sexta-feira, 8 de maio de 2009

 

NÃO CONSIGO RESPIRAR

A morte. O rasto da morte. O vazio que me deixou. A morte privou-me do ar puro de antes e desde então peno, num dia-a-dia com menos sentido. Agora que me desapareceste do horizonte, custa-me respirar. Pensava que te teria sempre lá. No meu horizonte. Pensava que era nele que envelheceríamos, a vê-las crescer. Olhava em frente e era lá que estava o nosso destino amadurecido. O nosso quotidiano fruído, repleto de bons e (também) de maus momentos. Daqueles momentos em que haveria sorrisos e ternuras e daqueles momentos em que entre lágrimas e raivas incontidas desejaríamos, sem pensar, que o outro fosse para o inferno. Depois das tempestades, calmaria e nós, sempre lá, no nosso horizonte comum, tendo-nos um ao outro. Tendo-as também. Era assim que eu via as coisas, como eu sabia e tinha certo que se passariam. E chegou um dia (o dia) em que do outro lado da linha, uma voz me informou, com piedade, que jamais te voltaria a ter nos meus braços. E eu não compreendi a voz. Pois se te tenho em mim, tão presente, tão vivo. Ouvi a voz e quis responder-lhe coerente, mas isso não me foi possível, pois se o que a voz me disse é, ainda hoje, incompreensível e incoerente. Se em nada se conjuga com o que sonhámos para nós. Sonhos, ainda, a dois. Que queres? Não te posso arrancar de mim, como não posso arrancar a dor que me assolou e que por ser tão grande, tão avassaladoramente grande, não consigo, sequer, principiar a expressar. Tenho a sensação que se o tentasse, me desintegraria, porque a dor que carrego é do tamanho que eu tenho e está em cada célula do tecido que me compõe. Hoje, a minha vida é o pesadelo do qual acordo, quando adormeço e sonho contigo. Hoje, apenas elas impedem que eu enlouqueça de dor. Hoje, não tenho um horizonte contigo e não estou preparada para desenhar outro, sem ti a delinear-me o mar. Hoje, é mais um dia em que respiro com (muito) esforço. Em que não me é inata a vida. Sobrevivo. Como posso, como consigo. Por elas. Por ti. Por mim. Por tudo o que somos, ainda, apesar da morte.

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