quarta-feira, 15 de setembro de 2010

 

Os (tais) 5 em Marrocos


Era hora de ir a São Miguel fazia muito tempo. Mário partira há anos e a saudade que sentiam dele - Carla e Andreia - era uma enorme mão oprimindo-lhes o peito. Decidiram que não podiam adiar mais. Nesse Verão cumpririam a promessa de o visitar na verde ilha. Ele duvidara. Há anos que as desafiava e elas há muito falhavam. Uma acordou um dia e decidiu: "este ano vou aos Açores". Comunicou-o a Mário (que não acreditou que o realizasse deveras), à amiga (que imediatamente anuiu à ideia) e disse ao babe que não admitiria réplicas. Iriam e "prontos".

Seriam, por conseguinte, 5. As duas amigas, os companheiros e Rita, a amorosa menina de 2 anos(a caminho dos 3) que se convencera que a viagem seria a Marrocos.

Quão árduo é arrancar uma ideia da cabeça desta pequena que sai, sem tirar nem pôr, a sua mãe: Carla Nogueira aka Miss ideias fixas e irremovíveis.

Rita crê com desmesurada fé, por exemplo, que o primeiro nome da amiga de sua mãe é "madinha" perfazendo a bela graça "madinha andéia muéia". É certo que ainda não foram à casa do senhor oficializar a relação (o que, abra-se aqui um parêntesis, nem é necessário que aquilo está mais que oficializado e para madinha andéia o que conta é (são) o(s) sentimento(s)), todavia, felizmente para ela, a dita não se chama, de facto, madrinha. Chama-se Andreia. Tão-só Andreia. Isabelinha não aderira às modas das Andreia's Alexandra's, tão costumeiras em 1978.

Estavam todos por demais entusiasmados com a perspectiva de uns dias passados no arquipélago, do qual já tanto tinham ouvido falar. Meteram-se no avião da SATA e ala que se faz tarde. São Miguel com eles. Marinho Abrantes quando os viu, em carne e osso e alguma celulite, há que dizê-lo - não revelamos em quem para não ferir susceptibilidades - ia caindo para trás. Não fora o carro alugado e teriam de se ter debatido com os quase 43 kg que aquele homem de fundos e sinceros olhos azuis arrasta, com dificuldade, em cada dia de existência.

Estavam finalmente na terra amada de tanta gente que lhes é querida. Havia muito para conhecer, trilhos por explorar, lugares a visitar e portanto a melhor estratégia seria, sem dúvida alguma, ir imediatamente para uma praia descansar um bocadinho.

DESTINO DIA 1 - Milícias. Ah. A areia é preta! Ah. É preta. Ah. Preta. (Crrwooooaaaaa - som de papagaio) Ultrapassada a estranheza, Andreia apaixonou-se perdidamente pelo negro areal. O contraste daquela escuridão com os seus pés hipnotizava-a e passava horas fotografando as bases. Certo dia Carla ter-lhe-á dito, embora não tenhamos tido tempo assegurar a veracidade do que se relata:

"Ó Deia pára de fotografar o chulé, olha ali aquela conchinha tão linda."

Guardou um bocado da areia, num saco de plástico, para levar para o continente e virou a objectiva para o mar azulão.

- Ah que ondinhas tão estranhas ali ao longe. Ah.
- Serão golfinhos?
- Serão cachalotes?
- São mais de 20 caraças!
- Ah!

Eram golfinhos. Apenas para AM, é certo, mas eram. Os outros descriam no milagre.

Marinho dizia, olhem que aqui nunca os vi. Andreia padecia de miopia nos dois olhos e ainda assim afirmava, contra todos, "eram golfinhos, eram. Há certas coisas que não se vêem com os olhos, vêem-se com a alma. E golfinhos são uma dessas coisas."

Os amigos entreolharam-se num WTF is she talking about? colectivo e permanecerem crentes que não passara de ilusão de óptica.

