quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

 

2009 numa palavra: LUTA

Em Janeiro lutei contra a incredulidade. Contra uma realidade cruel demais para que a mastigasse e engolisse, sem me engasgar. Sem que o ar rareasse. Em Janeiro, lutei ingloriamente contra a morte de alguém que partiu cedo demais. Quis negá-la. Não fui capaz, obviamente. Abateu-se sobre mim uma tristeza, que creio, ainda não (me) ter abandonado. A verdade é que por muitas palavras bonitas que profira “Ele está cá. Sentimo-lo ainda. Nunca o esqueceremos” nada consola, os dele, numa perda assim. E eu queria muito poder consolá-los. Queria abraçá-los e dizer “Pronto já não dói.” Porque gosto tanto deles e sofro de os ver sem ele... Mutilados... A verdade é que o “nunca mais” é uma dor inenarrável. Ninguém nos prepara para isto. É sempre um murro no estômago. Mesmo que nos digam, como me disseram, com os olhos, mais tarde neste ano, “pode ser amanhã.”

Em Fevereiro, outra perda. Na altura pareceu-me trágico. Hoje vejo Deus a escrever direito por linhas tortas. Viste como se pintou um arco-íris no céu carregado só para ti?

Ainda em Fevereiro comecei a lutar comigo. Ando em contenda, desde então. Digladiando-me. E cheira-me que a perder. Embora não menospreze a massa de que me componho, descobri que nem sempre posso ter certezas. Há alturas em que a vida é um enorme ponto de interrogação. (Ó arautos da intelectualidade, contra este ainda não há movimentos, pois não?) Tem-me sido difícil discernir entre o que o sou, o que quero ser, o que fiz, o que quero fazer, etc. e tal. É ver-me correr dentro da cabeça e crânio por todos os lados. (Explico-vos isto para o ano que vem, embora seja certo que não irão entender. Pois se nem eu compreendo, ao certo, que bicho me terá mordido.)

Março, Abril, Maio, Junho:

Muito mais escrita. Mais disciplina. Mais empenho. Mais humildade. Mais trabalho. Muito mais trabalho.

Cineminha, teatrinho, livrinhos, concertos, se meter viagem(ns) perfeito e sou/fui feliz. Isso nunca me pode falhar. Este ano não foi excepção.

Cair na real. Ele não estava a ficar bom como nos fazia crer. Manteve-se igual ao que sempre conhecêramos, até tão tarde... E nós a querer crer. Ninguém acredita na morte. É à vida que nos agarramos por instinto. O cancro é A luta maior. A que se trava silenciosamente dentro. Cancro. Escrevê-lo custa. (Vi)vê-lo? Pior ainda. Doença insidiosa e maldita.

Julho: Mês de MUSA. A 25 um dia feliz. O que é que me comove em ti? O facto de me aceitares tão plenamente. Tu sabes quem sou, na medida do possível. Há lugares onde ninguém chega. Sabes dos meus devaneios, assistes ao pior de mim e ainda assim esse olhar terno, quero crer, ainda, apaixonado. É bom ser livre a teu lado. Contigo aprendi a deixar-te sê-lo também. A não te querer aprisionado. Assim podemos respirar enquanto amamos o que é, para mim, precioso.

Agosto: Adeus tio João. Foi duro ganhar-te tão perto de te perder. A urgência das palavras quando os segundos se sucediam ameaçadores. Cada momento contou. Pela primeira vez falaste. Pela primeira vez te ouvimos. E, apesar de desesperante (o tempo urgia), foi um consolo para os teus. Obrigada. Nunca é tarde. Não foi tarde. Gosto muito de ti.

Setembro: Mais workshops de escrita (Viva o Filipe Homem Fonseca! Viva a Raquel Ochoa! Grandes formadores.) Mais aprendizagem.

E claro, BACKSPACER dos Pearl Jam. Weeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!

Outubro, Novembro e Dezembro: a vidinha (já tenho sono por isso abrevio a conversa mas é, para ir dormir. Estou a escrever isto à noite. Isso dos agendamentos de posts foi a minha grande descoberta este ano. Olaré.).

Voluntariado fiz pouco. Está mal. Tenho de dar mais nesse campo.

Ah é verdade. Mais duas ou três negas. Perceber. Desistir do que há para desistir. Mas não desistir de mim, ou daquilo em que acredito com uma fé inabalável. E já sei, basta que eu acredite.

Todo o ano as amizades, as pessoas (vocês sabem quem são pá!) que elegi como família.

Para terminar, os livros que li em BPM (Batimentos Cardíacos por Minuto):

- A soma dos dias – Isabel Allende – 110
- Um bom homem é difícil de encontrar – Flannery O’Connor – 110
- O Amante – Marguerite Duras – 195
- Pedras Negras – Dias de Melo – 195
- Pastoral Portuguesa – Rogério Casanova – 110
- História Universal da Infâmia – Jorge Luis Borges – 100
- O Riso de Deus – António Alçada Baptista – 150
- As ondas – Virginia Woolf – 195
- Carta ao Pai – Franz Kafka – 110
- A Sibila – Agustina Bessa-Luís – 110
- Contos e Diário – Florbela Espanca – 110
- Teorema – Pier Paolo Pasolini – 150
- O velho que lia romances de amor – Luis Sepulveda – 195
- Um homem: Klaus Klump – Gonçalo M. Tavares – 195
- A máquina de Joseph Walser – Gonçalo M. Tavares – 195
- Breviário das más inclinações – José Riço Direitinho – 100
- Nas tuas mãos – Inês Pedrosa – 195
- As mulheres do meu pai - José Eduardo Agualusa - 110
- Histórias de Deus – Rainer Maria Rilke - 150

E de maneiras que foi isto este meu ano.

No último livro que li, a certa altura uma personagem, Klara, diz: "Aprendi a ser agradecida por todas as coisas." Eu cá também.

Já que falei em luta: tiriririririririri.

2010 logo se vê. Se for de batalhas? Arregaço as mangas e vou-me às ditas.

BOM 2010 A TODOS VOCÊS. AQUELE (FORTE) ABRAÇO.



Etiquetas:


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

 

Exercícios na TRAMA (03/12/2009) continuação da continuação

MOTE: Conseguimos libertar-nos e fugir da casa. Fora dessa, constatamos que nos encontramos numa floresta. Temos os raptores no nosso encalço. Entretanto um deles é atingido, para nosso espanto, pelo próprio/a escritor/a com quem nos confundiram.

