sábado, 25 de abril de 2009
25 de Abril SEMPRE
Por isso é que nunca me esqueço do 25 de Abril. Dos que penaram. Dos que morreram. Dos que foram torturados. Verdadeiros heróis desses dias (em que não se podia, de facto, falar) que não aconteceram assim há tanto tempo. Não o vivi. Não consigo conceber o que foram esses dias. Não quero sequer pensar que algum dia se voltarão a viver as mesmas aberrações. Mas é vital nunca deixar morrer a lembrança do nosso passado, porque muitas vezes o passado esconde-se matreiro, à espera da hipótese de se voltar a repetir. O que sei, digo-o mais uma vez, ouvi-o à minha mãe. O que sinto relativamente à ditadura que se viveu, dita-mo o meu instinto.
Apesar de pensar que não vivemos dias perfeitos (dei dois exemplos e infelizmente há mais), sei que vivemos, sem dúvida, dias mais livres e em que o ar é infinitamente mais respirável. Não hei-de deixar morrer a lembrança do que já foi, tendo em vista o que não quero que seja.
25 de Abril SEMPRE!
LIBERDADE. TOLERÂNCIA. ACREDITAR.
Etiquetas: 25 de Abril
Provavelmente
não terei a força, o verbo, o tamanho para falar duma revolução
que rebentou no coração daqueles que, desde o primeiro vagido, a desejaram.
Provavelmente
esquecerei nomes, trocarei datas, falarei dos heróis que o não foram
e dos cobardes que tiveram a coragem de não puxar gatilhos,
de permanecerem poetas e não matarem
ainda que com essa negação da morte ficassem
com os corpos presos, que a alma não.
Provavelmente
louvarei demasiado os que me são queridos, cantarei as paisagens
onde nasci e chegarei mesmo ao despudor de gritar
que o Alentejo é o mais lindo país do mundo,
que uma papoila vermelha floresce diariamente
nos dedos dos que trabalham a terra.
Provavelmente
deixarei nas margens deste recado essoutros que em Marços
e Setembros saíram para a rua agarrados à estrela da manhã
para com ela (somente com ela) defenderem a liberdade.
Provavelmente
não saberei pronunciar os nomes das crianças
que num mês de Abril inventaram novos símbolos,
debruaram de cravos as redacções escolares, as paredes dos jardins,
os troncos dos abetos, e inundaram com as aguarelas da ternura
os olhos dos homens cansados.
Provavelmente
e porque não? direi que vi soldados vestindo a farda que o povo usa,
essa camisa lavada e branca dos nossos irmãos operários,
camponeses, trabalhadores de todos os misteres.
Provavelmente
trocarei as notas à melodia que semeou o luar, desvirtuarei
a cor da baioneta que defendeu o sol, não saberei agarrar
o espanto das mãos que seguravam o vento como quem
agarra essas bandeiras de carne a que chamamos filhos.
Provavelmente
não citarei nomes de capitães, dragonas de almirantes,
siglas dos partidos, as multidões dos comícios, as cores
dos panfletos, o eco dos gritos que rebentaram a veia tensa
deste quase meio século que sufocou o pulmão
da nossa Pátria sempre adiada.
Provavelmente
só vos falarei dum Homem com rosto de homem, palavra
de homem, o gesto simples do Homem simples e sincero
que todos esperámos na lonjura da esperança,
como o Criador esperou o nascimento do mundo.
Provavelmente
escreverei: Vasco Gonçalves.
Provavelmente
acrescentarei: - Por aqui passou um Homem!
Eduardo Olímpio
(Fevereiro de 1976)
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