quinta-feira, 1 de abril de 2010

 

Um texto antecedendo: outros textos, ideias que ainda não me atingiram e as aulas que, sem terem sequer começado, tanta felicidade já me trazem.

Dissecar textos: fi-lo bastante, no passado. Tinha de o fazer. Eram as regras do ensino. Eis que não pretendo persistir n(ess)a violência. Pessoalmente, tão exaustiva análise é como ir explicando beijo a beijo, toque a toque, urgência a urgência, o que faço, ou o que alguém antes de mim realizou.

Olha, agarro-te o cabelo junto à nuca. Sentes? A dor que, embora sofrimento, agrada. Gostas? Que to puxe com força, como se o quisera tanto como te quero. Respiro-te. Inspiro e sustenho o ar para te reter num desespero. Repara. Nota como te conheço e te percorro onde precisas. É disto que careces, não é? A minha língua, o teu pescoço e a linha fictícia que me precipita para o épico cume da imaginação. Esse delírio que engulo sentindo cócegas na barriga, por causa das vertigens que este nosso desassossego provoca. Concordas com isto que digo? Admites que quando te sussurro “aquilo” ao ouvido é para que só tu possas saber o significado do meu calor no teu. Compreendes que se te agarro com tamanha firmeza, numa cadência obstinada é, tão só, porque sou egoísta e quero ter sucesso nisso de te fazer rir quando chegas? E não é bom? Questiono-te. Responde. Ordeno-te. Eu sinto que é muito bom, mas e tu? Que pensas? Ah. Não dizes? Remetes-te ao silêncio, portanto. Falo demais? Palavras a tropeçarem no suor. Pensamentos que se interpõem aos corpos e esses a desligarem-se. Que é do ardor? Porque me olhas de fora? Porque paraste com os beijos? Fiz com que arrefecêssemos... Perdoa. Recomeçamos a dança? Eu quero. Quero muito. E tu? Anseia-lo tanto quanto eu? Arranjamos uma régua que meça o desejo? Perdemo-nos por quantos centímetros? Não sabes? Não queres saber? Porquê? Não é importante termos tudo em pratos limpos? Tudo medido. Quantificado. Cheiras muito bem. Gosto imenso das tuas mãos. Onde é que vais com elas? Aí? Pode ser. Sim, sim. Aí sim. É bom é. É teu, agora, o mergulho. E eu fico à tona, a ofegar, à tua espera, teimando sobreviver a este afogamento conjunto. Regressas, estamos molhados e dizes-me coisas. Falas-me disso porque queres que eu sinta aqueloutro? Será? Então está bem. Eu sinto. Vislumbro. Percebo. Espera. Agora estou eu com frio. Perdi-me entretanto. Dizias? Explicavas-me detalhadamente o que fazíamos e eu acabei por me esquecer porque o começáramos sequer e não tenho certo saber quem és. Quem somos. Éramos? Sendo assim vou andando. Já não me apetece o que tens aí e não é por saciedade. É tédio. A vontade esmoreceu. Dissemos demais.

Dissecar textos: Não digo que não seja indispensável para apreender o que é literatura. Afirmo, apenas, que não é para mim. Posso tentar ser mais do que sou. E tento. Persisto ávida e afincadamente na aprendizagem. Temo, no entanto, ser incapaz de me despir da elementaridade que me compõe, em que o sentir se me sobrepõe ao saber. E com isto não me desiludo, antes aprendo a aceitar-me tal qual sou.




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Comments:
que pujança amiga
até estremeci :)
muito bom!
beijos muitos
 
Minha 'feed-backer' querida. Meu alento. O meu obrigada, sempre, para ti. :)
 
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