sexta-feira, 20 de novembro de 2009

 

Uma história

Durante os primeiros anos de vida o Buddy não ladrava. Muitas vezes os meus amigos interrogavam-me se ele saberia fazê-lo, coisa de que também eu duvidava. De facto, não fossem os tufos de pêlo preto e o cheiro característico a cão, dir-se-ia que ali não morava um canídeo. Por altura do transplante renal do meu pai, tivemos de o mandar para casa dos meus tios, uma vivenda na outra banda. Passou a "filho" de pais separados, sem o ser. Ia levá-lo no Domingo à noite (destroçada) e buscá-lo Sexta ao fim do dia (feliz da vida). Foi nesse período, em que o risco de rejeição do rim o afastou de nós temporariamente, que ele aprendeu a ladrar. Enfiava a cabeça pela argola maior do portão preto (hoje verde) e arriscava os latidos, já muito atrasado no que dizia respeito ao aperfeiçoamento da técnica, quando comparado com os cães das vivendas vizinhas.

Há que dizer que o seu ladrar jamais foi como o dos outros. Distingui-lo-ia de olhos fechados, numa matilha em coro. Era um ladrar cómico e tosco, a raiar a "fala" à Scooby Doo.

Comparo essa aprendizagem tardia à minha. Demorei tanto tempo a aprender a não calar o que penso e o que sinto (eram tempos em que apenas a mão esquerda sabia o que me ia na alma) que hoje quando o faço, ainda que movida por fortes convicções, a voz que emito soa ridícula.

Perdoem se não vos sei ladrar como deve ser e se, por isso, serei sempre imerecedora da vossa atenção num debate que se esperaria fluente e aceso.

(Manter-me-ei até ao último dia, temo, uma enrascada nisso dos confrontos orais.)

(Talvez tenha aprendido tarde demais.)

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Comments:
Também a minha Skinny (esta já não conheceste) nunca soube o que era ladrar. Por vezes bem se esforçava mas tudo o que conseguia era um mero som gutural... uma tosse forçada e seca. E era lá preciso... falava com o coração. Palavras leva-os o vento - pensava ela de certeza - falarei com o olhar. E por isso era tão doce.

Mantém-te então uma 'enrascada' sem capacidade de ladrar... mas de coração doce.

Bjs
 
Visto assim até me parece bem. Mantenhamo-nos então os dois assim, sorridentes, afastando braviamente os azedumes que a vida nos quer impôr. Sejamos sempre como até aqui, "cotas" com alma de putos.

Bj amigo.
 
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