sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

 

A noite das mulheres cantoras – Lídia Jorge - Deia na GERAÇÃO C


Quanto valem os nossos objectivos? Qual o limite do valor, que nos dispomos pagar, para os concretizarmos? Para Gisela Batista o fim justificava quaisquer meios e a pujança da sua convicção enleou, irremediavelmente, quatro companheiras num sonho comum: alcançar a fama com um conjunto de mulheres cantoras. Nani e Maria Luísa Alcides, Madalena Micaia e Solange de Matos subjugaram-se às vontades da obstinada mulher. Importava que as ApósCalipso gravassem um vinil, invadindo a banda sonora da vida das pessoas com as suas canções. Toadas que deveriam tornar-se êxitos inolvidáveis, destinadas a marcarem décadas. É Solange, num monólogo, quem nos dá conta do sucedido, no final dos anos 80 do século vinte. Entre o 16/11/2009 e o 23/11/2009 escrever-nos-á sobre o que recordou ao participar, três meses antes, num programa de televisão em que Gisela Batista fora protagonista. «A Noite Perfeita». Nessa reencontrou-a, às antigas colegas e ao seu primeiro desmedido amor, João de Lucena, o coreógrafo.

Vinte e um anos atrás, Solange era uma estudante de 19 anos na Universidade Nova. Vivia num quarto alugado, perto do Campo Pequeno, deslocada do Sobradinho - Onde viveu com os pais depois de regressarem do Gurué (Moçambique). - e dos outros. Fazia rimas. Questionava. Sonhava. Quando as irmãs Alcides, a quem idolatrava em silêncio, a desafiaram para participar num projecto musical, escrevendo-lhes as «lyrics», ficou incrédula e embarcou na aventura mais por curiosidade, do que por fé.

Assim conheceu a «maestrina» (Gisela) e o rumo da sua existência alterou-se. A ambição incrustou-se-lhe à pele. A obsessão pelo estrelato cresceu. A expectativa, como a fome, comprimia-lhe(s) o estômago.

Não se tratava de quatro inocentes e um algoz. Todas se comprometeram até à alma. Todavia, Gisela detinha os meios financeiros, o que a colocava em vantagem, perante as demais. Pelo sucesso sacrificaram amores, o corpo, a maternidade, até uma vida.

Neste romance (Dom Quixote, 2011) Lídia Jorge (1946) transporta-nos ao âmago do(s) «império(s) minuto» - Expressão sua. Brilhante. - Momento(s) com tanto de esplendoroso, como de efémero. Trata-se de enredo que situaríamos, sem dificuldade, no presente. Haja vontade, dinheiro, contactos e “milagres” acontecem, mesmo se num grupo de cinco a única com reconhecível talento para o canto fosse Madalena Micaia. Revelou-se suprível.

Quando as luzes da ribalta ofuscam e sair do anonimato é mais importante do que respirar, afigura-se árduo discernir se o que parece o é deveras e se há mérito no que se alcança.

Afortunada? Título do single em que Solange depositava maior esperança, era a sua mãe que entendia que «Somos apenas o bem que fizermos aos outros, o resto não vale coisa nenhuma…» (Pág.259)

110 BPM – Numa era em que mostrar se revela o mais importante, este livro propõe-nos uma interessante reflexão sobre as prioridades que se estabelecem para a vida. Tinha dificuldade em separar-me dele. Sugerir a leitura.

Post-scriptum: Aproveito este espaço para divulgar uma iniciativa da revista LER. Intitula-se LER15_25 e destina-se a todos os jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos que queiram partilhar com os leitores da publicação a sua escrita, fotografias e/ou ilustrações. Não percam tempo! Cultivem a vossa criatividade e desenvolvam o(s) vosso(s) talento(s).

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Comments:
a culpa é tua. quem te manda fazer críticas tão apelativas e apaixonadas? agora tens de emprestar :)

beijinhos
 
POIS CLARO QUE EMPRESTO Ó! POIS CLARO! HAJA ALGUÉM Q ME DIGA: OLHA LI ISTO POR CAUSA DO TEU TEXTO. :) bjs mulher.

Amanhã é um grande dia hein?!

dois desafios num dia só é muito. O que vale é que Bzuus estarão lado a lado.
 
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