Tenho hostes adversárias dentro dela. De um lado um coro de vozes: és pequena, simples demais, jamais haverá espaço para ti ó formiga. Do outro, o público que me incentiva na prova de atletismo: não pares, não desistas, continua a ser simplesmente quem és. Porquê a prova de atletismo? Perguntam vocês. Porque ontem, enquanto ouvia os grandes, os experientes, os sábios, enquanto os ouvia e me ia encolhendo na cadeira, encolhendo cá dentro, sentindo-me só, o JLP sai-se com esta: no atletismo, não se pode olhar para o lado porque se perde tempo. Não se pode desviar a mira da meta. E a minha meta é a minha morte. Por isso, enquanto viver correrei. Correrei sempre, ainda que tenha de abrandar, ainda que por diversas vezes me faltem as forças, ainda que perca o fôlego (recuperá-lo-ei), ainda que a dor de burro me tolha os movimentos (agarrar-me-ei à barriga obrigando-a a resistir), arrastar-me-ei se preciso for. Não desististirei de correr. Porque foi para isso que nasci, para correr nesta vida. E é por isso que sem outro remédio, correrei. Chegarei à minha morte extenuada. Aceito-o. Mas chegarei. Ainda que toda a vida formiga, serei formiga verdadeira, darei os passinhos pequeninos que são os meus e que ninguém poderá dar por mim. Não adianta chorar pelo que não sou. Não adianta olhar para o lado e perceber o quão insignificante sou, perante os grandes. Sou o que sou. E sê-lo-ei sempre, não o posso ignorar. Não o posso, de modo algum descurar, porque fazê-lo será perecer. Corro portanto, sem olhar para o lado. A minha vida uma pista de atletismo, na qual não irei desistir. Poderão tentar rasteirar-me (eu que não tenho jeito para confrontos), poderão gritar-me não consegues, tens perna curta e eu não sentirei as rasteiras, não ouvirei a chacota, correrei apenas, porque é isso que eu gosto mesmo de fazer. Correr.
Amanhã 20h30 apaguem as luzes. Eu apagarei as minhas. Bom fim de semana!
Etiquetas: ESCRITA, PENSAMENTOS, VIDA
# Ideia partilhada por Andreia Azevedo Moreira @ 10:09
