sábado, 14 de julho de 2012

 

CORO DAS VONTADES - «MUDAR O MUNDO» por Andreia AM (Euzinha)

Quero mudar o mundo. Começo pelo mais difícil. Por mim. Viro o indicador na minha direcção e disparo: Cala-te. Não critiques os outros. Cala-te. Não fales das vidas alheias. Cala-te. Se não percebes o que te contam. Ouve. Descobre como escutar. Constrói com as mãos, o que puderes. Não destruas com língua afiada. As palavras que amas? Armas brancas, quando com malignidade lançadas. Cultiva o perdão. Como queres acabar com guerras maiores se te agarras, até ao sabugo, às merdas que te fazem?

Não vires a cara. Sê solidária. Cala-te com o «não me importo». Diz sim. Desaprende o não. Participa enquanto cidadã. Votar não basta. Informa-te. Questiona. Concorda. Destoa. Toma posições. Luta se crês. Grita. (E depois sussurra para que te ouçam melhor.) Aceita, com naturalidade, os golpes dos que não se te assemelham. Que a tua pele seja urdida a ética e a justiça. Admite que erras. Não te envergonhes quando falhas. Aprende. Faz a tua parte, ainda que ao redor todos a cuspir papéis para o chão. Constrói a sociedade que queres, a partir de ti. Estás só? Ri-te. (Exagera.) Olham-te com estranheza? Gargalha e continua.

Chega de comer carne, ou usar produtos que não verificas se são, ou não, testados em animais. Partilha o que sabes. Aprende com todos os que se cruzam contigo. Lê os livros das tuas estantes e os das bibliotecas em que, até agora, não entraste. Compra os demais nas pequenas livrarias, para que outra(s) Trama(s) não feche(m). Escreve o livro, parado há três anos. Poupa água e electricidade. Agradece o privilégio de as ter à mão. Recicla sempre. Ainda que se trate, tão-só, de um iogurte do lanche no escritório. Estaciona a viatura. Anda a pé e de bicicleta. Voluntaria-te. Não tens tempo? Inventa minutos, horas, dias. Forja vida antes que se te acabe o fôlego.

Abdica do medo de perder. O que guardas, com ardor, não é deveras teu. Aprende a dar. Estende as mãos. Ajuda outrem a ter acesso à Cultura. Confessa os amores que te consomem. (Os platónicos também.) Abraça a diferença, ainda que te agrida. Esforça-te por observar, quaisquer circunstâncias, sob outros pontos de vista. Cuida dos teus e dos que não têm quem os afague. Cala-te com o «sou só uma», «sou pequena». Se quiseres, podes. Se quiseres muito, não deixas que o cansaço te vença. Se quiseres mesmo, és polvo com tentáculos a chegarem a tudo quanto te proponhas.

Não tentes mudar os outros. Preza a liberdade de todos, sem excepção. Sê para o teu filho um exemplo de tolerância. Aplaude de pé concertos, peças de teatro e filmes que te falem por dentro. Fode muito que te faz bem à pele e à alma. Diz «foder» se gostas do vocábulo, sem t(r)emer (com) o que pensem de ti. Guarda o pudor no bolso para usar q.b. A autocensura é o primeiro passo para viveres refém e agrilhoares quem te rodeia. Dança e corre, quando te sentires alegre. Que a felicidade se espalhe à tua volta. Não impinjas o teu modo de pensar. Tens a mania de o fazer. Corrige-te.

Continua a escrever à mão. Finge que não existe o Acordo Ortográfico de 90 que te roubou um “c” a ACÇÃO. Continua a acreditar. Não desistas. Age. Este é o teu lugar.

Fala: Quero mudar o mundo, torná-lo mais respirável e quero que as pancadas de Molière voltem a soar solenidade, nos palcos dos teatros que amo, antes de cada peça que beijo.

Andreia Azevedo Moreira, 20 de Janeiro de 2012 para o Coro das Vontades - Teatro Maria Matos


É HOJE! - Dia do Manifesto

Às 20h30 o CORO das VONTADES

Folha de Sala (Manifesto as minhas vontades na página 28.)

PAM!


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Comments:
É assim mesmo!! Gostei tanto!
 
Obrigada Teté! Por leres e por partilhares o que sentiste. beijinhos.
 
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