante os demais. Mais uma vez não tirei muitas notas, mas o ponto de exclamação que coloquei ao lado desta mesa, no programa das Correntes, denota o meu entusiasmo à data. Contaram-se muitas histórias das que nos agarram. Guardei as gargalhadas sobre a vizinha conflituosa de Manuel Jorge Marmelo, desaparecida misteriosamente. A comoção, que Pedro Rosa Mendes ao falar sobre Tomás, bebé timorense roubado à família de origem e criado por família indonésia, me provocou. O enlevo ouvindo Rosa Montero, pessoa marcante de quem ando para ler “Instruções para salvar o mundo” há muito. E de quem quero também ler “A louca da Casa”. Foi esta quem me deixou com mais dicas a pulular no pensamento: “Escrevemos com uma memória bêbada.” (A sério? Hip. Hip.); “A memória é um inventor.” (Não… Então “isto” que recordo não é tudo verdade, verdadinha? Ah…); “Dentro de cada um de nós, no mais íntimo, estamos todos.” (Desculpa lá Rosa mas aqui não cabe mais ninguém. Já vivo atulhada quanto baste, quanto mais virem para aqui todos.) E agora o mais importante: “O escritor maduro fala dos demais, mesmo quando fala de si mesmo. O escritor imaturo fala de si a escrever.” Ainda me encontro no limbo. Espera-me muito trabalho. Olaré. É duro confrontarmo-nos com a fragilidade, todavia, é vital. João Bouza da Costa disse uma frase com a qual me identifico a 100%: “Para mim é mais importante aprender.” A intervenção de Eduardo Sacheri, confesso, varreu-se-me. É autor do livro no qual se baseou o filme “O segredo dos seus olhos.” película que Guinho das Silvas, um dia soalheiro, me recomendou.

Foi engraçado ver as interpretações que os participantes deram às frases, que serviam de mote às mesas e confrontá-las com a percepção que tinha formado sobre cada tema.

Última mesa do dia 24 – 5ª Mesa – A escrita é um investimento inesgotável no prazer. – Atentem nisto: Afonso Cruz, Ana Luísa Amaral, Rui Zink e Valter Hugo Mãe.

(Omiti Júlio Magalhães e Manuel Moya. Não é provável que venha a ler qualquer um dos dois. a) Por puro preconceito relativamente à escrita do primeiro, embora ache muito bem que ele publique livros e tenha certo que não rouba leitores a outrem (uma pessoa não tem tempo para ler tudo e o preconceito funciona muito bem como filtro); b) Por embirração para com o comentário parvo do segundo sobre as mulheres dos amigos, à qual a Pedrosa respondeu e pela mesma falta de minutos referida anteriormente. Ressalvo a única ideia que me ficou da sua intervenção e que é, na minha opinião, muito importante: “A escrita é processo, é caminho.”)

Destaco Ana Luísa Amaral. Não houve abcesso que a demovesse de nos encantar com a sua intervenção. Inscrevi 5*, ao lado do seu nome. Bela voz. Palavras possantes.

Valter Hugo Mãe foi o charme do costume. Um homem que dá vontade de comer.

Rui Zink é o maior. Adoro a sua ironia e a mordacidade. Imagino que uma vem no colete no bolso da esquerda, a outra no bolso à direita. Algures entre o telemóvel e o cartão do cidadão. O senhor é genial. E faz-me rir. Atirou-nos com esta, em jeito de resposta à mesa e depois de afirmar que o que devia ter feito, estes trinta anos de livros, era viver: “Prazer? Tenha quem lê.”

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domingo, 4 de março de 2012

 

PARABÉNS MOIT(INH)A

Aquele abraço pá! Gosto muito de ti. Espero que tenha sido um dia bom, mesmo bom.



(Posto a 5 como se fora 4 derivado a não me ter conectado no fim de semana.)

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sexta-feira, 2 de março de 2012

 

Correntes d’Escritas 2012 – EU FUI! – Quarta parte

2ª MESA - “O fim da arte superior é libertar” - Dizia o Pessoa. Que me dê uma cólica renal se quando fiz a frase a verde sabia que o Mestre um dia disse isto.

