quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

 

Exercícios na TRAMA (23/11/2009)

Ora cá estamos perante outro exercício de um tipo já aqui falado onde se recorre a um livro da estante (desta feita, novamente da livraria) para pescar palavras que ajudem à progressão da história e ao enriquecimento do vocabulário utilizado no texto.

Condicionante: Iniciar o texto com "Lisboa, 23 de Novembro de 1950".

Tempo: 20 minutos

Palavras: as que estão salientes no texto.

Livro: Vidas Violentas - Pier Paolo Pasolini

Diz que o objectivo dos 3 textos (Lisboa, 17 de Novembro de 2009 - dia seguinte ao da aula; 17/11/2050 e Lisboa, 23 de Novembro de 1959) era também o de nos fazer viajar no tempo. Óbvio que, penso que (Ó Luís Franco Bastos dá aqui uma perninha e faz a voz do Cristiano se fazes o favor...) falhei esse objectivo.

Aí vai (foi) alho:

Lisboa, 23 de Novembro de 1950

Querida mãe, não me levarás a peito se te disser que preferia ter nascido homem. É violenta a vida para todos, isso é certo. Para uma mulher, porém, na sociedade deste ano em que te escrevo – O da tua morte. – mais do que simples agressão, é devastadoramente opressora. O meu ânimo não se compadece dessas regras que inventaram para nós. Não me sinto a mulherzinha que pretendem que seja.

Repara como a raiva se anda a alimentar do meu peito. No outro dia a torneira gotejava. Comecei por ignorar. Mas eis que aquele contínuo pingar, aquele murmúrio repetitivo me fez pensar no que os outros esperam de mim:

- Comporta-te. – Dizia-me a água.
- És uma senhora. – Sussurrava o ruído.

Lembrei-me de ti quando me dizias com os olhos:

- Que desilusão minha filha. Para onde te foi a doçura?

Foi demais. Dei cinco murros na parede e um pontapé na torneira. Calou-se, sabes? Pumba. Bastou querer. Que culpa tenho se o pensamento que me habita não se adequa ao presente? Antes a morte por me alistar num exército. A guerra com os combates, o sangue as mutilações. Que é isto que me fazem à alma senão uma amputação? Sei que sofrias. Vi lágrimas que derramaste por eu ser diferente. Às que não observei pude prová-las no sal que te temperava a face quando te beijava. Perdoa-me se me não posso desculpar pela minha natureza. Toda a vida me apressei subindo as escadas que me elevariam ao teu coração. Constantemente a perder o fôlego, porque quanto mais corria menos te alcançava. E no fundo sempre soube que, mesmo que lá chegasse um dia, não teria o que te oferecer, a não ser este imenso amor que sempre nutri por ti e tu sem o aceitar.

Anna Maria


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Comments:
muito muito bonito. Sou tua fã. Adorava ler-te assim todos os dias, nunca me ia cansar... Um beijo enorme
 
Obrigada minha linda. Mas nunca digas nunca! eheheheheh.

Estou contigo.

As "coisas" (onde se incluem certos e determinados dias) só têm a importância que lhes queiramos dar.

Bjinhos.

EStou contigo sempre!
 
está lindo bzuu...triste mas lindo.
nao pares de escrever assim nunca

beijo grande
 
Eu não. Se escrevendo, isto já é o que é amiga... Não páro não. Obrigada por me leres. É bom ter quem me leia. Bjs
 
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