terça-feira, 27 de abril de 2010

 

LITERATURA PORTUGUESA DO SÉC. XX na TRAMA

Finda hoje outro workshop. Óoooooooooooo. Estaria tristíssima não me tivesse metido em simultâneo noutra da qual falarei mais tarde (ou seja, quando tiver terminado).

Estou neste preciso momento,

(se a caminho não me deu uma macacoa, ou levei com um autocarro da carris ou assim. Isto do agendamento tem dessas coisas. Uma pessoa agenda, depois fina-se e PAM eis que é publicado um texto post-mortem. Espero não ser o caso que, como diriam os gato, “não me dá jeito falecer hoje”.)

na TRAMA a despedir-me de um banho de cultura literária. Foram 8 sessões riquíssimas, proporcionadas pela Rosa Azevedo. Tem sido apaixonante ouvi-la falar. Intui-se o seu amor pelos livros, pelo saber da literatura e o gosto em transmitir o seu conhecimento. Fá-lo de forma exímia e eis que aprendi mais qualquer coisa.

Volta e meia tenho ataques de pânico. Jamais abarcarei toda a sabedoria necessária para que não me considere tão ignorante... O que me deixa então num misto de alívio (o que não tem remédio...) e desespero. Se por um lado tenho ganas de aprender e é um desafio constante ainda faltar “isto” e “aquilo”, por outro o tempo não chega para tudo quanto adoro fazer.

(E isso de conciliar inúmeros papéis na sociedade é para os habilidosos. Vou tentando fazê-lo, mas a maior parte do tempo sinto que ando manca nos variados papéis que assumo.)

Lamúrias à parte, o repto para hoje era levarmos um livro daquele que para nós teria sido “O” autor português do século XX. Ora uma pessoa só poderia sabê-lo se conhecesse a fundo a obra de pelo menos um deles. Não é, claramente, o meu caso. Quem escolhi e quais os critérios, questionar-me-ão.

- Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

OS CRITÉRIOS DE DEIA:

1) Conhecer um pouco a sua biografia e o facto de ter sido uma pessoa admirável: escritora; mãe de 5; activista política, que agarrava as causas em que acreditava correndo riscos; elevava a voz numa sociedade ainda tão asfixiante para as mulheres; destemida; reunir a unanimidade enquanto ser iluminado.

2) A poesia. Sublime. Envolvente. Limpa. Simples. Habitada pela natureza. Livre. Assertiva. Justa. Melodiosa.

3) A memória do livro: “A fada Oriana.” Lido na primeira ou segunda classe e que ainda possuo (muito velhinho) exercer em mim um fascínio que me perdura no imaginário, qual saudade de um ente querido, inundando-me de ternura pelo passado.

4) O facto de se tratar de uma MULHER de fibra. Só se fala nos escritores homens. Houve sempre mais homens a editar, com qualidade, é certo. Quero crer que assim sucedeu porque tiveram mais oportunidades e sempre lhes foram admitidas maiores liberdades (como, por exemplo, as criativas). Isto vai mudando. Não tenho dúvida. As mulheres já não deixam que as remetam somente para o papel de donas de casa e mães, ou lhes abafem o espírito e a voz, se os quiserem partilhar. Esta mulher é para mim um símbolo da força que uma MULHER pode ter numa sociedade.

(As mulheres não são melhores do que os homens, mas já vai sendo altura de as deixarem ser o que quiserem ser, sem condenações/limitações/imposições/discriminações de qualquer espécie. Seja doméstica, primeira-ministra, aviadora, estivadora, investigadora ou prostituta. E o “não condenar” tem de começar em nós mulheres. A igualdade, para existir, tem de partir das nossas próprias acções e das nossas palavras. Só não seremos o que não quisermos ser. A mim ninguém diz o que posso, ou não, ser. E com esta findo a ‘ressabiadice’ do dia. A Sophia sim, saberia expor uma ideia com a maior delicadeza, ainda que se encontrasse escarafunchando uma qualquer ferida com o indicador.)

5) Ter adquirido uma antologia de poesia sua com o nome do meu mais amado elemento: MAR.

Deixo-vos com palavras dela:

Esquemáticos caminhos
De múltiplas esperas.
Que abandono divide
A minha alma em dois?

Dois que se combatem
Irmão e diversos
Tão alheios que sem amor se conhecem.

Intacto rosto
Mas tão perdido agora
Na infinita noite
Do tempo que pára.

Esperança e demora
Entre duas luas
Caminhei suspensa.

No rosto dos barcos
Perdi os meus gestos
E o vento cortou
A minha face em dois
Rostos vãos e dispersos.

Ó náufragos azuis enrolados
Em colunas de sal e de corais
E algas verdes e mastros quebrados
Que gemem como pinhais.

Ó quanto vos vejo porque estais
Onde se vive sem memória alguma
E todo o pensamento e toda a posse
São desfeita espuma.


Sophia de Mello Breyner Andresen

Lido em Mar (6ª Edição - 2006)
Publicado em Mar Novo (1ª Edição - 1958)


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Comments:
Gostei muito desta posta!

E deixa que te diga, quem não anda manco nesta vida? todos! uns mais que outros, é certo :)
 
:) pois é. bjinhos!
 
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