Terceira Parte

Constato que a cruz ao meu lado tem arestas afiadas. Rodo o corpo na cadeira e esfrego freneticamente na antiguidade, a fita-cola que me unia as mãos. O espelho à minha frente, com linhas de um mapa-mundo, em duplicado, desenhadas, devolve-me a imagem de uma expressão que desconhecia, até então, em mim. Uma mescla de determinação e audácia sem, contudo, me encontrar corada até aos ombros, como é meu apanágio, quando me enervo. Este factor joga a meu favor. Ainda que ele acorde, não dará, no imediato, pela minha euforia. Levanto-me cuidadosamente para não fazer barulho e dirijo-me à lareira onde vira, há pouco, um telefone. Verifico se tem rede. Não tem. Pois se sou a Miss Azar 2009... Toco numa jarra chinesa que cai com grande estardalhaço. O Almada acorda e eu dou-lhe com o par da primeira, em cheio, no cocuruto. Cai atordoado embora não inanimado e começa a levantar-se novamente. Precipito-me para a porta, não sem antes guardar, dentro da camisola que entalo nas calças, o que me ficou ao alcance da mão. Mais tarde espero que me sirva de prova cabal desta aventura e quem sabe, me permita incriminar o sujeito. Não tendo havido oportunidade para reflexões, o que trouxe resume-se a: uma cassete áudio Basf; uma cassete VHS e um desenho a carvão com diferentes caras, que arranquei da parede ao lado da porta da rua.

- Não tens escapatória! Mato-te se insistires na fuga. Mato-te! – Tenta dissuadir-me com palavras, já que não consegue mover-se rápido, quanto baste, para me alcançar, sem o auxílio da bengala que antes de o acordar, havia atirado para longe de si.
- Adeus! – Desafio a sua ira, com um último sorriso que manifesta mais temor do que coragem, embora esteja certa que ele não o interpretou assim.

A precipitação é tanta ao descer as escadas, que me estatelo no chão, não sem antes bater com a cabeça na cómoda da entrada, que sentira ao subir. O sangue quente rola-me cara abaixo. Não há azo a pieguices e abro a porta do prédio, espavorida. Verifico que os quatro que me abduziram não se encontram nas imediações e desato a correr, sem saber para onde. “Longe” é a palavra que me invade o espírito. Trouxeram-me para o meio de uma floresta. A noite está fria e uma neblina fantasmagórica paira junto ao solo. A corrida ajuda a manter-me quente. Ouço os meus passos ritmados a partir ramos e a chutar pedras. As árvores falam-me com as respectivas folhas agitadas, como quem me diz: Cuidado! Pela primeira vez desde que isto começou, concebo que talvez não me safe desta. A tenacidade é substituída pela desistência. Choro e as lágrimas misturam-se com o sangue. O vento seca-os, deixando-me com uma sensação desagradável, como se tivesse uma máscara de argila colada à pele endurecendo-me a expressão. Invoco a minha avó Fernanda: “Andreia, dos fracos não reza a história!” e mantenho a correria acelerada rumo ao incerto. Sei lá se não estarei a fazê-lo em círculo, no sentido da casa de onde ainda agora fugi? Ouço corujas e o restolhar constante da vegetação vindos de cima e dos lados, assustando-me com uma intensidade que é potenciada pelo pavor que sinto. Volta e meia, ramos prendem-se-me ao cabelo atrasando-me a marcha. É deplorável o meu estado. Apercebo-me, entretanto, que não são só os meus passos a rasgar a escuridão. Paro. Escuto atenta. Há alguém no meu encalço. Não consigo pensar em mais nada. São eles! São eles! Rodo sobre mim desesperada em busca de um esconderijo. É no tronco oco de um eucalipto colossal que o acho. Entro rápida e discreta na cavidade e perscruto o bosque com o ouvido atento. Quieta. Sustenho a respiração diversas vezes. Quieta! Aparecem dois dos encapuzados.

- Inês* é bom que apareças. Não dês muito trabalho a procurar-te. É pior para ti querida. – A voz medonha, não engana. É o tal, da vista peculiar.

Anjo da guarda minha companhia guarda a minha alma de noite e de dia... – Ocorre-me rezar e acorrem-me, então, em catadupa à memória, todas as orações que aprendi, na infância, com a minha avó materna: Maximina.

O pânico é tanto que me urino. Sinto o quente encharcar-me a roupa e passados poucos minutos, o frio a instalar-se, chegando-me aos ossos.

- AAAAATCHOOOO. – Agora é que me lixei...

Consigo vê-los a correr nesta direcção. Morrerei sem glória. Quando se encontram a cerca de dez metros da árvore em que me escondi, ouve-se um estrondo e um deles cai redondo no chão. Um tiro? Por segundos, foi como se o meu coração parasse de susto. O outro bandido ajoelha-se ao lado do que foi atingido, pega-lhe no pulso e afere se está vivo. Sem proferir palavra, dirige-se a passo cadenciado para cá. Outro estrondo. É ferido no ombro e corre para o meio das árvores embrenhando-se no bosque.

- Psst. – Ouço. Continuo quieta no mesmo sítio, quando uma mão estendida me aparece à altura dos olhos, convidando-me a agarrá-la e a sair. Que remédio. Agarro-a tremendo e ergo-me.

- Inês?

(Pois que ainda falta uma parte... Ainda vêm cá?)


*Ah ah ah. Mega gafe que eu tinha aqui e ninguém, nem a Stôra, deu por nada... Então eles julgam que eu sou Inês Pedrosa como poderiam chamar por Andreia? Hein? Está tudo a dormir pá? Comé?

Etiquetas: , ,


 

Fecho o ano, por lá, em grande (pelo menos para mim é em grande)

Um sítio onde me sinto muito bem. Obrigada Gui(sado).

O Amante.

Etiquetas:


terça-feira, 29 de dezembro de 2009

 

Exercícios na TRAMA (02/12/2009) continuação

MOTE: Tivemos o privilégio de visitar a casa de um arquitecto, amigo da Stôra, cuja sala nos serviu de inspiração para a descrição do local onde nos encontramos raptados. O arquitecto serviu de modelo de raptor. Teríamos de criar, pelo menos, uma cena de interacção entre nós. O resto ficou por nossa conta. Aí foi alho...

Segunda Parte

Não tenho noção das horas. Sempre fui despassarada, como me encontro de venda e em andamento, é irremediável que me sinta totalmente perdida. Seguimos a esta velocidade temerária há horas, julgo, e não há meio de chegarmos a lado algum. Não suporto esta angústia. Que alguma coisa suceda, para que possa entender o que se passa, rapidamente, ou morro de síncope cardíaca, não tarda. Paramos. Circunda-nos um silêncio opressor. É bem-feito para não ser ansiosa. Eis-me pior agora que antes, quando em movimento. O medo apodera-se de mim.

