domingo, 23 de maio de 2010

 

INSANIDADE VOU-ME EMBORA

Reencontrámo-nos no funeral da Clara. O grupo de antigamente. Todos com a marca do tempo gravada indelevelmente nos rostos, agravada pela terrível perda. Promessas de nos voltarmos a ver em breve. Conhecendo a falsidade de semelhante compromisso. Não por deslealdade ou falta de vontade, antes pela inércia dos dias que nos engolem sôfregos, espertos. Esses sucedem-se vertiginosamente e nós deixamo-los comandar, enquanto tomam conta de nós, até nos fazerem esquecer quem fomos um dia e quem fez parte desse passado. Para quê se acabamos ali? Vazios (de nós). Sozinhos. Para quê correr? Quero andar devagarinho, pé ante pé e saborear o gosto do presente.

Troquemos ingenuamente os novos números de telemóvel. Abracemo-nos com autêntica ternura. Acreditemos que, desta vez, será diferente. Creio, invariavelmente, aquando da evidência da morte, que hei-de lutar contra a apatia e vencerei a contenda.

(Riso.)

Querida Clara, nunca mais te poder tocar - Ainda te sinto. - priva-me de ar. Encontro-me aturdida, envolta em dor. Fere-me saber que chegará o dia em que não mais chorarei por ti. Em breve a (minha) vida seguirá ligeira. Lembrar-me-ei de ti. Continuarei a viver. Farei novos amigos, até. Tu? Hirta. Acabaste. Interrompeste-te e em pouco tempo serás “Era uma vez...” numa qualquer memória perdida, ou nem isso. Se pudesse, escrevia-te outra vez e devolvia-te o que quiseste perder nem que fosse para:

- Vê lá! Tens a certeza?

E se tu: Tenho!

Deixava-te ir.

Mas se tu: Oh o que fui fazer?

Zás, devolvia-te à história e permitia-te um final diferente deste. Sou tão arrogante boa amiga. Nada posso.

(Choro.)

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