quinta-feira, 19 de março de 2009

 

Rua de Sol ao Rato

Fui até à Rua de Soló Rato, como dizia quando pequena. Porque me lembrei de lá ir? Porque devo 0,20€ à Lisboa gás. Na singer do n.º1 posso saldar essa dívida e há muito acalentava esta vontade: Subir a rua e no segundo pátio (Caetano de Carvalho) à esquerda, virar, entrar e recordar onde vivias avó. Ontem brinquei contigo. Intitulei-me Maximina, a propósito de um episódio que agora não vem ao caso. Hoje, no início da rua, olhei para a placa com a toponímia e subi com a saudade a morder-me o peito. Esse sítio onde a minha mãe foi profundamente infeliz, embora eu só o recorde com doçura. Cada pessoa um mundo. Cada vivência uma realidade. Entrei no pátio. Permanece como era. Ainda ontem entrava contente, para mais um dia passado contigo. (Foram poucos. Hoje sei porquê.) Há quanto tempo não te falo avó? Há uma vida. Seria criança ainda. Hoje mulher. Hoje a falar-te, percebendo que já passou tanto tempo desde que te foste. Desde aquele dia em que eu me retirava para trás da cadeira, na sala de aula (a da Professora Felisbela) e da mochila pendurada puxava um lenço de papel, com que me assoava discreta, aproveitando para rezar a Deus: Não a leves. Não a leves. Mas tu já tinhas partido, só eu não o sabia. Acharam por bem poupar-me. Pelo menos por aquele dia que eu pensasse, apenas, que haveria, apenas, a hipótese de morreres. Naquele momento de súplica acreditava que a "hipótese" não era, ainda, esta ausência irrefutável. Adiante. Entrei no teu pátio e recuei no tempo. Puseram uma cancela verde avó e já não se pode ir mesmo até onde os 5 moraram. Puseram uma cancela e eu apenas pude vislumbrar, ao fundo, as escadas íngremes que se subiam para a vossa casa de bonecas. Teria 10 metros quadrados? Que saudades desse tempo de menina. Na vida como no teu pátio, temos muitas vezes de instalar cancelas. Para nos protegermos dos ladrões que nos querem roubar a alma. É assim como que uma protecção. Instalei uma dentro de mim. E hoje, lembro-me especialmente dela, porque hoje é dia de carinho para a maioria das pessoas, mas para mim não. Para mim é apenas um dia. Um dia com uma cancela. Talvez não verde, cinzenta. Uma cancela que tenho fechada a cadeado e cuja chave deitei fora há algum tempo, para não sofrer tentações. Se eu não cuidar de mim... Ainda me é possível, no entanto, lançar um beijinho por cima da cancela. Aqui vai ele. Um beijinho por cima da cancela verde também para ti avó, onde quer que te encontres , a velar por mim.

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Comments:
Que engraçado, maninha! Gostava de ter lá ido contigo... Quando nos vemos? já tenho saudades... Bjs
 
Comovento. Muito bonito, mesmo. Só tu para pôres tanta emoção num texto só.
 
Mana morenaça ontem liguei-lhe :) Um dia que venhas almoçar comigo vamos à Rua de Soló RAto linda. É uma sensação mesmo, mesmo boa.

Susana, um gd beijinho e obrigada pelas tuas palavras. (Espero que andes mais para cima! Força. É por pouco tempo tenho a certeza)
 
que lindo texto...fizeste-me chorar. beijo grande amiga
 
Às vezes cansa-me ser tão lamechas mas olha é o que sou. Nada a fazer. Tb chorei a escrevê-lo. Abraço apertado. Até mai'logo. :)
 
Há um estaurã indiano agradável no sólo rato, e acho que é quase em em frente a ao pátio da tua avó. beijinhos, A.!
 
Batukada que belo pretexto me deste para voltar a subir a rua brevemente! Espero que esteja tudo bem contigo. Um grande beijinho :)
 
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