- Vamos. – Diz-me o da íris sinalizada, enquanto me puxa pelo braço, bruscamente, para fora da viatura. Sei ser esse, porque a sua voz na ocasião em que me agarrou se me tornou inesquecível. Uma voz cavernosa e penetrante. Retira-me a mordaça.
- Onde? Posso saber? – Armando-me em esperta com o intuito de disfarçar o nervosismo em crescendo.
- Calada. À minha frente. – O seu bafo quente na minha nuca provoca-me um arrepio que me percorre, desagradavelmente, as entranhas. Uma porta abriu-se antes da minha e só essa se fechou, pelo que deduzo que apenas o das órbitas azuis me acompanhará.

Começa a empurrar-me. Vou tropeçando e quase caio algumas vezes. Pela irregularidade do terreno e total ausência de ruído, interrompida de quando em vez com o cantar dos grilos, calculo estar longe da cidade.

Estacamos subitamente. Ouço sete pancadas secas numa porta que adivinho ser de madeira. Abre-se vagarosamente à minha frente. Range.

- Entra.
- Sozinha? Quem me espera ali? Onde me deixam?
- Cala-te. Entra.
- Não vejo. Tire-me a venda por favor. – Enfim submissa.
- Entra, já disse!

Palpo a parede à minha direita. O raptor ordenou-me que uma vez no interior, seguisse sempre encostada a essa. Ouço um mecanismo que ora avança ora se detém. Nesses hiatos, um apito sonoro. Três toques e prossegue. Avanço pelo corredor cautelosamente. Tropeço num degrau e logo depois esbarro numa qualquer peça de mobiliário.

- Continua. – Ouço, agora, uma voz diferente.

Estar cega, sem o ser deveras, é aterrador. Prossigo e detecto degraus. São demasiadamente curtos, pelo que opto por subir de dois em dois. Estão revestidos por um tipo de material que abafa os passos. A pessoa que me aguarda terá, por certo, um bom ouvido, ou é demasiado impaciente, pois de cada vez que paro me incita imediata e rispidamente a continuar. Subi dois lances de escadas. Em cada um desses havia uma porta que me parecia de madeira em quadriculado à qual me agarrava procurando uma saída.

- Não é aí. Avança. – Diz-me a voz.

Eis que atinjo o topo. Pressinto alguém muito perto e ouço uma chave rodar. Cinco voltas numa pesada fechadura, manuseada com dificuldade. Um ligeiro safanão precipita-me para o interior. Sou orientada até um ponto em que uma pressão no ombro me faz sentar. O carcereiro retira-me a venda.

- Mas você é...
- Sou.
- Como? Está com cem anos ou mais?
- Quem faz as perguntas sou eu. Porque é que foste comprar o livro, precisamente hoje? Porquê? – Está a falar-me tão perto que a saliva com que me salpica, ainda está quente ao atingir-me a face. Porém, a sua voz não se eleva.
- Apeteceu-me. Palavra. Lembrei-me dele e fui comprá-lo. Uma coincidência dos diabos.
- Não me faças rir. Não sou para brincadeiras. Ouves? Diz-me a verdade. Exijo-to.
- É o que digo! Tive vontade. Recordei a primeira vez que este livro se me revelou e decidi adquiri-lo. Não tinha um exemplar em casa. Foi isto.
- Não acredito. Pensa bem no que fazes. Já te disseram que há uma vida em jogo?
- Que vida? O que fiz? Diga-me? Sou inocente, ouve?! Seja lá o que for de que me acusa. Tenho dito. – Recupero alguma da insolência que me caracteriza e deito-lhe a língua de fora, qual menina traquinas. Ele ensaia uma bofetada, contudo suspende o gesto mesmo junto à minha cara apertando-a com a mão direita, fazendo-me sentir humilhada e impotente com a fisionomia deformada entre as suas manápulas.

- Fica aí um bocadinho a pensar no que queres fazer à tua vida, que eu já venho. Fá-lo com cuidado pequena, que a minha paciência está a esgotar-se. Aguentarias a culpa?
- Sou inocente! – Grito-lhe uma vez mais.

O Senhor Almada. Quem diria? Ainda mais velho, embora semelhante ao que tinha guardado na memória: barba grisalha, bem aparada, corpo roliço, bengala na mão esquerda e aqueles dois grandes sinais escuros por baixo dos olhos. Marcas de uma pele de provecta idade. O cachecol vermelho, acessório do qual jamais se separava e que mantém, enrolado no pescoço da esquerda para a direita. Dois grandes anéis no anelar e no mindinho rematam a aparição. “Velhos hábitos morrem dificilmente.” Como se ouve nos filmes. Este senhor manteve-se fiel ao estilo que criou para si. Gosto disso. O que não aprecio é o modo como me trata. Conheci-o há uns anos, mas a relação que estabelecemos não justifica as cobranças que me faz. São descabidas. Absolutamente desconcertantes.

Consigo vê-lo daqui. Retirou-se para trás de um biombo que o oculta parcialmente. Percebo que se sentou ao que me parece ser uma secretária. Pela luz que lhe ilumina o rosto e pelo dedilhar, depreendo que se encontre ao computador. Resta-me estudar esta sumptuosa divisão. A profusão de objectos, achados arqueológicos de diferentes civilizações, mobiliário e obras de arte, que me rodeia é intimidatória. Nestas alturas amaldiçoo a ignorância com que me tenho vestido ao longo da vida. Aqui estou, decerto numa câmara de tesouros, sem a conseguir avaliar com precisão. Apenas posso intuir o seu valor. Um quadro majestoso chama-me a atenção. Ocupa metade de uma das paredes. Trata-se de uma ilustração de uma queda de água de grandes proporções, à frente da qual um homem, insignificante perante a força com que a natureza se lhe apresenta, monta um cavalo e empunha uma espécie de lança. Penso: um indígena despido, num remoto lugar do planeta. É como me sinto, qual homenzinho nu, empunhando uma azagaia quebradiça e ridícula, quando comparada à força indomável das águas numa catarata. Ao lado, uma estante que se ergue até ao tecto contém dezenas de livros, todos do mesmo tamanho, com a mesma cor e de lombada igual. Sei que devia procurar as respostas que ele me intimou a dar, mas desconheço-as e esta sala é apaixonante demais para não me dedicar a observá-la.

Três cores me invadem os sentidos: o vermelho, o azul e o verde água. Uma quarta cor neutra, consiste na luz emitida pelos candeeiros de formatos variados que se encontram dispersos pela assoalhada, alumiando, o que, sem esses, seria um local deveras obscuro. Não fosse este o meu cativeiro e considerá-la-ia encantadoramente acolhedora. Sala digna de um lar de família. Sê-lo-á por ventura. As molduras proliferam como cogumelos em todas as superfícies: em cima de arcas de madeira, nas diferentes mesas, em cómodas. Revelam ternura; momentos de partilha; conquistas. O vermelho em excesso, pelo contrário, faz-me pensar no inferno. O meu. Até os estores são rubros. Fechou-os para me impedir de ver o que há para lá das duas janelas que tenho à frente. Ao meu lado esquerdo está um santo que fica à altura da minha cabeça, e à direita uma cruz de ferro. Fé agora? Não consigo. Com a cagufa, até me esqueci das orações que tão diligentemente costumo murmurar, todas as noites, antes me deitar. Ui. Aí vem ele...

