domingo, 31 de maio de 2009

 

É lá dentro a minha morada.

Não pude entrar. Disseram-me que não podia entrar. Estou aqui fora, sentado incrédulo. Choro. Apoio a cabeça nas mãos de desânimo, não tenho forças para a erguer. Não é de vergonha que me tomba a cabeça, é do cansaço. Dói-me tudo. Disseram-me que não podia entrar e eu não tive forças para lhes explicar que só eu posso estar ali. Só faz sentido que seja eu, a estar lá dentro. Eles parecem não perceber, ou não querer entender e disseram-me que são as regras. As regras também ditaram que não pudéssemos comprar casa. Disseram-nos "não". Aceitámos. Têm-nos dito "não" muitas vezes e eu tenho engolido, em seco, sem perceber a razão de tantas recusas. Disseram-nos que era proibido que amássemos uma criança. Resignámo-nos. Ofenderam-nos. Renegaram-nos. Tentaram varrer-nos. Como se o que os seus olhos não vissem, não existisse de facto. Foi um amor vivido plenamente apenas entre as nossas paredes. Que não são nossas deveras, recordo, porque não nos permitiram que as comprássemos para nós. Amo muito esta pessoa. É uma pessoa bonita, cheia de qualidades e com os seus defeitos também. É uma pessoa que desejo com ardor e com quem o meu corpo se entende sublimemente. É a pessoa que escolhi e me escolheu. Lembro-me da primeira vez que os meus olhos encontraram os seus. Não foi preciso explicar o que quer que fosse, porque nesse momento soube que era ali que iria morar e fui correspondido. Custou-me sempre muito, andar com este que tanto amo e não lho poder demonstrar. Quiseram, não raras vezes, que dissesse que era amizade, este incomensurável amor. Quiseram que fingisse que tudo o que sinto seria menos, do que é na verdade. Quiseram convencer-me que era um amor menor. Disseram-nos que não afrontássemos os outros, com esta forma anormal de ser e eu, procurei incessante e desesperadamente e não encontrei jamais qualquer anomalia. Assimilei que o meu amor agride os outros e por isso coibi-me dele, muitas vezes (demasiadas vezes) não sei se para não os agredir, se para que não nos agredissem. Estou muito cansado que nos agridam. Muito cansado que tentem convencer-me que é feio, o que para mim é belo e perfeito. Tenho perdido muito tempo do meu amor a esconder-me. Agora, ele está ali dentro e não me deixam entrar. E sei que foram infinitamente escassas as festas que lhe dei, as vezes que o apertei num abraço, ou que a minha boca se saciou na sua, porque só o pude fazer em privado. Foram demasiadas as oportunidades de o amar plenamente das quais abdiquei, em prol de uma sociedade carrasca, que mais não tem feito senão querer matar-me este amor. Estou aqui. Não me deixam entrar. Querem fazer-me crer que tudo o que temos vivido não vale. Tentam fazer-me acreditar que é de somenos importância isto que toda a vida sentimos. Gritam-me que o elo que temos não tem validade, porque há, ainda, regras que ditam a sua nulidade. Isto que tenho em mim não pode existir. Dizem. E eu quero gritar-lhes do crime hediondo que cometem, mas estou demasiado cansado porque tenho passado a vida a lutar. Porque me tem sido constantemente negada a vivência deste amor como "os outros" o podem fazer. Tento combater a revolta e tento limpar-me das injustiças que tenho sofrido, mas é-me muito difícil sair incólume desta guerra velada. É-me complicado despir o manto de vergonha com que sempre tentaram cobrir-me. Uma festa. Dar as mãos. Gestos singelos. Negados. Tornei-me furtivo. Exímio na arte de amar sem o toque. Ainda que a saudade me rasgasse o peito, não havia lugar a festa, ao abraço, ao beijo. Há um vazio imenso de não ter podido dar azo ao que sinto livremente, como sempre foi permitido "aos outros". Com verdade. Em plenitude. E este vazio tem-me consumido. Consome-me o desânimo. Como explicar o amor? Porque tenho eu de explicar o meu amor? Têm-me dito, toda a vida, por meias palavras, por olhares reprovadores e jocosos que não é bonito. Não compreendo. É bonito sim. Tenho chorado. Tenho chorado muito. Há muito que desisti de explicar que o que sinto é amor. Amor igual àquele que vislumbro ao olhar para os outros casais. Estudo os trejeitos dos apaixonados na rua. Sei que os meus em nada diferem daqueles. Vejo como se olham, como se agarram, como se querem e não consigo descortinar o que me separa e ao meu amor, desses outros pares. Sei que lhe quero bem, que daria a minha vida pela dele, que tudo faço para o proteger e que toda essa cumplicidade me é devolvida. E no entanto, hoje não me deixam entrar. Toda a vida a ter de me esconder. A justificar o que não tem explicação. O que é por natureza. Sou assim. Amo assim. Não deveria ser necessário penar para me impor. Não deveria explicar o amor porque os sentimentos não se explicam, vivem-se. E eu até estou habituado a isso tudo, tem sido uma vida inteira a mentir-lhes, para que não me chateiem e não me tentem formatar. Mas agora não me deixam entrar e isso é-me inaceitável. É desumano o que me fazem. Não percebo esta sentença impiedosa. Nunca fiz mal a outrem. Está ali dentro toda a minha vida partilhada com outra pessoa. Morre. E dizem-me que vá para casa, que só a família chegada, que eu não. Como? Sou eu, sim. Tenho sido eu a companhia de uma vida inteira. Tenho sido eu o amor, o sexo, também a amizade. Tenho sido as discussões, a ternura, a saúde, as doenças (esta também), as viagens, a cumplicidade, as traições, as mágoas, os desabafos, as flatulências, o desespero, as gargalhadas, os abraços, os beijos, as dificuldades, as vitórias. Tenho sido eu. Sou eu ainda. Ainda que me mandem para casa eu já estou lá dentro. Compreendem? Não. Nunca compreenderam. São 30 anos de incompreensão e intolerância. E ainda que não compreendam é ali dentro que morre parte de mim. Mandam-me para casa. Dizem-me que eu não. E eu já não tenho como lhes explicar que não se explica o (este) amor.