Arranca um senhor (inseguro?) com a leitura de um lindo e trabalhado texto académico sobre o tema. Perdeu-me no primeiro parágrafo. Boring! Blergh... Outro blergh vai para todos os participantes, sem excepção, que se dedicam, com fervor, à citação. Mas que raio de ideia esta de as pessoas se suportarem no que os outros disseram, como se o que elas próprias têm para dizer não fosse suficiente. Esclareçamos uma coisa: gosto de frases que me agitam o intelecto. Gosto de as sublinhar e até decorar. Aprecio, postá-las no blogue, de vez em quando. Percebo que se colecione, na memória, ditos de outrem. Só não entendo é que vire passatempo neste tipo de encontros, ou numa simples conversa, disparar citações. Se me apanharem algum dia a fazê-lo, pelo menos que seja a citar os meus. «Já dizia a minha grande amiga.» Ou «como disse um dia minha avó.» Ou ainda, «Como gostava de proferir o Sequeira, dono do café onde passei horas da adolescência.» e por último, mas jamais nesse lugar «Como ladrava meu cão.» Declarações assim. Adiante.

Ultrapassada a enfadonha dissertação fala Care Santos. Que se lê Cárê, mas que me fez lembrar o “cuidar” do inglês. Nome bonito. Fernando Pinto do Amaral falou muito e muito bem. Ó Antunes, filho, pára lá de trabalhar para a posteridade que isso não existe. «Isto vai tudo acabar», alertou Amaral. E tem razão. De que serviu a Van Gogh a posteridade? E a Camões? A Pessoa? A Humanidade está cá para quinar. É melhor que se aproveite o agora. É tudo o que temos. O sol há-de arrefecer e o planeta vai p’ro galheiro. Os livros não serão lidos. Também relembrou que, sim, temos cérebro capaz de grandes elevações, mas também aparelho digestivo e das excreções não nos escapamos. Por isso, peneiras q.b. fazendo o favor. Sofia Marrecas de Oliveira. Luis Quintais. José Jorge Letria fecha a mesa. Estava feita. Redondo vocábulo, canção para ouvir muitas vezes, ficou-me da conversa. Não tirei apontamentos. Nota-se muito?

Foi o dia mais intensivo, com quatro mesas.

3ª MESA – A poesia é resultado de uma perfeita economia de palavras. – Constato à medida que escrevo o texto que houve caras que se me apagaram. Enquanto redijo Jaime Rocha, reviro os olhos a ver se o vejo cá dentro, em algum recanto do cérebro. Ah! Resultou. Grisalho, cabelo liso, barba branca, óculos. Acertei? Penso que sim. Lembro-me bem que gostei muito de o ouvir. Seguiu-se José Luís Barreto Guimarães autor de uma frase lida pelo moderador, Ivo Machado, que achei magnífica. (Atenção à contradição…) Escreveu um dia José Luís Barreto Guimarães, a quem passo a citar: “Há muito tempo que a chuva para cair pede licença e pousar palavras na certeza é um risco.” Foi alvo do protagonista do momento mais triste das Correntes d’Escritas. As pessoas não se apercebem como (e)s(t)ão feias e como é evidente o seu despeito, as suas frustrações. Um homem decidiu pôr à prova o poeta, que dedicara uma página em branco, ao pai falecido. Um homem berrou sibilante: “Leia o poema ao seu pai, se faz favor.” Achando-se muito inteligente, decerto. Iria desmascarar o silêncio do poeta. O poeta encarou-o e disse: “A parte pelo todo.” O auditório abraçou-o com palmas e sacudiu o veneno das costas que, entretanto, deslizara pelas escadas do auditório, perdendo volume, ficando sem voz. Seguiu-se Margarida Vale de Gato com um texto pujante de sua autoria. O anterior, contra a verborreia. Ela, assumidamente, verborreica. Cá das minhas. Honestidade. Sentimento. Visceral. Passa a palavra ao Manuel Rui. Com Manuel Rui também tive um episódio engraçado. Primeira noite (22), bar do hotel. Deia lê o livro do Camarneiro «No meu peito não cabem pássaros.» Rabisca, dobra cantos, anda para a frente e para trás, como de costume. Passa devagar, o senhor Manuel Rui, enquanto a observa à espera que a brecha, que um olhar representa, assome. Sinto o pressing. Olho. “Quem dera fosse minha leitora assim.” seguido de franca gargalhada. Ora, Deia riu-se com ele. Pensando: assim eu saiba quem és, meu bom homem. Assim eu saiba quem és. A verdade é que ele me faz lembrar um actor brasileiro. E a primeira vez que o vi o que disse interiormente foi: mas este também escreve livros? Eh pá e está tão envelhecido… Vai de maneiras que este era o Manuel Rui, escritor angolano e não o outro. Personagem encantador, digno de se lhe escrever a história, mais à família dele, gregária, um bonito clã.

