domingo, 20 de junho de 2010

 

INSANIDADE VOU-ME EMBORA

Francisco:

Escrevo-te a três meses de te conhecer. Já sabes muito, tens crescido em mim. Herdaste os meus genes e os do Miguel, mas eu ainda não sei de ti. Almejo que nasças “limpo”. Toda a história por escrever. Narrativa redigida por ti. Para ti. O que mais desejo é ver-te saudável (dizemo-lo todos) e livre (tantos o esquecemos). O pensamento, sobretudo. Livre. Fiel a ti, aos teus sentimentos. No presente, eu e o teu pai ainda nos amamos com intensidade. A tua vinda é motivo de felicidade imensa. Não sei se seremos felizes "para sempre" como nas histórias de encantar. Gosto de acreditar que sim, não posso, contudo, assegurar ser esse o nosso destino. A alegria de te termos gerado é perene. Não servirá, no entanto, como desculpa para permanecermos ligados, se deixar de ser bom estarmos juntos. Jamais quereremos que te sintas responsável por nós. Tentaremos nunca agir de forma a que te sintas sem escapatória, ou culpado do que quer que seja. Tudo faremos para permitir que cresças por dentro, como te acontecerá natural e exteriormente. Deixar-te desenvolver sem espartilhos, sem te incutirmos medo, culpa ou as nossas frustrações. Não será isso que todos os pais desejam? Os meus também talvez o quisessem. Sei que fizeram o melhor de que foram capazes. Por ti escrevi a minha história, à qual anexarei esta carta. No fundo não se te destina verdadeiramente. É para mim que a escrevo. Para relê-la se algum dia me perder e agir ignorando-te. Sei que as gerações contam as suas histórias, umas às outras, sem que se ouçam palavras. O sofrimento passa no sangue e leva angústias antigas, a corações novos. Acredito igualmente, todavia, que a vida é estória a ser tudo o que quisermos que seja. Quaisquer que sejam as circunstâncias. A vida que tão-só gerámos é deveras tua, demasiado fugaz para que a confies a terceiros. Agarra-a com as duas mãos, leva-a pelos caminhos que decidires percorrer e se preciso for, levanta uma dessas para nos fazeres parar, quando considerares ser o momento de te permitirmos prosseguir sem “ajuda”. Hoje já não receio ter-te, trazer-te para este mundo, nem tão pouco temo dar-te o meu amor. O medo já não me habita de todo. Sinto-me preparada para ter um filho. Um que desejo, com todo o ardor, saber deixar partir na hora certa. A tua. Vens para ter a tua vida. Não para continuar a minha, a nossa, ou suprir sonhos que não cumpri(mos). Não tarda conhecerás trilho desprovido de cordão umbilical. É saudável que assim seja. A jornada é tua filho.

Realiza-a com verdade, intensidade e, sobretudo, em liberdade. Luta para seres em cada precioso momento.

Um grande beijo da mãe:
Mariana Almeida.
11 de Novembro de 2007

P.S. Sê IM(PERFEITO) Francisco. Manda-nos à merda se um dia te fizermos sentir isto:


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