domingo, 28 de junho de 2009

 

Partiu(-se)

Isabela ia na rua apressada e distraída. Numa mão o saco com os livros que acabara de comprar, no outro braço o casaco dependurado. Apressava o passo para minorar o atraso.

Eis que tropeça, caíndo de joelhos, desamparada. Esfolou-os com gravidade. Sangrava dos joelhos e das mãos. Os livros espalharam-se para fora do saco e à sua volta. O casaco imundo jazia igualmente na calçada.

Não era a desordem exterior, no entanto, que a perturbava. O problema é que ao cair, qualquer coisa dentro de si se partira.

Sararam as mãos, os joelhos também. Porém o que era uno e se quebrou, não teve conserto.

Desde esse dia havia uma dor a comê-la por dentro.

Lembrava-se de ouvir aos mais velhos, quando miúda: "Não morres da doença, morres da cura."

E habituou-se ao facto de que há coisas incuráveis e inoperáveis (estão em sítios inacessíveis ao bisturi) resignando-se a viver com a mazela.

Nunca mais usou saltos altos e hoje anda sempre muito devagar, como quem não sabe o caminho.

Faz 61 anos em breve.


http://www.youtube.com/watch?v=7dLAsHpMiBc

Etiquetas: ,


Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Website Counter
Free Counter