quarta-feira, 30 de março de 2011

 

MAURO PAVIA OLHAVA-A MAS NÃO A VIA

Mauro Pavia era um homem interessantíssimo. Bonito não, todavia, isso era de somenos importância, se o que dizia e a forma como se movia na existência cativavam tanto os demais. Além disso, possuía inteligência acima da média, daí que Mariana Alberto se tenha abespinhado imensamente quando o percebeu a cometer crasso erro. Mauro Pavia conhecera uma mulher extraordinária e ainda não se tinha dado conta do sucedido, tal era a gravidade do estado narcísico de que fora acometido. Passava os dias falando de si e dos seus feitos, naquela atitude grosseira de ostentar tudo quanto lhe sobejava. Considerava, decerto, embevecê-la, enquanto a alienava cada vez mais. Tornara-se enfadonho que quisesse tanto falar de si e tão pouco saber dela. Que concebia ele construir? Uma relação, seja de que tipo for, erige-se com partilhas e (re)conhecimentos recíprocos, não com altares. Para isso há as igrejas e ela não era, de todo, uma pessoa religiosa. Persistia o tolo nessa atitude há tempo indeterminado, ou porque não a desejasse deveras e andasse, tão só, a passar o tempo como quem fala para o espelho. Ou, porque a quisesse com intensidade tamanha, que julgava não serem suficientes todas as suas qualidades e sentisse, por conseguinte, necessidade de constantemente lhas relembrar. Olvidava um elementar: “E tu?” que os elevaria a interacção mais densa que o debitar unívoco de glórias vãs. Mauro Pavia ia perder aquela mulher. Era uma questão de horas. Apesar de todo o conhecimento e intelectualidade que encerrava comportava-se, no que concernia às relações humanas no geral e àquela, em particular, como um parvalhão e não havia filosofia que curasse tal enfermidade. Mariana Alberto sabia de tudo isto mas não lho poderia dizer jamais, porque ele era deus, todo sabedoria e ela não passava de ignara rapariga, cujo único talento era ser capaz de descortinar as subtilezas da vida. Andreia Azevedo Moreira 26/03/2011 pelas 11:41

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PARABÉNS FERNANDO!



Um dia feliz primo! :)

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segunda-feira, 28 de março de 2011

 

Coisinhas que Deia pensou ao ler O BOM INVERNO do João Tordo:


“Quero obter a(s) resposta(s) à seguinte pergunta.”

Eis o que impele a personagem principal deste romance a escrever livros. Desconheceremos, ao longo de toda a narrativa, o nome do escritor. Talvez para que nos possamos sentir protagonistas desta desventura. Sentimo-nos, de facto. Deparamo-nos com um homem desistente na medida da descrença que lhe carcomeu as entranhas. Tornou-o céptico em relação a si mesmo, à literatura – Outrora toda a sua vida. – e aos outros. Uma perna magoada, aquando de uma queda numa manhã de ressaca, impõe-lhe dor atroz, embora me tenha ficado a certeza que a deficiência era prévia ao tombo e procedente da alma, ao invés do membro acidentado. “Mesmo imaginada, uma dor continua a ser uma dor.” (Pág.16)

A certa altura é-lhe dito: “A tua perna é o teu fracasso. É a prova da tua finitude.” (Pág.99)

Embora o próprio não pense na maleita dessa forma, a “verdade” que se nos revela, é que se trata de manifestação psicossomática de doença bem mais gravosa que qualquer padecimento físico: a morte da esperança. Assim adquire o anti-herói uma bengala para a sua existência coxa. O abismo aproxima-se-lhe.

Podemos ficar tentados a considerar a história um policial. Há um homicídio, suspeitos e um louco que quer justiça pelas próprias mãos. Diria que se trata de suspense poético, com balões de ar quente à mistura, qual metáfora belíssima para nós, seres humanos, cujo destino, para que fomos talhados, é “Sermos leveza ao invés de peso” e “não temermos a morte”, porque ao temê-la “não sabemos viver.” (Pág.251).

Tentei responder a algumas questões com que o livro me defrontou, à medida que avançava na trama:

“Que farias se a tua sobrevivência estivesse em jogo? Manterias o mesmo sentido de ética que cultivas no quotidiano, quando somente o banal acontece? Serias magnânima como Elsa Gorski ou vil, farejando cega o trilho da salvação? Atropelarias pares, sem remorso, se os entendesses, dadas as circunstâncias, como inimigos?”

