sexta-feira, 24 de junho de 2011
As ondas - Virginia Woolf
Quedo-me em contemplação. Defronte o mar. Imenso azul. AS ONDAS rebentam calma e ininterruptamente. O som líquido cadenciado embala-me. Concebo que as vagas se assemelham, todavia, cada rebentar irrepetível. Como nós. Únicos na nossa (dis)semelhança. Deito-me. Sou submergida. Deixo-me ir com a corrente. Não morro de imediato. Entro noutro meio. Abdico do oxigénio que me asseguraria a sobrevivência como a conheço. Respiro literatura. Sou ligada à máquina (de escrever) de Virginia Woolf (1882 – 1941) sendo-me doce a extinção porvir. Há vida depois desta escritora. Existência maior porque mais plena. Seis vozes se nos revelam por uma sétima “anónima”. Ou, dar-se-á o inverso e essa é-nos desvendada quando nos confrontamos com as restantes: Bernard, Rhoda, Neville, Louis, Susan e Jinny. Seis ondas e respectivas idiossincrasias. Com eles fui circulação. Sangue pulsando nas veias de personagens complexas. Como se fora possível conhecer-lhes(nos) deveras o âmago, os órgãos, a(s) dor(es).
“As experiências da vida são incomunicáveis e é essa a causa de toda a solidão e de toda a desolação humana.” (Pág.125)
“Por um instante vimos entre nós o cadáver do ser completo que não tínhamos conseguido ser, mas que ao mesmo tempo não conseguíamos esquecer.” (Pág.222)
“Deus seja louvado por esta solidão que me libertou da pressão do olhar, da solicitação do corpo, da necessidade da palavra e da mentira. (…) Deixem-me ficar aqui para sempre, entre estas simples coisas, esta chávena de café, esta faca, este garfo, coisas em si, que me deixam ser eu.” (Pág. 237)
Publicação original AQUI.
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