DESTINOS DIA 2 - Lagoa do Fogo, Caldeira Velha, Praia de Santa Bárbara, Trilho do Salto do Cabrito, Caldeiras da Ribeira Grande, Jantar n'O Silva.

Não há palavras que descrevam tamanha beleza. (Lagoa do fogo.)

Quem é que se está a mijar aqui pá? Está um calor que já não se pode. E também não se aguenta o cheiro. Vá lá a ver. (Caldeira velha.)

Atravessaram um riacho a pé. Foi maravilhoso. Sentiam-se em fusão com a natureza. Estavam felicíssimos porque esse passeio fora acompanhado pela família do Mário. Maria Odília e Luís dois encantos de pessoas que os receberam como se de família se tratasse. (Salto do Cabrito)

"Só vejo um muro branco. Voltemos para trás! Não deve ser aqui". Mais tarde, já com os locais a orientar, constataram que eram ali, de facto, as caldeiras. Deram nota negativa aos porcalhões que se dedicavam a atirar lixo para a água fervente. (Caldeiras da Ribeira Grande).

Venha de lá o albacora ou que é. Comeram, beberam, riram e fingiram que haviam de continuar em convívio diário para sempre. (O Silva)

Eis que este narrador abrevia, ainda mais, porque um romance de 777 páginas seria incapaz de transmitir o que uma viagem destas representa. Experiência(s) semelhante(s) vive(m)-se. Tenta-se o relato, ok. Mas e as sensações? Os vibrares? Só vivida se pode saber, por muito mérito que se atribua a esses que dedicam a vida às canetas (teclas e afins).

DESTINOS DIA 3 - Morfaram uma data de queijadas da ilha. (Boas mas boas!) Fizeram snorqueling no ilhéu de vila franca com os oculinhos sportzone comprados a bom preço para viagem anterior; almoçaram um peixinho que era uma vergonha, num restaurante à frente da marina, enquanto barcos carregadinhos do dito, chegavam do mar, para o mandar para outros destinos que não aquele restaurante, por certo; desceram à lagoa do Congro, um local de paz e beleza únicos, envolto em silêncio arrebatador que impunha algum respeito; passaram na Caloura na senda de um mergulho de fim de tarde, que se revelou impossível e acabaram a jantar no Nacional.

DESTINOS DIA 4 - Ribeira Grande, Porto Formoso, Praia da Ribeira Quente, Furnas, Cozido no Tony's, Poça da Dona Beija e Parque Terra Nostra (onde tomaram banho na imensa piscina central - porque é suposto já que ali se está - incapazes, contudo, de contrariar o pensamento insistente "ca nojo" que se instalara, dada a falta de transparência da água, aliada ao quente asfixiante, e também ao facto de estarem num recipiente aparentemente sem circulação de água e de inúmeros casalinhos estarem, com grande grau de confiança / baixa margem de erro a copular no mesmo espaço.

DESTINOS DIA 5 - Houve certos e determinados elementos do género masculino que puderam fazer cenas muito e muito giras como mergulho e whalewatching. Avistaram mesmo baleias piloto (9m! Não brinquem...), peixes voadores, golfinhos de diferentes espécies e peixinhos coloridos. As restantes, aka gajas, ficaram pela cidade, banharam-se nas piscinas, passearam debaixo de calor abrasador (sem carro e sem passeio para ver baleias, coitaaaaadiiiinhas.) e quedaram-se no jardim António Borges* fazendo tachinhos de comida de terra e flores. Uma especialidade. Reencontraram-se, não à esquina a tocar a concertina - letra, música e esquinas, que Rita muito apreciou, enquanto madinha andéia muéia desafinava e fingia conhecer uma dança tradicional apropriada ao solidó - antes no café central, acabando enfim o dia numa jantarada no Corisco (Ó huguinho tirei a foto da placa para vocês e vosso porquinho da índia).

