BUDDY

E lá acabei de devorar este livro que me deliciou, me fez rir e me doeu no fim. Só quem já se sentiu ligado a um cão, daquela forma, pode compreender aquelas palavras. Identifiquei-me com tantos episódios retratados, com tantos daqueles sentimentos, os bons e os maus (quando perdemos a cabeça com eles...). Entendo visceralmente as palavras dele e o seu sofrimento. Sei exactamente o que ele sentiu no fim (Entramos com o nosso melhor amigo ao cólo, aquele a quem tratámos, acarinhámos, com quem brincámos, com quem chorámos e saímos de lá com um saco de plástico preto, pesado, mas TÃO VAZIO ao mesmo tempo). A vida destes bichos é infinitamente pequena quando comparada ao amor que nos devotam e ao amor que lhes temos! É pouco tempo. É muito pouco tempo de convívio para a intensidade das relações que se conseguem estabelecer! Às vezes sonho com o Buddy e quando acordo a sensação é maravilhosa! É como se estivesse estado com ele realmente. Não existe a morte daqueles que amamos, o que existe é a profunda dor de não podermos materializar o nosso amor. Quem não teve um amor assim não compreende. Este ano passam cinco anos sobre o dia mais difícil de toda a minha vida. Era só um cão poderão os mais incautos afirmar. Para mim era como uma pessoa. Um dos seres que mais me enriqueceu enquanto pessoa, um dos seres que mais amei e continuarei a amar, uma relação que muito me ensinou e muito me humanizou.

BUDDY (5Out.1993-28Out.2002)

Queria ter o poder de o curar.
De lhe arrancar a dor com meiguice,
como tantas outras vezes (o) fiz.

Queria poder dizer-lhe,
já falta pouco, estás quase bom!
É só mais este remédio!

Porém, quis o "destino"
que eu desta vez nada pudesse
assisto impotente ao seu fim.

Ele olha para mim mortiço
como que a pedir socorro
e eu morro mais um pouco...

Se ao menos ele não sofresse...

Andreia Azevedo Moreira
13 de Outubro de 2002

Este foi o livro que mais marcou a minha infância. Pesquisei por ele no google e encontrei-o aqui com a capa em Inglês. Absolutamente mágico! Os desenhos toscos transportavam-me para dentro da história. Foi-me lida inúmeras vezes pelo meu pai. Boas memórias de uma vida e relação remotas, mas nem por isso esquecidas... Separam-se as épocas e dá-se o desconto...

A Grande Viagem da Fada Miranda
de Ruthanna Long
Editorial Verbo, Colecção Grandes Tesouros da Literatura Infantil, s.d.

Para vocês pode parecer literatura levezinha. Para mim vai ser duro ler este livro. Se me virem a chorar desalmadamente no comboio não estranhem. Estarei a ler este livro, mas estarei inevitavelmente a pensar num que não escrevi mas que me está gravado na alma: Buddy e eu. Minha foquinha que saudades!! É preciso ter coragem para o ler no comboio visto que já sei as figurinhas que vou fazer, mas ando mesmo curiosa. Toda a gente me diz que o livro é muito ternurento... Nem toda a gente compreende a relação que muitas pessoas estabelecem com os animais. Posso dizer que o amor que lhe tenho é imenso. A morte dele não o apagou. Aí vou eu. Depois conto.

Vale a pena ler. Foi daqueles livros pelo qual não fiquei logo rendida mas à medida que avancei na história fui ficando presa e fui começando a gostar até me embrenhar totalmente devorando-o até ao fim. É uma história profunda, ao contrário do que pensei ao princípio, a essência da história não está no desaparecimento da criança em si, mas nas relações humanas. O fulcro da questão não é o "rapto"/"acidente" do menino, é mais o papel que esse menino desempenhava na mecânica da relação dos pais. É um livro de um realismo brutal e contém algumas descrições de uma vivacidade que quase me levaram à náusea tal é a brutalidade que retratam. Está também muito bem conseguido do ponto de vista das relações amorosas. Dos mecanismos de defesa que as pessoas arranjam para não enfrentar a verdade que é tantas vezes dolorosa. Um dos temas que o livro retrata é o quotidiano. Como pode assassinar as relações, como pode ser um carrasco para o amor. Mas para mim, a mensagem essencial e a que mais me toca, é que uma criança jamais será o cimento de uma relação. Jamais servirá para colar os pais um ao outro. Pelo contrário, se as coisas não estão bem, uma criança só servirá para afastá-los mais e quando crescer, essa criança irá sofrer horrores porque lhe será dada uma tarefa impossível, ir buscar o amor dos pais a parte incerta, fazer força para os manter juntos (à sua custa) e por fim desistir, vendo que isso não é possível...Muito triste, muito real. A ler sem dúvida.

