sexta-feira, 23 de setembro de 2011

 

AS REUNIÕES LÁ NA PARÓQUIA

A menina tinha nove anos e crescera temendo o Inferno.

- Olha o Inferno! - Dizia-lhe a avó e ela acreditava.

- Preciso de me baptizar. Urgente. - Informou os pais resoluta.

A menina tinha nove anos e ia, finalmente, receber o primeiro sacramento esperançosa de escapar ao Inferno.

- Ó Vó! O que é o Inferno? - Não lhe ocorrera, jamais, perguntar. Assumiu de imediato que deveria ser qualquer coisa maligna e a evitar.

Houve algumas reuniões em que pessoas sérias falavam sobre assuntos graves, muito direitas, como se houvesse competição para aferir qual o mais aprumado. O senhor prior, no princípio de cada uma, torcia e puxava o papo à menina enquanto lhe perguntava se, se portava bem. 

(Ninguém a desproveu, entretanto, da convicção que a força que o careca empregava, no cumprimento, era de tal maneira desmesurada que fora o responsável pela papada que, ainda hoje, lhe circunda a carinha laroca.)

Discutiu-se o amor como se pudesse ser debatido o mistério maior. Perguntaram ao casal "feliz" se, se amavam mais depois de 11 anos de casamento, ou no princípio de tudo.

ELE: AGORA.
ELA: ANTES.

Não era importante que o que ele afirmava fosse mentira e que ela tivesse dito, mais ou menos, o que lhe ia dentro ao nível do estômago.

As palavras tinham sido proferidas perante terceiros.

ELE: (E)s(t)ou humilhado. Porque não mentiste?

ELA: Lamento a dor. Não sei representar. Vivo em crueldade.

A reunião acabou e quem fizera a(s) pergunta(s) parecia satisfeito.

Os dias que se sucederam foram feitos de um silêncio avassalador para a menina, que perdera a certeza de não querer ir para o Inferno.

Moral da história: No que toca a celebrações na Igreja, é muito importante que se falte às reuniões.

Epílogo - Isto veio a ser(-lhe) de extrema utilidade quando, décadas mais tarde, uns e outros lhe tentaram impingir aulas para aprender a (con)viver com a pessoa com quem já dividia a vida há anos. (Em pecado, claro está. Diz que a menina nunca, mas nunca, se há-de livrar de ir parar com os costados ao dito Inferno. E ainda bem.)





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Comments:
A menina que deixe lá, não se preocupe. O mais provável é que estejam lá todos os que lhe são queridos ;)

Olha te digo, não é caso para *tremeres com medo do Inferno!! Eheeheh! Juro!!!
 
LOLOLOL. Tens um pacto com o demo pá! Só pode. bj bj bj
 
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