sábado, 1 de outubro de 2011

 

Ruminações no regresso do Café com Letras com Maria Teresa Horta.

Dizer aos meus que os amo.
Diariamente.
Relevar mágoas, atritos, ressentimentos.
Amiúde.
(Revelando-se-me exequível, sempre.)
Procurar quem me ensinou coisas importantes e agradecer(-lhe):
Hoje.
Mergulhar nesses olhos azuis, por ora destapados, – Ocultos a maior parte do tempo, para que lhe não conheçam da alma mais do que deseja. – num OBRIGADA POR ESTE LIVRO. (Não, ainda, o que veio apresentar.)
Pelas reflexões que me proporcionou; as explicações factuais das coisas, até então, somente pressentidas; pelas luzes. (Não, ainda, as de Leonor.)
Obrigada por me terem demonstrado que este incómodo de ser mulher pode ser força. Pode ser grito. Pode ser caminho.
Não abismo.
Não impossibilidade(s).
Não é qualquer circunstância o que me tolhe os movimentos.
Sou quem me exciso.
Empunho a cortante preguiça.
Desisto sem principiar.
Arquitecto o álibi do meu suicídio.
(A culpa não é minha. A culpa é daqueloutro. Eu cá fazia. Mas…)
(Tretas.)
Sangro(-me).
Muito mais fácil tombar.
Privo-me do prazer imenso que é ser, sem castrações.
Julgo. Aponto. Falo dos outros falando de mim. Condeno-os, porque me condeno.
Ser. Devia ser(-me) mais simples.
Não foi.
A imobilidade cansou-me porque me não é natural. Governou-me o medo.
Hoje é o dia em que dou um passo.
Digo “É.” ao invés de soluçar “Espero…”
Não há vida cansativa o bastante para extinguir quem se não cansa de arder.
Ardo, pois.
Abriram-se-me grades no cérebro quando vos li, três Marias.
Corri engasgada de alegria angustiada, para fora do cárcere em que me permiti morar.
Premente dizer-lho encarando-a.
Um privilégio ter uma das três defronte.
Aspecto frágil, todavia, rochedo.
OBRIGADA.
(OBRIGADA.)
(OBRIGADA.)
O Vosso livro caiu-me no peito com o peso das revelações e tornou-o leve. Respirável.
Num momento em que fui engolida pelo colo que me demandavam e não estava certa de poder dar.
Temi desaparecer.
Assumir múltiplos papeis. Não passa disso. Tê-los. Abraçá-los. Vivê-los.
Cá dentro o mesmo turbilhão, a gana manteve-se.
É indelével.
Sim posso ser “Minha senhora de mim” (A ler, claro está.) sem renunciar a quem de mim, por ora, depende.
Não renuncio a minha carne. Não silencio a minha voz.
Compatíveis assim o queira.
Louca. Histérica. Bruxa. Egoísta. Puta.
Maldade é feminino.
Sobranceria. Mentira. Vaidade.
Quis ser boa,
Bem comportada.
Irrepreensível.
Para quê? Para quem?
Essa pele já não me serve.
Quietude.
Berros.
Conflito(s).
Contestação.
Enxotar o medo dos ombros.
(Pesa muito.)
Não calar.
Gritar enquanto não aprender a transmitir serena o que me move.
Enquanto houver disparidade(s) agressora(s), ou se disser “Não podes!” sob dissimuladas razões.
Enquanto se não derem OPORTUNIDADES IGUAIS, ninguém é livre.
Homens. Mulheres. Pessoas.
Pessoa é feminino.
E humanidade.
E dor.
E coragem.
E asfixia.
E ternura.
E amizade.
E alegria.
E violação.
E felicidade.
E lágrima.
E música.
E força.
E verdade.
E poesia.
E arte.
E literatura.
E persistência.
E criatividade.
E beleza.
E sensibilidade
E morte.
E vontade.
E vida.
E LIBERDADE.
Que me importa o ridículo do quanto manco, agora que me pus a andar?
A(s) voz(es) de fora?
Porque me hei-de amedrontar ante o(s) vazio(s) do(s) outro(s)?
O(s) temor(es) do(s) outro(s).
A crueldade do(s) outro(s). (Não mais certeira que a minha.)
Quem me impediu, até agora, de caminhar?
Outrem?
Não. Eu.
Eu?
Já não estou aqui,
Voo.
Vou.
Sou.
Até já.

Andreia Azevedo Moreira a contraditória.
28/09/2011 – 23h45.

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