sábado, 25 de abril de 2009

 

25 de Abril SEMPRE

Já fomos mais livres. Já pudemos realmente dizer o que pensamos. Hoje, não me parece. Quando alguém me diz no trabalho, para eu esconder o jornal que comprei porque é "contra" as chefias, choca-me. Choca-me e não escondo o jornal. Era o que faltava. Comprara-o por razões minhas, por gostar de determinada coluna. Comprara-o longe das "tricas" políticas que cada vez mais me repelem. Tento. Tento verdadeiramente interessar-me e saber do que se passa, mas a desilusão é grande com todos e não consigo vislumbrar um caminho que me faça ACREDITAR. Mas uma coisa é certa, comprei o jornal que comprei, não tenho de dar satisfações a quem quer que seja e como tal mostro-o. Se preciso for, em jeito de recusa desta censura velada que hoje se vive, ostento-o. Corro pelos corredores agitando-o na mão como quem diz "Vejam o jornal que comprei. O que me querem fazer?" Quero crer que vivo num país onde posso ser o que sou. E o que sou, implica poder dizer o que penso livremente, sem medo de ser atirada à fogueira. Porque é o que sinto actualmente. O cidadão comum não pode dizer o que pensa. Não pode afirmar o que acredita. Não pode clamar as suas ideias. Pelo menos nos trabalhos não se pode. Há sempre os fuinhas prontos a delatar. Os pides dos dias de hoje. E infelizmente (voltamos à tecla das plantinhas que fotossintetizam e cuja capacidade eu gostaria de possuir, sem ser verde, reforço) as pessoas precisam do trabalho e por isso se remetem ao silêncio, se coibem de emitir opiniões, se esquecem praticamente de quem são. São demasiadas as horas que se passa no trabalho e onde devemos ter cautela. É uma merda. São atentados à liberdade perpetrados todos os dias. Por todos. Pelos fuinhas e pelos que se calam. Ora, eu tento não me calar, eu tento, o mais possível, ser verdadeira e o que acontece? Torno-me transparente aos outros que satisfeitos ficam armados até aos dentes para me poderem atacar. O que é que sucede? Eu não me importo. Sou pessoa algo inconsequente e algo inconsciente, pelo que penso sempre que hei-de sobreviver aconteça o que acontecer. Mas compreendo que a maioria das pessoas não pense assim. Compreendo-as e não as julgo. As pessoas precisam do trabalho. Manter o bico fechado é estratégia de sobrevivência e a sobrevivência é, em última análise, aquilo a que mais prontamente "obedecemos". Há a meu ver, nos dias de hoje, um grave problema com a liberdade de expressão. Não apenas ao nível político, como a todos os outros níveis da sociedade. Quando um humorista tem de pensar nas 3567 queixas que irá ter, por fazer determinado "sketch sensível". E quando é "aconselhado" (sofre pressões) para não o fazer, ou quando depois de feito sofre ameaças e represálias, algo vai muito mal na sociedade. Muito mal.

Por isso é que nunca me esqueço do 25 de Abril. Dos que penaram. Dos que morreram. Dos que foram torturados. Verdadeiros heróis desses dias (em que não se podia, de facto, falar) que não aconteceram assim há tanto tempo. Não o vivi. Não consigo conceber o que foram esses dias. Não quero sequer pensar que algum dia se voltarão a viver as mesmas aberrações. Mas é vital nunca deixar morrer a lembrança do nosso passado, porque muitas vezes o passado esconde-se matreiro, à espera da hipótese de se voltar a repetir. O que sei, digo-o mais uma vez, ouvi-o à minha mãe. O que sinto relativamente à ditadura que se viveu, dita-mo o meu instinto.

Apesar de pensar que não vivemos dias perfeitos (dei dois exemplos e infelizmente há mais), sei que vivemos, sem dúvida, dias mais livres e em que o ar é infinitamente mais respirável. Não hei-de deixar morrer a lembrança do que já foi, tendo em vista o que não quero que seja.

25 de Abril SEMPRE!

LIBERDADE. TOLERÂNCIA. ACREDITAR.

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Comments:
PROVAVELMENTE


Provavelmente
não terei a força, o verbo, o tamanho para falar duma revolução
que rebentou no coração daqueles que, desde o primeiro vagido, a desejaram.

Provavelmente
esquecerei nomes, trocarei datas, falarei dos heróis que o não foram
e dos cobardes que tiveram a coragem de não puxar gatilhos,
de permanecerem poetas e não matarem
ainda que com essa negação da morte ficassem
com os corpos presos, que a alma não.

Provavelmente
louvarei demasiado os que me são queridos, cantarei as paisagens
onde nasci e chegarei mesmo ao despudor de gritar
que o Alentejo é o mais lindo país do mundo,
que uma papoila vermelha floresce diariamente
nos dedos dos que trabalham a terra.

Provavelmente
deixarei nas margens deste recado essoutros que em Marços
e Setembros saíram para a rua agarrados à estrela da manhã
para com ela (somente com ela) defenderem a liberdade.

Provavelmente
não saberei pronunciar os nomes das crianças
que num mês de Abril inventaram novos símbolos,
debruaram de cravos as redacções escolares, as paredes dos jardins,
os troncos dos abetos, e inundaram com as aguarelas da ternura
os olhos dos homens cansados.

Provavelmente
e porque não? direi que vi soldados vestindo a farda que o povo usa,
essa camisa lavada e branca dos nossos irmãos operários,
camponeses, trabalhadores de todos os misteres.

Provavelmente
trocarei as notas à melodia que semeou o luar, desvirtuarei
a cor da baioneta que defendeu o sol, não saberei agarrar
o espanto das mãos que seguravam o vento como quem
agarra essas bandeiras de carne a que chamamos filhos.

Provavelmente
não citarei nomes de capitães, dragonas de almirantes,
siglas dos partidos, as multidões dos comícios, as cores
dos panfletos, o eco dos gritos que rebentaram a veia tensa
deste quase meio século que sufocou o pulmão
da nossa Pátria sempre adiada.

Provavelmente
só vos falarei dum Homem com rosto de homem, palavra
de homem, o gesto simples do Homem simples e sincero
que todos esperámos na lonjura da esperança,
como o Criador esperou o nascimento do mundo.

Provavelmente
escreverei: Vasco Gonçalves.

Provavelmente
acrescentarei: - Por aqui passou um Homem!


Eduardo Olímpio
(Fevereiro de 1976)
 
Bonito. bjinhos Móni
 
Fascismo nunca MAiS!!
beijo de Abril
 
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