O meu nome é João e ali dentro morre-me toda uma vida. O meu Francisco. Não me deixam entrar. Mas eu nunca de lá saí.

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sábado, 30 de maio de 2009

 

OBRIGADA MANA

És (UMA GRANDE) parte da minha alegria de viver.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

 

Sugestões de fim de semana

1) Recebi um e-mail deste rapaz. Olha cá o divulgo embora não conhecendo a fundo. Dei uma espreitadela e ri-me com algumas caricaturas. Vá lá então, ver se vos interessa.

PUBLICIDADE: http://blogdelacoesdoego.wordpress.com/
No outro dia incomodou-me uma história deste género. Recebi outro e-mail de um autor que vai publicar um livro infantil. Entretanto o senhor lá se enganou e enviou aquilo com a lista de e-mails toda à vista. Ora, foi uma enxurrada de e-mails a seguir, das pessoas muito indignadas porque o SPAM isto e o SPAM aquilo e que se estavam e passo a citar "a cagar" para o livro, etc. Ora isto moeu-me. Custa muito perceber que o senhor queria apenas divulgar a sua obra? É preciso ser tão agressivo com o senhor? Só porque se enganou e deixou a lista à vista? Preferem receber aqueles que vos dizem como aumentar o pénis talvez... Olha eu gostei de receber a informação do livro. E desejo muita sorte ao senhor e ao seu livro e se o vir ainda o compro, PAM. Cambada de gente intolerante.

2) MUITO IMPORTANTE: Campanha do Banco Alimentar este fim de semana. Não custa, levem lá o saquito e contribuam com alguma coisa. Eu vou contribuir com força de braços no Domingo (antes que comecem aí a dizer ah e tal pede ajuda mas não a vejo a fazer nada.)

3) Bom fim de semana.

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quinta-feira, 28 de maio de 2009

 

Enternece-me...

...A recordação do miúdo ranhoso da turma.

(Aquele com o nariz sempre sujo de ranho que constantemente lhe rebentava em bolhinhas no dito e que era constantemente gozado pelos colegas.)

(Identifico-me.)

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quarta-feira, 27 de maio de 2009

 

A(lguma) música cura.


 

Ah que belas aquisições:

Ao adquirir este CD estão a ajudar crianças vítimas da guerra o que é de louvar. Toca a adquirir então. (M. Gosto mais do Dark Was the Night mas este também é muito bom.)



Alanis sua marota, continua com letras por demais universais. Todos nós já nos sentimos Incomplete, prestes a entrar num Straitjacket, apesar de nunca deixarmos de ser Citizen of the planet e mesmo que Underneath experienciemos Versions of violence, uma Torch estará sempre à frente para nos alumiar o caminho. Se não estiver, nada como redigir uma Moratorium ou enviar umas Tapes com o nosso desejo. Se ainda assim não formos atendidos, nada que Giggling again for no reason não cure, e no fundo, o que devíamos era tratar de erguer as mãos In praise of the vulnerable man. Not as we. Não é? Eu acho que sim pá. Grande Alanis. Que paixão de cantora/artista/songwriter.

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terça-feira, 26 de maio de 2009

 

http://www.youtube.com/watch?v=5cQa4CqqzC4

 

ANTÓNIA

Ontem à noite, enquanto arrumava a louça na máquina, lembrei-me de ti, Antónia. Não há qualquer relação entre a louça e a tua pessoa, atenção. Mas foi nesse momento que me lembrei de ti. Do teu sorriso franco, dos teus olhos esperançosos, da tua doce existência. Eras assim como uma brisa, que vem de mansinho e quase não se faz notar, mas que nos melhora substancialmente um dia quente de Verão.

Espero que te mantenhas determinada como te conheci. Faço votos para que nunca te deixes levar pelo desânimo e que continues sempre, sem hesitar, a apanhar os comboios necessários para alcançar as paragens que queres conhecer.

Foste (e és ainda, espero) um exemplo de perseverança. Nunca te vou esquecer.

Boas viagens!

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segunda-feira, 25 de maio de 2009

 

HOJE:

O dia do disparate acontece NESTA freguesia. Obrigada.

(Nunca mais lá tinham ido não é? Ingratos. Humpf. Vá lá então.)

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sábado, 23 de maio de 2009

 

Voltar cá para dentro.

Saí de mim sem dar por isso e perdi-me. Andei por aí aos tropeções, caíndo, chorosa, desorientada, qual criança na praia de costas para o sol. A ver-me, longe. Gritei-me que voltasse. Que não era por ali. É fácil perder-me. Foi uma distracção. Momento para durar uma fracção de segundo e ainda assim, capaz de provocar um vendaval na minha Primavera. Foi mesmo assim. Um dia era o sol, o verde e os pássaros a cantar, para de repente, o céu escurecer e descer-me, implacavelmente sobre a cabeça. A angústia veio a correr e pôs-se a meu lado. Deu-me a mão. Eu tentei sacudi-la, abanei vigorosamente a mão. Gritei-lhe "Sai daqui. Vai-te embora." e ela teimosa ombro com ombro e com uma mão forte a agarrar na minha, sorrindo-me desafiadora. Pensei: Não pode ser. Ainda agora estava tudo bem. E ela ignorou-me e continuou comigo. Sei que a mente arranja subterfúgios, para me ludibriar acerca do que realmente me assusta. Como não quero ver que é "isto", digo que é "daquilo" e assim me perco em distracções e divagações. E mesmo tendo noção "disto" que acontece, volta e meia, lá me perco. Esqueço-me de quem tenho sido, esqueço-me de quem quero ser, esqueço-me das "coisas" que realmente me importam. Aquelas que não são palpáveis. O que realmente me importa, não se mede, não se pesa, não se cheira. O que verdadeiramente me preenche, pertence ao mundo das coisas (pres)sentidas, das que me enchem o peito, ou aceleram o coração e essas são incorpóreas. Mas é fácil esquecer-me disso. Uma distracção apenas e o ego e o materialismo a quererem impor-se. É uma luta porra. Isto é uma luta. Uma construção diária. Ergo-me cá dentro a pulso, erijo quem quero ser e às vezes, uma aragem apenas, passa-me por dentro, enche-me de calafrios e ameaça derrubar o que tanto trabalho me dá, dia-a-dia, atingir. Por vezes uma maldade alheia é o suficiente. Uma pérfida palavra. Um esgar de sorriso que pretendeu magoar. Uma insinuação. Outras basto-me eu e o meu orgulho. A minha vaidade. A insegurança. O simples desânimo. É e será sempre um TPC para cada dia. Construção que nunca verei concluída porque é a própria vida em si. Quando morrer, se puder julgar, julgá-la-ei imperfeita porque é sempre possível ser melhor, fazer melhor. Eu quero que seja assim, é assim que concebo a vida. Mas às vezes, visto-me de um cansaço que vem desta luta entre aquilo que quero ser e aquilo em que me estou a transformar.