- Então? Como estamos de memória?
- Continuo sem saber o que fiz para merecer isto.
- Não te faças de vítima! Comigo, essa ladainha não pega. Diz-me o que quero ouvir, sem demora!

Exalta-se de tal maneira que se engasga e começa a tossir continuamente. Dada a velhice, senta-se num cadeirão de pele com rodinhas, que se encontra no lado oposto ao da minha localização, para recuperar o fôlego. Limpa com um lenço verde de pano, retirado do bolso, o suor que lhe invadira a fronte. Fecha os olhos combalido. Para minha surpresa a sua respiração torna-se mais pesada até se transformar num ronco. Dorme. A esperança que este acontecimento inesperado me suscita, injecta-me o ânimo que me faltava para procurar uma saída de emergência. Busco ao meu redor uma forma de me soltar.


(Ah pois é: to be continued...)

Etiquetas: , ,


segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

 

Exercícios na TRAMA (02/12/2009)

MOTE do dito-cujo: "Não vão acreditar no que me aconteceu. Fui raptada! Não sei onde estou, tenho uma venda nos olhos, mas pelas conversas já percebi que me confundiram com o/a... (Escolher) Mas porque é que alguém há-de querer raptar um escritor?"


Primeira Parte

Que há-de ser de mim depois disto? Empenho-me no optimismo, nos sorrisos, na alegria e o que é que a vida me faz? Coloca-me estes energúmenos no caminho. De que me serviram os últimos meses nas aulas de yoga, aprendendo a vibrar em frequências de energia positiva? De nada, não é? A verdade é que estou metida nesta alhada e o Universo nickles para os meus esforços de ser uma pessoa boazinha. São quatro. Três deles saíram de um carro preto muito velho para me agarrar. O quarto ficou ao volante. Foi o que vi antes de me imobilizarem as mãos com uma fita-cola parda e resistente e me vendarem. Encheram-me a boca com um lenço que me ataram à nuca e que me dificulta muitíssimo a respiração. Fizeram bem, ou já teriam ouvido um ou outro dos impropérios que tenho para lhes dizer. Que maçada! Dei um salto à livraria da rua onde moro para comprar um livro que me fora emprestado há uns anos e do qual me lembrei há bocado, tendo ficado com uma vontade inadiável de o reler. Ironia das ironias, pela conversa, percebi que me raptaram pensando que sou Inês Pedrosa. Será possível? Mas por que raio havia a autora de se dirigir a uma livraria, no Rato, às oito da noite de um dia de semana, para comprar um livro seu, saído há tanto tempo? Estes senhores têm cabeças de insecto. Ao menos que me tivessem carregado em grande estilo, quero dizer: em braços, como uma diva. Não, os fidalgos limitaram-se a empurrar-me. Brutos! Mas o que é que lhes passou pelas antenas? Tenho o cabelo e os olhos claros, é certo. Mas acabam por aí as coincidências morfológicas com Inês. Nem sequer temos a mesma idade. Tenho menos doze anos, julgo eu. Ai a minha vida. O que hei-de fazer, para os levar a entender o erro crasso que cometeram? Temo que me façam mal, uma vez desfeito o equívoco. O cheiro a bafio do automóvel, em que me fizeram entrar, é intensamente desagradável. Para uma pessoa como eu, de olfacto apurado, constitui uma autêntica tortura. Imagino que tenha estado fechado em alguma garagem ou armazém. Os assentos colam-se-me à roupa o que me enoja, embora actualmente, o asseio seja o menor dos meus problemas.

Os meus raptores falam pouco entre si. Ordens e monossílabos. É tudo. O suficiente, no entanto, para perceber que todos sem excepção têm mau hálito e que, pelo menos dois deles, fumam. A besta que conduz fá-lo a grande velocidade e nenhuma das restantes se deu ao trabalho de me pôr o cinto de segurança. Já bati três vezes com a cabeça no vidro da janela, em curvas mais apertadas. O que me vale é o mau feitio, ou estaria a chorar como um bebé desconsolado com frio. Sou mais dada às reivindicações. Por sinal, vejo-me desejosa de o fazer. À cautela, por ora, calar-me-ei. A única frase que um deles me dirigiu foi proferida em tom sarcástico e algo ameaçador: “A vida de uma certa pessoa, minha menina, está nas tuas mãos.” enquanto me arrancava rudemente o livro. Não sou capaz de os identificar, visto que todos se encontram encapuzados. Dos olhos azuis gélidos deste que me falou, lembrar-me-ei sempre. O olho direito tem uma espécie de sinal em forma de lua. Inconfundível. Uma frase martela-me no pensamento: “Mas por que é que alguém há-de querer raptar uma escritora?”

(Continua ora pois...)

Etiquetas: , ,


 

PARABÉNS Prima Oliveirinha

Um granda beijinho, dia feliz.

Gosto muito de ti, mas é! Sabes disso pois é?

P.S. Também gosto muito da Mónica e da Cris que fizeram a 10, mas não estava cá e aquilo era a 3 dólares por 15 minutos de internet que engonhava, engonhava e nós a pagar sem fruir. Mas disse-vos via sms pois disse-vos? Pois disse-vos.

Vá então.

Etiquetas: ,


sábado, 26 de dezembro de 2009

 

Rainer filho não era preciso seres tão duro connosco, os humanos:

"Mas também, como é que se distingue um morto de uma pessoa que se torna circunspecta, renuncia ao tempo e se fecha em si mesma para reflectir calmamente na solução daquilo que a tem vindo a perturbar?"

Rainer Maria Rilke in "Histórias de Deus" (Página 50, Coisas de Ler Edições, Outubro de 2003)

Etiquetas:


quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

 

Não se iludam o (meu) Natal é isto:

ARROZ DOCE

Ingredientes:

1 chávena de chá de arroz
1/2 litro de água
2 litros de leite
2 chávenas de chá de açúcar
3 ovos
Casca de ½ limão médio
1 colher de sopa de canela em pó

Preparação:

Lave o arroz, escorra bem e coloque-o numa panela grande. Junte a água e a casca de limão. Tape a panela e deixe ao lume até o arroz ficar cozido e quase seco. Retire a casca do limão. Misture o leite e cozinhe em lume baixo, com a panela destapada, por mais 25 minutos, ou até obter um creme bem mole. Mexa de vez em quando para não pegar ao fundo da panela.

