quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

 

Exercícios na TRAMA (15/12/2009)

Quarta e última Parte

MOTE: Dar um fim à história ao vivo e a cores na última aula (15/12/2009).

Digo em minha defesa que chegara, nessa manhã de dia 15, de uma viagem que começara cerca de 22h antes. Fui trabalhar 7 horas e às 19h lá estava para o último dia de "workshop". Portanto perdoem se vos desiludo com este final, foi o conseguido nas circunstâncias descritas. (Ah e tal coitadinha.)

- Inês Pedrosa? Como me descobriu?
- Não te descobri. Pergunta antes como te encontraste. Não julgam eles que és quem sou?
- Pois... – Digo baixo, baralhada.
- Temos de nos apressar, o outro anda perto.
- Acertaste-lhe.
- Sim, porém apenas o atrasei. Seria preciso muito mais que uma simples bala para o demover.
- Quem são eles?
- Doentes.
- Como?
- Entes que acreditam ser, quando não o são de facto.
- A Inês desculpe. Mas sou uma pessoa simples, com ideias elementares e que, apesar de apreciar muito a sua escrita, não percebo patavina do que aqui se passa. E, com todo o respeito que me merece, a realidade é que estou borradinha de medo.
- Ai, querida não fales dessa maneira. Que horror, que termos são esses? Não diria que estás habituada a ler.
- A senhora pode pensar o que quiser, se estivesse molhada com a própria urina como eu estou, não se lembraria de medir as palavras. O que fazemos?
- Vem comigo. Vou mostrar-te uma coisa.

Avançamos pelo breu. Não faço ideia para onde Inês me leva. Tenho de conter inúmeras vezes os espirros que ameaçam irromper, cada vez mais frequentemente, dado o meu estado.

- Não receies. Sei o que faço.

Sigo-a em silêncio apertando o nariz e a boca com a mão direita, enquanto que com a esquerda esfrego rapidamente o corpo na tentativa vã de fazer o que a caminhada por si só, não está a conseguir: aquecer-me.

Eis que me deparo com a fachada da casa que quis, há tão pouco, esquecer.

- A senhora enlouqueceu?
- Calada. Já te disse que sei o que faço.

Encolho os ombros e faço novamente o aterrador percurso, desta feita, sem venda, sem mordaça, sem raptores. Pelo menos à primeira vista não os vejo. Tirito de frio, de horror, quem sabe de gripe A. Toda eu tremo qual gelatina, porém, sigo-a sem escolha. Entramos na casa e nem sinal do Almada.

- Reconheceste-o?
- Assim que o vi.
- E não estranhaste?
- Não! Sempre fui dada a crer no absurdo.
- Ok. Conheces a personagem de um livro em carne e osso e não temes, por um segundo, estar louca?
- Já vi suceder coisas mais improváveis. Intimamente, todas as personagens dos livros que leio são pessoas em potência. Comovo-me com essas, rio-me com e dessas, amo-as e odeio-as, tal e qual como com as pessoas da minha vida.
- Tretas pá! Estás a brincar? O homem que te rapta é igual a um que só existe num livro que leste e não achas insólito?
- Cá para mim a Inês acaba de resvalar um bocadinho na sua erudita linguagem.
- Ironias a esta hora não! Olha para a estante por favor.
- Ena tantos livros!
- Olha de novo. Repara.
- Todos os livros são iguais. Mesmo tamanho. Mesma cor. Lombada idêntica. Já tinha percebido. O Almada é metódico e então?
- Vê o título...
- Ora, “nas tuas mãos”; “nas tuas mãos”; “nas tuas mãos”... Aterrada constato que todos os livros da estante são o mesmo. O tal que fora comprar à livraria antes disto tudo ter principiado.

- Dá-me a K7 que tens contigo.
- Como é que sabe? – Soergo a sobrancelha direita, intrigada, cumprindo um trejeito que aprendera a fazer em miúda.
- Coloca-a nesse gravador. – Indica-me um antigo em cima de uma das muitas mesinhas que a divisão tem.

Iniciamos a audição da fita em conjunto. Trata-se de uma entrevista de Inês acerca do livro recém lançado. Data de 1997.

- Ah. Compreendo agora porque nos confundiram. Julgam-me a Inês com menos doze anos...
- Começas a entender...
- Os outros? Também se julgam personagens dos seus textos?
- São de facto...
- Como?
- Mostra-me o desenho. – Aquiesço e estendo-lho. Vira-o para mim.
- São-te familiares estas caras? Os diagramas estabelecendo relações? Os nomes?