Inside Job
Composer: Vedder/McCready

Underneath this smile lies everything
all my hopes, anger, pride and shame
make yourself a pact, not to shut doors on the past
just for today,... I am free
I will not lose my faith
It's an inside job today
I know this one thing well,...
I used to try and kill love, it was the highest sin
breathing insecurity out and in
Searching hope, I'm shown the way to run straight
pursuing the greater way for all,... human light.
How I choose to feel,... Is how I am.
How I choose to feel,... Is how I am.
I will not lose my faithIt's an inside job today
Holding on, the light of night
On my knees to rise and fix my broken soul
Again.
Let me run into the rain
To be a human light again
Let me run into the rain
To shine a human light today
Life comes from within your heart and desire
Life comes from within my heart and desire
Life comes from within your heart and desire

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sexta-feira, 22 de maio de 2009

 

PARABÉNS MARINHO ABRANTES!

O meu amigo com mais idade* e apesar disso, o mais jovem de todos (lá em cima onde interessa, na cabecita).

Abraço apertado cheio de saudades da Adélia Amélia Ex-Bolseira Moreira.


*Pá espera lá que eu não sei se és mais velho que a minha amiga Teresa Moita. (E ela também é jovem no mesmo sítio. Ora ficas em ex-aequo com ela, pode ser? eh eh)

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As pessoas que nos habitam não morrem enquanto vive(r)mos.


http://www.youtube.com/watch?v=R4UjJFIGLeM

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quinta-feira, 21 de maio de 2009

 

PENSAMENTO DO DIA:

Os cobardes alimentam-se do medo dos corajosos. Não me envergonho do meu medo, nem tão pouco o tento esconder. E tu? Não te envergonhas da cobardia? É tarde para nós. Não percas tempo a dizer aos outros que me amas. Os laços de sangue nada são, se passas os dias de hoje a fazer-me sofrer. (E amar, como eu o concebo, é preferir a morte a provocar qualquer sofrimento àquele que amo.) Se ignoras os meus sentimentos e as minhas vontades. Ama-me quem me cuida, sem me querer possuir. Tu não me amas. Julgas-me um objecto que a vida te deu para brincar. E não sou. E não voltarei a ser. Mata-me se queres brincar. Viva jamais voltarás a satisfazer-te comigo. Morrerei de pé para não viver de joelhos, curvada perante ti. A paternidade é um privilégio, não um direito de posse. Tenho medo e ainda assim grito-te tudo isto para que vejas que SOU. Sem ti. SOU.

(E as palavras com que enches a boca nada significam, porque desconheces os sentimentos que essas palavras encerram.)

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ANIVERSÁRIOS

Parabéns Gui e Júlio! 2 grandes beijinhos aos 2. Isto é, 2 para cada um e um dia muito FELIZ é o que eu vos desejo.

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quarta-feira, 20 de maio de 2009

 

Quando crescer vou ser assim:


http://www.youtube.com/watch?v=LExp2PVwBnM

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terça-feira, 19 de maio de 2009

 

Às vezes penso que...

...Quando andavam a distribuir as almas pelas diferentes tribos, se esqueceram de mim (nem para guarda-redes fiquei). É por isso, desconfio, que sinto tantas vezes um desacerto com os outros.

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segunda-feira, 18 de maio de 2009

 

DIA DO DISPARATE (atenção que também tem coisas a atirar para o sério)

Então, 6ªF ao sair do trabalho tinha uma equipa de senhores, vestidos de bata, à minha espera. Traziam um modelo muito lindo aperta atrás mas não era pérola, era amarelado. E eu achei que não estava em condições de reclamar com a cor. Vestiram-mo, com cuidado para não me aleijar em resposta ao meu pungente: "Não me aleijem!" e não sem antes dispararem dardo tranquilizante que me pôs a dormir e impediu que lhes mordesse. (No estado em que me encontrava, era possível. Principalmente se me perguntassem se eu acederia em realizar um teste de Q.I.) Por sinal, ainda hoje me dói um 'cadito a nalga esquerda. Entretanto, estive o fim de semana inteiro recolhida num quarto escuro, o que foi traumatizante uma vez que, se bem se recordam, tenho medo de andar no escuro. Ora, ao fim de umas horas às escuras, prometi portar-me bem e implorei que me deixassem sair, nem que fosse à experiência ao que "eles" (úuuuuuuuuuuuuuu medo...) acederam. Ora hoje escrevo-vos, toda eu vestida com padrão xadrez, envergo um pullover sem mangas verde escuro e um lenço de seda muito bonito, a dar um nó tipo gravata mas mais largo (não sei como dizer) e fumo um cachimbo enquanto leio o livro: "As ondas" de Virginia Woolf. (Que até agora, página 28, não se pode dizer que esteja a fazer maravilhas pela minha sanidade mental. Mais tarde adiantarei qualquer coisa, embora seja melhor que não o faça à 2ªF, cá por coisas.)