Não há palavras para descrever a emoção. Desta vez é que foi, o MUSA deu o salto que há muito merecia! Que há muito, todos os que o ergueram ao longo destes últimos 9 anos esperavam. Foi melhor que a mais alta das nossas expectativas. Tivémos uma audiência brutal e foi espectacular ver as filas que cresciam à porta e as pessoas a entrar, a entrar, a entrar e a nossa comoção a crescer, a crescer, a crescer. Devo dizer que foram dias de trabalho árduo. Houve alturas em que desesperei e pensei "mas onde é que eu me vim meter!?". Cansaço muito. Adrenalina muita. Foi pena o vento ter estragado o espaço ozono (artesanato). Muitas pessoas não conseguiram expôr os artigos e tiveram de desmontar a banca. O recinto ficou apesar de tudo magnífico e tudo fez lembrar um festival a "sério". Com a dignidade que há muito tempo se impunha. Pasmo. Perante o cansaço que senti, perante todo o trabalho que tivémos, como é que têm conseguido ao longo de 9 anos erguer um festival com base em trabalho voluntário. São estes exemplos que me fazem pensar que este mundo ainda tem remédio. Ainda existem pessoas altruístas. Ainda existem causas que movem pessoas e que não estão ligadas ao dinheiro. Eu não sei se para o ano me meto nesta aventura outra vez (ontem sentia que tinha sido atropelada por um camião), mas que fica um bichinho e um gosto bom na alma lá isso fica! Parabéns Gui! Parabéns a todos os que ajudaram este e em todos os outros anos. Foi bom. Foi MUITO bom! Só é pena que as pessoas continuem a ignorar as causas a que o MUSA se associa. No ano passado tinham de ir simbolicamente vestidas de branco (Pobreza Zero) népias, ninguém ligou. Este ano, sob o mote "PREOCUPAS-TE?" (com as causas ambientais, alterações climáticas, etc) lá continuaram a atirar tudo para o chão, quando o recinto estava repleto de caixotes diferenciados (lixo comum, vidro, plástico, papel) Alguém ligou a isso?! Poucos. Muito poucos. É uma pena as pessoas continuarem a achar que a responsabilidade está nas instâncias mais altas quando na verdade a responsabilidade é de todos nós. Se não são capazes de um gesto tão simples como dar 2 passos até ao contentor mais próximo... Mas querem que os EUA se preocupem em reduzir as emissões de CO2. A RESPONSABILIDADE É DE TODOS. Ainda não sei números oficiais mas este ano o MUSA moveu muito mais do que 6000 pessoas nos dois dias! Isso é um passo de gigante. Para o ano vamos ver como vai ser! MUSA 2007 foi "o" festival!

Há batalhas que se travam silenciosamente. Não há barulhos ensurdecedores de balas, explosões, incêndios visíveis. Há batalhas que se travam silenciosamente. Mas nem por isso são menos sangrentas, dolorosas ou destruidoras. Batalhas há em que não se encontram os inimigos. Eles são invisíveis e andavam dentro de nós sem que disso tivéssemos consciência. Ao descobri-los, não imagino o pavor... Porque ao mesmo tempo que os combatemos e tentamos destruir, estamos também a debilitar o nosso próprio corpo. Resta-nos esperar com toda a fé, com toda a esperança que esse corpo será capaz de resistir a esta batalha. Que consiga superar esta provação até que o pérfido inimigo seja exterminado. Resta-nos acreditar que uma revolução interior se operará e a vontade de viver seja mais forte, seja a única coisa que existe a partir daqui. Quando se ouve dizer que devemos viver cada dia intensamente como se fosse o último não estamos a falar de um lugar-comum, de um momento para o outro o chão foge-nos dos pés.

Por muito que puxe pela cabeça para vos escrever sobre outras coisas nada me ocorre. Respiro MUSA por estes dias. Um nervoso miudinho começa a invadir - Arqui só agora é que começa a invadir, quando perguntaste não. Estava ainda tranquila :) - a expectativa em crescendo. Temos tido uma boa receptividade por parte das pessoas que aceitam os "flyers", muitas já sabem do que se trata, muitas exclamam satisfeitas "xiiii Asian Dub! Tenho de ir ver isto!" ou "Israel Vibration!" ou até mesmo "Skaparapid"! Outras falam do MUSA como de um velho amigo. Outras ficam curiosas acerca do evento (outras houve que nos olharam com um certo desprezo e nem quiseram saber...E nós tudo bem!). Esperamos mesmo que seja um sucesso! Estão reunidas as condições para que o MUSA dê o salto que merece ao fim de quase uma década de existência. Tenham noção que se trata de um festival erguido exclusivamente através de voluntariado e da liderança de uma pessoa que tem de ser destacada: Pedro Martins (aka Gui). Na minha opinião devemos-lhe a existência do MUSA, pela sua persistência e pela sua competência. Parabéns Gui e parabéns a todos os que ao longo de 9 anos trabalharam para chegar até aqui. Fico feliz por ter a honra deste ano poder também dar o meu contributo. Está a ser uma experiência enriquecedora! Estou em pulgas por que chegue 6ªF! MUUUUUUUSSSSSAAAAAAAAA 2007!!!!!!!!!