Enquanto isso, bata por 5 minutos os ovos com o açúcar e despeje sobre o arroz. Misture e cozinhe por mais 5 minutos, mexendo sempre. Retire, coloque numa travessa funda (Atenção: é travessa, não garganta*) e polvilhe com canela em pó.

De momento, no Natal, só me interessa aperfeiçoar este doce tradicional e nada mais. Tudo o resto se transformou, ou não tivesse o Lavoisier tanta razão.

Quanto às pessoas que andam para aí todas boazinhas porque é Natal? Fuck off! Se não são assim o ano todo, não se incomodem nesta altura. Estes são dias que não chegam para compensar a forma como se comportam o resto do ano.

*É que não resisto aos trocadilhos brejeiros pá.

Etiquetas:


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

 

Exercícios na TRAMA (23/11/2009)

Ora cá estamos perante outro exercício de um tipo já aqui falado onde se recorre a um livro da estante (desta feita, novamente da livraria) para pescar palavras que ajudem à progressão da história e ao enriquecimento do vocabulário utilizado no texto.

Condicionante: Iniciar o texto com "Lisboa, 23 de Novembro de 1950".

Tempo: 20 minutos

Palavras: as que estão salientes no texto.

Livro: Vidas Violentas - Pier Paolo Pasolini

Diz que o objectivo dos 3 textos (Lisboa, 17 de Novembro de 2009 - dia seguinte ao da aula; 17/11/2050 e Lisboa, 23 de Novembro de 1959) era também o de nos fazer viajar no tempo. Óbvio que, penso que (Ó Luís Franco Bastos dá aqui uma perninha e faz a voz do Cristiano se fazes o favor...) falhei esse objectivo.

Aí vai (foi) alho:

Lisboa, 23 de Novembro de 1950

Querida mãe, não me levarás a peito se te disser que preferia ter nascido homem. É violenta a vida para todos, isso é certo. Para uma mulher, porém, na sociedade deste ano em que te escrevo – O da tua morte. – mais do que simples agressão, é devastadoramente opressora. O meu ânimo não se compadece dessas regras que inventaram para nós. Não me sinto a mulherzinha que pretendem que seja.

Repara como a raiva se anda a alimentar do meu peito. No outro dia a torneira gotejava. Comecei por ignorar. Mas eis que aquele contínuo pingar, aquele murmúrio repetitivo me fez pensar no que os outros esperam de mim:

- Comporta-te. – Dizia-me a água.
- És uma senhora. – Sussurrava o ruído.

Lembrei-me de ti quando me dizias com os olhos:

- Que desilusão minha filha. Para onde te foi a doçura?

Foi demais. Dei cinco murros na parede e um pontapé na torneira. Calou-se, sabes? Pumba. Bastou querer. Que culpa tenho se o pensamento que me habita não se adequa ao presente? Antes a morte por me alistar num exército. A guerra com os combates, o sangue as mutilações. Que é isto que me fazem à alma senão uma amputação? Sei que sofrias. Vi lágrimas que derramaste por eu ser diferente. Às que não observei pude prová-las no sal que te temperava a face quando te beijava. Perdoa-me se me não posso desculpar pela minha natureza. Toda a vida me apressei subindo as escadas que me elevariam ao teu coração. Constantemente a perder o fôlego, porque quanto mais corria menos te alcançava. E no fundo sempre soube que, mesmo que lá chegasse um dia, não teria o que te oferecer, a não ser este imenso amor que sempre nutri por ti e tu sem o aceitar.

Anna Maria


Etiquetas: , ,


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

 

JP


A tua ausência é um céu carregado e opressor. Atenua-se, sim, naqueles momentos em que a luz do tanto que foste o rasga e nos assegura que continuas connosco. Até já.

Etiquetas: , ,


segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

 

Nas tuas mãos - A singela sugestão - by Deiazinha

Etiquetas: , , ,


 

Exercícios na TRAMA (16/11/2009)

Aquela mulher andava obcecada por aquele homem específico. Conhecera-o numa festa e tudo o que haviam dito se resumira a um “Prazer.” Desinteressado da parte dele; e um “Tem lume?” esperançoso, dir-se-ia quase gemido, por ela. Nada a podia ter induzido em erro e no entanto, meses depois, quando se encontraram na rua, o coração acusou o desconcerto que ele lhe provocava. Ele tão pouco recordava o seu nome. Percebera-o pela hesitação em apresentá-la ao amigo que o acompanhava. Ainda assim mentia-se, alimentando o desnorte que aquele sujeito lhe induzia. Tinha-o esquecido durante os meses em que não o vira. Este reencontro, porém, viera inundá-la com todos os sentimentos e dúvidas que haviam despontado “aquando da primeira troca de olhares”. (Que é como quem diz “quando ela o viu”. Ele, como sabemos, ignorara-a.) Era torrencial a sua loucura. Fantasiava-lhe os dias; um quotidiano comum. Penava pela separação que o destino impiedoso lhes teria imposto.

- Não me procura por medo. – Dizia para si, consolando-se. - Pois se também eu temo a devastação que uma paixão assim causará...

Encetou minucioso estudo da vida daquela pessoa que lhe tomara conta dos dias.

Descobriu onde trabalhava, indo espreitá-lo diariamente. Apreendeu-lhe os gostos, os hábitos, mesmo as manias.

Conheceu todos os seus amigos; as antigas namoradas; os seus pais; até a filha.

Vivia o mais que podia a vida dele, cautelosamente, no entanto, para que não se amedrontasse com a sua presença, de efeito, no mínimo, arrebatador.

Far-lhe-ia chegar os mais subtis sinais para que soubesse que seria seguro avançar. Poderiam, enfim, consumar aquele desvairado sentimento.

Notem, ele sequer lhe sorrira. No primeiro encontro acendera-lhe o cigarro sem a encarar e continuara na ombreira daquela porta, com o cotovelo apoiado acima da cabeça, sussurrando a uma outra qualquer.

Perdoara-lhe a indelicadeza.

- Já nesse dia tinha medo. – Insistia infantil. E persistiu muitos anos no delírio, até ao dia em que, coincidentemente, os mesmos amigos os haveriam de juntar.

Quando o viu sentado no sofá as pernas acusaram o pavor do confronto, então inadiável.

Dirigiu-se na sua direcção, trémula, embora determinada.

Antes que o alcançasse, Marília, uma amizade comum pega-lhe no braço e precipita-a para junto dele, que a encara com os seus olhos de um azul indescritível.

- Joana, lembras-te da Rita?

Andreia Azevedo Moreira a 16/11/2009 pelas 21h e qualquer coisa em 10/15 minutos.

E a este exercício se chama “TIRAR O TAPETE”. ‘Comé? Tirei?

(Adenda: pareceu-me bem
esta música como banda sonora do devaneio da moça coitadinha.)