Os pombos do meu parapeito divorciaram-se, o que é uma merda, dado que constituiam o meu exemplo de harmonia e fidelidade no lar. (Não me obriguem a pôr links. Já falei duas ou três vezes deles, no âmbito da minha repetitiva maneira de ser. "No âmbito" é uma expressão que eu uso muito no dia-a-dia e pareceu-me bem dar-vos com ela.

Acabou a Feira do Livro e não consegui lá voltar. Começo a acreditar que há forças cósmicas que impedem que se quebre a regra "Não há duas sem três." Ora se eu já lá tinha ido três, o Universo achou por bem mostrar-me que "Três é a conta que Deus fez" e como tal ninguém me manda ser lambona. O que é que eu lá comprei perguntam vocês? Então, comprei: Carta ao Pai do Kafka; Ensaio sobre o ciúme do Tolstoi; Eureka do Edgar Allan Poe; "Histórias de Deus" (errata, não me "alembrava") do Reine Maria Rilke e "As ondas" da Virgínia Woolfe. Ora porque é que me era vital regressar? Porque queria comprar mais 3 livros escritos por romis (=gajas. Digam lá que não vos ensino umas giras...) para a coisa ficar equilibrada. Não consegui... Mas, hei-de me dirigir, em breve, a um dos tais sítios onde me sinto (muito) bem, para o fazer. Ou não me chame Andreia. (Já me devia ter deixado disto. Qualquer dia tenho mais pseudónimos do que anos).

Ontem: "HISTÓRIA DE VIDA" no São Luiz (Ó Nelson antes de corrigires vai ao site do teatro e vê como lá está). Que rica hora e meia. Achei maravilhoso (cá estou, num registo sério) o jardim de Inverno cheio de gente para ouvir contar histórias. (Palavras-chave das histórias que me marcaram: bexiga, piano, vestido branco, Alcides) Todos temos uma história para contar. Verdade.

HOJE: PARABÉNS VAN! Comadre, amiga (não há link virtual para isto pá), companheira (não te assustes, só chamo "puta" ao HuGuinho eh eh) espero que seja o primeiro de muitos em que festejamos a soma de mais um ano. Xizinhos apertados (Fala Deia, não confundir com Maxi).


E no fundo, no fundo mesmo, é isto.

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sábado, 16 de maio de 2009

 

Crónica de NADA

Ouvi dizer que na meditação se pensa "o nada". Tenta-se não pensar, para lá do momento presente. Aquele em que de pernas cruzadas e mãos nos joelhos viradas para o céu (assim o fantasio), esvaziamos a mente e apuramos os sentidos. O que se ouve. O que se cheira. O que se apalpa. O que se saboreira. O presente. Seria eu capaz de me esvaziar? Mesmo que por um breve momento? Eu gostava. Gostava de expulsar o ponto de interrogação que se me colou à moleirinha. - Já não a tenho, sei bem. Antes tivesse, sinal seria que estava a começar tudo de novo. - Começo a ter medo da morte e dessas coisas, como a velhice, que antes estavam muito distantes. Começo a pensar que as escolhas que faço me afunilam o futuro. Já não tenho a vida toda pela frente. Pelo menos já não sinto que tenho e isso assusta-me. Na meditação não há passado e não há futuro. Ouvi dizer que há só presente. Uma passa que nos dão para a mão e que aprendemos a escutar, a sentir, a saborear. Uma passa a simbolizar o nosso desprendimento do resto. Do passado irremediável e do futuro imprevisível. Naquele dia, naquele momento, só podemos viver a passa. Mas sinceramente, eu preferia viver chocolate. Não gosto de passas... Meditar? Não sei se será algum dia para mim. Porém, apetece-me tentar. (Fica naquela lista mental de tarefas "Um dia ainda hei-de...") Tenho pavor a ficar velha por dentro. PAVOR. E se são passas que tenho de comer para que isso não aconteça, venham elas, tipo doze, para eu formular muitos desejos.

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sexta-feira, 15 de maio de 2009

 

ANIVERSÁRIO

Parabéns pelo dia de ontem meu querido piratinha Vicente. Gosto muito de ti. Que mantenhas sempre esse teu sorriso maroto.

 

É OFICIAL: internem-me.

Não ando bem. Meto os pés pelas mãos. Padeço de complexo de perseguição em grau extremíssimo. Acuso injustamente as pessoas. Faço cenas lamentáveis. Sofro. Refilo (espingardo). Ajo sem pensar.

Podem ir buscar o modelito aperta atrás (cor pérola) e vir buscar-me. É justo.

No fundo (como podem constatar pela etiqueta da mensagem) sou uma histérica.

Outra coisa que concluo é que as redes sociais dão cabo de mim. Consomem-me. Não tenho feitio para aquilo.

Resumindo:

- A mensagem que tanto me indignou no facebook era mesmo daquelas pré-formatadas para nos instigar a fazer a merda do teste. (Desculpa Xavi por ter pensado mal de ti. Sabes como é complexos antigos morrem dificilmente. Estou completamente consumida por ter sido injusta.)

- O Nelson de ontem era o meu amiGuinho a gozar como tantas outras vezes já fez (pessoalmente). O Nelson é o dos Simpsons (e agora perceberão a gargalhada Ah...Ah... E saberão como a ouvir).

- O facebook é que sabia: sou uma dumb impulsiva e inconsequente.

- Vocês parem de vir aqui eu não valho mesmo a pena. (Vá, valho um bocadinho...)

- Não passo de uma gaja descompensada. (Ter noção já não é mau...Digo eu.)

E pronto agora que já me chibatei publicamente, retiro-me até ao próximo post, com a esperança que a vossa memória actue e elimine o (meu) lixo dos últimos dias. Guardem só o exemplo de COMO NÃO SE DEVE SER. Para mim julgo já ser tarde demais. Não tenho emenda. Não penso. Pareço o Tasmanian Devil versão histérica.