DESTINOS DIA 6 - Tentaram a lagoa das 7 cidades três vezes (em dias distintos) e em todas as tentativas viram gorados os planos. Uma foto já os prevenira do que havia de suceder, mas nessa altura não entenderam. Só mais tarde realizaram que não haviam de observar essa maravilha da natureza (uma das 7) na qual haviam votado, ainda antes de a ver com os olhinhos da cara. Tomem lá que é para não serem antecipados. Seguiram para os Mosteiros, passaram pela Ponta da Ferraria (onde águas vivas flutuando os impediram do mergulho redentor, pelo qual ansiavam pejadinhos de calor), almoçaram em Feteiras, dormiram a sesta na Praia de Santa Bárbara e uma vez retemperados atiraram-se ávidos nas límpidas águas. Terminaram jantando no Esgalha, não esgalhando, contudo, nem árvores de fruto, nem o que quer que fosse em público, muito menos num restaurante, por serem pessoas de inegável decoro e, obviamente, por haver uma criança entre o grupo, bem como uma mulher que desconhecia o significado de esgalhar.

(Os restantes não quiseram dar-lhe cabo da inocência.)

DESTINOS DIA 7 - Nordeste. Que portento. Paisagens sublimes, assombrosas, que os faziam prever uma força criadora dotada de extremo bom gosto e sensibilidade. Ribeira dos Caldeirões; Povoação; Caloura - banhos finalmente!; Jantar em Lagoa.

DESTINOS DIA 8 - Último dia. Com alguma tristeza a sussurrar-lhes dedicaram-se à ilha como se fosse a última vez. Foram onde puderam, fazer o que ainda não tinha sido feito (comó outro dos óculos escuros) e aproveitaram o mais que conseguiram as últimas horas na ilha e perto dos amigos (ainda que gostassem de ter dado muitos mais abraços. A cena de as pessoas terem de trabalhar/estudar aos dias de semana deram-lhes cabo do estreito convívio ansiado.

Nota 20 à porreiraça da senhora da residencial que os deixara ficar até à última com os quartos de maneira que fruíram esse dia como se não fosse o último.

Despediram-se com o nó na garganta de quem não sabe quando se revê, respondendo à pergunta sábia de Mário Abrantes "E o que é que se faz à saudade?" com a reposta do próprio, não menos iluminada: "Guarda-se na cabeça.".

Beijos, abraços, apertos, até já's!

Avião de regresso.

Ora de tudo o relatado o que é que falta ainda deixar registado? Que vieram com os D.A.D. em turística no avião. Verdade. A crise anda aí e a banda já não tem a fama de outrora. Regressavam do festival "Maré de Agosto" que decorria nesse fim-de-semana em Santa Maria.

Carla questionava: Quem?
Deia respondia: Os DAD! Aqueles do "cause I'd like to share my point of view..." - Enquanto confirmava entredentes com Sérgio. Ó pá são mesmo eles? Tens a certeza?

(Não tinha. Confirmou em casa, no youtube.)

Carla: Ah... Não estou a ver.
Deia: Mas não é porque canto mal pois não?
Carla: Não! É que não ouço música há muito tempo. Tu és um rouxinol, não te preocupes.
Rita: Eu quéo as chavininhax tá béim? Dá-me a tua chavininhá!
Tiago: Quem? Não ouço. Que dizem? Quem?
Sérgio: Tenho tanto sono mas não consigo dormir. Zzzzzzzzzz... Estou com alguma dificuldade zzzzzzzzzz em passar zzzzzzzzzzzz pelas brasas zzzzzzzzz.

(Avião aterrado. clap clap clap clap. Há quem ainda bata palmas nesta era de omissão de sentimentos.)

Espera pelas malas de quase 45 minutos.

Rita, a nossa menina, lança a pergunta que se impunha e talvez a única que verdadeiramente importasse:

Ó mãe chá chigámox ao Marrocox?


* Errata by Marinho Abrantes (Tinha um Coelho a mais...)

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Comments:
Muito bom! :))
 
Muito bom!! Mas não eram golfinhos .... :) beijinhos

Papá Nuno
 
Vocês não sabem pá. Eram sim sra. E tenho dito. :) bjinhos e fico feliz com a visita ó pai nuno.
 
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