Era eu miúda, longe ainda de saber que o grunge é que era, dei-me ao trabalho de decorar uma série de marcas de surf só naquela de estar preparada para qualquer eventualidade, que, meus amigos, nem eu sabia qual poderia ser. Recordo-me de ir ao lado das minhas amigas, dizendo-as (às marcas) para dentro, qual mnemónica, ignorando displicente a sua conversa. Não faço puto de ideia do que diziam, mas recordo, lá está, com detalhe assombroso (e o assombro vem de não cessar de me pasmar com a minha estupidez já desde tenra idade) esse passeio durante o qual repetia mentalmente até à exaustão: O’neill, Billabong, Quicksilver, Rip Curl, Redley e por aí afora. Era-me vital, de facto, conhecê-las. Ora a minha roupa de surf resumia-se a uma t-shirt da Town and Country oferecida pela minha tia Manuela e a uns ténis Redley. As minhas intenções de me dedicar à prática desportiva correspondiam a uma percentagem de cerca de 0,000001%. Vejo muito isto por aí. Há indivíduos que conhecem muito, citam ainda mais, falam com desmedida propriedade sobre as coisas. (Que coisas? As que quiserem, pá.) Pergunto: e viver meus meninos? Sentir deveras o que apregoam. Com o latejar das artérias; as lágrimas amargas da frustração; a premência do fazer. (O just do it. Estão a ver? O que é que vocês lhe fizeram? Hein?)
Não fazia surf, não lhe sentia o apelo, nem tão pouco lhe vestia a roupa. Mas fingia desalmadamente. Sabe-se lá para caber em quê ou em quem.
Etiquetas: PENSAMENTOS
# Ideia partilhada por Andreia Azevedo Moreira @ 01:00
