sábado, 17 de outubro de 2009

 

ESCRITA CRIATIVA na TRAMA

É verdade fiz mais um. Começo a ter um vislumbre do que é ser-se agarrado a qualquer coisa. Sou agarrada a isto dos workshops de escrita. Tive a primeira grande pedrada o ano passado, durou cerca de dois meses (Set.08-Nov.09) e pensei que tinha parado por ali. Falso. Quero mais. Veio o seminário de ficção com o FHF e como não há duas sem três, atirei-me a um mini (só naquela de dar um cheirinho) atelier de escrita criativa, neste espaço que eu adoro, com esta formadora com ar de menina que muito me ensinou: RAQUEL OCHOA. Um doce de pessoa e além disso uma excelente formadora. Certeira, sensível, perspicaz ou não passasse grande parte do seu tempo em viagem a v(iv)er os outros. O que é que este atelier te trouxe de novo? interrogam-se vocês por certo. A crítica objectiva de que tanto necessito. A orientação. O "isto sim", "isto nem pensar. Deixa-te disso." Os ponto fortes e sobretudo os pontos fracos. Onde preciso estar atenta. O que tenho mesmo de corrigir. Enfim um salto libertador para fora do meu mundinho, onde nem sempre me consigo abstrair do inato egocentrismo de filha única e um indício de possibilidade de evolução. Agora depende de mim, do meu esforço, da minha força de vontade, do meu nunca desistir e querer sempre aprender mais. E eu quero. Muito. E "Querer muito é poder."

Fica o TPC corrigido depois da crítica construtiva que lhe foi dirigida. Não sei se fui bem sucedida na correcção. Sei que dei o meu melhor.

Umberto Eco: “À primeira vista não passava de um ser que juntara o seu corpo humano a uma cabeça equina, com cauda de sereia e escamas de serpente.”

Exercício: O que aconteceu a este homem para se transformar nesta criatura?

VESTIR OUTRAS PELES

Aquele homem era mais do que uma simples aberração. Era o brinquedo de um deus sardónico que o conjugara assim. Corpo de homem, cabeça de cavalo, cauda de sereia, escamas de serpente, para puro entretenimento. Egoísmo de uma divindade obscura. Não se importara sequer em desprovê-lo de inteligência. O sofrimento seria menor, desse-se o caso da mente ser de peixe. (E ainda assim não podemos saber.) Não. Dera-lhe o cérebro de um mamífero inteligente: bravo porém dócil, subjugado por benigno feitio mais do que por incapacidade de se rebelar interiormente. Tinha ideias de liberdade aquele pensamento de cavalo. Recordava as vidas em que fora cavalo inteiro e corria veloz por planícies imensas. Tempo em que as quatro patas não haviam sido trocadas por uma cauda de sereia. Não assumamos que apenas a cabeça tinha a faculdade de entender o crasso erro cometido na criação.

Também o peito humano se oprimia, acusando o desacerto. Recordava amores antigos e outros nobres sentimentos da pessoa de outrora, irremediavelmente perdidos - embora recordados pela irrefreável e perene angústia - porque inadaptados à mescla que era hoje. A cauda de sereia constituía a materialização suprema da ironia divina. A cauda de um inefável ente feminino como único meio promotor de movimento ao viril, embora agrilhoado, ser masculino. Que género atribuir a tão confusa criatura? Considerando apenas a morfologia do sexo dir-se-ia feminino, pois se a sereia é tida como mulher sedutora, ainda que aberrante. Mas se a metade que define o sexo é peixe e se peixes há hermafroditas, em que ficamos? Ficamos confusos. Imagine-se o desventurado ser. Cada parte de si uma vontade e díspar das restantes. Sofrimento atroz.

Apenas as escamas cumpriam o seu papel protector do todo, e se sentiam (se é que uma escama pode sentir), de certa forma, satisfeitas com a própria existência.

A criatura não se sentia bem na sua pele, que vestira por castigo do criador e não por vocação. Pelo contrário, a epiderme cumpria solitária e impassível a função para que fora criada, sem se apiedar das outras partes que tinham de ser o que não (se) sentiam e as quais, paradoxalmente, defendia.

Andreia Azevedo Moreira
11 de Outubro de 2009.

P.S. Atentem na nova etiqueta: FORMADORES ESPECTACULARES. Tem efeitos retroactivos portanto o meu grande bem haja para cada um (modo aleatório): Raquel Ochoa, Luís Filipe Borges, Filipe Homem Fonseca, Susana Romana e Nuno Costa Santos. (Diz que gostei de todos os que conheci até aqui. Cada um especial à sua maneira e cada um, o respectivo contributo para que eu seja melhor.)

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Comments:
Já tinha dito mas repito porque nunca é demais: Está muito bom! grande criatividade! grande jogo com as palavras! estás cada vez melhor amiga!

e eu cada vez meto mais nojo com as exclamações...eh eh eh...caguei! :D

beijos muitos
 
eh eh eh eh. E olha que o Senhor Mexia que tanto aprecias ainda te puxa as orelhas. Ele não gosta de berros. Eu cá gosto de ti à mesma. hi hi hi. bjinhos lindinha. =)
 
P.S. E obrigada pelo apoio!!!!!!!!!!!!!!!! (ooopsss)
 
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