Quero mudar o mundo. Começo pelo mais difícil. Por mim. Viro o indicador na minha direcção e
disparo:
Cala-te. Não critiques os outros. Cala-te. Não fales das vidas alheias. Cala-te. Se não percebes o
que te contam. Ouve. Descobre como escutar. Constrói com as mãos, o que puderes. Não
destruas com língua afiada. As palavras que amas? Armas brancas, quando com malignidade
lançadas. Cultiva o perdão. Como queres acabar com guerras maiores se te agarras, até ao
sabugo, às merdas que te fazem?
Não vires a cara. Sê solidária. Cala-te com o «não me
importo». Diz sim. Desaprende o não. Participa enquanto cidadã. Votar não basta. Informa-te.
Questiona. Concorda. Destoa. Toma posições. Luta se crês. Grita. (E depois sussurra para que te
ouçam melhor.) Aceita, com naturalidade, os golpes dos que não se te assemelham. Que a tua
pele seja urdida a ética e a justiça. Admite que erras. Não te envergonhes quando falhas.
Aprende. Faz a tua parte, ainda que ao redor todos a cuspir papéis para o chão. Constrói a
sociedade que queres, a partir de ti. Estás só? Ri-te. (Exagera.) Olham-te com estranheza?
Gargalha e continua.
Chega de comer carne, ou usar produtos que não verificas se são, ou não,
testados em animais. Partilha o que sabes. Aprende com todos os que se cruzam contigo. Lê os
livros das tuas estantes e os das bibliotecas em que, até agora, não entraste. Compra os
demais nas pequenas livrarias, para que outra(s) Trama(s) não feche(m). Escreve o livro,
parado há três anos. Poupa água e electricidade. Agradece o privilégio de as ter à mão. Recicla
sempre. Ainda que se trate, tão-só, de um iogurte do lanche no escritório. Estaciona a viatura.
Anda a pé e de bicicleta. Voluntaria-te. Não tens tempo? Inventa minutos, horas, dias. Forja
vida antes que se te acabe o fôlego.
Abdica do medo de perder. O que guardas, com ardor, não
é deveras teu. Aprende a dar. Estende as mãos. Ajuda outrem a ter acesso à Cultura. Confessa
os amores que te consomem. (Os platónicos também.) Abraça a diferença, ainda que te agrida.
Esforça-te por observar, quaisquer circunstâncias, sob outros pontos de vista. Cuida dos teus e
dos que não têm quem os afague. Cala-te com o «sou só uma», «sou pequena». Se quiseres,
podes. Se quiseres muito, não deixas que o cansaço te vença. Se quiseres mesmo, és polvo com
tentáculos a chegarem a tudo quanto te proponhas.
Não tentes mudar os outros. Preza a
liberdade de todos, sem excepção. Sê para o teu filho um exemplo de tolerância. Aplaude de pé
concertos, peças de teatro e filmes que te falem por dentro. Fode muito que te faz bem à pele e
à alma. Diz «foder» se gostas do vocábulo, sem t(r)emer (com) o que pensem de ti. Guarda o
pudor no bolso para usar q.b. A autocensura é o primeiro passo para viveres refém e
agrilhoares quem te rodeia. Dança e corre, quando te sentires alegre. Que a felicidade se
espalhe à tua volta. Não impinjas o teu modo de pensar. Tens a mania de o fazer. Corrige-te.
Continua a escrever à mão. Finge que não existe o Acordo Ortográfico de 90 que te roubou um
“c” a ACÇÃO. Continua a acreditar. Não desistas. Age. Este é o teu lugar.
Fala:
Quero mudar o mundo, torná-lo mais respirável e quero que as pancadas de Molière voltem a
soar solenidade, nos palcos dos teatros que amo, antes de cada peça que beijo.
Andreia Azevedo Moreira,
20 de Janeiro de 2012 para o Coro das Vontades - Teatro Maria Matos
PAM!
Etiquetas: AGIR, ALENTO, ESCRITA, MUNDO MELHOR
# Ideia partilhada por Andreia Azevedo Moreira @ 07:00