Um bem haja a todos por serem quem são.

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quinta-feira, 14 de maio de 2009

 

O RISO DE DEUS

Desta vez deixo que seja o livro a falar por si. Porque sim, a(lguma)s frases que sublinhei.

Os mortais não perdoam aos heróis o mais pequeno sintoma de humanidade.

(...) alguma coisa começa na nossa vida quando tomamos consciência de que, possivelmente, no fundo, somos únicos e sós e que isso é necessário para que a aventura com os outros não fique condenada ao fracasso.

(...) É aí que eu vejo o amor:
uma vibração que não vem da inteligência e nem sequer dos sentimentos mas da natureza mais íntima e mais profunda do meu próprio ser.

Muito melhor do que uma concepção épica da vida é sermos capazes de nos reconhecer num destino pícaro.

Não nos libertamos daqueles que morreram e ainda bem porque até a sua lembrança nos protege.

Vocês estão a andar todos tão depressa que as vossas almas ficaram perdidas e acho que já não vos vão encontrar.

(...) Quero ver se tenho tempo para ser eu próprio.

(...) Vamos ficar por aqui, a fazer aquilo que podemos e sabemos, certos de que fazemos muito pouco em relação aos sonhos que moram no nosso destino (...)

(...) não quereria que por minha culpa fosse introduzida no mundo nenhuma injustiça.

(...) possivelmente só o sentimento é natureza e tudo o mais é cultura.

(...) há outros (dias) em que caio numa enorme tristeza, e nem em mim, nem nos outros, encontro a paz que desejo.

(...) Ela acha que eu sou um conhecedor profundo e que tudo isto me sai a poder de estudo e reflexão. Eu estou é a dizer lugares-comuns, lugares-comuns qualificados, eu sei, mas a verdade é que não acabei de ler "O homem sem qualidades" - mas continuei a rábula, a fazer considerações sobre a Cancânia, conforme tinha lido numa revista francesa. (Quantos não o farão? Obrigada António, por isto em particular.)

A verdadeira história não é a história do poder e muito menos a história das ideias:é a história dos mecanismos de manipulação dos sentimentos que estão mais activos numa determinada época, de modo a integrarem-se e influenciarem o "espírito do tempo".

A gente demora muito a admitir que o destino do homem está fora das ideologias e que as coisas importantes acabam por ser vividas connosco ou, quando muito, na pequena roda dos nossos afectos.

Eu sei que há os amigos com quem a vida se vai urdindo mas também há aqueles que, às primeiras falas, se vê logo que afinal os conhecíamos desde o princípio do mundo.

As pessoas demoram muito a usar a sua vontade.

Há uma imensa força de tudo o que nos rodeia que nos proíbe a liberdade.

Talvez seja possível fazer um treino da alma que nos deixe aceitar com naturalidade os nossos limites.

Creio que o melhor da vida está nos ritos de fragilidade, mas esses cavaleiros do bem precisam todos de ser muito fortes e muito duros porque trazem sobre os ombros a tarefa gloriosa de escrever para a história universal e não sabem que aquilo que nos redime e salva é a história pequenina do que escrevemos uns com os outros.

(...) é sempre maior a aventura da confiança do que o fracasso de ter confiado em vão ou, por outras palavras, quando já somos fortes, podemos darmo-nos ao luxo de ser fracos.

(...) o mais importante é cultivarmos a nossa singularidade.

(...) explorar até ao fim aquilo que somos.

(...) é a tal arte de realizar a nossa singularidade sem nos deixarmos destruir pelos outros.

(...) A gente sofre muito mais por causa das coisas herdadas do que por causa das coisas escolhidas.

Nós confundimos solidão com carência e dependência
.

São fases em que uma certa incomodidade se instala porque não sei bem por onde pegar a vida.

Posso (ainda) não saber por onde pegar a vida, mas estou mais optimista depois de te ler. Obrigada António por este livro. Um manual de (sobrevi/convi)vência que muito me agrada pela sua essência. Saudades. (Ficam cá as tuas palavras)

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quarta-feira, 13 de maio de 2009

 

É que estou imparável hoje:

Notícia iol em rodapé no meu PC (tenho um dispositivo de alerta para os feeds dos sites que eu visito):

"Adeus à virgem marcado pela emoção."

De que é que eu me lembrei? De Fátima?

Não. O meu primeiro pensamento foi que a fundadora do clube das virgens tinha finalmente encontrado o seu príncipe* encantado.

* Errata by Nelson.

 

José Cardoso Pires

Não tenho maravilhas a dizer sobre o serviço da ZON a não ser esta: ZONbox. Esta maravilha que tenho instalada em casa, permite-me gravar os programas que quero ver TODOS, o que nem sempre posso fazer em tempo real. Ora no outro dia ouvi encantada no Bairro Alto, o José Maria Vieira Mendes de quem já vos falei.

Entretanto visionei outro programa (gravado graças à maravilhazinha atrás referida) acerca do qual tenho a dizer-vos o seguinte: SUBLIME.

Passo então a revelar... O dito programa intitula-se Grandes Livros e o episódio ao qual assisti, irremediavelmente refém do que lá vi e ouvi, dizia respeito ao livro de José Cardoso Pires, O Delfim.

A certa altura uma amiga dizia dele (JCP): "Era um homem que não alterava o tom de voz perante quem quer que fosse."

E eu penso: é preciso ser-se grandioso, dotado de grande dignidade e verticalidade para se ser capaz de resistir à tentação do amaciar de voz, quando perante um qualquer vulto/poder.

É esse tipo de pessoas que admiro. Pessoas que não se vergam às conveniências e que são sempre a mesma pessoa, quer quando perante o chefe, o empregado, o transeunte, a vendedeira, o papa, o ministro, o presidente e a porteira. Sempre o mesmo JCP com a sua voz prestando a qualquer outro, o respeito que lhe é devido, independentemente das circunstâncias.