Ocorreu-me agora. Será que as pessoas citam, porque como já tudo foi inventado e dito, têm receio de ao proferir uma ideia que julgam sua, serem acusadas de plágio? Fica a questão para debate posterior.

Eis que encerra a mesa com Manuel António Pina, um homem com H grande. Digo-o, não pela intervenção. Antes pela entrevista na LER de Janeiro que não devem perder. Contou uma história deliciosa do Rilke, do livro “Cartas ao jovem poeta” que partilho convosco:

- Jovem poeta: Acha, então, que devo continuar a escrever?
- Rilke: Ó homem se pode parar de escrever, aproveite!

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quinta-feira, 1 de março de 2012

 

Correntes d’Escritas 2012 – EU FUI! – Parte terceira

1ª MESA – A escrita é um risco total

Eduardo Lourenço a tocar na ferida de muitos dos presentes: “O que escreve investe na criação tudo o que tem de mais profundo e importante, para concretizar a ideia que cada um tem de si mesmo. O maior risco é a desilusão de não realizar o seu sonho. É o que faz com que a aventura da escrita seja dramática.”

Sim, escarafunchou meu dói dói. Observava a plateia e detectava os meus pares, sem dificuldade. O mesmo olhar atento, o bloco todo rabiscado de ideias, a(s) caneta(s) a postos. Alguns de 50, 60 anos, já. «E se eu não consigo?» «Não consegues o quê ó palonça?» «Chegar às pessoas. Partilhar o que faço.» «E quem é que te diz que as pessoas querem saber disso para alguma coisa?» «Algumas haveriam de querer.» «Mesmo sem serem teus amigos, ou familiares?» «Mesmo assim.» «Então vamos embora. Sem hesitações.» «Pois, o melhor é trabalhar.» «Sim menina, sem isso nada feito. Deixa-te de preguiça.»

Entra Almeida Faria em cena. Escritor de quem nunca tinha ouvido falar. Foi pessoa que me ficou gravada, pela positiva, atirou-nos com a singela frase:

“Para escrever é preciso viver a vida.”

É, não é, Faria? Concordo em absoluto.

O que não evita o perene conflito entre a vida quotidiana e a escrita, que a certa altura se lhe tornou mais real que a primeira.

Trata-se de mestre a ter em conta nas aprendizagens de ora em diante. (Demandarei a Paixão de 1965)
 
Segue-se Ana Paula Tavares que, igualmente, desconhecia. (Não fazem ideia a quantidade de escritores que eu não sabia existirem. Achava que até era bem informada na matéria. Não sou.) A mulher que recusou a “vida normal”. Ousou fugir ao que esperavam dela e entregou-se a este modo de ser. Dois homens lhe deram a mão: Manuel Rui e Luandino Vieira. Arriscaram publicá-la. Benditas as mãos amigas que, volta e meia, se estendem.

Eis que Hélia Correia atira com questão premente: “Há algum risco hoje na literatura?” Ó Hélia se falarmos em termos de ofício, poderás ter a tua razão. Poderá não haver escrita no presente que se possa afirmar que arrisca, como o fizeram, por exemplo, as três Marias com As Novas Cartas Portuguesas. Todavia, para mim, há risco. Arriscam-se as nossas pessoas, cada vez que se opta pelo imaginário. Não são mobília as nossas pessoas, sabes? Podem fartar-se de esperar por nós, pela nossa disponibilidade, pela nossa efectiva presença. Podem voltar costas ao nosso olhar ausente, arquitecto de realidades paralelas.

Rubem Fonseca toma a palavra. Levanta-se. Diz, de novo, que é da escola peripatética. Não consegue falar sentado, quieto. Um escritor? Tem de cumprir 5 requisitos mínimos.

Ser louco. – Check!
Alfabetizado. – Check!
Motivado – Check! (Exceptuando os esparsos dias de travadinha.)
Imaginativo. – Check!
Paciente. – Ah! Merda… Vou chumbar por causa de uma? Espera. Não é impossível. Aprendo a Paciência. É isso.

Sinónimos meus amigos? Não existem para RF. Antes as palavras certas e enquanto as não encontrarmos, os textos não se resolvem.

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