Etiquetas: , ,


 

Do meu alheamento...

...Que é como quem diz... Da minha (desmedida) estupidez...

Então não é que descubro ao fim de 4 anos, repito 4 anos, que posso agendar posts?

(Este por exemplo, vejam que giro, faço-o ser editado às 5 da mata. E eu na caminha a dormir descansada.)

(4 anos por deus. 4 anos...)

Etiquetas:


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

 
Nenhum de nós tem futuro. Apenas presente. Embora andemos, em cada dia, ingénua e docemente iludidos.

Etiquetas: ,


 

REEDIÇÃO

Porque ontem foi aprovada uma proposta de lei que considero importante para a evolução da sociedade em que vivemos.

Nota: Deixo aqui expresso que concordo, igualmente, com a adopção de crianças por casais homossexuais. As crianças precisam é de um lar em que recebam o amor a que têm direito.

E o amor não é categorizável.

É lá dentro a minha morada.

Etiquetas: , , ,


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

 
TÓPICO 1: Como receber os seus amigos em casa fazendo-os sentir-se em viagem.

Conheci uma senhora (que é como quem diz a dita ia no mesmo voo que eu) que ao invés de ter serviços da SPAL, da Vista Alegre e da loja do Gato Preto, abre os armários e as baixelas consistem em magníficas peças de plástico da SATA, da TAP e das Emirates Airlines.

Hospedeira: não tem chávena?

Senhora (algo embaraçada mas não o suficiente para deixar o hábito em questão): tenho mas eu gosto de guardar para… Ai como é que se diz? Souvenir? Recordação! Assim é que é. Para recordação. Já tenho tantos… Nem imagina!

Hospedeira: mas sirvo-lhe o café e pode levá-lo à mesma.

Senhora (a rir-se muito e a encolher os ombros): é que assim já vai limpinho.

Eu reflectindo (toda contentinha já a imaginar este mesmíssimo post): tem a sua razão. O asseio é importante e o serviço é bonitinho, em azul-escuro e quê.

TÓPICO 2: Como passar de zen a bruxa irascível em apenas 7 dias.

Local: hotel em praia paradisíaca.

Móbil: equipa de animação do hotel.

Zen que rapidamente (tipo ao 2.º dia) se transformou em bruxa irascível: Deiazinha.

Dia 1, 11h da manhã:

Spaggheti (o gajo da crista e das perninhas de alicate): “E ahora bamós a nuestros juegos olímpicos!” “Allés a notre joués olimpiques” “Come to our Olimpic Games” “Asven gotten olimpiquen gamezen”

Deiazinha (zen): Vamos! Ó vamos! Vamos, vamos!

E correram como se não houvesse amanhã, nem depois de amanhã, nem ontem, nem hoje, nem nada, por cima de espreguiçadeiras, rebentaram balões com o rabo, saltaram dentro de sacos de toalhas, passaram bolas em fila indiana ora por cima da cabeça ora por baixo das pernas. O Bacaró e o Não sei quantos que não me alembra o nome à nossa frente, a bater palminhas entusiasticamente, para os imitarmos, como quem grita ao mundo “Eu sou só ALEGRIA!” A nossa equipa, “Cuba Livre” (tinha muito para dizer sobre a liberdade de Cuba mas acho que eles só se referiam à bebida com rum. E atenção que eu não estava em Cuba. Decidi não voltar tão cedo e cumpri-lo-ei.) venceu. À noite ir ao palco receber prémio. Muito giro, banhinho nas águas turquesa, regresso ao Agualusa (As mulheres do meu pai.) que me tinham emprestado.

Dia 1, 12h: A gordinha da Afro “Petanca! Petanca! Petanca!”

Deiazinha (Ainda: ai que giro eles são tão dinâmicos): No gracias. Cansiadia.

Dia 1, 12h30

A mais pequenina com uma “afrozinha” proporcional: Volley ball! Volley ball! Volley ball!

Deiazinha (Tipo: Bem! Que energia!): Gracias, pero no.

Nota MUITO importante:
Banda sonora da animation resumia-se a:

“Papa said chocolato, mama said chocolato, mama saída chocolaaaaato.” (ERA ISTO)

Ou

“(…)Ela tiene unas curvas espectaculares. Ela tiene unas curvas espectaculares… lai lai lai.” (O youtube não foi lá com as dicas que lhe dei. Lamento. Sei que estavam em pulgas para ouvir.)

Ou ainda

Uma música que anda aí na berra mas que o youtube por tananãnanãnanãnanã também não foi lá. É mesmo estúpido o youtube é o que é.

Nota também EXTREMAMENTE importante: para calar esta magnífica banda sonora o Spaggethi clamava: “Chupa-te!” Não pensem em ordinarices. Embora não vos saiba explicar a que propósito elegeram “Chupa-te” como forma de o belíssimo DJ3 se calar.

DJ3 interrogam-se vocês? Tem 3 músicas na box e nada mais.

E perguntam vocês "e o que é a box?"

Também não sei, pareceu-me bem dizer box. Foi tudo.

Retomando…

Dia 1, 15h

Spaggeti (Perdoem todos os erros que dei e darei neste post mas escrever em estrangeiro é por demais cansativo): Ahora bamós a nuestros aeróbicos. Now we’re going to our aerobics. Allonsi a nottre aerobics. Vamosgonzen a nozzen aerobicozgen!

(eh palminhas! Palminhas! Tananãnanãnanãnanã)

E isto o dia todo meus amigos. O dia todo.

Dia 1, noite.

Todos ao palco! Bamonos a lo puelco! Allez a plaque! Come to the palque! Comegen to the palken!

E pronto, eu tudo bem. Achei giro o Dia 1.

Dia 2… Começo a ver a cena toda a repetir-se. Não eram os Olimpic Games eram os Crazy Games. Petanca. Aerobicos. Volleyball. And so on.

E eu agarradita ao Agualusa, salvo-seja.

Ora o que é que me começou a aborrecer? Começou a arreliar-me o facto de eles não se contentarem com as pessoas que voluntariamente iam ter com eles, aquelas que a eles se abraçavam e apalpavam como se não houvesse amanhã, mas houvesse um "logo à noite" promissor. Eles tinham de ter TODA a gente ALEGRE com eles. TODA a GENTE! Palminhas! Tannnãnanãnanãnanã...

Olharam para mim e enquadraram-me na categoria de gente. (ERRO). E então chamaram-me para participar em todas as actividades, de TODAS as horas, de TODOS os dias em que lá estive a tentar apanhar sol e a ler, no meu descanso.

