quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Vai daí:
- Uns bolinhos, vão?
Agradeceram mas não quiseram. (Eram três, quatro ou mesmo cinco. Não há certezas. Nunca há certezas, o que é uma merda.)
- Bom, o motivo que nos traz aqui é o seguinte. Lamento informar-vos mas essa masturbação mental, à minha custa, terá de cessar.
Fitaram o interlocutor incrédulos. Atiraram: "Perdão?" "Como?" "Que quer dizer?" em uníssono, indignados. Disseram ainda: "Julgamos injusta essa atitude."
- Pouco me interessa o que julgam. Terá de cessar.
Começaram a rir-se.
- Ah riem-se? Vejam como vos viro as costas. Estalo os dedos. PUF. Já cá não estão. Ingénuos. Esquecem-se que são fruto da minha imaginação?
"Ah..." Proferiram já um pouco desconsolados.
- Ah pois. Ou param com isso. Ou PUF. Estão a ver a ideia?
"E conseguiria viver sem nós?"
- Invento outros.
"Tão bons como nós?"
- Oh quem sabe melhores. É grande a minha capacidade para inventar. Vão parar ou não?
"Não será fácil. É tão divertido brincar consigo."
- Pois mas o meu espírito infantil por vezes enfada-se. O meu lado racional exaspera-se. E a faceta emotiva desilude-se muitíssimo. É isto, mais coisa menos coisa.
"E só uns recadinhos. Muito esporadicamente?"
- Rogo-vos que não o façam. Cessem uma vez por todas de me importunar. É altura de me deixarem viver deveras. Concordam?
"Não. Mas, de facto, não mandamos em si."
- Olha. Pois não mandam. Folgo em ouvi-lo. Adeuzinho então, sim?
"Escrever-nos-á de vez em quando?"
- Não sei.
"Pensará em nós?"
- Não se preocupem, deixaram marca bastante para que tal aconteça. Não serão esquecidos. Porém há que viver, compreendem? Viver realmente. Fora daqui.
"Talvez tenha razão. Lamentamos, sabe?"
- Calculo que sim. Mas se não fosse eu a chamar-vos à razão, quem para o fazer? Mais ninguém vos vê.
"Nada de ressentimentos?"
- Nada. Vão descansados. O tal abraço.
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