Escrito por João Tordo (1975) com mestria num ritmo alucinante, imbuiu-me da sensação de me encontrar lutando para salvar a pele, ao mesmo tempo que me digladiava para manter são o pensamento. Também eu caíra na emboscada e vivia o pavor da perseguição de Andrés Bosco. Quis acreditar ser capaz de ser recta estivesse realmente em Sabaudia. Temo, todavia, que perante a perspectiva da tortura e consequente morte me pudesse revelar mais traiçoeira, que qualquer um dos restantes intervenientes no enredo.

Faltou falar-vos do trágico Don Metzger, do vibrante Vicenzo Gentile, da enigmática Olivia Fontana ou da doce Nina Pascal, entre muitos outros. Não tenho mais caracteres disponíveis, pelo que, se vos acicatei, vos resta uma alternativa: Leiam-no.

150 BPM – Um livro armadilhado ao qual estive presa durante 289 páginas. Viciante. Sugerir a leitura. Mais um agraciado com o Prémio Saramago a cuja obra devemos ficar atentos.


Publicação original AQUI.

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domingo, 27 de março de 2011

 

HOJE É DIA MUNDIAL DO TEATRO...

...E venho aqui prestar a homenagem devida aos actores da minha vida. Personagens sem as quais seria texto desprovido de sentido, ou conteúdo. Tenho andado feita parva, lamuriando-me: "não tenho tempo", "não tenho força(s)" e isso é mentira. Tem de ser falsidade. Somos capazes de tudo a que nos propomos fazer. "Tudo vale a pena. Se a alma não é pequena". Exige sacrifício? Exige sim senhor. Preguiçosa me confesso e com a alma do tamanho de uma noz da macadamia. Tenho optado por dormir, passear, contemplar e penar o menos possível. Essa a verdadeira razão por andar a falhar nos meus costumeiros PARABÉNS aos meus. Àqueles de quem gosto muito e que faço questão de salientar aqui. Uma vez aconselharam-me a não o fazer. Que tirava credibilidade ao blogue, tornando-o, até, um pouco enfadonho, e se pretendia que prestassem atenção ao que aqui escrevia, convinha eliminar estas alusões à vida comum que é a de todos. Ora, claro está, que ignorei o conselho. Sou isto: Escrita, pensamentos e baboseiras. E sou, claramente, todas as pessoas que amo e essas, felizmente, fazem anos todos os 365 dias. Quando já não o podem fazer ainda mais as quero relembrar e às suas coisas, onde se inclui o respectivo aniversário. Daí que lanço daqui o apelo "Perdoem-me a calanzice!" e apresento envergonhada o rol de falhas que tenho vindo a acumular no virtual desde o Dezembro de 2010:

10 de Dezembro: Cris e Mónica
28 de Dezembro: Prima Catarina Oliveirinha
8 de Janeiro: Marta Carneiro
16 de Janeiro: Ana Alexandre - ó Bzuu para ti fiz posta mas volto a recordar-te companheira de uma vida!
22 de Janeiro: Paula Lázaro
25 de Janeiro: Tia Manuela
28 de Janeiro: Paulinha
10 de Fevereiro: Tuchinha
14 de Fevereiro: Rita P.
14 de Fevereiro: F. - a luz que me fez companhia no túnel escuro.
15 de Fevereiro: Raqué
17 de Fevereiro: Pedro Ribeiro - Não conheço o moço mas gosto tanto dele que olha, como o blogue é meu faço o que me apraz com as postas.
19 de Fevereiro: Tânia. Cá está a adenda prometida. eh eh eh.
23 de Fevereiro: Xana
24 de Fevereiro: Gonçalinho
4 de Março: Moita Louco (eh eh)
6 de Março: Pedro o meu mano mais velho
7 de Março: Maria Ana
23 de Março: AmiGuinho e aqui abro um parentesis (

ELE - Podias ter posto qualquer coisinha no buddy!
EU - Qualquer coisinha no buddy!

Já está meu amor que não quero que te falte nada. Este gajo - SIM! TU! - é uma minha (ler tudo pegado) alma gémea.

e eis que o fecho )

E vai de maneiras que já me deixei de fitas e pus o que vos era devido. Gosto muito de todos vocês e quero, mas é, continuar a viver-vos por muitos e muitos anos.

P.S. VÃO AO TEATRO.