Ah Homem com H. Vou ler o teu Delfim. (Desculpa o atraso.) Fazes falta neste mundo de interesseiros.

(Acho que estou um bocadinho melhor da verborreia. Cá me aliviei. Desculpem, mais uma vez.)

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Estou com uma verborreia. (Desculpem)

1) Há cura para o egocentrismo? (Ofereço-me como cobaia.)

2) Começo a acreditar que um dos meus leitores é responsável pela logística da Estação de Alcântara. Então não é, que as escadas outrora estupidamente em andamento no sentido contrário ao do maior movimento, têm estado todos os dias paradas, permitindo a divisão da manada pelos dois tipos de escada? Grande xi-coração para ti, leitor atento e caridoso que deu resposta às minhas angústias. E já agora... Para quando obras? Uma de mão de tinta branca, pelo menos! Que me dizes? Amanhã? Obrigadinha.

3) Sempre me fascinou ver a sombra em movimento de uma mão que escreve.

4) Amanhã talvez: O riso de Deus comentado (ou não). E acerca da tristeza que me cobriu (ou não).

5) Isto tudo porque a porra do autocarro demorou 20 minutos a chegar à Estação de Oeiras. E depois em Alcântara, outra porra de outro autocarro demorou meia hora a aparecer. O que perfaz 50 minutos de disponibilidade para me massacrar internamente e nos quais me é impossível não ouvir as tais palavras que me falam na mona.

6) Arre. (É isto que eu quero dizer quando digo que me canso. Esta verborreia mental. Sempre com ideiazinhas, não raras vezes parvas.)

7) Prima preciso mesmo disso da meditação, quando souberes como se faz dá-me um workshop s.f.f.

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Ainda acerca do plágio mas o premeditado.

Como é que dormem de noite? Como preferem ser uma mísera cópia (mesmo que só vocês o saibam. Mesmo que mais ninguém acredite no plagiado), quando poderiam ser um belíssimo original?

No post anterior, Deia mandando, mais uma vez, postas de pescada desconhecedora dos factos em questão. Sei lá eu, se não me revoltaria impetuosamente, ao ver as palavras que escrevo, no papel de outrem (e se tendo por certo que houvera malícia, nessa triste coincidência)? Provavelmente sim. Gritaria aos sete ventos: "Ai que essas palavras são minhas!" Sou possessiva com tudo o que amo. E vejam como me contradigo em apenas 24h. "Ah e tal não sou dona das palavras que escrevo..." para no dia seguinte dizer "Ah e tal sou possessiva com tudo o que amo". E eu amo, de facto, as palavras que ponho no papel. Amo-as todas. As bem conseguidas e as muito fraquinhas. E como tal, afinal, parece que as considero minhas. Eu? Não sou de fiar. Está visto.

Amiga luta pelos teus direitos. Não te fiques.

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terça-feira, 12 de maio de 2009

 

Twisted - Acerca do plágio

Não sou dona das palavras que escrevo. As palavras é que são senhoras de mim e como sei eu de onde me vêm? Não sei. Mesmo. Ouço-as (dentro da cabeça*) e ponho-as no papel. É tudo.

*Pode ser esquizofrenia.

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segunda-feira, 11 de maio de 2009

 

Informações de utilidade (por demais) discutível

Que dia é hoje? 2ªF. Pois muito bem, lembrei-me hoje, de eleger a 2ªF como o dia do disparate.

(É de salientar que nada garante que eu mantenha esta rubrica na próxima 2ªF uma vez que tendo a mudar de opinião, com relativa facilidade. É só mostrarem-me outro ponto de vista que faça sentido que eu PAM, sou menina para passar de um extremo ao outro. Ou não. Também sou capaz de manter uma opinião, qual nhurra, ainda que me demonstrem que estou errada, se eu acreditar mesmo nela. Portanto, não é aqui que encontram cimento. Aqui movem-se em areias movediças. Não gostam, põem para o lado que ninguém vos obriga a engolir-me. Nota: ainda me encontro lixada com um episódio do facebook. Inspira, expira deia. Inspira, expira. É estupidez eu sei, mas é mais forte que eu.) Vá então ao que (também não) interessa (salvo as excepções indicadas):

1) CHECKUP:

a) Admitem no relatório que posso padecer de hepatomegália e afirmam que o meu fígado tem textura grosseira. A vesícula apresenta 2 pólipos, o maior dos quais com 2 mm. (Bem me parecia que andava com ataques de figadeira, que hoje pioraram ligeiramente nessa bendita página onde supostamente somos "amigos", mas há quem aproveite para destilar venenos/frustrações antigas. Se não me gramam esqueçam-me, boa?)

b) Colesterol Total: 239 mg/dl

c) Prognósticos: Não vais durar muito filha.

2) Pergunta ao céu: "Porque é que andas triste pá?"

3) EXCEPÇÃO: A evolução de Darwin: Fui e gostei muito. Está interessante, numa linguagem acessível às pessoas que andem por fora da biologia e vale a pena visitar. Dou nota negativa apenas ao seguinte: Já não basta os bichos terem de viver em cativeiro a vida toda, têm de andar em bolandas pela cidade, apenas para dar mais vida à exposição? Era ver os bichos todos (suricatas, macacos e uma solitária tartaruga) virados para a grande janela que tinham à frente, para lá da qual uma ladeira verde imensa, certamente pensando: "A que saberá a liberdade?". Não havia necessidade. A exposição estaria à mesma a um nível muito elevado sem eles. Custou-me muito vê-los atrás de vidros mirando um horizonte, para sempre, inalcançável.

4) Para Deia, arranjar motivação para ir ao ginásio, é o mesmo que arranjar motivação para agarrar num martelo e dar com muita força, na pontinha dos dedos dos pés e das mãos. Dado o nível de colesterol que circula no sangue de Deia, não nos parece que este grau de relutância face ao ginásio, seja o adequado.

