quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

 

2009 numa palavra: LUTA

Em Janeiro lutei contra a incredulidade. Contra uma realidade cruel demais para que a mastigasse e engolisse, sem me engasgar. Sem que o ar rareasse. Em Janeiro, lutei ingloriamente contra a morte de alguém que partiu cedo demais. Quis negá-la. Não fui capaz, obviamente. Abateu-se sobre mim uma tristeza, que creio, ainda não (me) ter abandonado. A verdade é que por muitas palavras bonitas que profira “Ele está cá. Sentimo-lo ainda. Nunca o esqueceremos” nada consola, os dele, numa perda assim. E eu queria muito poder consolá-los. Queria abraçá-los e dizer “Pronto já não dói.” Porque gosto tanto deles e sofro de os ver sem ele... Mutilados... A verdade é que o “nunca mais” é uma dor inenarrável. Ninguém nos prepara para isto. É sempre um murro no estômago. Mesmo que nos digam, como me disseram, com os olhos, mais tarde neste ano, “pode ser amanhã.”

Em Fevereiro, outra perda. Na altura pareceu-me trágico. Hoje vejo Deus a escrever direito por linhas tortas. Viste como se pintou um arco-íris no céu carregado só para ti?

Ainda em Fevereiro comecei a lutar comigo. Ando em contenda, desde então. Digladiando-me. E cheira-me que a perder. Embora não menospreze a massa de que me componho, descobri que nem sempre posso ter certezas. Há alturas em que a vida é um enorme ponto de interrogação. (Ó arautos da intelectualidade, contra este ainda não há movimentos, pois não?) Tem-me sido difícil discernir entre o que o sou, o que quero ser, o que fiz, o que quero fazer, etc. e tal. É ver-me correr dentro da cabeça e crânio por todos os lados. (Explico-vos isto para o ano que vem, embora seja certo que não irão entender. Pois se nem eu compreendo, ao certo, que bicho me terá mordido.)

Março, Abril, Maio, Junho:

Muito mais escrita. Mais disciplina. Mais empenho. Mais humildade. Mais trabalho. Muito mais trabalho.

Cineminha, teatrinho, livrinhos, concertos, se meter viagem(ns) perfeito e sou/fui feliz. Isso nunca me pode falhar. Este ano não foi excepção.

Cair na real. Ele não estava a ficar bom como nos fazia crer. Manteve-se igual ao que sempre conhecêramos, até tão tarde... E nós a querer crer. Ninguém acredita na morte. É à vida que nos agarramos por instinto. O cancro é A luta maior. A que se trava silenciosamente dentro. Cancro. Escrevê-lo custa. (Vi)vê-lo? Pior ainda. Doença insidiosa e maldita.

Julho: Mês de MUSA. A 25 um dia feliz. O que é que me comove em ti? O facto de me aceitares tão plenamente. Tu sabes quem sou, na medida do possível. Há lugares onde ninguém chega. Sabes dos meus devaneios, assistes ao pior de mim e ainda assim esse olhar terno, quero crer, ainda, apaixonado. É bom ser livre a teu lado. Contigo aprendi a deixar-te sê-lo também. A não te querer aprisionado. Assim podemos respirar enquanto amamos o que é, para mim, precioso.

Agosto: Adeus tio João. Foi duro ganhar-te tão perto de te perder. A urgência das palavras quando os segundos se sucediam ameaçadores. Cada momento contou. Pela primeira vez falaste. Pela primeira vez te ouvimos. E, apesar de desesperante (o tempo urgia), foi um consolo para os teus. Obrigada. Nunca é tarde. Não foi tarde. Gosto muito de ti.

Setembro: Mais workshops de escrita (Viva o Filipe Homem Fonseca! Viva a Raquel Ochoa! Grandes formadores.) Mais aprendizagem.

E claro, BACKSPACER dos Pearl Jam. Weeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!

Outubro, Novembro e Dezembro: a vidinha (já tenho sono por isso abrevio a conversa mas é, para ir dormir. Estou a escrever isto à noite. Isso dos agendamentos de posts foi a minha grande descoberta este ano. Olaré.).

Voluntariado fiz pouco. Está mal. Tenho de dar mais nesse campo.

Ah é verdade. Mais duas ou três negas. Perceber. Desistir do que há para desistir. Mas não desistir de mim, ou daquilo em que acredito com uma fé inabalável. E já sei, basta que eu acredite.

Todo o ano as amizades, as pessoas (vocês sabem quem são pá!) que elegi como família.

Para terminar, os livros que li em BPM (Batimentos Cardíacos por Minuto):

- A soma dos dias – Isabel Allende – 110
- Um bom homem é difícil de encontrar – Flannery O’Connor – 110
- O Amante – Marguerite Duras – 195
- Pedras Negras – Dias de Melo – 195
- Pastoral Portuguesa – Rogério Casanova – 110
- História Universal da Infâmia – Jorge Luis Borges – 100
- O Riso de Deus – António Alçada Baptista – 150
- As ondas – Virginia Woolf – 195
- Carta ao Pai – Franz Kafka – 110
- A Sibila – Agustina Bessa-Luís – 110
- Contos e Diário – Florbela Espanca – 110
- Teorema – Pier Paolo Pasolini – 150
- O velho que lia romances de amor – Luis Sepulveda – 195
- Um homem: Klaus Klump – Gonçalo M. Tavares – 195
- A máquina de Joseph Walser – Gonçalo M. Tavares – 195
- Breviário das más inclinações – José Riço Direitinho – 100
- Nas tuas mãos – Inês Pedrosa – 195
- As mulheres do meu pai - José Eduardo Agualusa - 110
- Histórias de Deus – Rainer Maria Rilke - 150

E de maneiras que foi isto este meu ano.

No último livro que li, a certa altura uma personagem, Klara, diz: "Aprendi a ser agradecida por todas as coisas." Eu cá também.

Já que falei em luta: tiriririririririri.

2010 logo se vê. Se for de batalhas? Arregaço as mangas e vou-me às ditas.

BOM 2010 A TODOS VOCÊS. AQUELE (FORTE) ABRAÇO.



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Comments:
emocionei me a dia 25..e de novo a le lo!!tão verdadeiro!
és incrivel!bom ano!!
 
Olá! Que é feito? Está tudo bem? Espero que sim. beijinhos muitos.
 
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