Ora, uma pessoa com dificuldade em impor-se o que é que teve de fazer. Sobreviver naquele meio. Via-os a aproximar-se ao longe e fechava os olhos e abria a boca empurrando baba para o canto da boca. (Cheguei a simular um ressonar.) Na piscina quando vinham os “aeróbicos” saía a correr disparada agarrada à bexiga para eles constatarem a premência da minha ausência; à noite quando saíam do palco para ir buscar pessoas ao público esgueirava-me sorrateiramente para trás de uma palmeira ou assim. E foi isto. Uns olimpic games da deia tentando desesperadamente passar despercebida.

Eu só queria não existir para vocês. Compreendem? Eu gostava de vocês. Eu apreciava a vossa alegria. Eu vibrava por vos ver felizes. Mas deixavam-me estar ali “sogadita” só a ler e a beber Margaritas enquanto pensava na vidinha!

Ainda assim, li o Agualusa todo e mais duas LER que tinha em atraso no que dizia respeito às mega-entrevistas do CVM e a um ou outro artigo mais longo sobre autores. (20 valores: Eduardo Lourenço; Jorge de Sena.)

Nota final: Spageti eu sou uma pessoa divertida querido. Pergunta aos meus amigos. Eu gosto de bater palminhas, dançar e cantarolar. Até sou uma pessoa feliz. Agora, não me obriguem pelo amor de deus a demonstrá-lo se NÃO ME APETECER! E NÃO APETECIA FOSGASSE!

(Fizeram com que eu me sentisse a pior pessoa do mundo por não querer partilhar da vossa frenética ALEGRIA porra.)

(E mais... Fizeram-me dizer fosgasse e porra no mesmo post e isso é muito feio.)


Assinado:

A bruxa.

Etiquetas: , ,


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

 

Gostei de a ouvir Marinho. (Já os linquei.)

http://piscadegente.blogspot.com/2009/12/renata-correia-botelho_15.html

Etiquetas: , , ,


 

Já me nasceu mais uma priminha pá! (12/12/2009)

Parabéns Catarina e Júlio! Fico tão, mas tão, mas tão feliz por vocês!

Sê muito bem-vinda Constança.

Isto às vezes é lixado, mas no geral VIVER e quando digo "viver" não falo de cumprir involuntariamente questões fisiológicas, falo de "VIVER" (entender-me-ás) é bem bom.

Espero assistir (e já agora participar do) ao teu VIVER enquanto cá andar a fazê-lo também.

Muitos beijinhos, repletos de comoção, aos 3.

Etiquetas: , , ,


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

 

PARABÉNS STÔRA!

Vi aqui a novidade e também quis partilhar! Fico feliz Raquel e agora* vou procurá-lo para o LER.

*agora que é como quem diz quando for editado.

Etiquetas: , , ,


 

Como é que vocês sabem que eu voltei?


Sabem porque ainda antes do telefonema, da sms, do grito da janela, do mailzito, da onda telepática, do postal, eu venho aqui dizer:

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Eles vêm aí! Eles vêm aí! Eles vêm aí!

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

(sim, sim, apenas isto. Antes de pôr a escrita, convosco, em dia.)

P.S. O meu reconhecimento a quem me quis dar esta alegria em primeira mão! Zita, HuGuinho e Prima Cat vocês são grandes. OBRIGADA! Pulei três vezes de felicidade, e em todas elas como se fosse a primeira (Zita da tua vez foi mesmo a 1ª eh eh) vez que ouvia aquela notícia maravilhosa.

Etiquetas: , , , ,


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

 

Ye lé lé lé lé lé

Até ao meu regresso se Ele quiser.

Aquele abraço!

Fui.




Tenho andado para vos dizer que mudei de ideias. Afinal, ESTA é que é a música mais romântica dos últimos tempos. E essa, aliada ao vídeo com que vos deixo é de (me) cortar a respiração.

No entanto, continuo a gostar buedas desta.

Etiquetas: , ,


domingo, 6 de dezembro de 2009

 

HÉLDER

Lembro-me de ti muitas vezes. Hoje um bocadinho mais. Até já.

Etiquetas: ,


sábado, 5 de dezembro de 2009

 

TETRO - "Ganda" FILME (Que se lixe a crítica - com F)

Tinha muito para vos dizer sobre este filme. Não o farei. Guardá-lo-ei para mim. Vão vê-lo.

"Não olhes para as luzes. Nunca olhes para as luzes!"

(Jamais te esqueças disto Deia. Jamais...)

Etiquetas: , ,


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

 

É isto a moda meus amigos

Há as leggings não é? É. Eu tenho dois pares. E aquilo anda ali entre o collant e umas calças de fato de treino muito justas. Resultado uma pessoa (esta que vos fala) pensa que aquilo dá com tudo. Pois que a camisola que hoje traz e que ela ao comprar apelidou de vestido, não é assim tão comprida. Sendo que o "assim" se situa ligeiramente, mas muito ligeiramente mesmo, abaixo das nalgas. Adivinhem lá o que se me oferece dizer em seguida. Exacto: O que é que sucede? Sucede que me lembrei de mais um episódio traumático de minha infância (depois ainda se admiram. Muito boa sou eu, é o que vos digo.)

Ora no colégio onde eu andava, todos os anos havia a festa de Natal. Poderão dizer "ah isso há em todo e qualquer colégio que se preze.". Tudo bem, mas vocês não estão a ver o "muito à frente" que aquelas festas eram. Aquilo metia fatiotas todas feitas em papel (mas muito giras atenção e cheias de pormenorzinhos brilhantes que faziam as delícias das crianças frequentadoras do colégio - especialmente das meninas.)

Entre números de ballet, havia cantorias de natal para as quais vestíamos uma fatiota standard: calções de ginástica azuis, t-shirt dizendo "Externato Balão Azul" e sapatilhas. Eis que a boa da Deia, na festa que decorreu em 1900 e 80 e qualquer coisa, na Tabaqueira, se esquece dessa fatiota de transição. Eis que não deixam Deia ficar de saia de pregas xadrez vermelho e azul escuro para não destoar dos colegas. Eis que a mandam para o palco somente de collants (cor de rosa, translúcidos) e sapatinho de verniz a atar no tornozelo. Deia não se fica e ainda os consegue ludibriar na primeira música, envergando a sua gabardina azul, embora aberta, lá está, para não destoar tanto. Eis que um qualquer carrasco se apercebe e a obriga a tirar a dita. (perdoem a repetição alarve do "eis" mas como dizê-lo de outra maneira?)

EIS que deia canta a música seguinte, que lhe pareceu toda a eternidade e mais um bocadinho, olhando na diagonal para cima (para o cantinho do tecto no fim da sala).

Quem não sabia de toda a humilhação que Deia sentia, poderia eventualmente pensar que Deia encarava o infinito porque se encontrava sobremaneira compenetrada na música. Ou porque se quedara pensando, com desmedida esperança, no futuro. Encarando-o (ao porvir) com altivez. O que quem pensou isso não percebeu, é que Deia queria tão-só evitar olhar para uma plateia de dezenas de pais e amigos que a viam, no fundo, de cuecas a cantar num palco.

