quinta-feira, 1 de março de 2012

 

Correntes d’Escritas 2012 – EU FUI! – Parte terceira

1ª MESA – A escrita é um risco total

Eduardo Lourenço a tocar na ferida de muitos dos presentes: “O que escreve investe na criação tudo o que tem de mais profundo e importante, para concretizar a ideia que cada um tem de si mesmo. O maior risco é a desilusão de não realizar o seu sonho. É o que faz com que a aventura da escrita seja dramática.”

Sim, escarafunchou meu dói dói. Observava a plateia e detectava os meus pares, sem dificuldade. O mesmo olhar atento, o bloco todo rabiscado de ideias, a(s) caneta(s) a postos. Alguns de 50, 60 anos, já. «E se eu não consigo?» «Não consegues o quê ó palonça?» «Chegar às pessoas. Partilhar o que faço.» «E quem é que te diz que as pessoas querem saber disso para alguma coisa?» «Algumas haveriam de querer.» «Mesmo sem serem teus amigos, ou familiares?» «Mesmo assim.» «Então vamos embora. Sem hesitações.» «Pois, o melhor é trabalhar.» «Sim menina, sem isso nada feito. Deixa-te de preguiça.»

Entra Almeida Faria em cena. Escritor de quem nunca tinha ouvido falar. Foi pessoa que me ficou gravada, pela positiva, atirou-nos com a singela frase:

“Para escrever é preciso viver a vida.”

É, não é, Faria? Concordo em absoluto.

O que não evita o perene conflito entre a vida quotidiana e a escrita, que a certa altura se lhe tornou mais real que a primeira.

Trata-se de mestre a ter em conta nas aprendizagens de ora em diante. (Demandarei a Paixão de 1965)
 
Segue-se Ana Paula Tavares que, igualmente, desconhecia. (Não fazem ideia a quantidade de escritores que eu não sabia existirem. Achava que até era bem informada na matéria. Não sou.) A mulher que recusou a “vida normal”. Ousou fugir ao que esperavam dela e entregou-se a este modo de ser. Dois homens lhe deram a mão: Manuel Rui e Luandino Vieira. Arriscaram publicá-la. Benditas as mãos amigas que, volta e meia, se estendem.

Eis que Hélia Correia atira com questão premente: “Há algum risco hoje na literatura?” Ó Hélia se falarmos em termos de ofício, poderás ter a tua razão. Poderá não haver escrita no presente que se possa afirmar que arrisca, como o fizeram, por exemplo, as três Marias com As Novas Cartas Portuguesas. Todavia, para mim, há risco. Arriscam-se as nossas pessoas, cada vez que se opta pelo imaginário. Não são mobília as nossas pessoas, sabes? Podem fartar-se de esperar por nós, pela nossa disponibilidade, pela nossa efectiva presença. Podem voltar costas ao nosso olhar ausente, arquitecto de realidades paralelas.

Rubem Fonseca toma a palavra. Levanta-se. Diz, de novo, que é da escola peripatética. Não consegue falar sentado, quieto. Um escritor? Tem de cumprir 5 requisitos mínimos.

Ser louco. – Check!
Alfabetizado. – Check!
Motivado – Check! (Exceptuando os esparsos dias de travadinha.)
Imaginativo. – Check!
Paciente. – Ah! Merda… Vou chumbar por causa de uma? Espera. Não é impossível. Aprendo a Paciência. É isso.

Sinónimos meus amigos? Não existem para RF. Antes as palavras certas e enquanto as não encontrarmos, os textos não se resolvem.

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