quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

 

Mexia queridinho, sou eu outra vez. (Dreia Meia)

Acabei, há uns dias, de ler o “Nada de dois”:

Cito-te para te dizer o que penso, no geral e também em particular*, destas seis peças de teatro que criaste:

“Não sejas assim** maravilhoso” connosco, pá. Li-o e reli-o de imediato, só para ter a certeza. E tive-a. Despretensiosas e brilhantes. (Mesmo naquelas partes em que o Vasco resolve mostrar que é culto. Mesmo nessas, as considero despretensiosas e brilhantes. Não deixo, no entanto, de crer que é de uma grande indelicadeza e pequenez ostentar-se a cultura, ou qualquer outra coisa que nos sobeje, com o intuito de inferiorizar outrem. Não é, estou certa, o teu caso.)

Sabes? Em 2007 fui assistir à “URGÊNCIAS”, no Maria Matos. Nessa altura, não alcancei tão bem o que “tinhas de urgente para me dizer” com Genebra e 1963. Mais, não estou certa dessas 2 terem feito parte dessa edição a que assisti. A pessoa (esta) ouve avidamente as palavras. Algumas conseguem reter-se. Outras perdem-se, na emoção do momento. Embora seja incontestável que deixam marca indefectível. Aquela que nos faz dizer muitos anos depois: Que grande peça! Aliadas as palavras aos actores, às encenações, etc. e tal, claro. É por isso que acalento, ainda, a esperança de reunir todos os textos, de todas as peças de teatro que falaram comigo, até hoje. – Esta tarefa vai para a bucket list que hei-de fazer e que também tem de ir para a bucket list, que o tempo não sobra. – Ora, estou mesmo satisfeita pela Bzuu me ter desafiado a ir ao lançamento deste teu livro. De outra forma, talvez não o tivesse comprado. (Sim foi a meias, esquece lá isso. Mais vale teres vendido um, que nenhum. E, além do mais, que outra oportunidade terás de escrever uma dedicatória para duas forretas?) Há tanta coisa a chamar por mim nas prateleiras das livrarias... O que interessa, no fundo, é que cheguei até estas palavras e conversei muito com elas. Muito mesmo. Mas digo-te Mexia, queridinho, que tomei uma decisão: (Vá, deixa-te disso do “what the fuck do I care” e ouve-me, que é como quem diz “lê-me”) Não posso (con)viver com tanto realismo, com essa frontalidade, com tamanho discernimento. Não posso, sob pena de perecer às tuas mãos, isto é, às tuas palavras. Portanto, vou fingir que se trata, efectivamente, de “ficção”, como te tens esforçado por transmitir. Mas não é queridinho. Não é. E digo-to, antes de olvidar que vi ali tanto do que se passa à minha volta e até, dentro de mim. Aquilo é a vida. Crua. É o amor, em todo o seu esplendor e complexidade. Quando dói e/ou nos mutila. Mas também quando nos salva. Aquilo é o tempero dos dias e os dias de derrota, quando os deixamos ser monótonos e banais. Encontrei lá, igualmente, os dias de triunfo. Vi ódio. Senti o que é o desejo. Puro e duro. (Duro o desejo, pá. Não tenho a tua capacidade para ser erótica, sem resvalar do bom gosto). Joana e Vasco: duas pessoas à procura de si “no outro” e com dificuldade extrema em se encontrarem. Joana e Vasco. João e Joana. Luís e Maria. Pedro e Francisco. Maria José e Sofia. Nomes diferentes, vidas semelhantes. Talvez a redenção não exista. Não sei. Não quero saber. A verdade corta. É por isso que parto daqui, tão pouco tempo depois de chegar.

Antes de ir, a resposta à pergunta idiota - “Gostas mais do papá ou da mamã?” - que não me fizeste:

Gosto mais da “EXÉRCITOS” que deu cabo de mim. Por isso tenho de a esquecer. Compreendes? Não se pode viver a saber daquilo tudo. Preciso da “ficção”. É urgente que me iluda para prosseguir. Até porque preciso de me esquecer de ti, assim despido. Ou corarei da próxima vez que te pedir um autógrafo. (Já não peço mais, descansa.) Tens noção que te despiste para nós? Ah e tal é ficção. Está bem... Mas veste-te. Não conto que te vi dessa maneira. Direi aos outros que ficcionaste toda a sensibilidade que perpassa cada uma das peças. Mesmo quando se proferem farpas. (Sensibilidade. Tenho dito.)

Esquecer-me-ei disto tudo, é certo. Mas amanhã. Por agora e passo a citar-te, como no início:

“Vamos ficar.”
“Só mais um bocadinho.”


* Isto é à RAP. RAP sinto sua falta. Quando volta à TV filho?
** O “assim” é “meu”

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Comments:
Eu já estive várias vezes para comprar esse livro, mas depois troco-o sempre por outro - "nada de dois" é também intimidativo. Mas com este teu "despir de Mexia" acho que na próxima visita à fnac trago o dito.
 
Vale a pena Van. Vale a pena! Não há duas sem três dizem... Vale a pena. ehehehehe.

No outro dia no atrama.blogspot o Ricardo dizia: 1+1=1. Lembrei-me logo disso do "nada de dois."

Para mim é um pouco isso. Somos todos 1 à procura do 2 sem o alcançar.

Bjinhos a ti menina.
 
Meu cérebro acordou há pouco, ainda tá torpe para essa matemática criativa, mas vou comprar o livro - a tua recomendação basta ;)

beijinhos



p.s.
 
é o que dá estar a fazer mil coisas ao mesmo tempo, então

p.s. temos que combinar o nosso almoço!
 
Ó minha linda por mim é já amanhã ou ósdepespois. Tens é de avisar para eu não trazer a marmita. Okis?
 
:)

conseguiste pôr por palavras o que senti. a dureza e a veracidade de todas as peças. por isso não consigo escolher uma. tal como tu, ao ler fiquei constrangida por o ler assim despido.
valeu a pena a peripécia adolescente daquele dia :)
ainda bem que fomos

beijos muitos
 
Se não fosses tu não tinha dado corda aos *shewles para ir lá não... Sabes que esses meios me intimidam. ehehehehehehehe.

bjs muitos mas é para ti ó! :)
 
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