terça-feira, 13 de março de 2012

 

Correntes d’Escritas 2012 – EU FUI! – Sétima e última parte

Escrevo-vos este último relato, sob o efeito de alegria intransmissível. A histeria tomou conta de mim. Já pulei. Já gritei. (Desculpa Ti. A mãe é chalita, tu sabes.) Já chorei. Já tremi. Ainda não aqueci os pés. (Quando o arrebatamento é imenso, enregelo. Não sei explicar.) E portanto, toda a emoção que as Correntes D’Escritas me entranharam se encontram, de momento, camufladas por este instante. De todo o modo, como sou por demais obstinada e já tinha decidido que hoje era isto, aqui vai. Perdoem qualquer coisinha.

7ª MESA: “As ideias são fundos que nunca darão juros nas mãos do talento”. Diz que alguém meteu água e a citação estava marada. A verdadeira, do Rivarol, era: “As ideias são um capital que só dá juros nas mãos do talento.” Ora, falou-se em capital, em juros e fundos e a malta deu o “tilt” e pôs-se a falar de economia, da crise, da bolsa de valores e de dinheiro. O auditório estava sobrelotado, como para nenhuma outra mesa o vi. Comovente mas aborrecido, dado que pela primeira vez tive um lugarzito, por sorte, apenas no andar de cima. Muito e muito longe da acção principal. As notas, foram as possíveis. Tinha sono e confesso que já estava de cabeça no regresso. Cinco horas a conduzir de noite adivinhavam-se desastrosas, para a pitosga mor. Desconheço se o que me chamou a atenção nas intervenções, foi dito pelos autores adiante enunciados, uma vez que não apontei com rigor. Parece-me que foi assim… De Eugénio Lisboa anotei a curiosidade de se tratar de Engenheiro Electrotécnico. O que é que isso (me) interessa? Ora. Então não se está mesmo a ver? Com Paradise Lost, John Milton ganhou a módica quantia de 10 Libras. Como se a agrura não bastasse, uma pesquisa ao Google devolve nos dois lugares cimeiros a banda inglesa de Doom metal, formada em 1988. Como se pode constatar, a “posteridade” é o que fazemos dela. Como a solidão, a felicidade e outros conceitos assim. De Helena Vasconcelos (Não posso jurar, atenção.) retive que Flaubert dizia (Se não dizia, era o que gostava que tivesse dito.) “Talento é paciência sem fim.” Do Gonçalo M. Tavares (Adoro este escritor, por deus. A D O R O.) rabisquei no caderninho às flores: “Uma boa ideia nunca deve dar conta certa. Deve deixar resto.” / “Ser humano sai caro.” / “Leibniz disse que duas coisas iguais não são duas” e Alberti que “Os quatro pontos cardeais são três o Norte e o Sul.” (Alguém o corrigiu na citação. Não registei a correcção. Googlem.) João de Melo (familiar de Dias de Melo?) fez uma intervenção maravilhosa que, tenho certo, não ficou aquém dos papéis que tinham o que queria dizer, os quais perdeu. Luís Sepulveda duvida da palavra talento. E Onésimo gracejou, entre muitas outras coisas, com o facto de Salazar ter “descoberto” o “Pelintrão” – Energia sem massa.

Fechou-se muito bem aquilo.

Homenagearam-se participantes das Correntes de outrora, entretanto desaparecidos. Entregaram-se prémios. Um puto que recebeu um deles, calou os presentes com um inflamado discurso: “Parece-me inadmissível que em tantas horas de aulas de português eu tenha escrito tão pouco. É preciso mudar alguma coisa no ensino. É preciso escrever mais nas aulas de língua Portuguesa.” Quem fala assim não é gago e ali está uma alminha que não precisa de desembolsar uma data de pilim, num curso de teatro, para desemburrar que, com apenas 18 aninhos, já é todo desenvencilhado. E depois aquilo continuou com a entrega de prémios LER/BOOKTAILORS e festa(s), contudo, às 20h basei na perspectiva de chegar perto das 00h a casa.

Tive medo. Muito medo. As luzinhas reflectoras da auto-estrada baralhavam-me os sentidos. Ficava na dúvida se aquilo curvava para a esquerda, ou para a direita e o pensamento «vou-me despistar, agora é que é», acorreu em diversas ocasiões. Especialmente as de nevoeiro. Usei abusivamente os máximos. Cheguei sã e salva e de alma cheia. Foi uma experiência arrebatadora e irrepetível.

Foi bom estar sozinha no meio de livros, autores e leitores. A sensação de decidir o que quero fazer e pô-lo em prática, indescritível e inspiradora. Começar o meu Pedro de raiz. Redigir-lhe as primeiras linhas que ditarão trilho, ainda mal iluminado. Respirar literatura, em exclusivo, por três dias? Regenerador. Dispor de todo o meu tempo, vital de ora em vez.

Regressar ao relógio de ponto? Foi doloroso. Andei bastante infeliz, nesse primeiro dia de semana pós aventura. Depois, a minha amiga Ivânia, como em outras ocasiões, falou-me, com a sua voz sábia e doce, sobre a vida real e sobre o inexorável facto de precisar de ganhar dinheiro para fazer as coisas de que gosto. Tem razão ela. A “brincadeira” rondou o valor que pago mensalmente pela minha casa. Jamais teria acesso a estes quatro dias de sonho(s) sem o meu trabalho. Obrigada Ivaninha. És pessoa de quem gosto muito. (Gosto de me rir com ela e de falar das coisas sisudas. É uma mulher de valor incalculável, que se leva pouco a sério como todas as grandes pessoas. Viva a minha companheira do quotidiano laboral! Viva!)

As Correntes D’Escritas 2012 não foram só mais uma edição de um programa a que (não sei se) poderei voltar em 2013. Foram o retomar do meu caminho para a autonomia interior. Recuso prisões de qualquer espécie, em especial as que se erigem no(s) pensamento(s).

Obrigada Manuela Ribeiro, obrigada Luís Diamantino por esta dádiva para a (minha) Vida.

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