terça-feira, 17 de março de 2009

 

A ESCANDALEIRA

Andamos (não sei se andamos ainda, entretanto todos se silenciaram) neste sítio onde fui tão feliz, a construir uma história a várias mãos. Não é fácil. É muito difícil conjugar as diferentes ideias que surgem, nas imaginações díspares que nos caracterizam, num mesmo fio condutor. Mas tem sido (ou foi, caso tenha sido dado por concluído) desafiador e divertido. Mas, não é disso que vos quero falar. Quero falar-vos da escandaleira que escrevi nessa aventura. A caixinha de Pandora fora aberta (tal como o próprio admitiu) pelo meu querido LFB e eu, intrometida, quando li o que ele tinha escrito, comecei logo a juntar palavrinha a palavrinha, na minha cabecita, do texto que haveria de produzir. Corei, claro está de vergonha, porque o que se me afigurara ao pensamento era, de facto, forte. O que é que sucede? (Tenho saudades do RAP na TV sem ser na versão parva MEO) Sucede que à primeira reacção adversa ao que escrevera, me acagacei - esta é a verdade, acagacei-me - e só faltou pedir desculpa por existir. Quero agora, voltar atrás nessa minha atitude. Quero agora, perante pessoas que temo desiludir ou chocar, correr esse risco e dizer com todas as letras que não me envergonho do que escrevi. Pelo contrário, orgulho-me do texto. A escandaleira é uma boa escandaleira (ATENÇÃO: opinião altamente subjectiva). Essa é que é essa. Não me envergonho do que sou, ou do que escrevo e espero continuar assim enquanto viver. Deixo-vos então com este meu "filho":

A cadência da sua dança a inebriá-lo. Monta-o como quem lhe conhece o colo há uma vida.- Desde quando?Ela não responde e lambe-lhe os lábios. E brinca consigo explorando-o com a língua. Ele pouco resiste. Sempre se sentiu diferente. Sempre se viu monstruoso. Capaz de tudo. Mas disto não se recordava mesmo.Náusea. A música maldita que lhe regressara aos ouvidos. O deleite em simultâneo. Culpa. A incerteza insidiosa, agora, de um passado em que o inominável parece ter-se repetido até à exaustão. A forma como lhe conhece o corpo não é de agora. Percorre-o de forma certeira, como se, se satisfizesse a si própria.Os traços que recordava não eram, afinal, os de Anna? A última lembrança de Erika, era a dela criança ainda, pendurada no seu pescoço, numa qualquer despedida. Quando e em que circunstâncias se teriam reencontrado. Passar-se-ia isto desde então? E a culpa a fugir-lhe pelos poros, em cada beijo que recebia, em cada movimento sôfrego, no corpo da própria filha. Tudo se encaixava. Aquelas sessões ridículas no consultório de Vozone. Aquele escavar agressor da sua intimidade em busca disto. Delicioso. Pensa e ri-se com gosto. Talvez o quisessem chantagear para que entregasse o envelope. Desconcentra-se. Ela olha para ele de forma cúmplice e continua ritmada. Ele alterna entre a repulsa e o desejo. Não lhe parece que seja ele o carrasco. É ela quem comanda o que acontece. É ela quem brinca com ele, qual Lolita. Mas isto é pior. Isto é muito pior.

Sou pai dela.
– Vai repetindo mentalmente.

Ela como se lhe adivinhasse os pensamentos acelera, brinca com ele, quer vê-lo rendido, desnorteado.

- Diz-me onde está. – Sussurra-lhe ao ouvido, puxando-lhe os cabelos na nuca, enquanto endurece os movimentos. Pancadas secas na estante.

– Onde é que está o envelope paizinho?

Começa a trautear a música que o persegue há meses, ignorando-lhe o pedido e ela pára petrificada. Levanta-se de rompante, com os olhos marejados de lágrimas, deixando-o vulnerável e despropositadamente erecto, agora que não o acolhe. Abandona-o no escritório naqueles preparos, atirando-lhe um último olhar de desprezo. O olhar que ele lhe deveria ter merecido enquanto o fodia, afinal de contas, é seu pai.

E jamais um pai deveria sujar um filho desta maneira.

- Mas afinal que música é esta?

E acaba sozinho o que ela começara, com um sorriso estúpido de prazer no rosto, ainda alheio ao que o esperava.

(Imbecil.)

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Comments:
Ah sim senhora!! Assim é que se cresce, a vários níveis!!

Hoje lembrei-me de ti enquanto ouvia rádio: "telefone para a Saúde 24 e tem a certeza que quando chegar ao hospital estarão à sua espera." Pois não, pudera!!

Este blog é uma verdadeira tela. E tu cada vez mais és capaz de te screnirs melhor. Ufa, este era difícil!
 
eh eh eh eh. EStás um pro nisso pá. Vê lá não te vicies!

Eles dizem: "Sabia que 90% das pessoas estão satisfeitas com a linha saúde 24?"

E eu penso: ai não me digam que eu faço parte dos 10% coitadinhos que não conseguiram ver a luz. Shame on me! :)
 
Por mim não está nada terminado. Estou é aguardar que agora seja outra de nós a dar o mote inicial. Acho que o Boris e a Anna/Erika/Anna já merecem uma morte descansada :)
Assim como quem não quer a coisa vou lá colocar o meu "Namoro"

Beijinhos
PS - Eu cá não me ofendi nada, e acolho com prazer qualquer devaneio de pornochachada ou literatura erotica, desde que bem escrita. Como esse é o teu caso, venham daí esses impropérios!;)))
 
E eu tudo bem M. :)
 
ó amiga já to tinha dito...não é escandaleira nenhuma!! :) as tuas palavras põe-nos sim imediatamente a viajar com sofreguidão até ao fim!
beijinho e venham mais desafios destes :)
 
Ó Bzuu "o que tu queres sei eu" :) eh eh eh

OBRIGADA pela amizade, pela força, pelo apoio, pelo ouvido atento e sábio, pela caminhada conjunta, por tudo. (Pela tua voz quente. Acalma-me tanto sabes?)
 
:)
nao sabia mas fico contente por te saber mais calma

os teus conselhos tb me acalmam...óh se acalmam!! :)

estarei sp aqui
beijos muitos
 
Idem idem aspas aspas. "É tão bom uma amizade assim ai faz tão bem saber com quem contar eu quero ir ver quem me quer ouvir é bom para mim é bom para quem também me quer la la la la" :)
 
Ainda bem Andreia. É importante defender as nossas próprias opiniões e respeitar as opiniões dos outros.
Um beijinho
Mónica
 
Exactamente dou-te toda a razão. Mas respeitar não deve ser o mesmo que quase pedir desculpa por ter escrito, que foi o que na altura fiz. Respeitar a opinião adversa, na altura, teria sido ler e aceitar, sem tentar remediar uma coisa que no fundo eu não acreditava precisar de remedeio. Este post pretendeu repor a minha atitude perante mim própria. Porque também me devo esse mesmo respeito. Um beijinho Mónica e tudo de bom para ti. (Sucesso para o livro! A capa está realmente um estrondo.)
 
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