segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

 

Facciosa me confesso:

Não me é fácil sugerir a leitura de um livro que me custou muito a ler. Contudo, ao terminá-lo, fiquei com a sensação que a culpa não seria do livro, antes minha. Talvez não lhe tenha dado a atenção merecida. Parece-me ter desperdiçado boa prosa por falta de concentração ou assim. Em calhando ainda o volto a ler.

(O que se me afigura, no entanto, impossível dada a quantidade de volumes interessantes que me aguardam na estante.)

(Até os ouço: yuhuuuuu deia! Estamos aqui!)

NETHERLAND TERRA DE SOMBRAS

Ninguém duvida que havia o mundo como (julgávamos que) conhecíamos antes do 11 de Setembro e outro que passámos a conceber após a fatídica data. Netherland - Terra de Sombras (2008) de Joseph O’Neill (1964) não é um livro sobre o 9/11. Encerra, contudo, narrativa assente no brutal acontecimento, na medida em que nos relata o que (se) desencadeou numa família afectada indirectamente pela tragédia.

Hans van den Broek, o protagonista, fala-nos na primeira pessoa desse período de tempo que sucedeu à queda das torres gémeas e em que foi, pela primeira vez na sua existência, infeliz.

Não raras vezes as pessoas vivem adormecidas, considerando-se estáveis, quando na realidade se limitam a calar dúvidas, temores, vontades, em rotinas de apatia, conhecidas e mornas. Eis que um qualquer evento vem perturbar essas vidas, abalando alicerces e convicções. É então que ocorre(m) a(s) mudança(s).

Para Rachel, mulher de Hans, o facto de terem sido obrigados a abandonar temporariamente a sua casa em Tribeca obrigou-a a confrontar-se com o já não lhe ser possível regressar ao quotidiano de outrora. E isso não se deveu tanto ao medo que o ataque terrorista lhes impôs, quanto à constatação de que a vida acomodada dos últimos anos deixara de fazer sentido, sobretudo tendo um filho a quem deviam mais verdade.

Assim se separam Hans e Rachel. Ela regressa com Jake a Londres, a pretexto da insegurança crescente nos EUA. Ele, perdido, permanece em Nova Iorque tentando manter uma qualquer lógica para o seu interior então desfeito.

É nesta fase de desnorte, durante um jogo de críquete com a equipa de Staten Island que integra, que Hans trava conhecimento com Chuck Ramkinsoon, um fura-vidas por excelência para quem não existem impossíveis – Aspira à criação do primeiro clube de Críquete de Nova Iorque. - e cujo lema é “pensar fantástico”. Nasce uma simbiose inverosímil entre estes dois imigrantes. Hans é holandês e Chuck de Trindade. Também as restantes personagens com quem os iremos acompanhar provêm das mais díspares nacionalidades. É-nos assim contada uma outra versão daquela cidade, em que as diferenças culturais que levam à segregação dos que não lhe pertencem nos são reveladas, como o é o admirável sentimento de camaradagem estabelecido entre os pares quando experienciam a marginalização.

Percam-se com Hans nos esquemas de Chuck e descubram se o primeiro se chegou a (re)encontrar consigo mesmo e com os seus.

100 BPM – Ficarão com vontade de conhecer Nova Iorque. Requisitar numa biblioteca. Lê-se bem em 3 ou 4 tardes.

PUBLICAÇÃO ORIGINAL AQUI.

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