Isto tudo para dizer o quê?

Que não vos digo o que a minha amiga do trabalho respondeu quando lhe disse:

"Eu sei que é tarde demais para perguntar, mas por acaso achas que parece que hoje me esqueci das calças?"

Etiquetas: , ,


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

 

Coisas que me aquecem:

Chegar a sexta-feira (amanhã) olhar para a senhora do quiosque e antes de proferir qualquer palavra ela dizer-me assim:

"Já chegou a sua revista querida."

E eu, toda inchada por dentro ("a MINHA revista"), digo-lhe um obrigada que é todo sorrisos e vou à minha vida satisfeita, a lê-la de trás para a frente.

Etiquetas: ,


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

 

Outro TPC (já depois de corrigido pela stôra)

Enunciado: Começar um texto com 17 de Novembro de 2050. Socorram-se de um livro da vossa estante para, mais uma vez encontrarem palavras que não só vos enriqueçam o texto, como vos ajudem a progredir na história.

17/11/2050

Hoje é o dia em que eles se comprometeram voltar. Sei porque mo gravaram a canivete no fuste. Lembro-me como se tivesse acontecido na hora que precedeu esta, porém, cinquenta anos decorreram desde o 17/11/2000, em que os quatro, à data com quinze anos, fizeram o pacto das suas vidas, tendo por única testemunha esta secular árvore que sou. Que importa que vos diga se sou um carvalho negral, ou uma azinheira? O que é efectivamente relevante é que hoje com sessenta e cinco anos, virão diante de mim reiterar o compromisso. Tenho visto tanto nesta vida que estou crente que não aparecerá vivalma, devem ter-se amedrontado. Ainda assim, encontro-me impaciente.

A manhã erguera-se soalheira e adivinhava-se quente, apesar do Outono rigoroso que se vivia nesse ano. A brisa matutina agitava-me as folhas e esse restolhar familiar embalava-me os pensamentos de árvore. A seiva corria-me, então, plena de fulgor. Calculo que teria cerca de sessenta anos. Presentemente a memória já me falha de vez em quando, porém, este dia jamais olvidarei. Um imbróglio é o que vos digo. Bingley, Darcy, Georgiana e Elisabeth vinham a correr, descontraídos. Pregavam partidas uns aos outros, em que ora caía Bingley, ora tombava Darcy, ora se precipitavam todos, rebolando numa amálgama de alegres corpos juvenis, pela vegetação humedecida do orvalho. Soltavam sonoras gargalhadas. Eis que Elisabeth se levanta repentinamente, muito grave. Ajeita a saia, sacudindo-lhe as folhas secas, fecha um botão da camisa que entretanto se desabotoara e diz peremptória: “Estamos a esquecer-nos do mais importante, com estas brincadeiras. Da razão pela qual fugimos para aqui.” Os outros, no chão, desconcertados com a mudança súbita no seu comportamento, sentaram-se fitando-a. “O que aconteceu no presbitério não pode ser apagado. Temos de fazer alguma coisa e ninguém além de nós, que o presenciámos, poderá intervir. De acordo?” As feições dos três amigos transfiguraram-se. O à vontade deu lugar à consternação. Era premente que tomassem uma atitude, mas sentiam-se esmagados pela própria insignificância. Como é que quatro miúdos conseguiriam defrontar o poder instituído na vila?

O terror invadira-os. As consequências de qualquer resolução seriam devastadoras. Fosse possível, prefeririam esquecer o remorso, nada fazer e prosseguir com as suas vidas de crianças. Sentimentos não são, no entanto, transacções pecuniárias e por isso em certos casos, como este, não era negociável o que havia a fazer. Decidiram, à minha frente, realizar o pacto, e haveriam de gravar em mim, de forma indelével, a data em que se reuniriam para celebrar o valente acto.

Caso não aparecessem, no dia estipulado, significaria o fracasso dos seus intentos. Teriam sido cobardes e como tal, por vergonha, não voltariam a ver-se. Seria o preço a pagar pela desonra. Uma decisão dolorosa para todos, mas especialmente pungente para dois deles. Apesar da tenra idade Darcy e Georgiana já se amavam com a urgência dos adultos e mortificava-os conceberem a separação. Mais um motivo, talvez o mais importante para aqueles dois, para se vestirem de perseverança e enfrentarem o perigo.

Elisabeth, dotada de uma imensa eloquência, principiou o acto solene. - Antes, pedira o canivete a Bingley, sempre munido deste. Gostava de apanhar fruta das árvores com as quais se cruzava. Era assim que comia as maçãs e os figos: “ainda imaculados”, como dizia poeticamente, embora no tom jocoso que o caracterizava, enquanto fazia pirraça aos amigos pelo deleite com que os ingeria. - “Vamos denunciar à polícia, aquele do qual nunca repetiremos o nome, de tão infame. Iremos testemunhar o que vimos, exigir que nos ouçam e que se faça justiça. Prometemos aqui, uns aos outros, que no caso de sermos ignorados, tomaremos a razão a pulso e engendraremos um plano para castigar esse vil homem. Que a cicatriz que agora inscrevemos nas palmas das nossas mãos esquerdas, as do lado do coração, jamais nos deixem esquecer a missão da qual fomos incumbidos, pelo Destino, no momento em que testemunhámos o crime perverso.

Abriu fundos lenhos em cada um dos três companheiros e de seguida fê-lo, com uma frieza notável, em si própria. Uniram os quatro golpes, sucessivamente, misturando o sangue entre todos e dirigiram-se-me para completar o processo.

Nunca mais os vi. Desde então, nada de tão insólito se repetiu. Apenas o banal, os enamorados que me gravam corações com nomes dentro e fazem juras, enquanto se amam à minha sombra.

Tinha esperança que hoje, aqueles quatro viessem e me provassem que existe uma grandeza invencível no coração das crianças e que essas podem ter voz, mesmo neste mundo feito de arbitrariedades. Anoitece já. Temo que não cumpram o firmado com sangue. Entristeço-me...

- Hey Elisabeth. Espera um pouco por favor. Estamos velhos. Que fazes a correr dessa maneira? O Bingley já tropeçou e perdeu o aparelho do ouvido. Espera! Ainda faltam horas para o fim do dia e as árvores não saem do sítio, sabes?

Andreia Moreira
21/11/2009

LIVRO ESCOLHIDO: “Orgulho e preconceito.” De Jane Austin. Apesar de não o ter lido, sei que se passa num meio rural, o que me levou a escolhê-lo na prateleira já que tinha como ideia de partida a de uma data gravada num tronco de uma árvore.

Etiquetas: , ,


This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Website Counter
Free Counter