quarta-feira, 11 de março de 2009

 

CRÓNICA DA BIRRA

Quando uma criança cai posso ter duas atitudes:

a) Ah. Caíste. Coitadinho. Anda cá que eu dou um beijinho. cutchi cuthi cutchi.

(Esta desencadeará uma choradeira pegada, não sendo possível prever as proporções que eventualmente tomará, bem como a duração da dita choradeira.)

b) Ó. Caíste. eh eh eh. UPA! Não foi nada! UPA! Já passou. Vês?

(Que arrancará, por certo, um belo sorriso ao petiz e lhe ensinará, assim de mansinho, que na vida e especificamente no que respeita às quedas, mais vale encará-las com um sorriso e levantarmo-nos sozinhos, sacudir a sujidade do rabo com a mão, enquanto nos preparamos para outra.)

Ora, às vezes, nesta vida adulta que levo, não me apetece seguir o precioso ensinamento de b).

Apetece-me simplesmente ficar amuada no chão, de braços cruzados, numa choradeira pegada, à espera que me dêem colinho.

Às vezes canso-me de ser combativa, apetece-me pôr as orelhas de burro e virar-me para o canto, amuada, embirrenta.

De vez em quando apetece-me, apenas, dormir.

Recrimino-me então, porque sei (a maior parte do meu tempo sei) que isto de andar cá é muito bom e temos de tirar o melhor partido. De um momento para o outro (infelizmente também sei isto demasiadamente bem) puf, já fomos.

Não sei se serão as hormonas, as culpadas destas oscilações de humor. Sim porque neste momento também não me apetece arcar com a culpa desta birra, nem assumir responsabilidades (ou não se trataria de uma birra como deve ser. Em birra que é birra:) A culpa não é da menina. Hormonas. Tudo bem. Hormonas.

Às vezes guerreira. Às vezes cobarde.

Às vezes lutadora. Às vezes um "Oh deixem-me estar. Vou só aqui dormir um bocadinho."

Uns dias crente, outros derrotada.

E lembro-me de ti pai. Quando me dizias que eu devia escolher, para fazer da vida, uma coisa de que gostasse verdadeiramente. Seriam muitas horas dos meus dias. Seriam muitos dias dos meus anos. Muitos anos da minha vida, por sua vez. Na altura não (te) percebi. Na altura diziam-me para escolher e eu num cadernito, folheado de véspera, tirei três "ao calhas" e nenhum dos três dizia respeito ao que eu mais gosto de fazer. E hoje pai, percebo. Pesa muito pai. Pesa muito. A competência é-me arrancada. Ultrapassar obstáculos em algo que não ambiciono é difícil, porque a falta de vontade me coloca 50kg em cada perna e eu só peso 57kg. E então é difícil dar os passos necessários, quanto mais erguer as pernas num salto. E hoje, se me dizem que não presto, eu acredito, porque sei que não me esforço o que podia. E recrimino-me novamente, porque olho em volta e vejo como está o país e sei que tenho muito, um muito que tanta gente merecia. (Talvez mais do que eu, que não consigo apreciá-lo, não hoje. Hoje estou com a birra.)
É difícil ser resoluto e resistir às más línguas, às pequenezes quotidianas, quando não se acredita no que se faz.

Que pena pai não te ter dado ouvidos. Mas a verdade é que na altura eu não sabia, ainda.

Eu não sabia.

Ainda.

Ontem caí e disseram-me UPA!

Obrigada.

Obrigada também pai pelas coisas que me ensinaste (e foram muitas).

E se hoje estou com a birra?
Olha, como diria o meu amigo Pedro Santos: Pachacha

(que é paciência em americano.)

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Comments:
não vejo inconveniente em culpar as hormonas, "estou com o período" é uma desculpa pré-histórica. E depois, vem a menopausa, e os afrontamentos e todas essas manifestações sexy. Por isso não venho mesmo nenhum inconveniente em culpar as hormonas.
 
Errata: não vejo (fico sempre um bocado disléxica na altura da ovulação)
 
eh eh eh eh. Ainda bem pá! :)

ainda nos queixamos. Temos desculpas tão mas tão plausíveis :))

Bjinho gd
 
Eu desde que tive a minha segunda filha passei a ter períodos pré, durante e pós- mestruais de tal forma acentuados, que à excepção duma média de 3 a 5 dias por mês, estou SEMPRE em fase de delírio hormonal ... ou melhor seja com uma optima desculpa para os restantes 25/26 dias de profundo e revitalizador mau feitio! ;)
Beijinhos
 
Só mais uma coisinha, depois da leitura transversal aos blogs e comentários amigos, à excepção da nossa Flor de Macieira, o dia de ontem foi mesmo ruim para toda a gente. Terá sido algum evento cósmico?!
 
Eu acho que o que te faltou foi uma mãe como a que eu vi ontem no CascaisShopping.
A dita levava uma miúda ao colo que não devia ter mais do que uns 5 anos, numa fita daquelas descomunais. A mãe sempre a dizer ai coitadinha da menina, coitadinha da menina.

E a menina, coitadinha, torce (com toda a força) a orelha à mãe, arranca-lhe um punhado de cabelos e só não desfez o escalpe à desgraçada porque esta foi salva pela avó da miúda que entretanto apareceu e preparava-se para dar uma galheta no demónio de saias.

Incredulamente ouvi aquela mãe piedosa balbuciar algo do género:
- Ai coitadinha, deixe-a que ela está cansadinha...

Whatever!!

*reidlys parta estas palavras que estão a tornar-se cada vez mais difíceis...
 
Sim ! um evento cósmico foi preciso Pachacha de Santo!
 
M. ora aí está um mal de que padeço de tempos a tempos: MAU FEITIO. eh eh eh

Guinho que cena! Olha eu ontem parecia essa menina, só não arranquei cabelos pq não tinha ninguém à mão. (Não te quiseste voluntariar eh eh) E sabes o que eu merecia? Umas galhetas :)

Van: eh eh eh eh

Bjinhos a todos

Estive retida daí a demora no reply all :)
 
P.S. Oh guinho estão difíceis mas dás-lhes (isto não me está a soar nada bem) sempre a volta! Parabéns! És o meu "ídalo". Canta lá um "cadinho" para mim migo. Vá lá. :)
 
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