terça-feira, 25 de agosto de 2009

 

Instituto Português de Oncologia (IPO)

Ninguém quer ter de proferir esta frase: “Vou ao IPO”.

Ninguém quer ser paciente desse sítio (que imaginamos arrepiante), nem tão pouco visitante.

“Vou ao IPO” é uma frase aterradora.

Tudo isto é verdadeiro. Mas tenho que falar do IPO por bons motivos. No IPO estão dos melhores profissionais da área da saúde com quem já me cruzei.

Não me pronunciarei sobre os médicos, com quem não interagi. (Excepção feita a uma Doutora nas urgências que devia estar numa noite má. Dou-lhe o benefício da dúvida.)

Quero falar sobre os enfermeiros e os auxiliares da unidade de pneumologia do IPO.

São pessoas excepcionais. Profissionais extremosos que não desistem jamais dos doentes (mesmo daqueles cujo destino foi malogradamente traçado) e que os tratam como se os seus casos fossem únicos, sabendo os seus nomes, os seus gostos, conhecendo-lhes a maneira de ser.

São pessoas que perante o paciente inanimado lhe prestam os cuidados com o mesmo desvelo com que tratariam uma pessoa na posse de todas as suas faculdades.

São profissionais que param para dar uma festa, para apaziguar o doente ou o familiar, que nos olham nos olhos enquanto nos esclarecem dúvidas.

São pessoas que não se esquecem que estão diante de pessoas (não de números) em estados de grande sofrimento, quer físico, quer psíquico.

Sei lá se são só pessoas. Para mim são heróis, anjos da guarda dos doentes e dos familiares que com a sua ajuda não sentem tanto frio nessa jornada cruel, não raras vezes ao encontro da morte.

OBRIGADA a todas essas pessoas que não se deixaram desumanizar pela infinidade de casos com que têm de lidar diariamente.

Espero sinceramente não me voltar a cruzar com vocês, compreenderão porquê.

Mas espero de igual forma e ardentemente que continuem onde estão a amparar quem precisa.

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Comments:
Conseguiste expressar através da palavra tudo o que senti, em relação ao profissionalismo de todos os que vimos. Como sempre... um bj prima
 
Olá Andreia e prima mana :)

Eu conheço o IPO como a palma das minhas mãos. Conheço os corredores, os profissionais, os internamentos, os novos bares - que há cinco anos não existiam - pois vou lá com regularidade precisamente há este tempo. Continuo a achar que são excepcionais, que há poucos hospitais do País com tanta humanidade, com voluntários tão sinceros e prestáveis e com os melhores cuidados de saúde que já conheci. Quando se soube que a pessoa que não quero referir o nome tinha um cancro - e há que chamar as coisas pelos nomes - houve quem quisesse que fosse seguido numa clínica privada. Em boa hora, um Médico de Família dessa pessoa decidiu que seria acompanhado no IPO e recordo as palavras dele como se fosse hoje: lá estão os melhores materiais, os melhores especialistas, é lá que as doenças cancerígenas são estudadas e procurar uma clínica privada é um perfeito disparate. Tal como é ir para o estrangeiro porque, na realidade, os profissionais de excelência do IPO não abandonam o doente, não desistem dele e só não fazem mais se realmente não for possível. Foram esses mesmos profissionais que limparam as lágrimas da tal pessoa que tanto me diz e que a curaram. No entanto, o demónio do cancro continua a pairar na minha vida. O medo continua cá, num compartimento bem guardado do meu corpo, com receio que os dias de terror que lá passei voltem sem pedirem autorização.
O serviço de urologia também funciona lindamente, tal como o de pneumologia e eu volto ao IPO com frequência para exames de rotina da pessoa que prefiro não identificar e para a consulta com o médico que o tem acompanhado nesta luta. Sei que ainda vou voltar muitos anos ao IPO mas tento manter o sorriso e passar todo o meu optimismo. Sei que nunca vou esquecer o que passámos por lá e sei que estarei eternamente grata pelo que lhe fizeram. Acredita como fico triste pela notícia que me deste a semana passada (cruzei-me com ele uma única vez e a empatia foi tal que estava acreditada que as coisas iriam correr pelo melhor). Tal como não esqueço muitas das caras que vi por lá na minha longa estadia de visitante e que infelizmente já não se encontram entre nós, também não vou esquecer quem perdeste.
Infelizmente, o IPO é sempre associado a dor, sofrimento e luta incessante pela vida. É tão duro que já tive de voltar para fazer entrevistas e tenho imensas imagens ao meu redor que me deixam completamente anestesiada.
O teu post é verdadeiramente sentido. Sobretudo, merecido. Quando à médica da urgência, há sempre um profissional ou outro que não nos deixam ter a plena consciência de como uma equipa funciona bem. Pecam por isso. Têm maus dias. Como todos nós. No entanto, essa médica será sempre uma excepção na regra que é a excelência de quem trabalha no IPO e vive de perto todos os dias com o terror da morte. Esses sim devem ter dias duríssimos e desempenham uma profissão que dificilmente muitos de nós teriam a capacidade de desempenhar.
Sabes bem como o teu texto me toca profundamente. E um dia destes vais ouvir-me dizer: "Vou ao IPO"... Sabes bem porquê.
Coragem, amiga! Gosto muito de ti. Ainda não te telefonei porque prefiro que tenhas o teu espaço reservado. Daí as sucessivas sms e comentários ao blog.
Sabes que gosto muito de ti e que estou aqui para o que precisares e não precisares.

Abraço apertado!!!
 
Bjs mana. (Isto está uma merda mas cá nos havemos de arranjar e um destes dias gargalhamos outra vez leves. Só o tempo.)

Cláudia atrás de um grande homem está sempre uma grande mulher. Dizem e eu acredito. Porque há exemplos. ;) Abraço apertado para ti tb.
 
Belo elogio aos profissionais, eles merecem, mesmo que saber a verdade possa ser duro e cruel...
 
A verdade não é, muitas vezes assimilável. Finge-se que não está a acontecer. Eu finji muito. E agora, perante a irrefutável morte, continuo sem acreditar.

Aqueles profissionais são grandes. Tudo o que eu dissesse seria demasiado pequeno ao pé deles, mas não quis deixar de tentar.

Obrigada pela visita Dylan.
 
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