5) As botas que trago hoje estão gastas na sola. Logo pela manhã pensei: Deia ainda dás um tralho hoje. Como diria o meu amigo Nuno Costa: "Se bem pensei (agora esta parte é adaptada) assim aconteceu" e eis que ao levantar-me do meu lugar no comboio, as pernas abrem num ângulo praticamente de espargata e fazem-me sentar ao colo do rapaz do lado. Tudo a rir. (Como é costume "Deia o cúmulo da discrição". Uma maravilha).

6) EXCEPÇÃO: Parabéns Inês Belo (09/05)! Minha primeira amiga. 26 anos de amizade tens noção? Um grande beijinho! Estive com a tua miúda ontem, está uma giraça. (Adoro o nome que escolheram para a baby)

7) EXCEPÇÃO: Vão repor "Onde vamos morar." Esta 6ªF dia 15, no Olga Cadaval. Não percam! Um texto belíssimo de José Maria Vieira Mendes, dramaturgo do qual fiquei fã com esta peça.

8) E é isto.

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domingo, 10 de maio de 2009

 

Sentes o meu abraço?


Tulipa encontrada aqui.

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sexta-feira, 8 de maio de 2009

 

NÃO CONSIGO RESPIRAR

A morte. O rasto da morte. O vazio que me deixou. A morte privou-me do ar puro de antes e desde então peno, num dia-a-dia com menos sentido. Agora que me desapareceste do horizonte, custa-me respirar. Pensava que te teria sempre lá. No meu horizonte. Pensava que era nele que envelheceríamos, a vê-las crescer. Olhava em frente e era lá que estava o nosso destino amadurecido. O nosso quotidiano fruído, repleto de bons e (também) de maus momentos. Daqueles momentos em que haveria sorrisos e ternuras e daqueles momentos em que entre lágrimas e raivas incontidas desejaríamos, sem pensar, que o outro fosse para o inferno. Depois das tempestades, calmaria e nós, sempre lá, no nosso horizonte comum, tendo-nos um ao outro. Tendo-as também. Era assim que eu via as coisas, como eu sabia e tinha certo que se passariam. E chegou um dia (o dia) em que do outro lado da linha, uma voz me informou, com piedade, que jamais te voltaria a ter nos meus braços. E eu não compreendi a voz. Pois se te tenho em mim, tão presente, tão vivo. Ouvi a voz e quis responder-lhe coerente, mas isso não me foi possível, pois se o que a voz me disse é, ainda hoje, incompreensível e incoerente. Se em nada se conjuga com o que sonhámos para nós. Sonhos, ainda, a dois. Que queres? Não te posso arrancar de mim, como não posso arrancar a dor que me assolou e que por ser tão grande, tão avassaladoramente grande, não consigo, sequer, principiar a expressar. Tenho a sensação que se o tentasse, me desintegraria, porque a dor que carrego é do tamanho que eu tenho e está em cada célula do tecido que me compõe. Hoje, a minha vida é o pesadelo do qual acordo, quando adormeço e sonho contigo. Hoje, apenas elas impedem que eu enlouqueça de dor. Hoje, não tenho um horizonte contigo e não estou preparada para desenhar outro, sem ti a delinear-me o mar. Hoje, é mais um dia em que respiro com (muito) esforço. Em que não me é inata a vida. Sobrevivo. Como posso, como consigo. Por elas. Por ti. Por mim. Por tudo o que somos, ainda, apesar da morte.

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quinta-feira, 7 de maio de 2009

 

ÁLVARO

Recordo-o como aos meus (outros) amigos de infância. Estava sempre lá, pelos jardins do colégio, onde fui uma criança feliz. O Álvaro tinha mais dois metros do que nós (parecia-nos), mas a alma dele era a de um menino. Ultrapassava-nos em ingenuidade e candura. Lembro-me bem de falarmos com ele a rir e que ele ria connosco. Não era do grupo dos grandes. Era do nosso. Por isso, no outro dia quando o voltei a ver, não estranhei que não tivesse envelhecido. Continua jovem o Álvaro, talvez porque a sua alma seja verdadeiramente pura. Estou certa de que o é e daí o transparecer. A beleza interior que o preenche está-lhe estampada na cara. Um ser belo. Tão belo quanto as flores das quais cuidava e cuida ainda, desconfio (levava utensílios de jardinagem na mão), com desvelo. Atenção, eu não posso ter a certeza do que digo, mas pressinto-o de cada vez que me cruzo com ele. Não é humano o Álvaro. Sempre só e sempre o sorriso pendurado no rosto, enquanto caminha (aparentemente) sem destino. Vagueia no meio de nós sem que o alcancemos, inspirando-me uma ternura imensa. Quando o vejo apetece-me abraçá-lo e dizer-lhe: "Lembras-te de mim Álvaro? Eu lembro-me de ti." Mas ele não me reconheceria, porque a sua realidade é outra, quero crer. Nunca o encontrei com má cara. Passa sempre leve, com o sorriso a transpirar bondade e ausência de qualquer amargura. Sempre sorrindo, como se hoje fosse o ontem e o amanhã. Como se não houvesse isso do tempo. O Álvaro é do tempo em que eu era uma menina. Mas eu envelheci e enchi-me das coisas pesadas que a vida traz e que me ficaram gravadas na cara e ele não. Ele permanece incólume ao avanço implacável do tempo . Sim, terá cabelos brancos a raiar-lhe a melena, mas isso não passa de um insignificante pormenor, porque a alma dele é ainda a de quando era criança. Partilhará ele a vida com alguém? Terá ele sofrido? Terá chorado alguém? Será pai? Filho ainda? Neto? Será tio? Irmão? Cunhado? AMIGO? Parece-me uma pessoa profundamente só, daquelas que nos inspiram um encolher de ombros e um rápido "Coitado." e ainda assim, ele de bem com a vida. Ele indiferente aos (nossos) padrões de felicidade, às (nossas) manias, às (nossas) exigências, às (nossas) falhas, à (nossa) crueldade, à (nossa) intolerância. Ele vivendo cada dia de forma serena, ignorando (talvez sem querer) a fealdade do mundo e de que as pessoas são capazes. O Álvaro? É um anjo. É isso.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

 

Sou mulher...

