sábado, 22 de janeiro de 2011

 
Querido João,

Hoje é o dia que desejávamos não ter marcado no calendário. Decorreram 730 dias desde esse instante decisivo em que te ausentaste dos teus. A vida continua para todos os que te amavam embora parte tenha, é irrefutável, morrido contigo.

A alegria volta um dia, é certo. Todavia, jamais será a de outrora: inteira. Aquela que podia ser partilhada a mirar-te os olhos e o sorriso franco.

Penso muitas vezes quão dura é a vida pela frente suportando tamanha saudade. Não se trata de piedade pelo sucedido o que sinto observando a tua bonita família quando com eles convivo, pressentindo-os perenemente amputados. Antes uma profunda admiração.

(Re)Ergueram-se e resistem apesar dessa dor tão grande que hoje é dizer o teu nome. Revolta. Também a sinto. Não há sentido para uma perda assim. Perda maior a tua, que apreciavas a existência e vivia-la pleno e leve, como quem sabe, de facto, que cada dia tem de ser relevante.

Essa é a lição maior querido João. Num segundo tudo (nos) acaba. Há que relativizar tudo quanto nos acontece. Nenhum tormento justifica que desperdicemos esta dádiva que é estar vivo.

Um abraço para ti, homem grande por fora (dentro ainda maior) desta amiga da tua mana do meio que te há-de recordar até ao último dia.

Contamos 730 dias e a incredulidade mantém-se.

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