sábado, 13 de junho de 2009

 

Eram somente palavras

Tudo começara ao ler o seu anúncio nos classificados:

"Não sou triste. Mas sou só. Não pertenço, mas talvez gostasse. Alguém aí? - Responder pela mesma via s.f.f."

Respondera-lhe por graça. Também não se sentia particularmente triste embora fosse igualmente só. Também ele não pertencia. Terá dito na semana seguinte:

"Poderá não lhe agradar quem lhe responde. Partilho algo consigo. E estou aqui."

Iniciou-se um entendimento, via classificados, que jamais qualquer um dos dois ousou modificar com um encontro.

Temiam que a realidade destruísse o que haviam construído com palavras.~

Não conheciam a cara, idade ou feitio um do outro e ainda assim havia verdade(s) na forma de se falarem.

A vida real prosseguia imperturbável. Ambos tinham as suas vidas preenchidas, feitas do que todas as vidas se compõem, com mais ou menos peso, num ou noutro aspecto da existência.

Aquela comunicação semanal era preciosa para os dois que não pediam mais do outro que aquelas quatro ou cinco linhas que diziam tanto.

Um dia ela calou-se e ele nunca soube o motivo. Vestiu-se de luto e assim continuou até ao dia em que também morreu.

Não se sabe se era amor, ou uma profunda amizade, mas era alguma coisa que as inúmeras palavras deixadas no papel não conseguiram transmitir.

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