sexta-feira, 7 de novembro de 2008

 

Ai que vou dizer uma heresia...(JLP se estiveres a ler benze-te)


NÃO GOSTEI DO LIVRO "A LUZ EM AGOSTO" do William Faulkner.

Para mim é um drama ler um livro que não venha cá fora puxar-me para dentro dele. Há tantos que mo fizeram que quando me deparo com um sem essa capacidade, crio com ele uma relação de relutância e cepticismo que não raras vezes sou incapaz de enxotar, até ao fim. Aconteceu-me isso com "A luz em Agosto". Incapaz que sou de deixar um qualquer livro a meio (o que fiz uma única vez em toda a vida com "Ponto pé de flor" de Clara Pinto Correia que comecei a ler três vezes, com cerca de 18 anos, até desistir finalmente... Nota: nessa altura ainda não tinha posto esta ideia na cachimónia de ter que ler qualquer livro que principiasse, fossem quais fossem as circunstâncias do princípio ao fim sem interromper e sem desistir dele. Quase como a maldição de que se ouve falar de São Cipriano que diz que enlouquecemos se não lermos certo livro dele da frente para trás e de trás para a frente de seguida. Eu costumo saltar este último passo por uma questão de falta de tempo.) avancei neste estoicamente, mas sem aquela sensação de enlevo de que sou acometida por tantos livros. Não me tocou. Queria mais daquelas "vozes" (eh eh eh ó para mim tão intelectual). A voz do Joe Christmas onde anda em todo o livro? Ele retrata-o quase pessoa (não estou certa que o considere como tal), sem alma (?), sem sentimentos (?), sem receios (?). Retrata-o só com instintos primários, como os animais, fome, sede, medo (instintivo), sexo. E porquê? Por ser preto. Isto revoltou-me no livro e levou-me à náusea. Ainda que retratasse a época, os pensamentos das pessoas no Sul do país, a realidade, podia haver uma tentativa de aproximação, de empatia com o JC. Há quem diga que JC seria um paralelismo com "Jesus Christ", um mártir portanto. Tenho a dizer que a descrição do linchamento do JC é muito objectiva e nada solidária com o "mártir". Tão objectiva como dizer "fui ao café e comi uma tarte". "A população juntou-se e linchou o Christmas. Foi feito o que tinha de ser feito.". Porque era assim que tinha de ser quando falavam daqueles talhados unicamente para servir os "brancos". Claro que também há vozes no livro dissidentes, vozes que se erguiam corajosas, à época, contra as injustiças, a desumanidade, a necessidade de ABOLIR tais pensamentos, mas para mim é visível para que lado pende a história. Descubro quase no fim do livro ao ouvir rádio que o autor era racista. Não me surpreendeu minimamente, mas nem por isso a minha opinião foi influenciada por esse facto. Já o intuia desde o início. Não falo do "racismo" de que todos padecemos relativamente ao que nos é estranho e nos faz retrair ao início e depois descontrair. Falo do "racismo" de pessoas que acham que são superiores (e como tal com mais direitos, talvez até o direito de EXTERMINAR a diferença) a outras pessoas e isto vai muito além do tom da pele. Aplica-se a muitos outros aspectos da (nossa) vida.

Quanto à história paralela da Lena. Mulher coragem. Mulher perspicaz a fazer-se de parva. O objectivo é conhecer mundo, ser livre e não propriamente procurar o pai do seu filho para o acorrentar a ela, como à primeira vista poderia parecer. (A Lena de "Quando o Inverno chegar", inspirada nesta e interpretada pela Beatriz Batarda, estava sublime) Forte. Não o suficiente para me fazer gostar do livro.

E pronto aqui me apresento para o meu próprio linchamento. Como pude eu não gostar de um livro de Faulkner? Estou à vossa disposição para uma discussão sobre o assunto e para que me mostrem outros pontos de vista que me façam reler o livro e ver porque e onde me enganei.

Deia

P.S. Tem frases que considero magníficas e que me abanaram, GRITARAM (Acho que senti até, alguma saliva. Os bracinhos é que não. Não saíram e não me puxaram lá para dentro. Infelizmente. Eu também sou daquelas pessoas que "gosta de gostar", tanto dos livros, como das coisas, como dos momentos, como das pessoas...Etc e tal) e com as quais me identifiquei tendo mesmo chegado a sublinhá-las no livro. Não posso agora transcrevê-las porque não tenho o livro aqui.

Mas em breve o farei.

ADENDA IMPORTANTE: E para mim os animais têm alma e sentimentos.

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