quarta-feira, 7 de abril de 2010
A GERAÇÃO-C, eu e "A máquina de fazer espanhóis" do valter
Fui-me sentando pelos cantos da minha incapacidade, sempre perto dos heróis para não perder pitada da trama. Aprendi tanto com eles. Envergonhei-me, outro tanto, por todos quantos ainda lá não chegados se comportam de forma negligente, esquecendo-se que, fatalmente, um dia aí se encontrarão. Só Américo (um auxiliar) os via deveras - Quero dizer: via para além do corpo em decadência. - e os tratava como a amigos. Afeiçoei-me àqueles cinco magníficos, tomando como minhas as suas dores: António Silva, Silva da Europa, Pereira, Anísio Franco e Esteves sem metafísica. - O homem que sobreviveu ao passado, para trazer ao presente dos restantes o enlevo que lhes faltava para que desejassem persistir na existência. - Encantei-me com a enorme riqueza de todas as pessoas a quem o autor dotou de tanta vida, não obstante estarem tão perto do fim.
Personagens deliciosas como Leopoldina a mulher que coça o rabo, para afrontar os “colegas”, enquanto berra “Viva o Porto”, clube do futebolista peruano que a livrara da virgindade. Dona Marta a mulher que não quer conceber a traição e que alimenta um amor ingénuo, devota ao homem que a abandonara ali. D. Glória do linho que, nessa idade improvável, vive o seu primeiro amor. Enrique o português de Badajoz e Medeiros, o homem vegetal que parece conhecer os meandros da geringonça de criar espanhóis.
valter hugo mãe (1971) é magistral no seu ofício. As sensações que provoca, com a sua escrita singela e poética, são físicas. Ri-me às gargalhadas, inúmeras vezes, envolta em ternura. Também chorei, abraçada à angústia. Intuí nas entranhas como há-de ser achar-me velha. Este escritor é de um talento arrebatador e ensinou-me bastante sobre os significados da palavra humanidade.
P.S. Não consigo destacar-vos uma citação. Tenho o livro todo sublinhado. Não percam mais tempo comigo, vão lê-lo.
195 BPM – Inesquecível. A adquirir. Oferecer a um Amigo.
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