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sábado, 26 de março de 2011

 

AQUISIÇÕES RECENTES:




Ai o fremitozinho que me invade quando os empunho na livraria. Chego a salivar enquanto idealizo que a exploração está para breve. Eis que me apercebo do logro. Olho para as estantes e constato que me falta tanto do que quero muito ler, que ainda que parasse hoje de comprar livros, tenho material para leitura de muitos meses. (Creio, até, de anos.) Ora, esta é a minha fé: serei capaz de chegar ao essencial. Conseguirei ler tudo quanto me veio parar às mãos nesta vida. Não desisto por isso de os trazer até mim. Se morrer antes, pode ser que alguém que me desmantele as prateleiras (Tivesse eu posto isto no singular e dava uma piadinha brejeira. Eh eh.) o consiga ou, pelo menos, encontre aqui o alento imenso que me trouxeram.

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sexta-feira, 25 de março de 2011

 

E cada vez gosto mais e mais desta Mulher (vale a pena ler a crónica TODA)

(...) - Vão ler tudo mas é! - OBRIGADA PRIMA!

Não me atreveria a dizer que sei mais nada - mas quando se teve a sorte de aprender na infância que é importante ter sonhos e lutar para os tornar realidade, sabe-se isto. Essa sorte é hoje interditada aos meninos que são obrigados a aprender chinês ou a correr de explicação em explicação para serem os melhores da turma, os mais hábeis sobreviventes, os mais competitivos.

A crise fundamental é a de ideias: os sistemas económicos tradicionais estoiraram, e não se adivinha ainda o que poderá vir substituí-los. Seria mais fácil adivinhar se tivéssemos tempo para pensar. Tempo livre - para ler, viver, e sobretudo pensar. Deveríamos fazer da filosofia o centro dos currículos escolares, desde o primeiro ano de ensino - em vez de fazermos precisamente o contrário, como calamitosamente temos feito.

Os jardins são gratuitos. Os museus, aos domingos, também. Como são gratuitas as bibliotecas - e há-as hoje pelo país inteiro, disponibilizando, além de livros e revistas, músicas e filmes. Um bilhete para os fabulosos filmes que a Cinemateca exibe custa menos de metade de um bilhete de cinema normal. Quando se passa uma manhã de sol, mesmo no Inverno, lendo estiradamente na relva, o cérebro acende-se e a alegria renasce.

A pouco e pouco, perde-se aquele instinto de frustração que nos leva, tantas vezes, a desrespeitar os outros - utilizando-os, fustigando-os, ou tentando frustemente caçar-lhes o lugar, numa fila dos Correios ou numa qualquer empresa. O mais urgente programa anticrise parece-me esse: gozar cada dia devagar, com o mínimo de possível de custos. E pensar como quem dança, sem olhar para o par do lado nem pretender mais do que o prazer de rodopiar ao som da música.

Nota: Inês Pedrosa escreve de acordo com a antiga ortografia

Texto publicado na revista Única de 12 de fevereiro de 2011

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terça-feira, 22 de março de 2011

 

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sábado, 19 de março de 2011

 

WHAT MAKES* YOU THINK THAT I'M IN LOVE WITH YOU, WITH YOU?

*errata: onde se lê makes é made mas é.

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sexta-feira, 18 de março de 2011

 

INSTANTÂNEOS VIII


Chegara a crer, plena de certeza(s), possuir um dom. Depois deu-se o instante em que percebeu que o chamamento era, afinal, uma micose. Passou o resto da existência a coçá-la.

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domingo, 13 de março de 2011

 

IMPERDÍVEL - Azul longe nas colinas


Sabe bem quando se acerta em cheio. Quando o tempo que urge tem de ser feito de escolhas e essas saem mais do que alguma vez esperámos. Eis uma peça que me encheu as medidas. O texto é, de facto, especial. Mas o que mais me comoveu foram as interpretações. Que grupo de 7 actores fabuloso por deus. Não tinha lido qualquer sinopse sobre a peça e aos primeiros segundos já tinha entendido tratar-se de crianças. O Albano Gerónimo é sublime, para não variar. Quase divino na interpretação. Perfeito enquanto rufia que não passa afinal de um cobardolas. O Bruno Nogueira foi uma boa surpresa e angustia-nos à náusea no seu Donald devastado e trágico. Os restantes magníficos, igualmente. Vocês se tiverem juízo não perdem isto por nada, nem ninguém.

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sexta-feira, 11 de março de 2011

 

A propósito da newsletter da everything is new...

...e dos seus títulos apelativos "banda tal e tal confirmadas no OPTIMUS ALIVE no palco tal e tal" é oficial:

Tenho bilhete para os dias todos do dito cujo e só conheço COLD PLAY.