Percorro rapidamente as diferentes feições retratadas. António, Jenny, Camila, Pedro, Anacleta, entre outros secundários na trama. Todos que conheci naquele livro se encontram definidos.

- Mas? – Incrédula. – O que pretendem?
- Outros destinos. Querem que os reescreva.
- Estão loucos. Como poderia?
- Estarão?

A porta range. Estivesse aflita e descuidar-me-ia de novo. Vejo-os entrar. Um por um, acomodam-se na divisão. Olho para Inês em pânico e observo-a serena.

- Ando a segui-los há meses. Hoje é o aniversário da data de casamento de Jenny com António. Manuel Almada tem tentado matá-lo todos os anos, por esta altura. Sem António fico sem história. Perco o triângulo António, Jenny e Pedro.

Ouço um objecto a cair que me distrai. Esfrego os olhos. O coração bate descompassado. Giro a cabeça. Livros. Livros. Livros. Já não os de lombada igual. Outros. Coloridos. Diversos. Olho para as calças. Estão molhadas, sim, de café. No chão, perto dos pés, o livro que me arrancara à realidade nos últimos minutos. Não saíra do andar de cima da livraria.

(Aqui acaba o que fiz na trama.)

(De seguida um delírio à laia de "Agora escolha..." Vera Roquete incita-vos agora, a escolherem o que mais vos aprouver. A Autora, Dreia Meia, está já pejadinha de sono - com dúvidas se "pejadinha" se aplicará ao sono e a si própria e com tendência pro dito delírio. Vá então...)

Envergonhada olho em redor. Ninguém. Antes assim. Pego no livro, com a capa marcada pela sola da minha bota e dirijo-me ao andar inferior para o pagar. Sorrio a Catarina, agradeço-lhe a amabilidade com que invariavelmente nos recebem - Ela e Ricardo. - e aperto o casaco que vesti entretanto, adivinhando o frio no exterior. À porta esbarro com um sujeito que me fita intensamente. Diz: "Boa Noite." num timbre que me percorre o corpo. Tem uma meia lua desenhada no olho. Arrepio-me. Sorrio-lhe lívida e saio da TRAMA enquanto sinto o livro a latejar nas minhas mãos.

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Comments:
menina!!!!!

até eu me arrepiei!!

mas que enredo! não te imaginava tão criativa!! dentro da minha ignorância acho que isto é enredo para um livro! a sério!
adorei!!!!
e não está nada previsível!
estou curiosa quanto à crítica da stôra :)
porque só pode ter gostado

beijos minha amiga talentosa
 
Oh. Tu és minha amiga... Não vale. ehehehehehehehe ATENÇÃO: foi só para te irritar. Não venhas para aí dizer impropérios que o Mau Maria deve andar perto. Amiga olha, o que é que te posso dizer e nunca será suficiente? O B R I G A D A! Mts mts mts beijinhos.
 
Epá, muito surpreendente!!

Adorei também... ai merda não posso dizer isto, sou teu amigo... bom então estava um bocado foleiro. Bastante previsivel e enfadonho. Ainda bem que o publicaste em várias vezes... assim não adormeci ao lê-lo.
Pronto, melhor assim?

Se calhar vou organizar um *motyn para impedir que voltes a escrever neste blog!
 
eheheheheheehehhehehehehehehehe. Pára com isso já! ehehehehehehehehehehehehehehehehehehehehehehehehhe. Bobão. Como dizem na chafarica do 2: Eu amo você! :)
 
Eu também amo você embora não saiba o que é a chafarica do 2...
=(

Fartei-me de rir com a estação de Alcântara. Até a desabafares disparates tens jeito. Porque não fazes um texto mordaz, algo viperino e peticioso e apresentas lá na estação aos responsáveis?
 
Meu dôcinho (ler em brasileiro) não sei si mi apiteci escrever aos sinhoris viu? É qui num sei si mi podem prócessá por lhes dizê qui a Estação de Alcântara é a mais merdosa viu? E eu cá sou como as amebas. Não gosto que me movam processos. ehehehe. Vou pensar nisso.´

A chafarica do dois é o cinco para a meia noite à 4ªF onde o Nilton (aquele gajo dos óculos azuis) liga para casa nas pessoas ou apanha-as na rua e está até à exaustão do outro a dizer "Eu amo você". É isto Guinho.

Bjus bons em todó lado.
 
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