...E tenho um grande orgulho, e acho que as mulheres isto e aquilo e ainda mais aqueloutro. E que maravilhoso género ao qual pertenço, etc. e tal.

Mas a verdade, é que há momentos (fracções de momentos, vá) em que eu gostava, mesmo muito, de ter nascido com pila.

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terça-feira, 5 de maio de 2009

 

JUSTIFICAÇÕES

Eis o que me tem prejudicado sobremaneira ao longo da vida. A doença que tenho de não saber dizer simplesmente um lacónico NÃO (ou um SIM), sem mais nada a seguir.

Não. Digo sempre um "não", ou um "sim", seguido de um porque tal, tal e tal... Como se o meu não ou o meu sim, por si só, não fossem o suficiente. E depois meto os pés pelas mãos e digo o que queria só para mim, ou que pura e simplesmente não me convinha dizer.

Mas ando a aprender e em breve, muito em breve, serei capaz de dizer apenas o que quiser dizer, sem ceder à pressão alheia. Mesmo que um simples e taxativo NÃO (ou SIM) e pasmem-se até ponho a hipótese de dizer simplesmente TALVEZ, sem prestar qualquer outro esclarecimento.

Ok?

(Por exemplo, se eu já tivesse aprendido a fazê-lo, este post não seria tão comprido. O que é que eu estou a fazer ao ser redundante? A justificar-me. Lá está.)



http://www.youtube.com/watch?v=n9ydbTTpwQ0

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segunda-feira, 4 de maio de 2009

 

RECAPITULANDO

(Tenho a nítida sensação que sou uma pessoa cansativa. Pelo menos para mim sou. Cansativa.)

1) Gosto de acreditar em outras vidas. Gosto de fazê-lo, porque se apenas me for concedida uma, isso afigura-se-me claramente insuficiente, para tudo o que pressinto que há para viver, o que me deixa, de certa forma, lixada (aka pissed). É assim como o número de caracteres que me são concedidos no twitter (por twittadela). É pouco. Às vezes apetece-me dizer mais por twittadela. E não posso.

2) TRANSACÇÕES: peço desculpa, por mais uma vez vir aqui acicatar-vos o ânimo para uma peça que já não poderão ver, pelo menos para já. Grande peça e excelente encenação! (Este tinha de ser... E estas também.) Lá fui, sem dar nada por ela (pela peça), apenas porque a minha mãe queria ver a Catarina Furtado ao vivo. E ainda bem que fiz a surpresa à mãezinha, porque aquilo a que assisti foi uma boa surpresa, para mim também. INTENSA. Gostei muito.
(Vêem que às vezes sou capaz de dizer as coisas em 3 palavras?)

3) A UNIÃO ZOÓFILA PRECISA DE AJUDA. Um saco de ração de 10kg custa cerca de 9 euros. Ajudem por favor. Vejam como podem fazê-lo: AQUI e AQUI.

4) Sinto falta dos tempos idos do ISA. Sinto falta da Mckenzie no meu dia-a-dia, de refilar com o Xavier quando ele se armava em esperto, sinto falta das viagens para o Alentejo onde respirávamos um ar leve, e enchíamos os olhos de serenas paisagens. Sinto muitas saudades dos veados, dos javalis com os seus filhotes, dos cãezinhos a quem mimávamos à entrada da Tapada de Vila Viçosa. Sinto falta de quando lhes dávamos comida e água, às escondidas da mulher (e do seu bêbado homem) ignorante(s) e vil(s) que os maltratava(m) e que os deixava(m) morrer (que os matavam, suspeitamos nós). Sinto falta (pasma-te amiga) de trabalhar sob o sol escaldante e das temperaturas de 40ºC à sombra. Sinto falta do contacto com a natureza, com o verde (no Inverno) e com os amarelos (do Verão), com o colorido das flores que irrompiam na Primavera. Do cheiro da esteva, até (e se cheira mal, a cuspo ou que é.). Das sandes que comíamos com as mãos sujas de terra, ingerindo, provavelmente, bateladas de micróbios mas de alma cheia de paz de espírito. Aperta-se-me o peito nesta cidade opressora, em que as paisagens são curtas, como as vistas das gentes que hoje me rodeiam. Sinto falta da gente sã com quem trabalhei, do companheirismo, da amizade. Sinto falta de poder confiar, de me poder entregar, de poder ser quem sou, sem reservas. Foram tempos felizes. Leves. Soltos. Foram tempos de alegria no trabalho. O trabalho não pesava, então. O trabalho era uma parte da minha alegria. A saudade às vezes é doce, às vezes magoa. Hoje (talvez por ser segunda feira) está aqui a arranhar-me (n)o peito.

5) "O riso de Deus." Quase a terminar já com pena que isso aconteça. Tudo tem um fim, não é o que dizem? "Uma conversa com um amigo" como alguém diz nas capas dos livros que escreveu. Uma conversa que leio enlevada. Uma linguagem que me fala e me desinquieta. Um livro todo sublinhado e com cantos de páginas dobrados. Viagem ao (meu) interior. Paz e distúrbio simultaneamente.

6) Voltaram os Contemporâneos. Há muito que a lembrancinha tocava em vão no telemóvel. Ontem, enfim o regresso e a lembrancinha justificada. Gosto muito. Mesmo quando não conseguem tão bem, já me conquistaram e ser-lhes-ei fiel. Porque sim. Porque sei que têm momentos de génio. E eu quando gosto de alguém ou de alguma coisa, gosto sempre. Com os defeitos e com as qualidades porque isso faz parte do gostar.

7) A música que hoje se me assomou ao pensamento:



http://www.youtube.com/watch?v=DETQYXejrZ0

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