sábado, 14 de fevereiro de 2009

 

Eu li um livro...

...E este livro falou-me directamente ao coração. Eu li um livro, recomendado por uma amiga,

(sim posso dizer amiga, porque ao falar, fê-lo para meu bem, ainda que eu mesmo agora, depois de ler este livro não compreenda bem o que me quis dizer. Posso melhorar amiga, é certo, mas jamais serei genial, jamais me ultrapassarei da maneira que li neste livro. Julgou-me capaz?)

e mudei de paralelo. Senti fome, senti medo, (muito) calor.

Desejo. Descoberta. Desnorte. Altivez. (In)Compreensão. Perda. Vergonha. Luto. Raiva. Vingança. Ódio. Perdão. Silêncio. Opressão. Vontade. Coragem. Viver.

Há pessoas que quando escrevem nos acertam no peito com setas que são feitas de palavras, palavras que ferem mais do que armas verdadeiras.

A forma como nos conta, com altruista despudor, o que é mais íntimo em si dá conta da sua grandeza. Porque a escrita é dádiva e que dádiva esta de Marguerite. Pasmo. Pasmo sempre diante do génio.

Por isso no momento em que li "Dissera-lhe que era como dantes, que ainda a amava, que nunca poderia deixar de a amar, que a amaria até à morte", retornei sofregamente ao princípio.

Era preciso reler. Mais do que uma necessidade era uma impossibilidade não o fazer. Voltar a pousar os meus olhos nas frases que sublinhei. Nos cantos das folhas dobrados, a mostrar onde ir:

"Muito cedo na minha vida foi tarde demais."

"Poderia enganar-me, julgar que sou bonita como as mulheres bonitas, como as mulheres olhadas, porque realmente me olham muito. Mas sei que não é uma questão de beleza mas doutra coisa, por exemplo, de espírito."

"Não havia que atrair o desejo. (...) Era a inteligência imediata da relação da sexualidade ou então não era nada."

"Quero escrever. Já o disse à minha mãe: o que eu quero é isso, escrever."

Quinze anos e meio e tanto. Obstinação, entranhas, inteligência, sabedoria. A dor faz crescer o Homem. A escuridão, obriga-o a procurar a luz. A forma de sobreviver. Instinto. Quem dera um terço destas certezas mais cedo. Quem dera ter poupado tempo ao meu tempo. Para a frente.

"Não sei quem tirara a fotografia do desespero."

"Tínhamos primeiro aprendido a calarmo-nos sobre o principal da nossa vida, a miséria. E depois, também, sobre tudo o resto."

"Era preciso prevenir as pessoas destas coisas. Ensinar-lhes que a imortalidade é mortal, que ela pode morrer, que já aconteceu, que ainda acontece. Que não se anuncia enquanto tal, nunca, que é a duplicidade absoluta."

"Que é enquanto ela se vive que a vida é imortal, enquanto está em vida. Que a imortalidade não é uma questão de mais ou menos tempo, que não é uma questão de imortalidade, que é questão de outra coisa que permanece ignorada. Que é tão falso dizer que ela não tem começo nem fim, como dizer que começa e acaba com a vida do espírito uma vez que é do espírito que ela participa e da perseguição do vento. Olhai as areias mortas dos desertos, o corpo morto das crianças:a imortalidade não passa por aí, pára e contorna."

Não existem adjectivos fiéis quando se sente assim um livro.

Livro a manter na estante, ao alcance da mão, em qualquer circunstância, qualquer que seja a casa. Não o deixar jamais esquecido num caixote qualquer, enquanto se muda de vida.

Vou reler, até morrer. Como um grande amor. Até à morte.

Só (os) sentimentos são imunes ao cruel avanço do tempo.

Deia em puro êxtase.

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Comments:
faz com que perdure :)

beijos
 
Andreia, estava a falar deste post... o medo de que falei ;o)
 
Ah este! Para saberes que livro é este segues o link do título. É "O Amante" de Marguerite Duras. Bjinhos
 
Não pode ser...
Daí a minha curiosidade imensa.
Amei esse livro, mas não percebo associei.
Li-o há uns 6/7 anos,único dela.Mas infelizmente não me recordo de pormenores e fico triste por não ter percebido imediatamente.
Já leste "Seda" (não te sei dizer de quem)?

Um beijinho, e já agora, anima-te. Prefiro ler-te com o teu humor ;o)

(É engraçado como só te vi uma vez e parece que já te conheço um bom pedaço ;o))

Ate já.
 
Oi Ana! Isso é natural já o leste há tanto tempo. E tb é natural que alguns livros nos gritem mais que outros e que o que o que fique deles seja diferente. Depende do que já vivemos, da maneira como encaramos a vida, das desilusões,da esperança. Depende de tanto que é natural que pareça que se está a falar de dois livros distintos. Mas continuo a não perceber porque me achaste triste ou de mau humor. Eu estava em êxtase e arrebatada pelas linhas que lá li. Quanto a já me conheceres, também é muito natural, andas a ler-me o diário! eh eh eh eh. E no diário confessamo-nos despudoradamente ;)

Beijinhos e bom fim de semana.
Um beijinho ao teu menino que faz anos né? Estamos lá em pensamento :)
 
P.S. Não li "Seda". Já ouvi falar mas tb não me recordo do autor. mais bjitos
 
:o)
Bom fim de semana.
Obrigada pelo beijinho.
 
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