segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

 

Exercícios na TRAMA (16/11/2009)

Aquela mulher andava obcecada por aquele homem específico. Conhecera-o numa festa e tudo o que haviam dito se resumira a um “Prazer.” Desinteressado da parte dele; e um “Tem lume?” esperançoso, dir-se-ia quase gemido, por ela. Nada a podia ter induzido em erro e no entanto, meses depois, quando se encontraram na rua, o coração acusou o desconcerto que ele lhe provocava. Ele tão pouco recordava o seu nome. Percebera-o pela hesitação em apresentá-la ao amigo que o acompanhava. Ainda assim mentia-se, alimentando o desnorte que aquele sujeito lhe induzia. Tinha-o esquecido durante os meses em que não o vira. Este reencontro, porém, viera inundá-la com todos os sentimentos e dúvidas que haviam despontado “aquando da primeira troca de olhares”. (Que é como quem diz “quando ela o viu”. Ele, como sabemos, ignorara-a.) Era torrencial a sua loucura. Fantasiava-lhe os dias; um quotidiano comum. Penava pela separação que o destino impiedoso lhes teria imposto.

- Não me procura por medo. – Dizia para si, consolando-se. - Pois se também eu temo a devastação que uma paixão assim causará...

Encetou minucioso estudo da vida daquela pessoa que lhe tomara conta dos dias.

Descobriu onde trabalhava, indo espreitá-lo diariamente. Apreendeu-lhe os gostos, os hábitos, mesmo as manias.

Conheceu todos os seus amigos; as antigas namoradas; os seus pais; até a filha.

Vivia o mais que podia a vida dele, cautelosamente, no entanto, para que não se amedrontasse com a sua presença, de efeito, no mínimo, arrebatador.

Far-lhe-ia chegar os mais subtis sinais para que soubesse que seria seguro avançar. Poderiam, enfim, consumar aquele desvairado sentimento.

Notem, ele sequer lhe sorrira. No primeiro encontro acendera-lhe o cigarro sem a encarar e continuara na ombreira daquela porta, com o cotovelo apoiado acima da cabeça, sussurrando a uma outra qualquer.

Perdoara-lhe a indelicadeza.

- Já nesse dia tinha medo. – Insistia infantil. E persistiu muitos anos no delírio, até ao dia em que, coincidentemente, os mesmos amigos os haveriam de juntar.

Quando o viu sentado no sofá as pernas acusaram o pavor do confronto, então inadiável.

Dirigiu-se na sua direcção, trémula, embora determinada.

Antes que o alcançasse, Marília, uma amizade comum pega-lhe no braço e precipita-a para junto dele, que a encara com os seus olhos de um azul indescritível.

- Joana, lembras-te da Rita?

Andreia Azevedo Moreira a 16/11/2009 pelas 21h e qualquer coisa em 10/15 minutos.

E a este exercício se chama “TIRAR O TAPETE”. ‘Comé? Tirei?

(Adenda: pareceu-me bem
esta música como banda sonora do devaneio da moça coitadinha.)

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