domingo, 17 de outubro de 2010

 

INSANIDADE VOU-ME EMBORA



Dizia:

Almas gémeas.

Cedeu depois dele. Creio que não existe quem se mate tão-só por padecer de desgosto amoroso. Esses suicídios servem-se do poderoso álibi para encobrir outras desistências. Todavia identifico, perfeitamente, o momento em que a Clara deixou de saborear a existência. (Depois dele, lá está.) A “minha alma gémea” como, em tom de brincadeira, o referia. Tinha-se estabelecido entre os dois, no imediato instante em que se conheceram, uma química inexplicável. Dizia-me de semblante carregado e dramática como só ela: Reconhecê-lo-ia de costas. Bastava que me puxasse o cabelo como se o quisera para si, para lhe reconhecer no toque a minha essência… ou qualquer coisa lamecho-poética deste género. Clamava que o amava platonicamente, como ao mar, sem poder consumar aquele sentimento. Sem vivê-lo abertamente e desprovida de qualquer hipótese de se desiludir com aquele homem, porque não chegou a principiar o que quer que fosse. O Luís era casado. Oh Clara… Minha doce e ingénua amiga, como pudeste, sequer, supor que ele se te poderia, algum dia, assemelhar. Intensa. Verdadeira. Como imaginaste que ele abriria mão da segurança do que lhe é sobejamente conhecido para estar contigo, uma incógnita promessa? Seria teu amante sem pejo. Passaria contigo as horas conseguidas. Dedicar-se-ia ao vosso bem-querer clandestino, mas jamais o revelaria ao mundo como concebias ser uma possibilidade. À data tentei trazer-te à razão, não foi? Alertei-te: Olha que o mundo dos pragmáticos não se compadece dos teus sonhos, ou do que para ti é intuitivo.

Não me deste troco. Nunca me ouviste. Na tua gritante demanda pela "sinceridade" obrigaste-o a dizer-te: “não”.

Coagiste-o a optar.

Ele?

Fez-te a vontade.

(…) Quando o vento me bater na cara,
saberei ser o mesmo que lhe acaricia as feições e
será como se os nossos rostos quentes se tocassem. (…)



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