quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

 

Correntes d’Escritas 2012 – EU FUI! – Parte segunda


Ponho o despertador para muito cedo. Começo um conto que me baila na cabeça há muito. Acalentava ingénua a crença que seria capaz de terminá-lo em três manhãs. Está longe do fim. Arranco ainda. Requisito quinto de um escritor, segundo Ruben Fonseca, Paciência. Paciência Deia! Demore o tempo que demorar. Acaba-lo quando conseguires. Entre uma muda de fralda e outra. Entre um colo e uma gargalhada. Entre um passeio ao parque e um lanche. À noite, quando tudo se aquieta. Hás-de conseguir caraças. Tu sabes que é só quereres. Que fazes agora? Escreves. Baboseiras, é certo, mas escreves. (Amanhã à mesma hora o conto, de acordo?). Lembras-te da Valeria?

Sessão de abertura das correntes. O Francisco José Viegas tem uma voz maravilhosa. Parece-me que ele se podia virar para a gente e dizer assim: meus queridos estou aqui para vos dar com esta marreta na cabeça e nós dizíamos: ‘tá bem Chico! Enquanto suspirávamos ainda meio inebriados com o timbre daquelas cordas vocais. Eis que fala o homenageado deste ano: Eduardo Lourenço. Não tive oportunidade de lhe indicar o WC derivado a estar tudo muito bem sinalizado, pelo que me limitei a ouvi-lo embevecida. O que é que guardei para vos contar? Sabem o que aquele portento de sabedoria disse que me aconchegou?

«Sobre mim nada tenho a dizer, mas quero agradecer a todos os meus amigos, o facto de se terem, por um momento, debruçado sobre a obra, ou não obra, desta pessoa que aqui está esta manhã. A amizade existe. É o que mais prezo.»

Depois anunciaram-se prémios e Ruben declarou o seu amor à língua Portuguesa, recitando Camões.

Dirigia-me aos locais com uma antecedência a lembrar a véspera, tal era o medo de me equivocar e perder pitada. Tudo era, para mim, precioso. De modo que sendo a sessão de abertura às 15h, às 14h já me encontrava especada à porta do auditório municipal. Eis que um homem muito simpático se abeira. Ademar. Deu-me um cartão com os contactos, outro com um poema. Um poeta. Falador nato que ajudou a passar os minutos e me fez rir. Não o vou contactar. Não sei porquê. Bloqueios de alguém que só agora começa a aprender a falar com os outros. Sem ter medo, ou desconfiar. Disse-me:

«Você está aqui. Tem a sua vida real. As coisas que a sociedade impõe. As tarefas do dia-a-dia. Mas depois há um mundo que é só seu. Só você tem acesso.»

Não sei se falava de você “eu”, ou de você “ele”. Em todo o caso acertou, claro. Todos temos dentro universo do qual não falamos aos outros. Daí que “Conheço-o/a muito bem. Era incapaz disto, ou daquilo.” Logro imenso. A mente a divagar pelas tramas que se me tecem na mona. Mais tarde diria o bispo a concordar com ele: “Diversos por dentro, sincrónicos por fora.”

Primeira surpresa: Dom Manuel Clemente. Que prelecção maravilhosa. Que tirar de tapete. Todo o cepticismo que reservo (quase rancor) aos eclesiásticos a desfazer-se na boca.

1) Agradecer
2) Começar
3) Partir
4) Consistir
5) Coexistir

Correntes Descritas do bispo que singra entre Auroras (nome da avó materna) e Sofias (nome da mãe).

Um encanto.

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Comments:
O Ademar era o professor karamba disfarçado? :)
 
eh eh eh. E disse: irmã resolvo todos os teus problemas. E eu: A sério. Boa man!

(em casa consigo comentar...)
 
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