terça-feira, 7 de abril de 2009

 

Gran Torino (se ainda não viram não me leiam sff)

A comovente história de um homem que rosna. Um homem zangado com todos, e principalmente consigo. Rosna. Expulsa de si qualquer manifestação de brandura pelo rosnado. Repele quem quer que seja que queira ocupar-lhe um lugar no peito. A única a quem talvez o permitisse, acaba de morrer. Não há espaço nele para a ternura ou para a partilha. Vive sem deixar que se aproximem do “seu relvado”, mesmo aos que são seus: “fora daqui!”. Desprezo, repulsa, barreiras erguidas alto demais. Vive assim, alheio aos outros que despreza, até ao dia em que a vida lhe troca as voltas e lhe coloca ao caminho 2 miúdos, que não desistem de o conquistar. Dois miúdos obstinados que lhe martelam a couraça, de fininho, até que consigam chegar ao que sabem existir nele. Dois miúdos que o conquistam porque apesar de tão diferentes de si, (O homem é quase xenófobo. Para mim não o chega a ser, embora pareça sê-lo, durante grande parte do filme.) ele reconhece-lhes fibra, personalidade, vontade de lutar contra o que parece ser invencível, irremediável. De ar frágil, ambos se vão impondo, num meio que não se compadece dos que pretendem manter-se puros. É comovente ver o progresso deles. Como de mansinho, vão além do rosnado e do cuspo, que Walt lança de forma desafiadora, gritando o seu desprezo a todos e por todos. É apaixonante a forma como eles acabam por conseguir vislumbrar a bondade e a solidariedade que nele habitam, ainda que mais ninguém o veja e apesar de tudo o que já (teve de) fez(fazer). Tudo o que lhe dói na consciência, em cada dia que não lhe é concedido o esquecimento. Esquecer o passado, não é possível. Remediar o que cresceu torto, revela-se-lhe impossível e insuportável. O abismo é já grande demais. Com estes dois é tudo novo. É possível, ainda. E ele deixa-se levar. (Ao ponto de emprestar a preciosidade - "gran torino" - que mantinha impecável e intocável.)

(Nunca é tarde. Lugar-comum irrefutável.)

De louvar também o padre, persistente homem de palavra.

No fim, qual Cristo na cruz, Walt dando a (curta) vida (que lhe resta), de forma inteligente, para salvar os dois (grandes) amigos.

Saio com o desconsolo agarrado a mim, para não variar, quando me esfregam a realidade nas fuças. Um desconsolo maior do que eu e uma vontade imensa de adormecer e não mais acordar, neste mundo que (des)construímos diariamente. Anda tudo à volta do dinheiro, ou do poder. Quem se atravesse, paga com a própria vida, ou com a agressão dos que lhe são queridos(Dor atroz. Impotência. Desolação.)

Quando é que acordamos?

(Rosno e cuspo também)

Quantos sacrifícios mais, para que as pessoas entendam que a violência, o ódio e o ressentimento, não são o melhor caminho? O poder e o dinheiro pouco nos enriquecem (Pelo menos no conceito de riqueza que verdadeiramente importa. Aquele que nada tem a ver com bens materiais.)

(Rosno e cuspo de novo.)

Espero acordar em cada dia limpa de ressentimentos.

Cansa tanta estupidez d(n)o Homem.

(sometimes, too many times...) “I rather be with an animal”

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Comments:
Eu só comento filmes.

"Primeiro estranha-se, depois entranha-se". Foi exactamente o que senti ao vê-lo rosnar. Achei um tanto ou quanto ridiculo, pois pensei que ninguém rosna, mas no final do filme senti que não havia nada mais para demonstrar aquela raiva da vida senão daquela forma.
Aquele homem passou-me aquela raiva toda que sentia da vida e da vida dos seus...
Para último papel que fez, acho que não podia ser mais convincente.
 
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