Inculta musicalmente* eu?

Entretanto já acabei de ler O BOM INVERNO. Muito e muito bom, só vos digo. Mais tarde direi coisinhas aprofundadamente claro está.

*De momento só estamos a falar de música ok?

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quarta-feira, 9 de março de 2011

 

Consigo encontrar parecenças entre as pessoas que não lembram à Maria Armanda.


O António Carlos Cortez faz-me lembrar o Ricardo Araújo Pereira. E vai daí é o contrário. Mas que há ali um 'quêzinho' comum aos 2. Ai há, há.

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terça-feira, 8 de março de 2011

 

Célere chegue o tempo

em que todas as mulheres em todas as culturas terão voz e liberdade de acção.

"Ninguém me peça, tente, exija, que regresse à clausura dos outros." (Novas cartas portuguesa - Edição anotada, 1998, 2010, Publicações Dom Quixote, Página 35.)

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segunda-feira, 7 de março de 2011

 

DIVULGAÇÃO:



http://poeticia.blogspot.com/

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sábado, 5 de março de 2011

 

INSTANTÂNEOS VII

Agora que sabia coisas dele perdera o interesse.
Não se abismava ante a personagem. Era apenas mais um homem entre tantos outros. Esquecia-se amiúde de o visitar e quando o fazia o tédio assomava-se-lhe aos pulmões e ela corria para a janela abrir a boca e as narinas para que o ar entrasse convenientemente.
Agora que sabia coisas dele, já não o desejava tanto. Não o desejava de todo. E se o desejara quando ele era um estranho. Tinha tido, por diversas vezes, a sensação de estar a enlouquecer de tanto querê-lo. O tempo passara e ele era, afinal, tão só um homem, o que não era o bastante para que se sentisse intrigada. Impelida para ele. O facto de ter aprendido mais sobre o homem não ajudou. Fê-la esfriar e realizar que também ela não passava de uma mulher. Uma mulherzinha muito exigente com os outros e pouco consigo. Não gostava da realidade. Gostava menos ainda das coisas apreendidas sobre ele que lhe lembravam as dela. Para quê saber da humanidade? Ná. Aquilo parava por ali.

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sexta-feira, 4 de março de 2011

 

Ando encantada com isto:


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terça-feira, 1 de março de 2011

 

DIVULGAÇÃO

CURSO LIVRE / ACÇÃO DE FORMAÇÃO CONTÍNUA

LABORATÓRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS AVANÇADOS, FCSH-UNL

AULAS DA PRIMAVERA
(2ª. edição, 2011)


Filósofos explicam a literatura

8 Lições e Debates com especialistas em literatura e filosofia em torno da reflexão teórica de alguns filósofos sobre a literatura, da abordagem filosófica da literatura e a da literatura como objecto do pensamento filosófico, bem como da renovação da disciplina de Estudos Literários.

Destinatários

Estudantes e investigadores das áreas científicas de Literatura e de Filosofia, Professores dos Grupos 200, 210, 220, 300 e 410 e público em geral (ó pra mim aqui!)

Inscrições
28 de Março a 28 de Abril

Núcleo de Formação ao Longo da Vida (FCSH)
Torre B, 1º andar
Telef. 217908383

Programa

28 de Abril, 18.30h. (Auditório 1, Torre B)
LIÇÃO DE ABERTURA, Américo Lindeza Diogo (Universidade do Minho)

5 de Maio, 18.30h. (Auditório 2, Torre B)
PLATÃO, José Pedro Serra (Universidade de Lisboa)

12 de Maio, 18.30h. (Auditório 1, Torre B)
DERRIDA, Silvina Rodrigues Lopes (Universidade Nova de Lisboa)

19 de Maio, 18.30h. (Auditório 1, Torre B)
WITTGENSTEIN, Nuno Venturinha (Instituto de Filosofia da Linguagem)

26 de Maio, 18.30h. (Auditório 1, Torre B)
WITTGENSTEIN, António Marques(Universidade Nova de Lisboa)

2 de Junho, 18.30h. (Auditório 1, Torre B)
STANLEY CAVELL, António Feijó (Universidade de Lisboa)

9 de Junho, 18.30h. (Auditório 1, Torre B)
DONALD DAVIDSON, Miguel Tamen (Universidade de Lisboa)

16 de Junho, 18.30h. (Auditório 1, Torre B)
ARISTÓTELES, Humberto Brito (Instituto de Filosofia da Linguagem)

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