sexta-feira, 19 de junho de 2009

 

A tela

Vinha no comboio chorosa pelo amor que partira. Sentia-se irremediavelmente infeliz. Sentou-se derrotada, a cabeça pendia-lhe para o ombro e a testa encontrara poiso no vidro, ainda frio, da janela. Chorava involuntariamente. Detestava chorar ao pé de quem quer que fosse, mas não era dona dos seus olhos nesse momento. Nesse instante, os seus olhos eram, de facto, o espelho da sua alma. Um homem senta-se ao seu lado. Noutra altura poderia ter-se incomodado (havia tantos lugares vagos na carruagem, porquê vir sentar-se a seu lado?) naquele dia específico não, de tal modo ia alheia ao que se passava de fora. O homem dirige-se-lhe:

- Deixe-me pintá-la. Sou pintor. Deixe-me gravá-la numa tela. É tão bonita assim, triste.

Ela voltou a si e riu-se. Era de soslaio que o encarava, desconfiada, como a vida a ensinara a encarar, mas acedeu a conversar com ele.

Quando saiu da pesada máquina metálica já não ia triste. Talvez nostálgica, mas não tão triste quanto antes.

Carregava agora consigo a memória do homem que naquele dia a fizera sorrir, de forma indelével, como se fosse o retrato a óleo na tela que ele acabara por não pintar.

(Nunca mais se encontraram.)

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Comments:
:)
fez-me lembrar o papel deixado no pára-brisas do carro também num dia triste
 
São uns anjos que aparecem no momento certo. :)
 
Gostei desta história :)
beijinhos
 
Tb eu eh eh :) Bom fim de semana minha linda!
 
Bom fim de semana também para ti, e se o mereces, sua trabalhadora ;)

bêjus
 
fosgasse fanã! Bem o podes dizer :D
 
anjos a lembrar que a vida continua...
tropeças e cais, sacodes as pedrinhas dos joelhos esfolados e levantas-te outra vez
 
Pois só que a merda das feridas ardem. :) bjs linda (tens toda a razão)
 
Linda esta hirtória, como tu e eu e nós e a vida!!!!

Beijo daqui de dentro

Móni
 
Obrigada, igualmente (já te tinhas incluído e bem!). :)
 
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