domingo, 3 de outubro de 2010

 

INSANIDADE VOU-ME EMBORA,

Este é o diário da morte de um amor, que acreditava ser indelével.

Há muito que se impõe o luto, por alguém que há muito me partiu. A alma veste-se-me de negro. Como o tempo lá fora. As lágrimas incapazes de brotar são torrentes. Para dentro. Onde: Desgosto. Descrédito. Desilusão. Não consigo mais. Não consigo mais! Seria tarde para o Desculpa sentido, ainda que o quisesses proferir. E não queres. Jamais o tencionaste. Estendi-te um destes dias a mão. Olhaste-a, desdenhaste-a e colocaste-me na mão um punhal como quem me quis dizer: Rasga o teu peito e arranca-me daí à punhalada, porque não sei ser diferente. Nunca serei diferente. E eu? Não guardo qualquer esperança. Nem um fiapo de fé em ti, para pela enésima vez - a enésima oportunidade agressora e cruel. - voltar a tentar trazer-te até mim. Adeus.

(…)

Sigo para o trabalho mergulhada na sensação de ser observada. Alguém me segue de olhar metálico. Sinto-o. Leio livros com que me abstraio por momentos. Não há, todavia, gare que pise na qual não recue ao aproximar da pesada máquina. O terror do abismo. Da mão que não pressinta que me empurre. Agora que aprendi a viver, recuso-me a morrer antes de tempo. Tomei a minha vida nas minhas mãos. – É-me vital a repetição da posse: Minha vida. Minhas mãos. Não tornarei a esquecê-lo. – É por isso que me iludo sobre o poder que tenho para decidir o momento de morrer. Não será já. Não antes de saciar a sede que sinto pela existência. Tanto almejei, outrora, a extinção, que me atemoriza ser presenteada com o cumprir presente de súplicas antigas. Assombram-me os instantes em que vislumbrava como única saída o derradeiro culminar do que sou. Queria acabar comigo. Delineara como o fazer. De forma trágica e desesperada como a devastadora solidão que me abraçava. Alegre e pantomineira com os outros. Rodeada de gente, contudo, visceralmente só. Explicá-lo? Não tenho como. Não sei, sequer, se era meu o sentimento, se deles. Diante dos meus olhos uma realidade. (Incontornável.) Este não é um caderno sobre a tua maldade. Antes a narrativa do meu lado da história. Como a apreendi. Esta é, tão-só, a minha verdade. O que me (des)construiu, transfigurou no que sou e no que faço (fiz) com tudo o que me acontece (aconteceu).

Etiquetas:






<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Website Counter
Free Counter